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Edição Especial Ibá: EUDR 2024 – Missão à União Europeia

Delegação do setor incumbida a missão, contou com 18 integrantes, dentre CEOs e altos executivos de dez empresas associadas, além de secretários do governo do Mato Grosso do Sul

Por decisão do Conselho Deliberativo da Ibá, o setor organizou a sua primeira missão à União Europeia, cujo foco foi a regulamentação antidesmatamento do bloco, conhecida como EUDR (European Union Deforestation-free Regulation, na sigla em inglês).

A EUDR, de maneira geral, proíbe a produção e importação pelo bloco europeu de commodities cultivadas em áreas convertidas de florestas naturais após dezembro de 2020, sendo a madeira e seus produtos uma delas.

A preparação para esse exercício inédito de advocacy setorial internacional começou em outubro de 2023 no âmbito do Task Force da Ibá, que se dedicou por meses ao estudo e estruturação do que viriam a ser os pleitos do setor. Tivemos incontáveis horas de reuniões com amplo engajamento e quórum expressivo. A preparação envolveu ainda diversas reuniões com divisões do Itamaraty, do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), e também com a Missão da União Europeia no Brasil, além de representações diplomáticas brasileiras em Bruxelas, Roma, Berlim e Paris. 

A delegação do setor contou com 18 integrantes, dentre CEOs e altos executivos de dez empresas associadas, além de secretários do governo do Mato Grosso do Sul. Toda a intensa agenda de trabalho foi cuidadosamente preparada com forte apoio da Missão do Brasil junto à União Europeia, da embaixada do Brasil em Bruxelas e também da Apex Brasil, a quem o setor tem muito a agradecer pelos ótimos resultados alcançados.

O primeiro compromisso da programação, realizado no dia 5 de março, foi a reunião com o presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, o eurodeputado Bernd Lange, que realçou o interesse em cooperação e maior integração de sistemas e de ferramentas existentes para implementação da EUDR.

Lange se mostrou sensível às preocupações quanto à transferência de dados comercialmente sensíveis ao longo da cadeia, com cibersegurança e com as enormes dificuldades práticas atreladas à falta de definição das Leis e Guias Secundários pela própria Comissão Europeia.

Ainda no primeiro dia de missão, o grupo se reuniu também com o vice-ministro das Relações Exteriores da Bélgica e sua equipe, o que tem maior importância neste momento em que o país exerce a presidência rotativa da União Europeia. Os belgas se comprometeram a ressoar as preocupações do setor com a Comissão Europeia, mas observaram haver pouco espaço para atuação dos Estados-membro na elaboração das leis e guias secundárias da EUDR, as quais efetivamente podem dar mais clareza a detalhes de operacionalidade e de implementação.

O segundo dia de missão, em 6 de março, foi dedicado ao setor privado, com evento amplo entre associações e stakeholders europeus, no qual todas as empresas da Ibá tiveram oportunidade de apresentar suas credenciais de sustentabilidade e seu status de implementação da EUDR. Foi entendida como relevante a articulação de um posicionamento do setor privado florestal em nível mundial a ser endereçado à Comissão e ao Parlamento Europeu, abordando, por exemplo, a possibilidade de algum tipo de gradualismo no início da efetiva aplicação da EUDR — haja vista que as condições habilitantes de sua plena aplicabilidade se encontram em estágio ainda incipiente de desenvolvimento.

Uma possibilidade é que o ICFPA (International Council of Forest and Paper Associations) possa liderar a elaboração do posicionamento, razão pela qual ainda houve ainda, no dia 8 de março, reunião com Jori Ringman, presidente do ICFPA e da Cepi (Confederation of European Paper Industries). 

Dois dos eventos mais críticos da programação foram as reuniões, em 7 de março, com as diretoras-gerais de Comércio (DG TRADE) e de Meio Ambiente (DG ENVI), respectivamente Sabine Weyand e Florika Fink-Hooijer, as principais responsáveis, na Comissão Europeia, pela regulamentação operacional e pela implementação da EUDR.

A DG TRADE pontuou que tem buscado entender se haveria possibilidade legal de flexibilizar o prazo de plena vigência ao menos das partes da EUDR que se encontrem dependentes de ferramentas  e definições  para as quais a Comissão ainda não teve avanço suficiente. Weyand se mostrou preocupada com a baixa capacidade de automatização dos processos de due diligence e também destacou que as legislações e guias secundários devem considerar uma demonstração de conformidade simplificada para aqueles que apenas usam insumos que sejam considerados conformes, em seu processo produtivo.

Em longa reunião com a DG ENVI, o destaque foi para a preocupação acerca das limitações e riscos ainda verificados no campo da tecnologia da informação. Foi pontuado que a possibilidade de prorrogar o prazo de entrada plena em vigor da EUDR fica prejudicada pelas eleições parlamentares de junho próximo, mas que estariam sendo estudadas, do ponto de vista jurídico, alternativas para adotar algum tipo de phase-in para a aplicação de diferentes aspectos.

