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A Restauração Florestal é muito mais que apenas um plantio de árvores

A importância do monitoramento em projetos de reflorestamento

Eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos ao redor do mundo, desencadeando uma série de impactos negativos na qualidade de vida da população. Fenômenos naturais que incluem tempestades fortes, secas prolongadas, ondas de calor extremo e inundações, mostram o desequilíbrio climático provocado por ações antrópicas. Esses episódios não apenas causam danos materiais e humanos, mas também destacam a urgência de medidas para mitigar os efeitos da crise climática.

A restauração florestal emerge com um papel crucial no combate a este cenário. As árvores sequestram o gás carbônico da atmosfera, reduzindo o efeito estufa, além disso, as florestas são importantes para conservação da biodiversidade, controle de enchentes, melhoria da qualidade do ar, dentre outros. Entretanto, o processo de reflorestamento é muito mais complexo que realizar um simples plantio adensado de árvores em uma determinada localidade. O objetivo é restaurar ecossistemas complexos, que apresentam diferentes interações e dinâmicas ecológicas.

Para o êxito desses projetos é de suma importância realizar um preciso diagnóstico da área e utilizar metodologias de restauração adequadas. Além disso, o sucesso não depende apenas do plantio, mas também da implementação de práticas de manejo apropriadas ao longo da implantação e manutenção do projeto, emprego de mão de obra qualificada, do acompanhamento contínuo do processo e do monitoramento. Um trabalho de muitas frentes a fim de permitir medidas adaptativas para o melhor desenvolvimento ecológico.

O monitoramento da restauração florestal desempenha um papel multifacetado e fundamental na garantia do sucesso e da eficácia desses projetos, permitindo uma avaliação regular do crescimento da floresta ao longo do tempo.

Ao acompanhar de perto o desenvolvimento das áreas, é possível verificar se as metas estabelecidas estão sendo alcançadas, identificar eventuais desvios em relação ao planejamento, como maior mortalidade das mudas ou alguma deficiência.

O monitoramento pode ser realizado almejando diferentes objetivos e para isso existem diversos protocolos de monitoramento. Atualmente muito se fala sobre o cálculo do estoque de carbono em áreas de restauração florestal e para esta mensuração existem distintos protocolos de sequestro de CO2. Normalmente estes protocolos estão relacionados ao acúmulo de biomassa por parte das árvores (acima do solo) e, por vezes, também é verificado o estoque de carbono abaixo do solo. A partir destas estimativas, o reflorestamento adiciona créditos de carbono aos projetos, que podem ser utilizados para neutralização de atividades ou empreendimentos com alta pegada de carbono.

O estado de São Paulo possui a Resolução SMA nº 32 de 2014, que trata sobre monitoramento de áreas em processo de restauração e a Portaria CBRN nº 01/2015 que estabelece o protocolo de monitoramento para diferentes formações florestais e ecossistemas abertos. Esses documentos apresentam como característica uma fácil e rápida aplicação em campo, sendo coletados dados para avaliar três indicadores ecológicos: cobertura do solo com vegetação nativa; densidade de indivíduos nativos regenerantes; e número de espécies nativas regenerantes.

Esta resolução tem como diferencial a utilização de variáveis ecológicas que, dentro do processo de formação e manutenção dos ecossistemas naturais, contribuem a longo prazo para que a área manejada se perpetue e possa se aproximar do ecossistema de referência. Por exemplo, a utilização de indicadores relacionados a quantidade e variedade de espécies que regeneram na área, isto é, que ocorrem espontaneamente, é muito importante para a resiliência da área. Afinal, estas novas plântulas serão os futuros seres a ocupar o local manejado pelo projeto.

Além disso, a resolução indica valores de referência que devem ser atendidos para atestar que a área se encontra restaurada. Isso é, se a área possui condições para se perpetuar ao longo do tempo sem intervenções humanas.

Em suma, o monitoramento permite avaliar o impacto ambiental positivo do reflorestamento, fornecendo dados sobre o aumento da biodiversidade, a melhoria da qualidade do solo e da água e o sequestro de carbono atmosférico. Essas informações são essenciais para comunicar os benefícios da restauração florestal para a sociedade, em especial para se obter novos financiadores e auxiliar os tomadores de decisão visando o melhor emprego de recursos.

