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Brasil tem média de 95 milhões de hectares à espera de ações de restauração e pagamento por serviços ambientais, revela estudo da UFMG

O Brasil tem, em média, 95 milhões de hectares à espera de ações de restauração e de pagamento por serviços ambientais. Desses, cerca de 74 milhões de hectares aguardam pagamento referente ao excedente de vegetação nativa preservada em Reservas Legais. Já uma média de 21 milhões de hectares em Reserva Legal (RL) e em Área de Preservação Permanente (APP) é o déficit que carece de ações de recuperação. Esses e outros dados são apresentados na terceira edição do Panorama do Código Florestal, do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG.

A pesquisa considerou valores processados por duas bases de dados diferentes, providas pelo Imaflora e pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Dessa forma, os 74 milhões aguardando pagamento se referem à média entre 68 e 81 milhões, respectivamente, dados do Imaflora e do SFB. Já os 21 milhões em busca de ações de recuperação são formados pela média entre 19,3 e 22,6 milhões, respectivamente, dados do Imaflora e do SFB. Os valores diferem pelo tratamento das sobreposições, cujos detalhes podem ser verificados na página 27 do Panorama do Código Florestal.

O estudo mostrou ainda que, das áreas que precisam de ações, algo entre 16 milhões e 19 milhões de hectares correspondem a RL (porcentagem de cobertura nativa que cada propriedade deve conservar) e de 3 milhões a 3,4 milhões a Área de Preservação Permanente (APP), que são áreas ao redor de cursos d’água, prioritárias para a restauração e preservação dos recursos hídricos. 

Realizada com tecnologia desenvolvida pela Universidade, a pesquisa calculou os requisitos do Código Florestal e, como resultado, o nível de conformidade para cada um dos mais de 7 milhões de imóveis rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) – ferramenta que reúne informações das propriedades rurais, compondo uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico, e de combate ao desmatamento, para o cumprimento do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012). 

O estudo aponta ainda que, após 2008, 26% do desmatamento em imóveis rurais ocorreu em APP ou em propriedades com Reserva Legal abaixo da porcentagem mínima estabelecida pelo Código Florestal, cujo percentual varia conforme o bioma e o tipo de vegetação. Os estados com maior índice foram, respectivamente: Rondônia, Acre, Pará, Roraima e Amazonas, todos dentro da Amazônia Legal, região que preocupa a equipe de cientistas por causa do crescimento de registros do CAR sobrepostos a terras públicas sem destinação.

Registros sobrepostos

O crescimento dos registros sobrepostos a outras categorias fundiárias, em especial às terras públicas sem destinação, foi um dado alarmante para os pesquisadores. Na Amazônia Legal, área mais crítica, as sobreposições desse tipo aumentaram de 12,4% para 18,3% no último ano, sendo 13.433 registros sobrepostos a unidades de conservação, 2.360 a terras indígenas e 206.495 a terras públicas sem destinação. 

O estudo relaciona a sobreposição à ineficiência e ao uso indevido do Cadastro Ambiental Rural que permitem, segundo os pesquisadores, declarações fraudulentas, muitas vezes usadas para esconder desmatamento ilegal, déficits de reserva legal ou mesmo para grilagem de terras, sobretudo de unidades de conservação, terras indígenas ou de povos e comunidades tradicionais e, principalmente, de terras públicas sem destinação. Os estados com mais registros sobrepostos a áreas protegidas são, primeiramente, o Pará, seguido de Rondônia, Amazonas, Roraima e Tocantis.

“Em 2024, após 12 anos da revisão do Código Florestal, quase nada avançou, principalmente quanto ao uso do CAR como instrumento principal para o cumprimento do Código Florestal. Esse período tem sido marcado por contratempos e limitações. A alteração legislativa afrouxou exigências relacionadas à conservação ambiental e flexibilizou medidas de fiscalização, incluindo a concessão de anistia a desmatadores ilegais, cancelamento massivo de autos de infrações e a redução da necessidade de recuperação de vegetação nativa”, revela Britaldo Soares Filho, coordenador do estudo. 

Deficiências do CAR 

A Instrução normativa nº 2 de 2014 do Ministério do Meio Ambiente detalha os requisitos técnicos do Cadastro Ambiental Rural, que dá início ao prazo de um ano, prorrogável por mais um, para inscrição no CAR, contado a partir de maio de 2014. Apesar de a data ter sido prorrogada diversas vezes, o registro permanece aberto e chegou, em novembro de 2024, a mais de 7,3 milhões, número impulsionado pela obrigação a partir de 31 de dezembro de 2017 (Art. 78-A) para acesso ao crédito agrícola, exigências cartoriais, mas também, segundo os pesquisadores, devido ao uso fraudulento para grilagem de terra.

O registro no CAR, primeiro passo para a regularização, é um processo de autodeclaração por meio do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) ou sistema estadual equivalente. No entanto, devido à predominância do processo manual baseado na interpretação visual, a análise e a validação dos registros têm enfrentado atrasos significativos, com apenas 1,8% (dos 7,3 milhões) com análise concluída até o momento. 

O estudo aponta que o software que sustenta a operacionalização atual está inadequado para lidar com as demandas de cadastro e monitoramento do uso da terra de um país com as dimensões do Brasil. “Trata-se de um software obsoleto, com interface pouco amigável, que opera offline sem integração de base de dados cartográficos, e limitado ao uso de imagens de satélite de qualidade inferior a outras de livre acesso disponíveis atualmente. Além disso, é um software proprietário, com código fonte fechado e indisponível. Os estados e o governo federal são incapazes de atualizá-lo, muito menos integrá-lo a outros sistemas federais. Apesar de o Brasil dispor de tecnologia e inteligência territorial gratuitas por parte de Instituições, a exemplo do modelo desenvolvido pelo CSR/UFMG, essa verificação abrangente ainda não é feita pelo Sistema atual”, afirma Britaldo Soares Filho.

“Nesse aspecto, boa parte dos casos de sobreposição do CAR a outros imóveis, bem como o cancelamento de registros fraudulentos, poderia ser resolvida. Essa falta de progresso impacta negativamente a implementação de outros mecanismos-chave para ajudar os proprietários rurais a alcançarem a conformidade legal, tal como o Programa de Regularização Ambiental (PRA), o Mercado de Cota de Reserva Ambiental (CRA), além de mecanismos financeiros de pagamentos por serviços ambientais ou mesmo a rastreabilidade agrícola, uma exigência cada vez maior de mercados internacionais”, reforça.

O estudo completo está disponível em https://csr.ufmg.br/radiografia_do_cf/wp-content/uploads/2024/12/policy_brief_pt_3ed.pdf.

