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Cientistas brasileiros desenvolvem técnica e aceleram o caminho para restauração florestal eficiente

Pesquisadores desenvolvem técnica inovadora que reduz o tempo de crescimento de espécies nativas, impulsionando a restauração da Mata Atlântica e prometendo transformar a silvicultura nacional

Nos últimos anos, a restauração florestal tem se destacado em diversos setores, incluindo o privado, financeiro, acadêmico e governamental. O Brasil, comprometido pelo Acordo de Paris de 2015, visa recuperar 12 milhões de hectares com floresta nativa, um tamanho comparável à Coreia do Norte. Contudo, essas iniciativas enfrentam desafios como os custos elevados do plantio de árvores e a escassez de dados sobre o crescimento das espécies e a extensão das áreas recuperadas.

Um estudo publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” propõe avanços significativos para o setor. Revela que a implementação de métodos silviculturais em projetos de restauração em grande escala pode elevar a produtividade e lucratividade. Isso possibilita o fornecimento à indústria madeireira, diminuindo a pressão sobre biomas naturais como a Amazônia.

Avanços liderados por especialistas brasileiros

Sob a liderança do engenheiro florestal Pedro Medrado Krainovic, o estudo desenvolveu um modelo para prever o crescimento de espécies nativas da Mata Atlântica, visando a maturidade para a indústria madeireira. Este método inovador reduziu o tempo de colheita em 25% e aumentou a área basal das árvores em 38%, antecipando em 13 anos a idade ideal para o corte.

Pedro Medrado Krainovic é Engenheiro Florestal com tem ampla experiência em silvicultura, manejo de produtos florestais não madeireiros e cadeias produtivas na Amazônia e Mata Atlântica, com destaque para sua pesquisa inovadora em sistemas agroflorestais e óleos essenciais, e atualmente é pesquisador pós-doutor na Esalq/USP.

Krainovic explica que o estudo identifica padrões de produtividade versus tempo, o que é crucial para manejar espécies para o mercado madeireiro. Isso torna a restauração florestal mais viável e atrativa, alinhando-se aos acordos climáticos globais.

O estudo foi parte do Programa BIOTA-FAPESP, com apoio adicional de quatro outros projetos, incluindo o “NewFor”. A pesquisa também contou com bolsas de estudo para Danilo Roberti de Almeida, Catherine Torres de Almeida e Angélica Faria de Resende, coautores do artigo. Supervisionado por Ricardo Ribeiro Rodrigues do Lerf e Pedro Brancalion do Lastrop e BIOTA Síntese, o trabalho representa um marco importante na restauração florestal brasileira.

Mata Atlântica em foco

Apesar de ser reconhecida em 2022 pela ONU como uma das dez referências globais em restauração, a Mata Atlântica é o bioma mais afetado pela perda de área florestal no Brasil. Originalmente com cerca de 140 milhões de hectares, atualmente, apenas 24% de sua cobertura florestal persiste, sendo somente 12% desta em condições de boa conservação, de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica.

Os esforços para combater o desmatamento têm sido eficazes, evidenciados pela redução de 42% no desmatamento entre janeiro e maio de 2023, comparado ao mesmo período em 2022. Além disso, a ONU proclamou a Década da Restauração de Ecossistemas até 2030, incentivando a proteção e revitalização dos ecossistemas globais para benefício humano e da natureza.

Krainovic destaca a necessidade de mais dados para apoiar políticas públicas na restauração florestal. Seu estudo oferece uma lista de espécies útil para proprietários de terras, abrindo caminho para enriquecer a restauração florestal com um viés econômico e atingir múltiplos objetivos, como a recuperação de serviços ecossistêmicos.

Iniciativa Refloresta-SP

Os resultados do estudo são fundamentais para o Refloresta-SP, um programa do Estado de São Paulo focado na restauração ecológica, recuperação de áreas degradadas, e implementação de florestas multifuncionais e sistemas agroflorestais.

Krainovic, que viveu 12 anos na Amazônia, traz uma experiência diversificada, trabalhando tanto em projetos de recuperação de áreas degradadas usando espécies com potencial econômico quanto em cadeias produtivas de produtos florestais não madeireiros para a indústria de cosméticos. Ele ressalta a importância de sua experiência prática além da academia.