Outro aspecto crucial é a melhoria contínua das práticas de restauração florestal. Com base nos dados obtidos por meio do monitoramento, é possível aprender com as experiências passadas e aprimorar as técnicas de plantio, seleção de espécies e manejo do ecossistema. Isso não apenas aumenta a eficiência dos projetos, mas também contribui para a sustentabilidade a longo prazo dos ecossistemas restaurados.

Informações: Um Só Planeta.

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Veracel: reflorestamento para produção sustentável de celulose terá R$ 200 milhões do BNDES

Projeto florestal da empresa produtora de celulose fará plantio de eucaliptos em área superior a 20 mil hectares no interior da Bahia

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento no valor de R$ 200 milhões para o programa florestal da Veracel Celulose S/A. Os recursos permitirão o plantio e reflorestamento de eucaliptos no interior da Bahia, garantindo a produção de celulose de forma sustentável.

Mais de 20 mil hectares receberão eucaliptos, permitindo a conservação dessas áreas. O investimento do projeto contribuirá com a manutenção de empregos e renda em municípios de baixo IDH do interior do estado da Bahia.

“O BNDES é uma instituição estratégica para o processo de neoindustrialização e tem um papel histórico para o desenvolvimento da indústria de papel e celulose no país, da forma como ela é hoje. Nesse sentido, continuaremos apoiando o setor, com a utilização de mecanismos tradicionais de financiamento, novas modelagens de crédito que poderão ser implementadas, ou novos instrumentos financeiros voltados para uma indústria verde, sustentável e inclusiva, prioridades do governo Lula”, afirma o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

“Um projeto florestal que tem como objetivo a produção sustentável de celulose está perfeitamente alinhado com a Nova Indústria Brasil. E o BNDES cumpre o papel de apoiar as empresas brasileiras em projetos sustentáveis, exportadores e voltados à economia verde”, explica o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon.

O programa florestal da Veracel tem como finalidade aumentar a produtividade e a competitividade da empresa. O produto final, a celulose, tem grande potencial exportador e, portanto, contribui para manutenção do saldo positivo do setor na balança comercial brasileira.

“O BNDES possui um importante papel para o desenvolvimento sustentável do setor de papel e celulose no país, permitindo sua competitividade. O Banco contribui diretamente para colocar o Brasil como um dos maiores produtores e exportadores de celulose do mundo”, destaca Rodrigo Louzada, diretor Administrativo Financeiro da Veracel.

BNDES e o apoio ao setor – Entre 2014 e 2023, o Banco financiou aproximadamente R$ 21,7 bilhões para empresas do setor de base florestal, correspondendo a 48% do valor investido, o que demonstra a forte presença do BNDES na execução de investimentos importantes dessa indústria. Esse apoio foi fundamental para que o Brasil alcançasse uma privilegiada condição competitiva, considerando que o país é hoje o 2º maior produtor global de celulose e o 10º produtor mundial de papéis.

A empresa – A Veracel Celulose é uma empresa de bioeconomia brasileira que integra operações florestais, industriais e de logística, que resultam em uma produção anual média de 1,1 milhão de toneladas de celulose a partir da fibra de eucalipto. A atuação florestal da Veracel abrange mais de 200 mil hectares, em onze municípios do Sul e Extremo Sul Bahia, incluindo áreas de plantio próprias, arrendadas e de fomento, além de áreas protegidas ambientalmente. É guardiã da maior Reserva Particular do Patrimônio Natural de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro.

Informações: Agro+/UOL.