Sobre o CSR/UFMG

O Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG desenvolve pesquisas em análise e modelagem de sistemas ambientais, que incluem suas aplicações no desenho e na avaliação de políticas públicas. As pesquisas consistem na modelagem ambiental, em especial o desenvolvimento de modelos de simulação de mudanças no uso e cobertura do solo, rentabilidade agrícola e florestal, dinâmica urbana, fogo florestal, regime fluvial e balanço de carbono. As aplicações desses modelos envolvem valoração de serviços ecossistêmicos, desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, planejamento territorial e desenho de políticas públicas, bem como a avaliação prévia dos impactos dessas políticas. Saiba mais no site do CSR.

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Restauração de florestas pode gerar benefícios ambientais e crescimento econômico, aponta estudo

“A restauração florestal é entendida hoje como uma das maneiras mais viáveis e eficazes de enfrentar as mudanças climáticas antropogênicas”, diz Pedro Krainovic, primeiro autor do estudo e bolsista de pós-doutorado da FAPESP no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). “Quando feita com espécies nativas, traz múltiplas externalidades positivas [efeitos indiretos de uma atividade], com alta capacidade de impacto socioeconômico. E, o melhor, com a oferta dessas externalidades por um longo prazo.”

Segundo os autores, uma das maneiras pelas quais a restauração florestal pode trazer retorno financeiro é por meio de florestas multifuncionais. Quando os serviços de regulação e manutenção são bem providos nessas florestas, é possível promover a comercialização de créditos de carbono ou de outros bens, como madeira nativa. Também é possível obter produtos biotecnológicos para fármacos e cosméticos, além de outros produtos florestais não madeireiros.

No estudo, conduzido no âmbito do Núcleo de Análise e Síntese de Soluções Baseadas na Natureza (BIOTA Síntese), os autores apresentam alguns exemplos que quantificam financeiramente os benefícios de projetos mais alinhados com a restauração de florestas.

Em certas partes da floresta amazônica brasileira, os sistemas agroflorestais podem ser mais lucrativos que a pecuária ou o cultivo de soja, ao mesmo tempo em que recuperam funções ecossistêmicas em áreas subutilizadas e degradadas. Ao comparar os lucros, um hectare de pasto gera entre US$ 60,00 e US$ 120,00 por ano, enquanto o cultivo de soja tem seus ganhos sofrendo flutuações entre US$ 104,00 e US$ 135,00 (às vezes tendo resultados negativos). Por outro lado, dados da pesquisa indicam que a colheita de produtos não madeireiros em sistemas agroflorestais pode gerar um lucro anual que varia entre US$ 300,00 e US$ 650,00 por hectare.

Mas os autores alertam que, quando se levanta a possibilidade de explorar áreas restauradas, é preciso estudar maneiras para que essa exploração não faça com que o trabalho de restauro volte à estaca zero. Ainda não há um coeficiente técnico que indique como atingir o equilíbrio entre a exploração e o restauro. Por isso, os pesquisadores defendem a necessidade da regulação do processo produtivo. O manejo de espécies nativas e de serviços ecossistêmicos específicos oferecidos por essas espécies em ambientes biodiversos ainda precisa ser mais bem estudado. “É difícil medir a quantidade exata dos benefícios que essas florestas restauradas podem trazer na regulação do clima, preservação do solo e no provisionamento de outros serviços, o que não tem entrado na equação hoje”, pondera Krainovic.

Outro desafio apontado pelo autor é o próprio mercado de produtos naturais que, atualmente, tem como sua principal base algumas espécies exóticas e não arbóreas consideradas commodities, isto é, são produzidas em larga escala, comercializadas internacionalmente e envolvem processos técnicos e tecnológicos de produção já muito conhecidos.

“Isso diminui a competitividade, por exemplo, de um produto florestal de uma árvore nativa da restauração frente aos produtos de madeiras exóticas já estabelecidas no mercado”, exemplifica o pesquisador. “Outro aspecto a ser considerado é a aceitação do novo produto por consumidores já habituados com a oferta existente. Por isso é preciso pensar em incentivos e regulamentações que aumentem o potencial de competição desses novos produtos com os que já são comumente produzidos.”

Por fim, os autores reforçam que estão apontando mais uma alternativa para se pensar a restauração florestal. “Lançamos o termo restauração florestal bioeconômica com o objetivo de ressaltar que, mesmo com a necessidade urgente de adicionar valor à floresta em pé, a biodiversidade e o uso de espécies nativas são essenciais, sem esquecer do relacionamento com os povos que ocupam os territórios e da necessidade de incentivo público e privado numa conjunção de fatores necessários para a adaptação climática”, pontua Krainovic.

O artigo enfatiza que a restauração bioeconômica é um caminho promissor e urgente, mas requer a colaboração entre os setores público e privado, ao lado das comunidades locais, além de um comprometimento com a biodiversidade e o uso de espécies nativas.

“Esse estudo fornece um guia claro de como a restauração florestal pode contribuir tanto para o desenvolvimento socioecológico quanto para as soluções baseadas na natureza de forma a mitigar os impactos das mudanças climáticas globais”, explica Sergio de Miguel, autor correspondente do artigo e chefe do grupo global de pesquisas sobre ecossistemas do Centro Tecnológico Florestal da Catalunha (CTFC).

O artigo Current constraints to reconcile tropical forest restoration and bioeconomy pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11625-024-01573-8.

Informações: Agência FAPESP / Imagem: divulgação.

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Restauração florestal em ação: celebrando compromissos para inspirar a sociedade

Em todo o mundo, estão em curso esforços para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar áreas florestais

Os países prometeram restaurar mil milhões de hectares de terra até 2030 como parte dos objetivos internacionais relativos ao clima, à natureza e à terra. Algumas destas iniciativas são famosas, abrangendo dezenas de milhares de hectares e ganhando prêmios, como o projeto Floresta Desa’a na Etiópia, parte do programa da Grande Muralha Verde para restaurar ecossistemas em todo o norte de África. Mas a maioria, especialmente aquelas levadas a cabo por organizações e indivíduos não estatais, não recebe o mesmo alarde e muitas vezes ocorre sem reconhecimento e reconhecimento formal.

O Centro Mundial de Conservação e Monitoramento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC) trabalha para garantir que as contribuições dos Povos Indígenas, comunidades locais, proprietários de terras privados, organizações não governamentais e administrações locais, como cidades e empresas, sejam registradas e celebradas em sua Natureza . Plataforma de compromissos . O site apresenta mais de 200 compromissos de conservação baseados em áreas, vários dos quais são iniciativas de restauração florestal.