O grupo se reuniu ainda com representantes das delegações junto à União Europeia da Alemanha e Itália. O objetivo foi sensibilizá-los sobre os riscos até mesmo de disrupção de importantes cadeias de suprimento que são alimentadas pelas exportações do Brasil. Foi lembrado que há críticas e pedidos de prorrogação da entrada em vigor por parte de associações e de importadores de países como a Alemanha e outros.

Houve ainda reunião com a autoridade competente da Bélgica, cuja percepção leva a crer que o setor deve considerar investir esforços em sensibilização das autoridades competentes dos estados-membro, a fim de apropriadamente balizar as percepções equivocada de riscos atrelado ao modelo de negócio do setor de florestas plantadas no Brasil.

No último dia da agenda, 8 de março, o grupo se reuniu com os pesquisadores do Joint Research Center, órgão técnico responsável pela elaboração dos mapas do Observatório da União Europeia. O momento foi crítico para apresentação dos resultados de nosso estudo do setor, que demonstra que 61% das florestas plantadas estão identificadas como floresta natural no mapa e, portanto, sujeitas ao risco de terem suas colheitas visualmente interpretadas como desmatamento. Após esclarecimentos da JRC, foi concluído que tais equívocos estão muito mais atrelados a conceitos e interpretações da EUDR do que a tecnologias e metodologias de mapeamento em si, o que enseja, portanto, tratativas no âmbito da DG ENVI. 

Finalizando a programação, a equipe da Ibá se reuniu com a Cepi para alinhar encaminhamentos práticos comuns sobre a EUDR, como o posicionamento sugerido no encontro do dia 6, e também outras iniciativas conjuntas no âmbito de mudanças climáticas e FSC (Forest Stewardship Council).

A missão foi prestigiada com recepções nas residências oficiais do embaixador do Brasil junto à União Europeia, Pedro Miguel Costa e Silva, e do embaixador na Bélgica, João Mendes, que, com suas respectivas equipes, foram incansáveis no apoio aos nossos trabalhos durante toda a semana. 

Cabe o registro de que esta terá sido, possivelmente, a primeira missão ao exterior organizada pela Ibá, com ampla e muito representativa participação do setor. Portanto, tê-la realizado é em si mesmo um resultado auspicioso, até pelo aprendizado que traduz para o futuro de nossa atuação. Ficou claro ser possível o engajamento amplo das empresas em torno de temáticas pré-competitivas, o que robustece nossa voz em representação de um setor que conquistou o direito de se apresentar como referência internacional. 

Por outro lado, tendo em vista a complexidade da agenda que nos levou à Bruxelas, com desafios de natureza variada, a verdade é que foi possível transmitir nossas perspectivas às mais elevadas instâncias decisórias na União Europeia, apresentar nosso modelo de negócios e a evolução do setor, que tem atuação global e é responsável por expressiva proporção do abastecimento europeu em diversos segmentos e produtos.

Informações: Ibá.

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Brasileiros concorrem a prêmio de US$ 10 milhões com método inovador de mapear florestas

Projeto desenvolvido por 50 pesquisadores conta com o auxílio de drones, de robôs e da inteligência artificial para mapeamentos

Um grupo de mais de 50 pesquisadores, em sua maioria brasileiros, é finalista em uma competição internacional com um projeto que busca mapear, com auxílio de drones, robôs e inteligência artificial, as florestas tropicais.

O grupo é formado por professores e pesquisadores de várias instituições brasileiras, e até alguns estrangeiros. Eles estão entre os seis finalistas do Xprize Rainforest, uma competição internacional de biodiversidade e tecnologia que irá premiar o vencedor com US$ 10 milhões (cerca de R$ 49,8 milhões na cotação atual). A competição teve início em 2019, com 800 inscritos, e agora chega à fase de testes em campo.

A ideia é usar a tecnologia para coletar e analisar amostras de DNA das florestas e, dessa forma, diagnosticar problemas, para que soluções possam ser propostas com base nos dados.

Viagem

No dia 22 de maio, o Brazilian Team, como é chamada a equipe de pesquisadores brasileiros, irá embarcar para Singapura com o objetivo de passar para as finais do Xprize Rainforest. Para essa etapa, o time continua em busca de patrocínios e outras formas de apoio.

Segundo o coordenador do Brazilian Team, Vinicius Souza, o grupo está bastante otimista. “Estamos preparados e acreditamos que o Brazilian Team é o que apresenta a maior diversidade de soluções e algumas das maiores autoridades científicas nas estratégias que vamos usar”, diz o professor do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

Vinicius diz ainda que a equipe possui vantagem sobre as outras, por estar mais familiarizada com as florestas tropicais. “Embora Singapura seja um país pouco conhecido para nós, o ambiente de floresta tropical é muito familiar e faz parte do nosso dia a dia como pesquisadores, o que é vantajoso em relação aos times de países do Hemisfério Norte, onde fica a maioria dos demais competidores.”