Cientistas brasileiros desenvolvem técnica e aceleram o caminho para restauração florestal Eficiente

O estudo avaliou 13 áreas de restauração florestal em São Paulo, variando entre seis e 96 anos de plantio. Essas áreas possuem uma ampla diversidade de espécies nativas, contribuindo para a promoção de serviços ecossistêmicos semelhantes aos das florestas naturais.

Seleção de espécies arbóreas nativas

Foram escolhidas dez espécies arbóreas nativas comerciais, como guatambu, jequitibá-rosa, cedro-rosa, entre outras, todas com diferentes densidades de madeira e historicamente valorizadas pelo mercado. A maioria dessas espécies é protegida por lei, sendo endêmicas da Mata Atlântica e do Cerrado, e algumas, como o jatobá e o ipê-roxo, ainda são exploradas na Amazônia.

Os pesquisadores realizaram testes iniciais para modelar o crescimento do diâmetro e da área basal das espécies arbóreas selecionadas ao longo do tempo. Eles desenvolveram cenários de produtividade, considerando os 30% maiores valores de diâmetro para cada espécie por local e idade, criando o que chamaram de “cenário otimizado”. Este cenário reflete a aplicação de tratos silviculturais que resultam em maior produtividade.

Classificação das espécies e redução do tempo de colheita

As espécies foram classificadas de acordo com o tempo necessário para atingir os 35 centímetros de diâmetro, essencial para a colheita. Elas foram agrupadas em três categorias: crescimento rápido (menos de 50 anos), intermediário (50-70 anos) e lento (mais de 70 anos). Utilizando a abordagem GOL, as espécies foram reagrupadas em quatro faixas de crescimento: rápida (menos de 25 anos), intermediária (25-50 anos), lenta (50-75 anos) e superlenta (75-100 anos).

foto: Joel & Jasmin Førestbird/Unsplash

Com o cenário otimizado, o tempo necessário para a colheita foi reduzido em 25%, o que significa uma antecipação média de 13 anos na idade ideal de colheita. Entretanto, para o jequitibá-rosa e o jatobá, o período ideal de colheita foi prolongado, embora a área basal tenha aumentado mais de 50%. Já o cedro-rosa apresentou uma redução de 36,6% na área basal, mas com uma antecipação de 47 anos no tempo de colheita.

No geral, nove das dez espécies estudadas atingiram o diâmetro de 35 cm antes dos 60 anos, com exceção do guarantã, de alta densidade de madeira.

Publicação e Acesso ao Estudo

O estudo intitulado “Potential native timber production in tropical forest restoration plantations” está disponível para consulta no website da revista “Perspectives in Ecology and Conservation”, pelo link: www.perspectecolconserv.com/en-potential-native-timber-production-in-avance-S2530064423000640.

Informações: Brasil Amazônia Agora.

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Com distribuição recorde, Paraná vai alcançar 10 milhões de mudas plantadas em 2024

O ano de 2023 deixou o Paraná mais verde. O IAT entregou 1.850.427 mudas de espécies nativas em todo o Estado, um aumento de 6% em relação a 2022. Esse foi o maior volume de distribuição desde 2019, quando o programa Paraná Mais Verde foi implementado pelo Governo do Estado. Nos últimos cinco anos, o projeto superou a marca de nove milhões e 300 mil plantas, o equivalente a 8.300 campos de futebol de restauração florestal. A perspectiva, ao manter a média, é que o Paraná alcance 10 milhões de mudas distribuídas ainda neste semestre. O gerente de restauração ambiental do IAT, Mauro Scharnik, destacou fatores que colaboraram com esse resultado.

Ele reforça que boa parte das autorizações ambientais ou penas por supressão vegetal emitidas pelo IAT incluem como condicionante o replantio com plantas na nativas do Estado, fornecidas em grande parte pelo instituto.

De acordo com levantamento da diretoria de Patrimônio Natural do órgão ambiental, os núcleos regionais de Curitiba, Guarapuava e Campo Mourão lideraram o ranking de distribuição, respondendo por 30% do total de plantas. As mudas que ajudam no reflorestamento do Paraná são cultivadas nos 19 viveiros florestais e nos dois laboratórios de sementes do IAT. O órgão produz plantas de mais de 100 espécies diferentes, incluindo 25 ameaçadas de extinção, como a araucária e a imbuia.