Hoje, a plataforma Nature Commitments está vinculada à plataforma oficial de monitoramento da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas , a Estrutura para Monitoramento da Restauração de Ecossistemas (FERM) . A FERM acompanha o progresso global e divulga as melhores práticas como parte da campanha da Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas. Também apoia os países com relatórios de projetos e ações para cumprir a Meta 2 do Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF) : restaurar 30 por cento de todos os ecossistemas degradados até 2030.

Durante um webcast ao vivo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação lançou o mecanismo de busca FERM de iniciativas de restauração como parte de seu programa de eventos que celebram o Dia Internacional das Florestas. O mecanismo de busca FERM é uma ferramenta inovadora que permitirá que informações ao vivo sobre compromissos não estatais sobre restauração sejam diretamente alimentadas a partir dos Compromissos da Natureza para o FERM.

“A ligação entre FERM e Nature Commitments mostra como a interoperabilidade pode facilitar a troca de dados para apoiar a monitorização e a elaboração de relatórios sobre a restauração. Estamos a liderar um esforço para promover a partilha de dados no movimento de restauração, para que mais esforços de restauração possam ser descobertos, reconhecidos e relatados.”

– Yelena Finegold, Oficial Florestal da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Os projetos apresentados no Nature Commitments serão apresentados ao lado de mais de 1.500 projetos e boas práticas de restauração no mecanismo de busca FERM. Da mesma forma, exemplos de iniciativas de restauração submetidos à FERM agora são automaticamente apresentados nos Compromissos da Natureza.

Aqui, partilhamos três exemplos de compromissos de restauração florestal que irão beneficiar deste maior reconhecimento, ajudar a inspirar outros profissionais de restauração e acompanhar o progresso em direção ao GBF.

350 hectares de Mata Atlântica tropical do Brasil

A Mata Atlântica é uma estreita faixa de floresta tropical que atravessa Brasil, Paraguai e Argentina. Com uma fracção do tamanho da Amazónia, contém uma gama semelhante de diversidade biológica – mas acredita-se que pelo menos 72 por cento da floresta original tenha sido desmatada. Procurando resolver esta questão, um pacto trinacional para restaurar 700.000 hectares de Mata Atlântica está sendo celebrado como projeto emblemático da Restauração Mundial da ONU .

A Nature Commitments conquistou um compromisso de cinco anos entre a empresa de energia renovável AES Brasil e a WeForest, uma organização sem fins lucrativos que trabalha em projetos de reflorestamento em todo o mundo, para restaurar florestas às margens do rio Tietê, no bioma Atlântico.

O Tietê é um dos rios mais poluídos do Brasil. Uma razão para isso são as grandes quantidades de pesticidas e herbicidas que são usados ​​para controlar gramíneas invasoras e acabam fluindo para o rio. Desde 2020, no âmbito do projeto Florestas Tietê , a WeForest e a AES Brasil têm usado uma abordagem reduzida de herbicidas, cortando e aplicando cobertura morta em gramíneas invasoras; replantar a vegetação nativa e promover o seu crescimento com fertilizantes; e usando cobertura morta para evitar o crescimento de gramíneas invasoras

O projeto visa ampliar a recuperação de 2.000 hectares e melhorar a qualidade da água fornecida a 15 municípios para proporcionar benefícios às pessoas e à biodiversidade.  

“Estamos honrados em ter nosso trabalho nas Florestas do Tietê, Brasil, apresentado na plataforma Nature Commitments do UNEP-WCMC. Com nossos parceiros AES Brasil, Ceiba, Coprocam e Nace-Pteca estamos trazendo de volta a Mata Atlântica – que já chegou a 1,5 milhão de quilômetros quadrados (o que representa mais de um quarto do tamanho da floresta amazônica) e ainda é um das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta – restaurando as margens do rio Tietê com espécies de árvores nativas, aumentando corredores de vida selvagem e apoiando comunidades no estabelecimento de sistemas agroflorestais.”

– Marie-Noëlle Keijzer, CEO e cofundadora da WeForest.

50.000 hectares de floresta antiga nas montanhas dos Cárpatos romenos

As montanhas dos Cárpatos são uma das áreas mais selvagens e intocadas da Europa, com grandes áreas de floresta intacta e carnívoros icónicos como o urso pardo, o lobo e o lince euro-asiático. No entanto, a exploração madeireira insustentável e as plantações de monoculturas degradaram áreas de floresta.

A plataforma Nature Commitments registou um compromisso feito em 2017 por um grupo de filantropos privados para restaurar 50.000 hectares de floresta. Nos próximos 40 anos, a Fundação Conservação Carpathia pretende restaurar florestas degradadas e riachos de montanha para criar a Reserva Selvagem dos Cárpatos. Um relatório do PNUMA-WCMC de 2022 destaca os amplos benefícios de tais projetos: o relatório incluiu exemplos de trabalhos de restauração nas montanhas dos Cárpatos e concluiu que eles tiveram amplos benefícios, revertendo a perda de biodiversidade, impulsionando a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e aumentando meios de subsistência e bem-estar humanos.

A Fundação Conservation Carpathia adquiriu concessões de caça para permitir o regresso da vida selvagem e está a ajudar as comunidades locais a iniciarem empresas baseadas na natureza e a protegerem as florestas antigas remanescentes. O objectivo final da fundação é integrar a Reserva Natural dos Cárpatos na maior paisagem de áreas protegidas da Roménia, com a Fundação a aspirar a estimular a criação de um grande parque nacional – o Parque Nacional Fagaras.

“Estamos honrados por estarmos listados na plataforma Nature Commitments do UNEP-WCMC e acreditamos que podemos defender a importância de proteger o património natural dos Cárpatos romenos, que é uma das últimas grandes áreas selvagens da Europa.”

– Christoph Promberger, Diretor Executivo da Fundação Conservation Carpathia.

100 hectares de floresta tropical no sudoeste da China

A floresta tropical de Xishuangbanna, no sudoeste da China, é um hotspot de biodiversidade. Contudo , desde a década de 1950, cerca de meio milhão de hectares de floresta foram perdidos para plantações de borracha.

A organização sem fins lucrativos Good to Nature, com sede em Xangai, está trabalhando para restaurar áreas de floresta tropical e, ao mesmo tempo, ajudar as comunidades locais a prosperar. O compromisso capturado na plataforma Nature Commitments afirma que a Good to Nature pretende restaurar inicialmente cerca de 1.500 mu (100 hectares) e ajudar a aumentar os rendimentos médios em 10 por cento.