Usando novas tecnologias, algumas inéditas, a equipe pretende obter resultados que acelerem o processo de estudo da biodiversidade. “Já atingimos as metas iniciais e estamos bem adiantados em inovação e desenvolvimento. Ferramentas de mapeamento da biodiversidade, inteligência artificial e sequenciamento genético, por exemplo, ajudarão a definir áreas prioritárias para conservação e identificar onde as espécies mais sensíveis estão dentro dos ambientes naturais.”

Prêmio

As finais da competição acontecerão neste ano, em local ainda não divulgado. Vencerá a equipe capaz de pesquisar a maior biodiversidade contida em 100 hectares de floresta tropical em 24 horas.

Para isso, será preciso fornecer as ideias mais impactantes em 48 horas, para identificar os serviços ecossistêmicos das espécies identificadas – sejam os de provisão, os culturais, os serviços de proteção dos recursos naturais (solo, água, sequestro de carbono) e outros já em uso ou com potencial para uso, envolvendo a sociedade, e com destaque aos povos das florestas.

Com o valor do prêmio, o Brazilian Team pretende compor um fundo voltado a pesquisas e capacitação para conservar e restaurar a Amazônia e a Mata Atlântica. A participação da equipe na iniciativa conta com o apoio da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq).

Brazilian Team

O Brazilian Team é formado por mais de 50 pesquisadores e outros profissionais com conhecimento técnico-científico multidisciplinar, entre eles botânicos, zoólogos, ecólogos, advogados, economistas e engenheiros do Brasil e também de países como França, Colômbia, Espanha, Portugal, EUA e Bélgica, de instituições como USP, UNESP, Unicamp, UFSCar, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, UNITAU, Pl@ntNet (Cirad, Inria), CNRS, ENS, Pinheiro Neto Advogados, SIMA, RBMA e umgrauemeio.

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82% das espécies de árvores que só ocorrem na Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção

Estudo liderado por pesquisadores da USP e publicado na Science avaliou categorias de risco de todas as espécies arbóreas da Mata Atlântica; 13 espécies exclusivas daquele bioma podem já ter sido extintas

A extinção de espécies é um dos impactos mais extremos que o ser humano tem sobre a natureza. Extinção é para sempre e, a cada espécie perdida, perdemos milhões de anos de uma história evolutiva única e a oportunidade de aprender com essa história. Assim, evitar a extinção de espécies é o maior desafio para combater a atual crise global de perda da biodiversidade, que tem impacto direto nas nossas vidas, incluindo questões ligadas ao risco de pandemias, bioeconomia, biomateriais, desenvolvimento de medicamentos e vários outros serviços ecossistêmicos. O primeiro passo para frear esse processo de extinção de espécies é saber onde estão e qual é o grau de ameaça de cada espécie, o que permite a construção das chamadas Listas Vermelhas de Espécies. Estas listas nos ajudam a tomar a decisão de quais são as espécies prioritárias para investir tempo e recursos de conservação da biodiversidade.

Um estudo publicado recentemente na revista Science apresentou a Lista Vermelha das quase 5.000 espécies de árvores que ocorrem na Mata Atlântica, uma das florestas mais biodiversas e ameaçadas do mundo. “O quadro geral é muito preocupante”, diz Renato Lima, professor da USP que liderou o estudo. “A maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica foi classificada em alguma das categorias de ameaça da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). Isso era esperado, pois a Mata Atlântica perdeu a maioria das suas florestas e, com elas, as suas árvores. Mesmo assim, ficamos assustados quando vimos que 82% das mais de 2.000 espécies exclusivas desse hotspot global de biodiversidade estão ameaçadas”, completa Lima.

Muitas espécies emblemáticas da Mata Atlântica, como o pau-brasil, araucária, palmito-juçara, jequitibá-rosa, jacarandá-da-bahia, braúna, cabreúva, canela-sassafrás, imbuia, angico e peroba, foram classificadas como espécies ameaçadas de extinção. Um total de 13 espécies endêmicas – espécies que ocorrem apenas na Mata Atlântica e em nenhum outro lugar do mundo – foram classificadas como possivelmente extintas, ou seja, podem ter desaparecido do planeta. Por outro lado, cinco espécies que antes eram consideradas extintas na natureza foram redescobertas pelo estudo. O trabalho usou mais de 3 milhões de registros de herbários e de inventários florestais, além de informações detalhadas sobre a biologia, ecologia e usos das espécies de árvores, palmeiras e samambaiaçús.

A construção da lista de espécies ameaçadas da Mata Atlântica se baseou em diferentes critérios da IUCN. “E esse foi um outro aspecto importante do trabalho”, acrescenta Lima. “Se tivéssemos usado menos critérios da IUCN nas avaliações de risco de extinção das espécies, o que geralmente tem sido feito até então, nós teríamos detectado seis vezes menos espécies ameaçadas. Em especial, o uso de critérios que incorporam os impactos do desmatamento aumenta drasticamente o nosso entendimento sobre o grau de ameaça das espécies da Mata Atlântica, que é bem maior do que pensávamos anteriormente”, finaliza Lima.