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Com distribuição recorde, Paraná vai alcançar 10 milhões de mudas plantadas em 2024

O ano de 2023 deixou o Paraná mais verde. O IAT entregou 1.850.427 mudas de espécies nativas em todo o Estado, um aumento de 6% em relação a 2022. Esse foi o maior volume de distribuição desde 2019, quando o programa Paraná Mais Verde foi implementado pelo Governo do Estado. Nos últimos cinco anos, o projeto superou a marca de nove milhões e 300 mil plantas, o equivalente a 8.300 campos de futebol de restauração florestal. A perspectiva, ao manter a média, é que o Paraná alcance 10 milhões de mudas distribuídas ainda neste semestre. O gerente de restauração ambiental do IAT, Mauro Scharnik, destacou fatores que colaboraram com esse resultado.

Ele reforça que boa parte das autorizações ambientais ou penas por supressão vegetal emitidas pelo IAT incluem como condicionante o replantio com plantas na nativas do Estado, fornecidas em grande parte pelo instituto.

De acordo com levantamento da diretoria de Patrimônio Natural do órgão ambiental, os núcleos regionais de Curitiba, Guarapuava e Campo Mourão lideraram o ranking de distribuição, respondendo por 30% do total de plantas. As mudas que ajudam no reflorestamento do Paraná são cultivadas nos 19 viveiros florestais e nos dois laboratórios de sementes do IAT. O órgão produz plantas de mais de 100 espécies diferentes, incluindo 25 ameaçadas de extinção, como a araucária e a imbuia.

O programa foi criado em 2019 e tem como objetivo despertar a consciência ambiental e aliar o desenvolvimento ambiental, econômico e social, por meio da produção e plantio de árvores nativas nas áreas urbanas e rurais. As mudas são plantadas em locais que precisam ser recuperados ou melhor arborizados, bem como incentivar a população a cultivar árvores para colaborar no equilíbrio do clima.

Informações: GOVPR.

Imagem: Blog da Plantei.

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Evento na UFV vai promover o plantio de cerca de 2 mil mudas neste sábado

No próximo sábado (16), o programa UFV+Sustentável, em conjunto com o Departamento de Engenharia Florestal (DEF), Instituto Estadual de Florestas (IEF), Conservador da Mata Atlântica e Grupo de Estudos em Economia Ambiental e Manejo Florestal (GEEA), realizará, no campus Viçosa, o Dia de Plantio de Mudas, das 7h às 13h.

O evento visa esclarecer sobre diferentes técnicas de reflorestamento e realizar o plantio de cerca de 2 mil mudas em áreas de Preservação Permanente (APP), ao redor de nascentes e cursos d’água. O plantio das mudas, que está ligado à compensação ambiental de diversos licenciamentos da UFV, ocorrerá na Unidade Demonstrativa de Recomposição da Vegetação Nativa em Áreas Protegidas da Universidade, próxima à Uepe- Frigorífico Escola. Todos os participantes terão à disposição um ônibus, que sairá de frente do Restaurante Universitário I.

Toda a comunidade universitária poderá participar das atividades. Haverá emissão de certificados e, para isso, é necessário preencher o formulário de inscrição.

A UFV ressalta que, no dia da atividade, é importante que os participantes usem calçados fechados, calças, blusas de manga comprida, bonés/chapéus e protetor solar, além de levar sua garrafinha de água.

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Microsoft compra 1,5 milhão de créditos de remoção de carbono de startup brasileira

Aquisição deve ser feita até 2032 e incentiva projeto que pretende reflorestar parte da Amazônia

Microsoft está investindo no mercado voluntário de carbono do Brasil com um acordo para comprar créditos de um projeto em grande escala para reflorestar partes degradadas da Amazônia.

gigante de tecnologia concordou em comprar até 1,5 milhão de créditos de remoção de carbono até 2032 da startup brasileira Mombak Gestora de Recursos, que está plantando mais de 100 espécies de árvores nativas em terras desmatadas na floresta.

Os valores não foram divulgados, mas a Microsoft passou os últimos dois anos fazendo uma diligência e aconselhando sobre o projeto antes de concordar em comprar créditos, e é o maior acordo da empresa até o momento para créditos de carbono baseados na natureza.

“Tentamos construir os mercados dos quais compramos”, disse Brian Marrs, diretor sênior de energia e remoção de carbono da Microsoft. “Esperamos que este seja um modelo para o futuro. Queremos vê-lo em jurisdições no Brasil e além.”