O programa foi criado em 2019 e tem como objetivo despertar a consciência ambiental e aliar o desenvolvimento ambiental, econômico e social, por meio da produção e plantio de árvores nativas nas áreas urbanas e rurais. As mudas são plantadas em locais que precisam ser recuperados ou melhor arborizados, bem como incentivar a população a cultivar árvores para colaborar no equilíbrio do clima.

Informações: GOVPR.

Imagem: Blog da Plantei.

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Guia pioneiro é lançado para identificar mudas de espécies arbustivas e arbóreas para restauração florestal no RS

A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a década da restauração de ecossistemas entre os anos de 2021 e 2030. Com o objetivo de auxiliar o Brasil e o Rio Grande do Sul a alcançar as metas pactuadas para restauração florestal neste período, a Embrapa Clima Temperado lança, neste dia 7 de dezembro, o Guia para Identificação de Mudas de Espécies Arbustivas e Arbóreas de espécies indicadas para Restauração Florestal no Rio Grande do Sul, durante a realização do XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica. O guia tem como objetivo ajudar  na correta identificação de mudas de 67 espécies nativas indicadas para restauração de ecossistemas florestais e savonóides no RS. 

O Guia será lançado para identificação de espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração de ecossistemas florestais nos biomas Pampa e Mata Atlântica, ao se inserir na programação do XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica e mais quatro eventos, a II Feira da Agroecologia, a  I Oficina Pedagógica, a Mostra Cultural de Arte e Dança e a Reunião Regional de Organizações de Controle Social, na Estação Experimental Cascata, no interior de Pelotas/RS. “Este é o primeiro para mudas de espécies arbóreas nativas do Estado. Tivemos o cuidado de adaptar a linguagem para o público técnico e agricultores, permitindo que todos acessem o conhecimento de forma igual”, disse um dos pesquisadores  do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, Ernestino Guarino.

O Guia de Identificação de Mudas de Espécies Arbóreas para Restauração Florestal do Rio Grande do Sul, de forma ilustrada e didática, é uma publicação que apresenta características-chave para identificação de mudas e sementes das principais espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração florestal. Nele se encontram uma descrição dos biomas e as regiões onde se realizam a restauração florestal, a forma de tipificação das sementes e sua forma de armazenamento, a própria descrição da seleção das espécies identificadas, acompanhada por suas características e imagens. “Além de apoiar na identificação das mudas que por ventura serão plantadas (adquiridas em viveiros), o Guia ajudará também na identificação das mudas que germinaram em áreas em processo de restauração assistida, ou não – restauração passiva”, explicou.

Os  pesquisadores do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, também responsáveis pela obra, explicam que existem diversas estratégias de restauração ecológica, as quais podem ser divididas em dois grandes grupos: técnicas de restauração ativa e técnicas de restauração passiva. Essas estratégias diferenciam-se basicamente pela forma de intervenção humana no processo de sucessão da vegetação. 

A restauração ativa consiste na aplicação de diferentes técnicas de manejo (por exemplo: semeadura direta, plantio de mudas em área total) para a condução da sucessão vegetal;  a restauração passiva baseia-se na capacidade de auto regeneração da vegetação, sendo que a intervenção humana ocorre apenas no diagnóstico e controle das causas de degradação do ambiente (controle de fogo, do gado, da agricultura, entre outros). 

Dentre as diferentes técnicas de restauração ativa, o método mais difundido para a recuperação de áreas degradadas ainda é o plantio de mudas produzidas em viveiro, porém esse método é caro, trabalhoso e geralmente lento. Uma alternativa possível, porém, ainda pouco explorada no Rio Grande do Sul, é a semeadura direta de sementes. Esse método tem como vantagens, o baixo custo de implantação, principalmente quando o objetivo é recuperar grandes áreas e a baixa necessidade de mão de obra especializada. Um dos integrantes do Grupo de Manejo e Restauração é o pesquisador Ernestino Guarino indica que nos últimos anos, várias ações de restauração por meio de semeadura direta vêm sendo feitas em diversos ecossistemas florestais brasileiros. No RS, uma das experiências pioneiras vem sendo realizada por meio do Projeto SAFLegal. Dados de pesquisa recém publicados demonstram  que após 12 meses da semeadura, aproximadamente 25% das sementes emergem, garantindo uma densidade de 2.000 mudas por hectare. Realizado de forma consorciada com grãos, em sistemas agroflorestais, o custo do processo de restauração é de 75% inferior ao método tradicional (plantio de mudas em área total) com mesma  densidade de mudas por hectare. 