“Estamos muito satisfeitos e honrados em compartilhar nosso projeto na plataforma Nature Commitments do UNEP-WCMC. Esta é uma iniciativa piloto de restauração e conservação da floresta tropical em Xishuangbanna. Por um lado, concentramo-nos na restauração científica e na investigação para explorar como diferentes tipos de florestas artificiais podem ser restauradas em florestas tropicais de forma mais rápida e eficaz. Por outro lado, colaboramos ativamente com as comunidades locais, capacitando-as para melhorar a sua qualidade de vida através de esforços de restauração. Através da plataforma Nature Commitments, esperamos partilhar com o mundo as nossas boas práticas de restauração de ecossistemas, contribuindo para a recuperação global da natureza.”

– JoJo Zheng, Fundador da Good to Nature.

O trabalho no terreno começou no primeiro semestre de 2022, com uma equipa de cientistas a trabalhar com uma escola e famílias locais da zona para iniciar uma parcela amostral para testar e monitorizar o método de regeneração natural. Além da reintrodução gradual de algumas introduções de espécies-chave e da remoção de espécies invasoras, um local fica com intervenção mínima – de modo que a reintrodução de pássaros, animais e a dispersão de sementes de áreas próximas de florestas tropicais possam acontecer naturalmente ao longo do tempo e em grande escala.

Espera-se que as famílias beneficiem do ecoturismo, das oportunidades de venda de artesanato tradicional e da melhoria do lazer e da saúde criada pelos trabalhos de restauração.

“Desde que foi lançada, há quase dois anos, a plataforma Nature Commitments permitiu que mais de 200 organizações não estatais apresentassem os seus esforços de conservação e restauração baseados em áreas. O PNUMA-WCMC está satisfeito com o fato de que os compromissos de restauração, como as iniciativas florestais delineadas, ganharão ainda mais reconhecimento através da nossa conexão com a Estrutura para Monitoramento da Restauração de Ecossistemas. Encorajamos todos os profissionais de restauração a explorar estes veículos vitais para fortalecer a ação local para a biodiversidade e a partilhar os seus compromissos para inspirar outros.”

– Anushree Bhattacharjee, Officer do Programa UNEP-WCMC e líder da Plataforma de Compromissos com a Natureza.

Informações: https://unep-wcmc.org/en/forest-restoration-in-action-celebrating-pledges-to-inspire-society

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Estudo revela viabilidade econômica da restauração florestal em fazendas de café na Mata Atlântica

Resultados indicam que serviços ecossistêmicos impulsionados pelo reflorestamento, entre eles a polinização, proporcionam maior produtividade e compensam os custos associados à restauração

A restauração florestal é reconhecida como uma das medidas mais eficazes para combater as mudanças climáticas e promover a proteção à biodiversidade. No entanto, os custos elevados – associados tanto diretamente ao plantio de árvores quanto à perda de áreas agriculturáveis ou de pastagem – costumam ser uma barreira para a sua implementação em larga escala. Mas uma pesquisa inédita conduzida em áreas de cafeicultura da Mata Atlântica revela que a restauração pode, ao contrário, ser uma abordagem economicamente viável.

Publicado na revista científica norte-americana One Earth, o estudo é assinado por Francisco d’Albertas, doutor em Ecologia pela USP, Gerd Sparovek, coordenador do Geolab (Esalq-USP), Luís Fernando Guedes Pinto, engenheiro agrônomo e diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, Camila Hohlenwerger, doutora em Ecologia pela USP, e Jean-Paul Metzger, professor do departamento de Ecologia da USP.

Os resultados demonstram que o aumento dos serviços ecossistêmicos impulsionados pelo reflorestamento, entre eles a polinização, resulta em um incremento na produção de café, compensando os custos referentes à restauração da floresta. Essa descoberta pode auxiliar os formuladores de políticas públicas a promover a adoção generalizada da restauração em paisagens agrícolas, aliando a mitigação das mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade e a produção agrícola. Além disso, no caso do Brasil, em que a legislação ambiental já prevê a restauração/conservação de vegetação nativa em propriedades rurais, o estudo pode servir como um estímulo adicional para o cumprimento da lei.

O levantamento analisa diferentes cenários, estabelecendo um limiar em torno de 25% de cobertura florestal nas fazendas como ponto de equilíbrio para que, ao longo de 20 anos, os custos de restauração possam ser compensados pelos benefícios dos serviços ecossistêmicos no aumento da produção de café. Os resultados apontam ainda que um valor de CO₂ de pelo menos 20 dólares seria o ideal para aumentar a viabilidade financeira da restauração.

“Nossa pesquisa mostra que, ao impulsionar os rendimentos das colheitas e combinando ganhos provenientes do sequestro de carbono, a restauração se torna uma abordagem economicamente eficaz em paisagens agrícolas, indo na contramão do senso comum que considera o agronegócio e a conservação ambiental como atividades incompatíveis”, explica Francisco d’Albertas. “São, entretanto, necessárias medidas adicionais, como a consolidação do mercado de carbono, para tornar a restauração amplamente viável e imediatamente atraente para os agricultores”, completa.

A Organização das Nações Unidas (ONU) designou o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas. Na Conferência de Biodiversidade da ONU de 2022, a COP 15, a Mata Atlântica foi reconhecida como um dos dez ecossistemas emblemáticos nessa iniciativa. Além disso, evidências indicam o bioma como uma das áreas prioritárias para a restauração global, dada sua capacidade de combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade e os recursos hídricos.

Nesse sentido, Luís Fernando Guedes Pinto ressalta a importância das descobertas apresentadas pela pesquisa. “Para atender aos compromissos do Acordo de Paris, o Brasil deve eliminar completamente o desmatamento e restaurar em grande escala. Para a Mata Atlântica, a meta mais ambiciosa são 15 milhões de hectares de florestas naturais até 2030, estabelecida pelo Pacto pela Restauração do Bioma, que só poderá ser atingida com o apoio do agronegócio. E agora está evidente que o reflorestamento é uma abordagem positiva para todas as pessoas e setores econômicos”, afirma.

A pesquisa traz um estudo de caso ilustrativo que, para ampliar o entendimento sobre em que medida e em quais condições os benefícios da restauração compensam os custos, pode ser expandido para outras regiões do Brasil e do mundo. O estudo completo, intitulado Yield increases mediated by pollination and carbon payments can offset restoration costs in coffee landscapes (“Aumentos na produção, mediados pela polinização e pagamentos de carbono, podem compensar os custos de restauração em paisagens de café”, em tradução livre), está disponível, em inglês, no site da OneEarth.