A Mombak está aproveitando uma mudança nos mercados voluntários de carbono, onde os compradores estão dispostos a pagar mais por projetos que realmente removem carbono, em vez de compensações, que geram créditos mantendo as árvores existentes em pé.

A empresa sediada em São Paulo espera que o Brasil se torne o maior exportador mundial de créditos de remoção de carbono devido à vasta quantidade de terras desmatadas disponíveis na Amazônia, onde as árvores crescem mais rápido do que em climas mais frios. Cada crédito representa uma tonelada de carbono removida da atmosfera.

O acordo da Microsoft faz parte de um projeto para plantar mais de 30 milhões de árvores no estado do Pará. As florestas cobrirão cerca de 70 mil acres, ou cinco vezes o tamanho de Manhattan.

A companhia também planeja fazer parte do plano de se tornar carbono negativa até 2030. O anúncio coincide com as negociações climáticas da COP28 em Dubai, evento no qual a Microsoft e a Mombak estão participando.

Em um mercado que ganhou uma reputação negativa devido a projetos que não eram cientificamente defensáveis, ou até fraudulentos, o acordo com a Microsoft dá à Mombak um selo de aprovação importante que ajudará a levantar dinheiro para mais projetos de reflorestamento no Brasil, de acordo com o principal executivo da startup de remoção de carbono.

“Temos uma das cinco empresas mais valiosas obtendo seu maior suprimento baseado na remoção de carbono no Brasil”, disse o CEO da Mombak, Peter Fernandez, em uma entrevista. “Isso será estratégico para o nosso negócio. Isso nos permitirá levantar mais dinheiro para o reflorestamento.”

A Mombak atraiu investidores, incluindo o Canada Pension Plan Investment Board e a Capital Partnership Strategies, para um fundo de reflorestamento. São os compradores finais dos créditos —neste caso, a Microsoft— e não os investidores que os usam para compensar emissões.

Para a Microsoft, o uso da tecnologia em nuvem, aprendizado de máquina e drones pela startup para selecionar os locais mais adequados para o reflorestamento foi particularmente atraente.

“A Mombak desvendou o código das soluções baseadas na natureza de uma maneira que muitos outros provedores não conseguem”, disse Marrs.

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Projeto Aloy’s Forest: PlayStation anuncia 600 mil árvores plantadas

A PlayStation compartilhou uma atualização sobre o projeto Aloy’s Forest, parte do compromisso da empresa com a Aliança das Nações Unidas Playing for the Planet. A iniciativa visa aumentar a conscientização sobre a biodiversidade e plantar 1 milhão de árvores com a indústria de jogos, em parceria com a ONU-REDD.

A Guerrilla Games e a Sony Interactive Entertainment, junto com a comunidade PlayStation e parceiros selecionados, apoiaram projetos de reflorestamento em todo o mundo. Até agora, mais de 600.000 árvores foram plantadas globalmente, e cerca de 1.800 acres de terras indígenas e habitats de vida selvagem foram restaurados.

No Brasil, 333 mil árvores estão em processo de plantio para ajudar a restaurar 946 hectares de terras indígenas na Amazônia. Essas iniciativas visam melhorar a segurança alimentar e as alternativas de renda para os povos indígenas, além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas.

Aproveite para conferir o vídeo que retrata o progresso da PlayStation e seus parceiros:

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Programa da Jungheinrich Brasil planta mais de 10 mil árvores e poupa outras 420 mil na Mata Atlântica

Iniciativa planta 30 mudas nativas a cada empilhadeira à combustão convertida em elétrica no mercado nacional

A Jungheinrich Brasil, uma das líderes em intralogística no mundo, acabou de alcançar a marca de mais de 10 mil árvores plantadas na Mata Atlântica. A iniciativa faz parte do programa “O meio ambiente ganha em dobro”, lançado em 2021, e consiste no plantio de 30 mudas nativas para cada empilhadeira à combustão convertida em elétrica no mercado nacional — a campanha já poupou mais de 420 mil árvores.