“É fundamental gerar tecnologias que reduzam custos e maximizem o uso da mão de obra no processo de restauração, produtiva ou não. Juntamente com a constituição de redes coletoras de sementes e viveiros, integrando diferentes estratégias em nível da paisagem é possível obter maior efetividade com menor custo das atividades de restauração, tornando viável e interesse para o agricultor todo esse processo”, falou. O produtor não recebe recursos financeiros diretamente por optar pela restauração, mas há ganhos na melhoria da água devido a restauração das nascentes, por exemplo. Além disso, é uma obrigação legal de todos os agricultores conservarem as Áreas de Reserva Legal (RL) e Proteção Permanente (APP), mantendo o mínimo exigido na legislação. 

“Para se ter qualidade de mudas e sementes é importante levar em conta que essa garantia não está apenas nas melhores técnicas de coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes e produção de mudas de essências florestais, mas também pela correta identificação dessas espécies”, lembrou Ernestino Guarino. Ele relatou que os pesquisadores observaram que os diferentes atores envolvidos na cadeia da restauração florestal no Rio Grande do Sul, apresentam dificuldades para identificar sementes e mudas, incorrendo muitas vezes em erros que podem comprometer ou inviabilizar o processo de restauração florestal. “Algumas espécies são muito parecidas, porém com demandas de solo e clima diferentes”, destacou. Conforme o pesquisador, quando há erros de identificação de mudas de espécies, esses podem causar grandes problemas na restauração, que além de uso de espécies não adaptadas a solo e clima local, podem ser usadas espécies exóticas invasoras, causando prejuízos econômicos e ambientais. 

O Guia compõe um grupo de tecnologias voltadas à inserção da árvore na propriedade rural e a restauração florestal por meio da semeadura direta, apoiando técnicos e agricultores na identificação e definição das espécies utilizadas. Tais tecnologias foram geradas com apoio financeiro da Corsan, do CNPq e do Sistema Embrapa de Gestão de Projetos (SEG), via o projeto SAFLegal.

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Brasil – Plantio de árvores nativas da Amazônia recupera áreas de preservação permanente

O plantio de espécies nativas para recuperação de áreas de preservação permanente e a implantação de SAFs são recomendados para restauração florestal na região amazônica

  • O plantio de espécies nativas – florestais e frutíferas –  é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na agricultura familiar da região amazônica.
  • Já na recuperação das áreas de reserva legal a implantação de Sistemas Agroflorestais é a estratégia adotada por agricultores e técnicos.
  • Essas recomendações resultam de trabalho participativo conduzido pela pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará.
  • O objetivo do trabalho é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores.
  • Tecnologias e alternativas de baixo custo para os plantios são adotadas na região, além de estratégias de construção coletiva do conhecimento.

Trabalho participativo da pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará revela que o plantio de espécies nativas – florestais e frutíferas – é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na região amazônica.  Para as áreas de reserva legal, a recomendação é a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Realizado no projeto de assentamento Mamuí, no município de Itupiranga, o trabalho aposta na adoção de estratégias de baixo custo de restauração florestal, como o plantio de sementes pré-germinadas e mudas de espécies já existentes no local. O objetivo maior da iniciativa é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores familiares na Amazônia.

O Sudeste do Pará concentra uma grande quantidade de projetos de assentamentos que abrigam milhares de famílias de agricultores. Em geral, a ocupação cumpre uma lógica de abertura de áreas de floresta para atividades produtivas, seguindo o processo tradicional de derrubada e queima. “Os locais próximos a nascentes e igarapés são os mais visados para derrubada. É uma estratégia do pequeno agricultor instalar a casa nesses locais, para ter acesso à água e afastar animais peçonhentos”, explica o pesquisador Ademir Ruschel, da Embrapa Amazônia Oriental.