Sobre a Fundação SOS Mata Atlântica 

A Fundação SOS Mata Atlântica é uma organização da sociedade civil brasileira sem fins lucrativos. Fundada em 1986, tem como missão inspirar a sociedade na defesa do bioma mais devastado do país. Atua para promover políticas públicas para conservar e restaurar a Mata Atlântica, trabalhando de maneira integrada as temáticas de água, biodiversidade e clima. Monitora a situação das florestas e ecossistemas associados, além de trabalhar para recuperar áreas já degradadas. Também defende e cria políticas públicas em prol do bioma. Essa causa beneficia diretamente mais de 70% da população brasileira, que vive na Mata Atlântica e depende dela para ter qualidade de vida.

Informações: Revista Cafeicultura.

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Cientistas brasileiros desenvolvem técnica e aceleram o caminho para restauração florestal eficiente

Pesquisadores desenvolvem técnica inovadora que reduz o tempo de crescimento de espécies nativas, impulsionando a restauração da Mata Atlântica e prometendo transformar a silvicultura nacional

Nos últimos anos, a restauração florestal tem se destacado em diversos setores, incluindo o privado, financeiro, acadêmico e governamental. O Brasil, comprometido pelo Acordo de Paris de 2015, visa recuperar 12 milhões de hectares com floresta nativa, um tamanho comparável à Coreia do Norte. Contudo, essas iniciativas enfrentam desafios como os custos elevados do plantio de árvores e a escassez de dados sobre o crescimento das espécies e a extensão das áreas recuperadas.

Um estudo publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” propõe avanços significativos para o setor. Revela que a implementação de métodos silviculturais em projetos de restauração em grande escala pode elevar a produtividade e lucratividade. Isso possibilita o fornecimento à indústria madeireira, diminuindo a pressão sobre biomas naturais como a Amazônia.

Avanços liderados por especialistas brasileiros

Sob a liderança do engenheiro florestal Pedro Medrado Krainovic, o estudo desenvolveu um modelo para prever o crescimento de espécies nativas da Mata Atlântica, visando a maturidade para a indústria madeireira. Este método inovador reduziu o tempo de colheita em 25% e aumentou a área basal das árvores em 38%, antecipando em 13 anos a idade ideal para o corte.

Pedro Medrado Krainovic é Engenheiro Florestal com tem ampla experiência em silvicultura, manejo de produtos florestais não madeireiros e cadeias produtivas na Amazônia e Mata Atlântica, com destaque para sua pesquisa inovadora em sistemas agroflorestais e óleos essenciais, e atualmente é pesquisador pós-doutor na Esalq/USP.

Krainovic explica que o estudo identifica padrões de produtividade versus tempo, o que é crucial para manejar espécies para o mercado madeireiro. Isso torna a restauração florestal mais viável e atrativa, alinhando-se aos acordos climáticos globais.

O estudo foi parte do Programa BIOTA-FAPESP, com apoio adicional de quatro outros projetos, incluindo o “NewFor”. A pesquisa também contou com bolsas de estudo para Danilo Roberti de Almeida, Catherine Torres de Almeida e Angélica Faria de Resende, coautores do artigo. Supervisionado por Ricardo Ribeiro Rodrigues do Lerf e Pedro Brancalion do Lastrop e BIOTA Síntese, o trabalho representa um marco importante na restauração florestal brasileira.

Mata Atlântica em foco

Apesar de ser reconhecida em 2022 pela ONU como uma das dez referências globais em restauração, a Mata Atlântica é o bioma mais afetado pela perda de área florestal no Brasil. Originalmente com cerca de 140 milhões de hectares, atualmente, apenas 24% de sua cobertura florestal persiste, sendo somente 12% desta em condições de boa conservação, de acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica.

Os esforços para combater o desmatamento têm sido eficazes, evidenciados pela redução de 42% no desmatamento entre janeiro e maio de 2023, comparado ao mesmo período em 2022. Além disso, a ONU proclamou a Década da Restauração de Ecossistemas até 2030, incentivando a proteção e revitalização dos ecossistemas globais para benefício humano e da natureza.

Krainovic destaca a necessidade de mais dados para apoiar políticas públicas na restauração florestal. Seu estudo oferece uma lista de espécies útil para proprietários de terras, abrindo caminho para enriquecer a restauração florestal com um viés econômico e atingir múltiplos objetivos, como a recuperação de serviços ecossistêmicos.

Iniciativa Refloresta-SP

Os resultados do estudo são fundamentais para o Refloresta-SP, um programa do Estado de São Paulo focado na restauração ecológica, recuperação de áreas degradadas, e implementação de florestas multifuncionais e sistemas agroflorestais.

Krainovic, que viveu 12 anos na Amazônia, traz uma experiência diversificada, trabalhando tanto em projetos de recuperação de áreas degradadas usando espécies com potencial econômico quanto em cadeias produtivas de produtos florestais não madeireiros para a indústria de cosméticos. Ele ressalta a importância de sua experiência prática além da academia.

Cientistas brasileiros desenvolvem técnica e aceleram o caminho para restauração florestal Eficiente

O estudo avaliou 13 áreas de restauração florestal em São Paulo, variando entre seis e 96 anos de plantio. Essas áreas possuem uma ampla diversidade de espécies nativas, contribuindo para a promoção de serviços ecossistêmicos semelhantes aos das florestas naturais.

Seleção de espécies arbóreas nativas

Foram escolhidas dez espécies arbóreas nativas comerciais, como guatambu, jequitibá-rosa, cedro-rosa, entre outras, todas com diferentes densidades de madeira e historicamente valorizadas pelo mercado. A maioria dessas espécies é protegida por lei, sendo endêmicas da Mata Atlântica e do Cerrado, e algumas, como o jatobá e o ipê-roxo, ainda são exploradas na Amazônia.

Os pesquisadores realizaram testes iniciais para modelar o crescimento do diâmetro e da área basal das espécies arbóreas selecionadas ao longo do tempo. Eles desenvolveram cenários de produtividade, considerando os 30% maiores valores de diâmetro para cada espécie por local e idade, criando o que chamaram de “cenário otimizado”. Este cenário reflete a aplicação de tratos silviculturais que resultam em maior produtividade.