Anualmente, são emitidas mais de 35 bilhões de toneladas de CO2 em todo o mundo, dos quais 4% são causados pela intralogística. Embora seja um percentual baixo e com efeitos indiretos, esse impacto acompanha setores-chave que contabilizam altas emissões, como é o caso do transporte, que responde por cerca de 20% das emissões globais. Por isso, a iniciativa da marca alemã tem o intuito de colaborar para a redução do CO2, a partir do reflorestamento da Mata Atlântica e conta com a parceria da Associação Ambientalista Copaíba — o plantio acontece na região do Socorro, em São Paulo.

“Estamos muito felizes de alcançar esse marco com o nosso programa. O meio ambiente deve ser uma preocupação de todos e nos sentimos realizados sabendo que, mais uma vez, estamos reforçando o nosso compromisso como empresa em preservar a natureza com ações palpáveis”, comenta Lauro Carvalho, Head de Marketing e Treinamento Latam da Jungheinrich Brasil.

Sobre a Jungheinrich

A Jungheinrich é uma das líderes globais em soluções, gestão de armazenagem e fluxo de materiais. Inovadora, oferece a seus clientes consultoria e soluções de intralogística, com um abrangente portfólio de empilhadeiras e sistemas automatizados de armazenagem. Em 2023, a organização lançou uma campanha com foco no bem-estar dos condutores das máquinas, mais um movimento que ocorre com o intuito de promover ações alinhadas com o propósito da marca de ‘inspirar pessoas a cuidar de pessoas’. Sediada em Hamburgo- GER, é uma empresa de capital aberto, com ações negociadas na bolsa alemã. Representada mundialmente em 41 países, emprega mais de 18.000 colaboradores. No Brasil, possui sede em Itupeva (SP) e filiais nas cidades de Belo Horizonte (MG), Cabo de Santo Agostinho (PE), São José dos Pinhais (PR), Itajaí (SC), Rio de Janeiro (RJ) e São Leopoldo (RS).

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Pizza florestal amarga como fel

Por: Sebastião Renato Valverde, Aléxia Penna Barbosa Diniz e Gabriel Browne de Deus Ribeiro.

Se já não bastasse a cultura vira-lata dos brasileiros de só valorizar as coisas alienígenas e vilipendiar o que vem das terras brasilis, tem que endeusar o que é abstrato e demonizar o concreto, como se evidencia na questão energética. Enquanto o mundo está, como agulha no palheiro, à procura de fontes limpas alternativas aos combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral), alucinando-se com hidrogênio verde e energia geotérmica, aqui as biomassas agrícolas e florestais, limpas e competitivas, sofrem pesadas críticas, sobretudo as da cana-de-açúcar e da madeira de reflorestamento.

Os investimentos no Brasil em energias intermitentes e caras como as eólicas e solares são tratados a “pão de ló”, subsidiando-se, tanto a importação dos materiais, quanto a implantação e operação das usinas. Enquanto as biomassas são trucidadas mesmo já estando provado os benefícios ambientais e seus baixos custos da tonelada vapor e do MWh cogerado, sendo, embora “isso a Globo não mostra”, um terço dos custos com derivados fósseis. Mesmo assim, principalmente a biomassa de reflorestamento, além de criticada, é taxada.

Ainda que o Novo Código Florestal (NCF, Lei 12651/2012) tenha flexibilizado a produção, o corte e o transporte da madeira de reflorestamento ao exigir, para fins de controle, apenas a comunicação ao órgão florestal após pagamento da Taxa Florestal, no entanto quando se trata da madeira para produção de carvão vegetal, único biorredutor renovável, ela ainda depende da autorização do órgão oficial, tendo como fundamento a possibilidade de, após a madeira ser convertida em carvão, tornar-se difícil controlar a origem dela – se de plantações ou de floresta nativa -. Daí a cobrança da taxa tendo como fato gerador o pagamento das análises dos processos, vistorias, acompanhamentos e fiscalizações pelos agentes dos órgãos para controle da cadeia de custódia.