Resultados do estudo para a proporção de espécies de árvores endêmicas da Mata Atlântica classificadas em cada categoria de ameaça da IUCN: LC= Menos preocupante (verde); NT= Quase ameaçada (verde-claro); VU= Vulnerável (amarelo); EN= Em perigo (laranja); CR= Criticamente em Perigo (vermelho). Créditos: R.A.F. Lima.

A maior parte das informações necessárias para avaliações usando muitos critérios da IUCN é difícil de obter ou estimar a partir de outras fontes de dados. Consequentemente, a maioria das avaliações de risco de extinção atualmente disponíveis na IUCN se baseia apenas na distribuição geográfica das espécies, o chamado critério B. Mas o declínio no número de árvores adultas causado pelo desmatamento (investigado pelo critério A) é a principal causa de ameaça das espécies, principalmente em hotspots globais de biodiversidade altamente alterados como a Mata Atlântica. Ou seja, utilizar vários critérios da IUCN para a construção de listas vermelhas pode evitar uma grave subestimação do grau de ameaça das espécies. Para estimar o declínio das populações, dados de inventários florestais ao longo de toda a Mata Atlântica foram reunidos em uma única base de dados (TreeCo), permitindo entender como o número de árvores foi reduzido pelo desmatamento ao longo do tempo.

Hans ter Steege (Naturalis Biodiversity Center, Holanda), coautor do trabalho, relembra que o estudo não se limitou à avaliação da ameaça de extinção apenas na Mata Atlântica. “Fizemos projeções sobre qual seria a magnitude do impacto da perda de florestas sobre as espécies de árvores em escala global.” Essas projeções incluíram os principais maciços de florestas tropicais do mundo. “As projeções indicam que entre 35-50% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas apenas devido ao desmatamento”, conclui Ter Steege. Além destas projeções, o estudo propõe um fluxo metodológico  e ferramentas para implementá-lo em larga escala, permitindo avaliar o grau de ameaça de milhares de espécies simultaneamente. “Isso também permite aplicar a mesma abordagem para outras regiões do mundo ou até outras formas de vida, como orquídeas ou bromélias, por exemplo”, lembra Gilles Dauby (IRD, França), também coautor do estudo.

Espécies emblemáticas da Mata Atlântica, como o pau-brrasil, araucária, palmito-juçara, jequitibá-rosa, jacarandá-da-bahia, braúna, cabreúva, canela-sassafrás, imbuia, angico e peroba foram classificadas como ameaçadas de extinção. Na imagem, a araucária – Foto: Hans Ter Steege.

Segundo Marinez Siqueira e Eduardo Fernandez, do Centro Nacional de Conservação da Flora, órgão do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro responsável pela elaboração da Lista Vermelha Oficial da Flora do Brasil, a abordagem usada no estudo é robusta para avaliar o grau de ameaça das espécies, e será utilizada de forma sistematizada a partir de 2024 para avaliar as cerca de 12.000 espécies de plantas que ocorrem apenas no Brasil e que ainda não tiveram o seu grau de ameaça avaliado oficialmente. “Isso será um ganho em escala sem precedentes para avaliar a megadiversa flora do Brasil, em um período de tempo muito mais compatível com as necessidades urgentes de políticas públicas e planos de ação para protegê-las”, avaliam Marinez e Eduardo.

A abordagem inovadora proposta pelo estudo se propõe a avançar com a utilização de dados populacionais das espécies de árvores da Mata Atlântica, que muitas vezes acabaram sendo negligenciados durante o processo de avaliação de risco de extinção por não estarem prontamente disponíveis em repositórios digitais ou por se encontrarem pulverizados em diferentes  banco de dados. “Por fim, entender onde se situam as espécies ameaçadas e quais vetores estão promovendo a ampliação de seus riscos de extinção nos permitirá agir no sentido de reverter esse cenário”, finalizam. 

O cenário é muito preocupante, principalmente porque o estudo considerou apenas ameaças passadas (desmatamento) e não as ameaças futuras, como as mudanças climáticas, que podem acelerar os riscos de extinção de espécies. O que podemos fazer frente a esse cenário? Além da conservação das espécies em jardins botânicos e bancos de germoplasma, existem os chamados Planos de Ação Nacionais (PANs), instrumentos de promoção de políticas públicas direcionadas à conservação e à recuperação de espécies ameaçadas no Brasil, em especial àquelas em risco iminente de desaparecer.

Outra saída para buscar reverter as perdas de espécies de árvores na Mata Atlântica é a restauração florestal, como comenta André de Gasper, professor da FURB e coautor do estudo. “Projetos de restauração, em áreas abertas ou em fragmentos degradados, podem selecionar preferencialmente as espécies regionais mais ameaçadas da Mata Atlântica, visando estimular a produção de sementes e mudas destas espécies e a recuperação das suas populações de árvores na natureza.” Estamos em plena Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, o que favorece iniciativas regionais e a criação de políticas públicas capazes de usar a restauração para reverter esse triste cenário enfrentado pelas árvores da Mata Atlântica e dos demais hotspots globais de biodiversidade.