Essas áreas, no entanto, são consideradas pela legislação como de preservação permanente e o seu desmatamento gera um passivo ambiental para a propriedade. Também compõem o quadro de degradação ambiental a agricultura e a pecuária com baixa adoção de tecnologia, caracterizada pela derruba e queima, e que dependem do abandono e reabertura de novas áreas para renovar a fertilidade do solo.

A região é um dos pontos de implantação das ações do Inovaflora, um dos 19 projetos que fazem parte do Projeto Integrado da Amazônia (PIAmz), parceria entre a Embrapa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com ações financiadas pelo Fundo Amazônia.

No projeto de assentamento Mamuí, por meio da troca de experiências, informações e tecnologias e da construção coletiva do conhecimento, a equipe e os agricultores implantaram sistemas de recomposição com base na diversidade de espécies florestais nativas, frutíferas, e outros cultivos agroalimentares já utilizados ou de interesse das comunidades.

Tecnologias e diversidade para produzir sem desmatar

“Levamos tecnologias e construímos alternativas com os agricultores para que eles possam se adequar à legislação e produzir mais em suas áreas”, explica a engenheira florestal Michelliny Bentes, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e coordenadora do Inovaflora.

Segundo a pesquisadora, um dos principais gargalos nos trabalhos de recuperação envolve os custos com a produção ou aquisição de sementes, mudas e insumos, e com adubação, viveiros e transporte até as áreas de plantio. “Esses custos são altos na Amazônia. A obtenção de sementes de espécies florestais nativas é outro gargalo, assim como o conhecimento sobre seu desenvolvimento germinativo”.

Para contornar as dificuldades, a equipe do projeto avaliou em conjunto com a comunidade a utilização da técnica de plantio de sementes escarificadas ou pré-germinadas, que, entre outros benefícios, diminui os custos na etapa de viveiro (semeadura, repicagem e condução) e no transporte até o local definitivo de plantio.  “É uma técnica simples e barata que pode ser adotada pelo produtor com facilidade”, explica o pesquisador Ademir Ruschel, integrante do projeto

Nessa técnica, as sementes das espécies escolhidas germinam diretamente sobre o solo, protegidas por uma cobertura de palha umedecida, e depois são levadas para o plantio nas áreas de recuperação. “No fim do processo, elas se desenvolvem tão bem quanto uma muda que começou num saquinho com substrato e protegida pelo viveiro, ou mesmo avantajada, por preservar a formação radicular, principalmente mantendo a raiz pivotante provida da coifa, o que fisiologicamente favorece à saúde da planta”, avalia Ruschel.

Seguindo essa técnica, nas áreas de preservação permanente escolhidas para recuperação, as sementes escarificadas ou pré-germinadas foram plantadas de forma adensada e no dobro da quantidade de indivíduos previstos. “Isso em função da previsão de perda por mortalidade natural (seleção), condições ambientais adversas e entrada de animais e de que nem todos tratos silviculturais seriam aplicados até o fim do estabelecimento das espécies plantadas. Mesmo assim, na última avaliação – três anos após o plantio -, a sobrevivência se mostrou superior a 50%”, explica Ruschel.

Também nesses locais, foram plantadas diversas mudas de espécies florestais fornecidas por viveiros para uma maior diversidade de espécies. A produção de mudas em viveiro deve ser aliada à técnica de plantio direto de sementes, principalmente em virtude da necessidade de armazenamento e período de plantio. “Sugerimos frutíferas nativas, a exemplo do bacuri, açaí, taperebá, castanha-do-Pará, piquiá, graviola, cacau, cupuaçu, ingá, uxi, buriti, puxuri, e espécies que fornecem óleos e resinas, como andiroba, cumarú, pracaxi, e copaíba”, completa.

O açaí nativo (Euterpe oleracea) foi outra aposta dos técnicos e dos agricultores nas áreas de preservação permanente, conta Michelliny Bentes. “Com isso o projeto conseguiu conciliar dois objetivos: reintroduzir uma espécie nativa no seu habitat natural e promover a atração da fauna e o aumento da polinização, que se destaca com um dos mais nobres serviços ecossistêmicos para a restauração ecológica”, explica.