Na verdade, taxam por preciosismo sobre uma parcela ínfima do carvão de madeira nativa com provável origem ilegal que, provado, com certeza precisa ser combatido e punido. Entretanto, há que reforçar que não é pecado consumir este carvão, sendo que para as regiões mais secas e montanhosas de Minas Gerais, quando oriundo de manejo florestal (MF), é solução. Assim também o é quando há desmatamento autorizado para alteração do uso do solo (AUS). Entristece saber que aqueles que realmente precisam dar um fim econômico aos recursos das suas florestas manejando-as e as mantendo de pé, não conseguem dadas as dificuldades impostas e pelo temor criado em carbonizar madeira de nativas.

Assim, por trás desta taxa está o eterno problema do desmatamento ilegal que, como na guerra do combate às drogas, o Brasil está sempre perdendo com suas armas repressoras, da mesma forma é derrotado no combate ao desmatamento. Só que, para piorar, a política de combate ao desmatamento concorre com a que o libera via legislação, exceto no bioma Mata Atlântica.

Mais que repressão, precisa-se de trabalho de inteligência para processar e analisar décadas de informações de fiscalização para o combate ao desmatamento ilegal. Também há que se refletir em decretar moratória temporária ao desmatamento. Pois, não é só a expansão da agropecuária que causa o desmatamento, mas, sim, ele mesmo. Ou seja, o próprio desmatamento é vetor dele mesmo. Quanto mais se desmata, maior a oferta de madeira e materiais lenhosos no mercado, menor os seus preços, menor o valor da árvore em pé e da floresta e maior os seus custos de mantê-la frente a renda das culturas agrícolas concorrentes – teoricamente definido como Custo de Oportunidade da Terra -, além de inviabilizar ainda mais o já tão inviável manejo florestal “sustentável”.

Não está ignorando aqui que alguém esteja consumindo carvão de nativa e outrem o esteja produzindo. O que está em voga é em que condições este carvão esteja sendo produzido? Se manejo ou desmatamento? Se legal ou ilegal? Se legal, em ambas os regimes, nada de errado. Se ilegal, a questão passa a ser discutido no âmbito de política ou polícia. Se oriundo do manejo ilegal há que se saber por que está sendo feito ilicitamente se é possível legalizá-lo. Se por falta de orientação técnica, se por desconhecimento da exigência legal ou por dificuldade de se entender como legalizar? Nestes casos, percebe-se que o problema é político, por distanciamento ou ausência do Estado para junto do produtor. Lembrando sempre que qualquer péssimo manejo será sempre melhor que qualquer excelente desmatamento, então é assessorar o produtor para tal.

Agora, se o problema for desmatamento ilegal com alteração do uso do solo e em grande escala, passa a configurar muito mais um problema de polícia que de política. Em sendo assim, todo rigor da legislação é pouco após o pleno direito de defesa tanto para quem produz, quanto para quem recepta. Quando se trata de pequeno produtor em condições de vulnerabilidade social, aí sim questiona se seria caso de imputar quem já está socialmente punido?

É lamentável se alguma empresa esteja consumindo irresponsavelmente carvão ilegal perante a tanta oferta de carvão de reflorestamento e ao potencial de carvão que poderia estar vindo de AUS e MF autorizados. É deficiência cognitiva, burrice mesmo, pois não faz o menor sentido este possível crime de receptação, haja vista que, infelizmente, a maior parte do material lenhoso resultante das supressões com AUS e do MF autorizados está se perdendo no campo ou tendo um fim nada nobre. Pouco ou quase nada deste material é convertido e consumido como carvão vegetal.

O fato é que a parcela de carvão de nativa no consumo total das empresas é tão pequeno, quase zero, que se desmembrá-lo em situações que beira a criminalidade, ou seja, carvão oriundo do desmatamento em grande escala configurado como caso de polícia, torna-se ainda mais insignificante. O que põe a reflexão se justifica tanto esforço e energia gastos somente na política de comando e controle punitiva, restritiva e coercitiva do órgão florestal e expondo a imagem de toda cadeia de um termorredutor renovável, diferenciado no mundo, quando se poderia converter isso em apoio via fomento e extensão florestal como o qual o órgão foi criado. Basta de repressão, de péssima exposição da cadeia do carvão. Qual tem sido o real custo benefício dessa estratégia?