Link para o trabalho: https://doi.org/10.1126/science.abq5099

Informações: Jornal USP.

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Extrativistas se reúnem para garantir revitalização da cadeia produtiva de borracha nativa da Amazônia

Fortalecer a cadeia de borracha nativa da Amazônia, defender os territórios em prol do extrativismo sustentável, combater o êxodo rural, aumentar o valor pago pela produção, valorizar os seringueiros, entre outros assuntos, fazem parte da carta de compromisso apresentada no primeiro Encontro Municipal dos Extrativistas da Borracha. O evento foi realizado no último sábado, dia 13 de janeiro, no município de Pauini, localizado no interior do Amazonas (a 926 quilômetros da capital Manaus) com a participação de mais de 80 pessoas.

O encontro é uma iniciativa do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e do Memorial Chico Mendes, com o apoio de parceiros, que estão implementando, desde 2016, o projeto de revitalização da cadeia produtiva de borracha nativa do Amazonas. Em Pauini, o evento foi realizado com a coordenação da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Município (Atramp), Prefeitura de Pauini, Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas e WWF-Brasil.    

Segundo o secretário-executivo do CNS, Dione Torquato, o principal objetivo do Encontro Municipal dos Extrativistas da Borracha foi realizar um diálogo entre extrativistas, lideranças da sociedade civil, instituições parceiras e autoridades políticas para fortalecer o retorno da cadeia produtiva da borracha. “Além disso, abordamos os desafios e avanços em 2022 e 2023 por meio do projeto de revitalização da cadeia da borracha extrativista do Amazonas. Também foi um momento para debater melhorias e o fortalecimento da cadeia produtiva da borracha no município de Pauini”, comentou.

Dados do WWF-Brasil apontam que, em 2022, o projeto contribuiu diretamente para a conservação de mais de 60 mil hectares da Amazônia a partir do manejo para a produção da borracha. Em 2023, a expectativa é alcançar 150 mil hectares conservados. A iniciativa está sendo implementada em Canutama, Pauini, Manicoré, Eirunepé e Itacoatiara. Todos são municípios do Amazonas.

“Com a rede de parceiros temos a convicção que as associações extrativistas se fortalecerão, vamos atrair mais compradores e teremos uma indústria em Manaus, sem precisar levar a borracha para ser beneficiada em outros estados. Precisamos ter uma cadeia sólida a partir do envolvimento de todos. Tivemos uma safra de mais de sete toneladas, em 2022, e a previsão é termos mais de 20 toneladas em 2023. Vamos aumentar ainda mais, organizando as nossas e as cadeias do outros municípios”, disse o presidente da Atramp.

A Carta de Compromissos solicita da Prefeitura de Pauini o pagamento da subvenção da safra 2022 no valor de R$ 0,60;  Aumento no pagamento da subvenção da safra 2023; e a premiação de produtores destaques da safra. O prefeito da cidade, Renato Afonso, participou do evento e se comprometeu em alterar o valor de R$ 0,60 para R$ 1,20 na safra de 2023.

“Sou o primeiro prefeito a pagar a subversão e me comprometo em dobrar o valor para R$ 1,20 na próxima safra. Com isso, queremos alavancar a produção da borracha em nosso município”, afirmou o prefeito.

Já da Câmara Municipal de Vereadores de Pauini, o documento indica a revisão da Lei nº 185, de 28 de dezembro de 2007, e atualização da política municipal da subvenção da borracha, corrigindo o valor de R$ 0,60 com plano de progressão e valorização.

Do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), a carta compromisso solicita a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para os extrativistas da borracha com foco em boas práticas e capacitações para o avanço da qualidade; Auxílio na pesagem e registro da produção; e a certificação de qualidade.

O documento completo com todas as reivindicações pode ser acessado no site do CNS (cnsbrasil.org) e do Memorial Chico Mendes (www.memorialchicomendes.org). Durante o evento, a Prefeitura de Pauini também entregou um cheque com o valor da subversão referente ao ano de 2022 e ainda premiou os melhores produtores com a entrega de um motor no estilo “rabeta” para canoas. Um dos destaques foi a entrega de um motor para uma produtora de uma comunidade no Rio Pauini, como um incentivo para que outras mulheres também participem da cadeia extrativista da borracha.

O evento contou com a parceria estratégica da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), USAID, Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre (OPIAJBAM), Alliance Bioversity International, Coordenação Territorial Local da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Michelin Brasil e Fundação Michelin.

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Afinal, o que é o mercado de carbono? MS tem 75 mi t de CO² para neutralizar

Ainda sem regulação no país, Pantanal sai na frente com venda de crédito no mercado voluntário

Chegou o tempo em que economias mundiais estão valorizando mais uma árvore em pé do que derrubada. Com o objetivo de mitigar os impactos das mudanças climáticas, o mercado de carbono veio para ficar. O Brasil ainda está atrasado com a questão da regulação do “dinheiro verde”, que ainda está em discussão no Congresso Nacional.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o país tem um mercado potencial de créditos de carbono de US$ 120 bilhões, o que pode gerar um ganho de 5% no PIB brasileiro. 