Mais de 50 espécies arbóreas nativas, algumas já praticamente escassas na região, foram introduzidas nas áreas de preservação permanente que anteriormente estavam cobertas com pasto e uma regeneração secundária empobrecida. Entre elas jatobá, amarelão, mogno-brasileiro, maranhoto, timborana, pau-preto, jarana, sumaúma, fava-arara-tucupi, angelim-branco, oiti, bacaba e bacuri.

Fotos acima: Vinícius Braga.

SAFs para a reserva legal

Do grupo de oito agricultores que aderiram à recuperação das áreas de preservação permanente, três também tiveram interesse em recuperar a reserva legal. Nesse trabalho, foram implantados sistemas agroflorestais em parcelas de 3.500 metros quadrados divididos em três componentes: núcleo de produção, frutíferas de pequeno porte e essências florestais nativas. O primeiro é o que reuniu o maior número de plantas distribuídas entre açaizeiro, bananeira e cacaueiro.

A família do agricultor Antônio Maurício é uma das que começaram a recomposição da reserva legal. O agricultor (foto à esquerda) adotou um sistema agroflorestal para recuperar uma nascente localizada no seu lote. “Foram 45 mudas de banana, 90 de açaí, 90 de cacau, além de mogno, andiroba, buriti e ipê. Tudo para proteger a água da minha área”, conta. Ele tem observado que a vegetação das nascentes é condição fundamental para manter a qualidade da água. “As nossas áreas de preservação permanente devem estar cobertas com vegetação nativa e produtiva também. Se descobrirmos tudo, isso compromete a qualidade da nossa água”, acredita.

A pesquisadora Michelliny Bentes destaca que um importante benefício ecológico observado nas avaliações a campo, nas áreas do projeto de assentamento Mamuí, é a formação de pequenos corredores ecológicos, que estão se interligando à reserva legal das propriedades. “No médio prazo, teremos uma nova formação florestal trazendo mais benefícios às famílias de agricultores, além da produção diversificada com os SAFs que também já começam a dar os primeiros resultados de produção”, finaliza Bentes

Foto do agricultor: Enilson Solano.

Seu João e a restauração florestal

A animação, inspirada na experiência do projeto Inovaflora, no Sudeste do Pará, mostra a história do seu João, personagem fictício que representa um pioneiro na ocupação de lotes na Amazônia. O reflorestamento com espécies nativas foi a solução encontrada para melhorar a condição produtiva do lote e promover a adequação ambiental.

Benefícios que vão além do ambiente

A pesquisa aponta diferentes estratégias de restauração e a escolha de uma depende do contexto local e dos objetivos da intervenção na área, que podem ser resgatar os serviços ecossistêmicos, melhorar a produção agropecuária e florestal ou diminuir passivos ambientais. Entre as estratégias estão a reabilitação produtiva da área; o reflorestamento com sistemas integrados de produção, como Sistemas Agroflorestais e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF); o reflorestamento com plantio de espécies arbóreas; e a regeneração natural.

Joice Ferreira, também pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, explica que os serviços ecossistêmicos são funções que os ambientes naturais provêm para os seres humanos. “A polinização, a produção e qualidade da água, do solo e outros são exemplos. A restauração tenta justamente resgatar esses serviços que foram perdidos a partir do desmatamento e degradação. Trazendo a floresta de volta, permitimos o aumento da produção de água, de frutos, de culturas agrícolas, de alimentos e outros serviços”, acrescenta.

Em locais onde o uso da terra é mais recente, com a presença de florestas remanescentes por perto, a regeneração natural, que envolve somente o isolamento da área, é uma boa estratégia, segundo os especialistas. Já em áreas que foram abertas há mais tempo e onde não existem florestas por perto, o reflorestamento com o plantio de espécies nativas e também a implantação de sistemas integrados são mais indicados.

“É importante que o agricultor tenha consciência que esse ambiente é uma área que vai ser perenizada. Então a restauração ou recuperação desse ambiente degradado tem que ser atrativa para o agricultor com o uso de sistemas de baixo custo e também com a obtenção de benefícios”, ressalta o pesquisador Ademir Rushell. “A recuperação pode, portanto, desempenhar a função de restaurar o ambiente e trazer benefícios sociais e econômicos ao agricultor”, conclui.

Foto: Enilson Solano.

Informações: Portal Embrapa.

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