Para checar esta insignificância do consumo de carvão de nativa basta cruzar os dados de área que o estado libera anualmente para supressão com alteração do uso do solo (AUS) mais o que se permite manejar (MF), fora da Mata Atlântica, multiplicar por uma volumetria conservadora de material lenhoso de 200 m3/ha e dividir por 2 (2m3/mdc – metro de carvão) para se ter uma ideia, somente no território mineiro sem considerar os estados limítrofes, do quanto de carvão se poderia produzir e consumir, verás que “além dos filhos teu não fogem a luta” se poderia dar utilidade para este material lenhoso.

Dados mostram que em 2022, o Estado autorizou a supressão com AUS e MF de 26.700 hectares de vegetação nativa. Isso implica numa conversão em carvão de 2.6 milhões de mdc. Se consumido nas indústrias significaria aproximadamente 10% do total, o dobro do permitido pela Lei 20.922 de 2013 que limitou em 5% do consumo total a partir de 2018. Se não chegou nelas, perdeu-se pela ineficiência burocrática alimentando cupins e microrganismos.

Apesar de ser o carvão uma destinação correta para o material lenhoso, o problema é que, praticamente, ninguém o quer consumir. Depois de décadas de política repressiva maculando a imagem da cadeia produtiva, as empresas traumatizaram-se com o consumo dele. Além disso, dificilmente encontrará alguém no campo querendo carbonizar esta madeira se nem de reflorestamento, que é “mamão com açúcar”, não tem conseguido gente dispostas a tal, quiçá de nativa que é pesada para o trabalho braçal. Ainda mais no meio rural que se encontra desertificado, envelhecido e minifundizado.

Ou seja, a ideia de proteger as florestas a todo custo esquece de quem está ao lado dela a todo momento. As leis feitas por citadinos alojados em escritórios climatizados, mesmo com as melhores intenções possíveis, inviabilizam o manejo feito por grupos que tradicionalmente ocupam regiões próximas às florestas, que precisam de uma atividade econômica para viver e de modo que elas (florestas) sigam existindo em equilíbrio com o restante do ecossistema, já que a proibição absoluta nunca foi a melhor opção.

Estranhamente, a legislação mineira que permite a supressão da vegetação nativa, exigindo a destinação dos resíduos, limita em 5% do total de consumo de carvão pelas siderúrgicas e metalúrgicas. No entanto, não há outro aproveitamento deste material que não seja o carvão dada a baixa qualidade e alta quantidade do material lenhoso inadequado para uma destinação mais nobre como para serraria e laminação. Se só o carvão condiciona os produtores destinarem tal resíduo e se as indústrias não podem e nem querem consumir, então como os produtores cumprirão a lei que o autorizou a desmatar? Com base nisso, questiona se quem deveria arcar com o pagamento das taxas é quem desmatou e não quem consumiu e possibilitou àqueles cumprir com a destinação econômica dos “frutos” do desmatamento.

Diante décadas de fiscalização e combate ao desmatamento, à produção e consumo de carvão e contar com uma série histórica de dados deveria, com trabalho de inteligência dos órgãos, transformá-los em informações que possibilitem, juntamente com a evolução da consciência ambiental, dos canais de denúncia, com os aparatos de vigilância eletrônica e satélite, identificar onde, quem, quanto e quando está cometendo tal crime e puni-los. Para evitar que, por causa de um ou meia dúzia de “gatos pingados” de criminosos, a cadeia produtiva do carvão, que nem de nativa quer mais, tenha que pagar por eles.

Se levar em conta os princípios do direito aplicados a matéria ambiental, tais como os da Razoabilidade, Proporcionalidade, Discricionariedade, Objetividade, da Eficácia e Eficiência e da Presunção da Inocência, além do bom senso, não justifica a continuidade desta política repressora usando dos recursos das taxas florestais. Todo esforço e toda energia gasta no combate a tal desmatamento devem ser custeados por outras fontes de recursos, tais como a Taxa de Reposição Florestal, a Taxa de Compensação Ambiental e as arrecadações das multas ambientais, deixando a taxa florestal para a política de extensão e fomento florestal, como tal foram criados os órgãos florestais (IEFs e IBDF).