Mas sem o mercado regulado até a sanção da lei e posterior regulação dos estados, alguns produtores de natureza do país estão saindo na frente para vender o crédito no mercado voluntário. No Pantanal de Mato Grosso do Sul, o projeto REDD+ Serra do Amolar é pioneiro nacional na venda de crédito de carbono.

Na prática, indústrias que emitem CO² compram crédito, ou seja, pagam pelo certificado digital que comprova a compensação e neutralização da emissão do gás. A conta é feita por tonelada de poluição emitida. Mas não há um padrão no valor do crédito.

Com presença de água e biodiversidade, crédito de carbono é valorizado com valor maior na comercialização (Foto: Mari Queiroz)
Com presença de água e biodiversidade, crédito de carbono é valorizado com valor maior na comercialização (Foto: Mari Queiroz)

As vendas de certificados são realizadas por meio de leilões em bolsas de valores específicas, como é o caso do MyCarbon. Há ainda uma variação nos valores com a classificação de crédito simples e crédito de valor agregado.

Neste último, fatores como confirmação da existência da biodiversidade, presença de água, aspecto social como a permanência de comunidades tradicionais, são exemplos de quesitos que garantem um preço maior para quem vende e também para quem neutraliza. Resumindo, quanto maior a preservação da área certificada, mais alto é o valor do crédito no mercado de carbono.

Como se fosse uma balança, que tenta neutralizar o CO² com certificados de crédito de carbono, ainda há a possibilidade de revender os títulos excedentes para aqueles que não fizeram o sequestro previsto.

Por exemplo, se uma empresa comprou 100 créditos de carbono e emitiu 70 toneladas de CO², os 30 créditos certificados que sobraram podem ser comercializados com uma empresa que ainda não conseguiu neutralizar suas emissões. Confira abaixo:

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Cenário local – De acordo com o secretário-executivo de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Artur Henrique Leite Flacette já foi iniciado um estudo técnico e jurídico em parceria com Earth Innovation Institute para viabilizar o REDD+ jurisdicionado para o Estado.

O objetivo é olhar para grandes territórios e dividir por áreas a serem leiloadas no mercado de carbono futuramente. Esse levantamento deve ser concluído no segundo semestre deste ano.

“Estamos prevendo alguns editais em 2024 para certificação e venda de crédito de carbono em algumas áreas de restauração”, afirmou. Pelo inventário de emissões já consolidado e divulgado em 2018, Mato Grosso do Sul emite hoje 75 milhões de toneladas de CO² e gases equivalentes, que levam em consideração o Metano (CH₄) e o Oxido Nitroso (N₂O).

O maior emissor de poluente hoje é a agropecuária. Apesar de emitir 55,75%, é também nestas áreas que estão o maior estoque de sequestro para neutralizar as emissões. Ainda são responsáveis pela poluição atmosférica as mudanças de uso da terra (24,22%), a geração de resíduos (13,07%) e o setor de Energia (6,65%).

Área remota do Pantanal, certificação foi concedida em território que tem quatro Reservas Particulares de Patrimônio Natural (Foto: Viviane Amorim)
Área remota do Pantanal, certificação foi concedida em território que tem quatro Reservas Particulares de Patrimônio Natural. Foto: Viviane Amorim.

Falcette também explica que o processo de certificação é muito caro e por isso a intenção é criar durante a regulação no Estado formas de viabilizar pagamentos para pequenos proprietários.

“O custo fixo é muito alto para fazer o projeto. Por isso, se tiver um proprietário de uma chácara com área preservada para fazer o sequestro do CO² e que não tem condições de fazer a certificação, podemos ter um modelo de projeto maior, que monetize as pequenas áreas com os créditos calculados”, acrescentou.

Pioneiros – Não é simples conseguir a “moeda verde” e se lançar no mercado não regulado. Para conseguir ser remunerado por conservar uma área, é preciso cumprir uma série de processos para enfim ter um valor médio de quanto se deseja cobrar para levar os créditos no leilão. 

O valor do crédito de carbono sofre variação de acordo com a negociação. Chegou a custar US$ 8, depois já subiu para mais de US$ 20 cada tonelada sequestrada.

Desde que foi certificada, o IHP (Instituto Homem Pantaneiro), que faz a gestão do projeto REDD+ Serra do Amolar, recebeu cerca de R$ 1 milhão. Ao todo, a área de quase 200 mil campos de futebol já recebeu certificado após cumprir as análises técnicas avaliadas pela South Pole e pela VERRA (empresa suíça que leva os créditos a leilão), de 231 mil toneladas de CO².