Classificação das espécies e redução do tempo de colheita

As espécies foram classificadas de acordo com o tempo necessário para atingir os 35 centímetros de diâmetro, essencial para a colheita. Elas foram agrupadas em três categorias: crescimento rápido (menos de 50 anos), intermediário (50-70 anos) e lento (mais de 70 anos). Utilizando a abordagem GOL, as espécies foram reagrupadas em quatro faixas de crescimento: rápida (menos de 25 anos), intermediária (25-50 anos), lenta (50-75 anos) e superlenta (75-100 anos).

foto: Joel & Jasmin Førestbird/Unsplash

Com o cenário otimizado, o tempo necessário para a colheita foi reduzido em 25%, o que significa uma antecipação média de 13 anos na idade ideal de colheita. Entretanto, para o jequitibá-rosa e o jatobá, o período ideal de colheita foi prolongado, embora a área basal tenha aumentado mais de 50%. Já o cedro-rosa apresentou uma redução de 36,6% na área basal, mas com uma antecipação de 47 anos no tempo de colheita.

No geral, nove das dez espécies estudadas atingiram o diâmetro de 35 cm antes dos 60 anos, com exceção do guarantã, de alta densidade de madeira.

Publicação e Acesso ao Estudo

O estudo intitulado “Potential native timber production in tropical forest restoration plantations” está disponível para consulta no website da revista “Perspectives in Ecology and Conservation”, pelo link: www.perspectecolconserv.com/en-potential-native-timber-production-in-avance-S2530064423000640.

Informações: Brasil Amazônia Agora.

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Com distribuição recorde, Paraná vai alcançar 10 milhões de mudas plantadas em 2024

O ano de 2023 deixou o Paraná mais verde. O IAT entregou 1.850.427 mudas de espécies nativas em todo o Estado, um aumento de 6% em relação a 2022. Esse foi o maior volume de distribuição desde 2019, quando o programa Paraná Mais Verde foi implementado pelo Governo do Estado. Nos últimos cinco anos, o projeto superou a marca de nove milhões e 300 mil plantas, o equivalente a 8.300 campos de futebol de restauração florestal. A perspectiva, ao manter a média, é que o Paraná alcance 10 milhões de mudas distribuídas ainda neste semestre. O gerente de restauração ambiental do IAT, Mauro Scharnik, destacou fatores que colaboraram com esse resultado.

Ele reforça que boa parte das autorizações ambientais ou penas por supressão vegetal emitidas pelo IAT incluem como condicionante o replantio com plantas na nativas do Estado, fornecidas em grande parte pelo instituto.

De acordo com levantamento da diretoria de Patrimônio Natural do órgão ambiental, os núcleos regionais de Curitiba, Guarapuava e Campo Mourão lideraram o ranking de distribuição, respondendo por 30% do total de plantas. As mudas que ajudam no reflorestamento do Paraná são cultivadas nos 19 viveiros florestais e nos dois laboratórios de sementes do IAT. O órgão produz plantas de mais de 100 espécies diferentes, incluindo 25 ameaçadas de extinção, como a araucária e a imbuia.

O programa foi criado em 2019 e tem como objetivo despertar a consciência ambiental e aliar o desenvolvimento ambiental, econômico e social, por meio da produção e plantio de árvores nativas nas áreas urbanas e rurais. As mudas são plantadas em locais que precisam ser recuperados ou melhor arborizados, bem como incentivar a população a cultivar árvores para colaborar no equilíbrio do clima.

Informações: GOVPR.

Imagem: Blog da Plantei.

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Guia pioneiro é lançado para identificar mudas de espécies arbustivas e arbóreas para restauração florestal no RS

A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a década da restauração de ecossistemas entre os anos de 2021 e 2030. Com o objetivo de auxiliar o Brasil e o Rio Grande do Sul a alcançar as metas pactuadas para restauração florestal neste período, a Embrapa Clima Temperado lança, neste dia 7 de dezembro, o Guia para Identificação de Mudas de Espécies Arbustivas e Arbóreas de espécies indicadas para Restauração Florestal no Rio Grande do Sul, durante a realização do XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica. O guia tem como objetivo ajudar  na correta identificação de mudas de 67 espécies nativas indicadas para restauração de ecossistemas florestais e savonóides no RS. 

O Guia será lançado para identificação de espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração de ecossistemas florestais nos biomas Pampa e Mata Atlântica, ao se inserir na programação do XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica e mais quatro eventos, a II Feira da Agroecologia, a  I Oficina Pedagógica, a Mostra Cultural de Arte e Dança e a Reunião Regional de Organizações de Controle Social, na Estação Experimental Cascata, no interior de Pelotas/RS. “Este é o primeiro para mudas de espécies arbóreas nativas do Estado. Tivemos o cuidado de adaptar a linguagem para o público técnico e agricultores, permitindo que todos acessem o conhecimento de forma igual”, disse um dos pesquisadores  do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, Ernestino Guarino.

O Guia de Identificação de Mudas de Espécies Arbóreas para Restauração Florestal do Rio Grande do Sul, de forma ilustrada e didática, é uma publicação que apresenta características-chave para identificação de mudas e sementes das principais espécies arbustivas e arbóreas indicadas para restauração florestal. Nele se encontram uma descrição dos biomas e as regiões onde se realizam a restauração florestal, a forma de tipificação das sementes e sua forma de armazenamento, a própria descrição da seleção das espécies identificadas, acompanhada por suas características e imagens. “Além de apoiar na identificação das mudas que por ventura serão plantadas (adquiridas em viveiros), o Guia ajudará também na identificação das mudas que germinaram em áreas em processo de restauração assistida, ou não – restauração passiva”, explicou.

Os  pesquisadores do Grupo de Manejo e Restauração da Vegetação Nativa, também responsáveis pela obra, explicam que existem diversas estratégias de restauração ecológica, as quais podem ser divididas em dois grandes grupos: técnicas de restauração ativa e técnicas de restauração passiva. Essas estratégias diferenciam-se basicamente pela forma de intervenção humana no processo de sucessão da vegetação. 

A restauração ativa consiste na aplicação de diferentes técnicas de manejo (por exemplo: semeadura direta, plantio de mudas em área total) para a condução da sucessão vegetal;  a restauração passiva baseia-se na capacidade de auto regeneração da vegetação, sendo que a intervenção humana ocorre apenas no diagnóstico e controle das causas de degradação do ambiente (controle de fogo, do gado, da agricultura, entre outros). 