Se já é questionável a cobrança por parte das empresas da cadeia do carvão vegetal, mais ainda daquelas que só consomem madeira de reflorestamento, como a da celulose e dos painéis reconstituídos. Por que cobrar taxas destas se só consomem de plantações? É como a produção de grãos (soja, milho, feijão, etc). Apesar de não ter procuração dos agentes da cadeia produtiva da madeira, arrisca-se afirmar que eles continuariam pagando as taxas, desde que o recurso seja usado para a Política e Governança Florestal do estado focada no fomento e na extensão florestal, haja vista que ela (a taxa) está incutida na cultura das empresas e dos produtores florestais. Assim, pagariam para que os produtores tenham melhor e mais fácil acesso aos técnicos dos órgãos florestais. Pois o que se tem hoje é inacessibilidade, forçando os mesmos ou a situação de ilegalidade para a produção florestal ou ao desincentivo dela.

A verdade é que esta cobrança é fruto da sanha arrecadatória abusiva das políticas tributárias no Brasil. Enquanto a taxa florestal era recolhida para o órgão florestal que atuava como uma autarquia promovendo o fomento e a criação e manejo das Unidades de Conservação (UC), tudo bem. O problema é que ela cai no caixa único do Estado, verdadeiro Buraco Negro, e daí, pouco de recurso segue para custear o órgão florestal que, também, de fomento, infelizmente passou a ser única e exclusivamente de fiscalização.

Além disso, o órgão vem, há décadas, sendo desmantelado e sucateado, com redução no quadro de pessoal e de escritórios para atendimento ao público. Diferente dos órgãos de assistência técnica e extensão rural (Emater) que tem capilaridade em quase todos os municípios, o florestal, que já não tinha muito escritório, tem reduzido, inclusive os que eram mantidos via prefeituras.

Urge usar estes recursos da taxa florestal para investir numa estrutura de governança com características compatíveis com as florestais. Ser um órgão com visão de longo prazo, de planejamento estratégico porque assim é a atividade florestal. Com perfil de agencia como a ANA, a ANEEL, etc. Com autonomia, independência de gestão em relação ao poder executivo. Que pense e planeje a atividade para que, assim como não pode faltar energia elétrica (ANEEL) para a sociedade, não pode faltar madeira e carvão para a cadeia consumidora e nem mercado para o produtor. Pois, se sim, ou as empresas fecham, gerando desemprego, problema social, ou elas migram para o carvão mineral, importado, poluidor e excludente gerando impactos socioambientais.

Enfim, este biorredutor renovável, único no mundo, merece tratamento vip por tudo que faz sócio, econômico e ambientalmente, de modo que se alguma empresa desta cadeia produtiva o esteja consumindo ilegalmente tem que ser extirpada como um câncer. Dói ver as operações de combate aos desmatamentos ilegais obcecadas mais na punição dos atores desta cadeia do que, de fato, quem desmatou, ate porque estes não dão o holofote que aqueles dão quando são filmadas as apreensões nos caminhões estacionados nos pátios das indústrias.

O fato é que se for demonstrar num gráfico de pizza o total de carvão consumido nas siderúrgicas/metalúrgicas ver-se-ia que é uma fatia minúscula a parte correspondente ao de nativa perante o total e, sabendo que nela consta o montante oriundo das AUS e MF autorizados – bem aquém do que poderia ser consumido -, então a possível parcela do ilegal é, embora um filete que mal tampa o buraco do dente, o suficiente para deixar a pizza amarga como fel.


Professor Titular do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (DEF/UFV), valverde@ufv.br.

Alexia Penna Barbosa Diniz, Bacharela em direito pela Universidade Federal de Viçosa e mestranda no DEF/UFV, alexia.diniz@ufv.br.

Professor Adjunto do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira da Universidade Federa do Espírito Santo (DCFM/UFES), gabriel.d.ribeiro@ufes.br.

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