Presença da biodiversidade garante valor agregado ao crédito de carbono comercializado pelo projeto REDD+ Serra do Amolar (Foto: Viviane Amorim)
Presença da biodiversidade garante valor agregado ao crédito de carbono comercializado pelo projeto REDD+ Serra do Amolar. Foto: Viviane Amorim.

Esse crédito foi somado por meio de uma parceria com a Isa CTEEP que patrocina o levantamento do projeto que contabiliza o crédito de carbono no Pantanal desde 2019. Os certificados que estão sendo leiloados hoje fazem parte do levantamento de sequestro realizado na área entre os anos de 2016 a 2020.

O projeto tem duração de 30 anos, com isso as ações de conservação perduram na região e com futuras solicitações de certificação. O potencial de redução de CO2 até 2030 no REDD+ Serra do Amolar é de 430 mil toneladas.

MS Carbono Neutro – Mato Grosso do Sul é referência em sustentabilidade em diversos setores e com reforço nas ações do Governo do Estado o objetivo é atingir a meta de obter o reconhecimento do território como ‘carbono neutro’ até 2030.

Isso significa reduzir, onde é possível, e balancear o restante das emissões por meio da compensação, que pode ser feita pela compra de créditos de carbono, recuperação de florestas em áreas degradadas e outras ações.

O projeto estratégico “MS Carbono Neutro” tem como objetivo gerar a base metodológica para uma economia de baixo carbono em Mato Grosso do Sul, desenvolvendo e adaptando tecnologias para a redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa em vários setores da economia, contribuindo para atingir os objetivos do Programa Estadual de Mudanças Climáticas – PROCLIMA. 

Com diversas ações na agropecuária já em execução pelo Governo do Estado por meio do manejo e conservação do solo e água, pecuária de baixo carbono, energia renovável, práticas agrícolas sustentáveis e desmatamento ilegal zero.

Informações: Campo Grande News.

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O ano que provou por que a silvicultura é importante no Canadá

O ano de 2023 será lembrado por muito tempo como a pior temporada de incêndios de todos os tempos no Canadá. Foi também o ano em que a crise da habitação acessível no Canadá ficou totalmente visível, com urgência para muitos decisores políticos em todo o país.

Estas questões afetaram milhões de canadianos em 2023 – e renovaram um diálogo crítico sobre a importância de gerir mais ativamente as nossas florestas e de fazer mais com os recursos cultivados no Canadá.

Os incêndios florestais sem precedentes que devastaram mais de 18 milhões de hectares de terra mostraram como as nossas florestas estão a ser atingidas por temperaturas mais altas e condições mais secas. A necessidade de uma resposta de nível de crise semelhante à que está a ser tomada nos Estados Unidos é clara, e uma gestão mais activa, como o desbaste e queimadas prescritas, será essencial se quisermos evitar épocas de incêndios mais devastadoras.

Ao mesmo tempo, a crise da habitação e da acessibilidade sublinhou a necessidade de voltar ao básico para que as famílias canadianas possam pagar abrigo, alimentação e outras necessidades. Precisamos de cerca de 5,8 milhões de unidades habitacionais adicionais até 2030 para restaurar a acessibilidade, e temos de fazer mais para apoiar as condições empresariais, para que possamos atrair investimentos para produzir e construir estas casas.

O setor florestal do Canadá oferece caminhos práticos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, apoiar a prosperidade rural e do norte e aliviar a pressão sobre o custo de vida com soluções Made-in-Canada:

  • Nenhuma indústria está melhor equipada para prevenir e mitigar os impactos de incêndios catastróficos e apoiar a saúde e a resiliência das florestas no processo. Os silvicultores canadenses estão entre os melhores do mundo na forma como administramos nossas terras com base em múltiplos valores.
  • Como maiores produtores de materiais de construção, somos essenciais para acelerar a construção de novas casas, aliviar os gargalos na construção e ajudar a resolver a crise imobiliária.
  • Fornecemos uma contribuição descomunal para o clima. As árvores e a madeira são sumidouros naturais de carbono — a tecnologia original de captura de carbono — e os produtos à base de madeira podem substituir materiais com maior intensidade de carbono.
  • Fazemos tudo isto enquanto mantemos mais de 200.000 canadianos empregados nas comunidades rurais e do norte, onde as perspectivas de emprego para sustentar a família são mais limitadas.

Isso é um resultado quádruplo.

Embora o governo possa fazer muito mais para aproveitar as soluções florestais canadenses para o meio ambiente e a economia, temos visto desenvolvimentos positivos nos últimos meses.

Por exemplo, o plano do governo federal de introduzir um catálogo de projetos de habitação pré-aprovados para acelerar as aprovações de licenciamento oferece potencial para produtos de madeira e para atrair mais canadenses para casas que possam pagar mais rapidamente.

Em Novembro, a Ministra das Finanças, Chrystia Freeland, anunciou créditos fiscais verdes para tecnologias relacionadas com a biomassa – encorajando a utilização de sobras de aparas, serradura e casca para a produção de energia – o que contribuirá de alguma forma para colmatar as crescentes lacunas de competitividade com os EUA.