Dentre as diferentes técnicas de restauração ativa, o método mais difundido para a recuperação de áreas degradadas ainda é o plantio de mudas produzidas em viveiro, porém esse método é caro, trabalhoso e geralmente lento. Uma alternativa possível, porém, ainda pouco explorada no Rio Grande do Sul, é a semeadura direta de sementes. Esse método tem como vantagens, o baixo custo de implantação, principalmente quando o objetivo é recuperar grandes áreas e a baixa necessidade de mão de obra especializada. Um dos integrantes do Grupo de Manejo e Restauração é o pesquisador Ernestino Guarino indica que nos últimos anos, várias ações de restauração por meio de semeadura direta vêm sendo feitas em diversos ecossistemas florestais brasileiros. No RS, uma das experiências pioneiras vem sendo realizada por meio do Projeto SAFLegal. Dados de pesquisa recém publicados demonstram  que após 12 meses da semeadura, aproximadamente 25% das sementes emergem, garantindo uma densidade de 2.000 mudas por hectare. Realizado de forma consorciada com grãos, em sistemas agroflorestais, o custo do processo de restauração é de 75% inferior ao método tradicional (plantio de mudas em área total) com mesma  densidade de mudas por hectare. 

“É fundamental gerar tecnologias que reduzam custos e maximizem o uso da mão de obra no processo de restauração, produtiva ou não. Juntamente com a constituição de redes coletoras de sementes e viveiros, integrando diferentes estratégias em nível da paisagem é possível obter maior efetividade com menor custo das atividades de restauração, tornando viável e interesse para o agricultor todo esse processo”, falou. O produtor não recebe recursos financeiros diretamente por optar pela restauração, mas há ganhos na melhoria da água devido a restauração das nascentes, por exemplo. Além disso, é uma obrigação legal de todos os agricultores conservarem as Áreas de Reserva Legal (RL) e Proteção Permanente (APP), mantendo o mínimo exigido na legislação. 

“Para se ter qualidade de mudas e sementes é importante levar em conta que essa garantia não está apenas nas melhores técnicas de coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes e produção de mudas de essências florestais, mas também pela correta identificação dessas espécies”, lembrou Ernestino Guarino. Ele relatou que os pesquisadores observaram que os diferentes atores envolvidos na cadeia da restauração florestal no Rio Grande do Sul, apresentam dificuldades para identificar sementes e mudas, incorrendo muitas vezes em erros que podem comprometer ou inviabilizar o processo de restauração florestal. “Algumas espécies são muito parecidas, porém com demandas de solo e clima diferentes”, destacou. Conforme o pesquisador, quando há erros de identificação de mudas de espécies, esses podem causar grandes problemas na restauração, que além de uso de espécies não adaptadas a solo e clima local, podem ser usadas espécies exóticas invasoras, causando prejuízos econômicos e ambientais. 

O Guia compõe um grupo de tecnologias voltadas à inserção da árvore na propriedade rural e a restauração florestal por meio da semeadura direta, apoiando técnicos e agricultores na identificação e definição das espécies utilizadas. Tais tecnologias foram geradas com apoio financeiro da Corsan, do CNPq e do Sistema Embrapa de Gestão de Projetos (SEG), via o projeto SAFLegal.

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Brasil – Plantio de árvores nativas da Amazônia recupera áreas de preservação permanente

O plantio de espécies nativas para recuperação de áreas de preservação permanente e a implantação de SAFs são recomendados para restauração florestal na região amazônica

  • O plantio de espécies nativas – florestais e frutíferas –  é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na agricultura familiar da região amazônica.
  • Já na recuperação das áreas de reserva legal a implantação de Sistemas Agroflorestais é a estratégia adotada por agricultores e técnicos.
  • Essas recomendações resultam de trabalho participativo conduzido pela pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará.
  • O objetivo do trabalho é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores.
  • Tecnologias e alternativas de baixo custo para os plantios são adotadas na região, além de estratégias de construção coletiva do conhecimento.

Trabalho participativo da pesquisa junto a agricultores familiares do Sudeste do Pará revela que o plantio de espécies nativas – florestais e frutíferas – é a forma mais indicada de recuperação de áreas de preservação permanente na região amazônica.  Para as áreas de reserva legal, a recomendação é a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Realizado no projeto de assentamento Mamuí, no município de Itupiranga, o trabalho aposta na adoção de estratégias de baixo custo de restauração florestal, como o plantio de sementes pré-germinadas e mudas de espécies já existentes no local. O objetivo maior da iniciativa é reduzir o desmatamento e melhorar a condição socioprodutiva dos agricultores familiares na Amazônia.

O Sudeste do Pará concentra uma grande quantidade de projetos de assentamentos que abrigam milhares de famílias de agricultores. Em geral, a ocupação cumpre uma lógica de abertura de áreas de floresta para atividades produtivas, seguindo o processo tradicional de derrubada e queima. “Os locais próximos a nascentes e igarapés são os mais visados para derrubada. É uma estratégia do pequeno agricultor instalar a casa nesses locais, para ter acesso à água e afastar animais peçonhentos”, explica o pesquisador Ademir Ruschel, da Embrapa Amazônia Oriental.

Essas áreas, no entanto, são consideradas pela legislação como de preservação permanente e o seu desmatamento gera um passivo ambiental para a propriedade. Também compõem o quadro de degradação ambiental a agricultura e a pecuária com baixa adoção de tecnologia, caracterizada pela derruba e queima, e que dependem do abandono e reabertura de novas áreas para renovar a fertilidade do solo.

A região é um dos pontos de implantação das ações do Inovaflora, um dos 19 projetos que fazem parte do Projeto Integrado da Amazônia (PIAmz), parceria entre a Embrapa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com ações financiadas pelo Fundo Amazônia.

No projeto de assentamento Mamuí, por meio da troca de experiências, informações e tecnologias e da construção coletiva do conhecimento, a equipe e os agricultores implantaram sistemas de recomposição com base na diversidade de espécies florestais nativas, frutíferas, e outros cultivos agroalimentares já utilizados ou de interesse das comunidades.

Tecnologias e diversidade para produzir sem desmatar

“Levamos tecnologias e construímos alternativas com os agricultores para que eles possam se adequar à legislação e produzir mais em suas áreas”, explica a engenheira florestal Michelliny Bentes, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e coordenadora do Inovaflora.

Segundo a pesquisadora, um dos principais gargalos nos trabalhos de recuperação envolve os custos com a produção ou aquisição de sementes, mudas e insumos, e com adubação, viveiros e transporte até as áreas de plantio. “Esses custos são altos na Amazônia. A obtenção de sementes de espécies florestais nativas é outro gargalo, assim como o conhecimento sobre seu desenvolvimento germinativo”.

Para contornar as dificuldades, a equipe do projeto avaliou em conjunto com a comunidade a utilização da técnica de plantio de sementes escarificadas ou pré-germinadas, que, entre outros benefícios, diminui os custos na etapa de viveiro (semeadura, repicagem e condução) e no transporte até o local definitivo de plantio.  “É uma técnica simples e barata que pode ser adotada pelo produtor com facilidade”, explica o pesquisador Ademir Ruschel, integrante do projeto

Nessa técnica, as sementes das espécies escolhidas germinam diretamente sobre o solo, protegidas por uma cobertura de palha umedecida, e depois são levadas para o plantio nas áreas de recuperação. “No fim do processo, elas se desenvolvem tão bem quanto uma muda que começou num saquinho com substrato e protegida pelo viveiro, ou mesmo avantajada, por preservar a formação radicular, principalmente mantendo a raiz pivotante provida da coifa, o que fisiologicamente favorece à saúde da planta”, avalia Ruschel.

Seguindo essa técnica, nas áreas de preservação permanente escolhidas para recuperação, as sementes escarificadas ou pré-germinadas foram plantadas de forma adensada e no dobro da quantidade de indivíduos previstos. “Isso em função da previsão de perda por mortalidade natural (seleção), condições ambientais adversas e entrada de animais e de que nem todos tratos silviculturais seriam aplicados até o fim do estabelecimento das espécies plantadas. Mesmo assim, na última avaliação – três anos após o plantio -, a sobrevivência se mostrou superior a 50%”, explica Ruschel.

Também nesses locais, foram plantadas diversas mudas de espécies florestais fornecidas por viveiros para uma maior diversidade de espécies. A produção de mudas em viveiro deve ser aliada à técnica de plantio direto de sementes, principalmente em virtude da necessidade de armazenamento e período de plantio. “Sugerimos frutíferas nativas, a exemplo do bacuri, açaí, taperebá, castanha-do-Pará, piquiá, graviola, cacau, cupuaçu, ingá, uxi, buriti, puxuri, e espécies que fornecem óleos e resinas, como andiroba, cumarú, pracaxi, e copaíba”, completa.

O açaí nativo (Euterpe oleracea) foi outra aposta dos técnicos e dos agricultores nas áreas de preservação permanente, conta Michelliny Bentes. “Com isso o projeto conseguiu conciliar dois objetivos: reintroduzir uma espécie nativa no seu habitat natural e promover a atração da fauna e o aumento da polinização, que se destaca com um dos mais nobres serviços ecossistêmicos para a restauração ecológica”, explica.

Mais de 50 espécies arbóreas nativas, algumas já praticamente escassas na região, foram introduzidas nas áreas de preservação permanente que anteriormente estavam cobertas com pasto e uma regeneração secundária empobrecida. Entre elas jatobá, amarelão, mogno-brasileiro, maranhoto, timborana, pau-preto, jarana, sumaúma, fava-arara-tucupi, angelim-branco, oiti, bacaba e bacuri.

Fotos acima: Vinícius Braga.

SAFs para a reserva legal

Do grupo de oito agricultores que aderiram à recuperação das áreas de preservação permanente, três também tiveram interesse em recuperar a reserva legal. Nesse trabalho, foram implantados sistemas agroflorestais em parcelas de 3.500 metros quadrados divididos em três componentes: núcleo de produção, frutíferas de pequeno porte e essências florestais nativas. O primeiro é o que reuniu o maior número de plantas distribuídas entre açaizeiro, bananeira e cacaueiro.

A família do agricultor Antônio Maurício é uma das que começaram a recomposição da reserva legal. O agricultor (foto à esquerda) adotou um sistema agroflorestal para recuperar uma nascente localizada no seu lote. “Foram 45 mudas de banana, 90 de açaí, 90 de cacau, além de mogno, andiroba, buriti e ipê. Tudo para proteger a água da minha área”, conta. Ele tem observado que a vegetação das nascentes é condição fundamental para manter a qualidade da água. “As nossas áreas de preservação permanente devem estar cobertas com vegetação nativa e produtiva também. Se descobrirmos tudo, isso compromete a qualidade da nossa água”, acredita.

A pesquisadora Michelliny Bentes destaca que um importante benefício ecológico observado nas avaliações a campo, nas áreas do projeto de assentamento Mamuí, é a formação de pequenos corredores ecológicos, que estão se interligando à reserva legal das propriedades. “No médio prazo, teremos uma nova formação florestal trazendo mais benefícios às famílias de agricultores, além da produção diversificada com os SAFs que também já começam a dar os primeiros resultados de produção”, finaliza Bentes

Foto do agricultor: Enilson Solano.

Seu João e a restauração florestal

A animação, inspirada na experiência do projeto Inovaflora, no Sudeste do Pará, mostra a história do seu João, personagem fictício que representa um pioneiro na ocupação de lotes na Amazônia. O reflorestamento com espécies nativas foi a solução encontrada para melhorar a condição produtiva do lote e promover a adequação ambiental.

Benefícios que vão além do ambiente

A pesquisa aponta diferentes estratégias de restauração e a escolha de uma depende do contexto local e dos objetivos da intervenção na área, que podem ser resgatar os serviços ecossistêmicos, melhorar a produção agropecuária e florestal ou diminuir passivos ambientais. Entre as estratégias estão a reabilitação produtiva da área; o reflorestamento com sistemas integrados de produção, como Sistemas Agroflorestais e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF); o reflorestamento com plantio de espécies arbóreas; e a regeneração natural.

Joice Ferreira, também pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, explica que os serviços ecossistêmicos são funções que os ambientes naturais provêm para os seres humanos. “A polinização, a produção e qualidade da água, do solo e outros são exemplos. A restauração tenta justamente resgatar esses serviços que foram perdidos a partir do desmatamento e degradação. Trazendo a floresta de volta, permitimos o aumento da produção de água, de frutos, de culturas agrícolas, de alimentos e outros serviços”, acrescenta.

Em locais onde o uso da terra é mais recente, com a presença de florestas remanescentes por perto, a regeneração natural, que envolve somente o isolamento da área, é uma boa estratégia, segundo os especialistas. Já em áreas que foram abertas há mais tempo e onde não existem florestas por perto, o reflorestamento com o plantio de espécies nativas e também a implantação de sistemas integrados são mais indicados.

“É importante que o agricultor tenha consciência que esse ambiente é uma área que vai ser perenizada. Então a restauração ou recuperação desse ambiente degradado tem que ser atrativa para o agricultor com o uso de sistemas de baixo custo e também com a obtenção de benefícios”, ressalta o pesquisador Ademir Rushell. “A recuperação pode, portanto, desempenhar a função de restaurar o ambiente e trazer benefícios sociais e econômicos ao agricultor”, conclui.

Foto: Enilson Solano.

Informações: Portal Embrapa.

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