Há muito mais que pode ser feito – desde ser mais pró-ativo na gestão de florestas em abrigos contra incêndios, até aumentar os incentivos para usar mais madeira na construção, melhorar o código nacional de construção do Canadá, melhorar a formação dos trabalhadores, garantir as realidades únicas enfrentadas pelas áreas rurais e as comunidades do norte são tidas em conta nas principais decisões políticas nacionais.

Olhando para 2023, somos certamente lembrados de que o nosso mundo está a mudar rapidamente. A nossa obrigação para com as gerações futuras é enfrentar os nossos desafios prementes com soluções inovadoras. Para esse fim, o setor florestal do Canadá e os seus trabalhadores oferecem uma oportunidade única e um caminho claro a seguir.

Fonte: Forest Products Association of Canada.

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Papel: vilão ou exemplo de sustentabilidade?

Artigo de Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva.

Há quem correlacione a produção de celulose e papel com o desmatamento da Amazônia, o que requer alguns esclarecimentos, haja vista que se trata de um assunto específico, longe de ser um conhecimento popular.

Quem tem mais de cinquenta anos, durante sua infância, ouviu pessoas a pé puxando carroças e gritando: “Olha o garrafeiro!,Olha o jornal!” Isso está fartamente descrito no livro “Quarto de Despejo, diário de uma favelada” de Carolina de Jesus. Naquele tempo, o papel para imprimir e escrever, como era classificado para fins de comércio exterior, era todo importado, sendo os jornais os maiores importadores. Assim, o comércio de papel reciclado tinha uma participação significativa no mercado.

Na verdade, até o século XIX, o papel era feito de trapos esgarçados e comprimidos depois de cozidos. Quanto mais ensebado o trapo, melhor seria o papel resultante. Os comerciantes de trapos eram chamados de trapistas. Foi nos Estados Unidos que se descobriu que a soda cáustica era capaz de digerir a lignina, mantendo a celulose, daí as primeiras fábricas de papel em larga escala. O processo começa com a decifragem dos troncos transformando-os numa massa, conhecida como pasta mecânica. Em seguida, essa pasta vai para os tanques de digestão, onde a lignina é atacada pela soda cáustica, até sobrar somente a celulose. É então que começa o processo de fabricação de papel. A massa é misturada a branqueadores químicos e ao caulim como alvejante. Finalmente, começa o processo de laminação, quando as trefiladoras comprimem a massa, expondo a água, que é separada por lâminas extremamente afiadas, deixando o papel quase seco para passar pela estufa e ser enrolado em bobinas. Claro  que essa foi uma explicação extremamente simplificada, haja vista que o papel pode ter inúmeros tipos de acabamento e texturas diversas conforme o uso.

Não é preciso ser muito versado em processos industriais para perceber que não é qualquer tipo de árvores que se presta à transformação em celulose e papel em escala. É preciso que o tronco seja o mais cilíndrico possível, o que descarta 99% das espécies. Em segundo lugar, é preciso que tenha crescimento rápido para reduzir custos. Em terceiro lugar, deve ter madeira macia para facilitar a desfibragem. Os dois últimos motivos descartam toda a madeira nobre porque ela demora para crescer e é muito dura e pesada, não se prestando ao maquinário. Aliás, as canaleta por onde correm os troncos têm tamanho fixo, o que requer padronização. Espera-se que o tronco tenha 40 cm de diâmetro para a colheita.

As coníferas como eucalipto e pinheiros são as espécies mais usadas porque seu fuste é reto, nunca se bifurca e crescem muito rapidamente, tornando sua madeira leve. Além disso, as florestas destinadas à produção de celulose estão sujeitas à poda de condução, cuja finalidade é homogeneizar o bosque. Os galhos resultantes da poda, também conhecidos como ponteiros, são destinados à produção de carvão ou lenha para padarias.

A rigor, qualquer fibra vegetal pode virar papel, até calças jeans velhas. Assim, existem fábricas especializadas na fabricação de celulose de cana, seja do bagaço, seja da palhada restante da colheita mecanizada. A sazonalidade faz com que elas percam em volume para a madeira que pode ser armazenada para que as fábricas funcionem o ano inteiro incessantemente. Independentemente do método, a lignina é queimada e transformada em energia elétrica, cujo excedente pode ser vendido à rede pública, e o vapor restante usado no processo produtivo. Isso permite que a soda seja reutilizada, evitando seu descarte nos cursos d’água.

Todas as exigências eliminam a possibilidade de haver qualquer correlação entre a produção de celulose e o desmatamento da Amazônia. Toda a produção desse item se dá no sudeste com plantio controlado, ocupando áreas anteriormente de pasto ou lavoura de cana cuja inclinação não permite a obrigatória colheita mecanizada. Não é à toa que o florestamento é crescente em São Paulo e Mato grosso do Sul. Ademais, o Canadá e várias regiões dos Estados Unidos vivem da exploração racional das florestas de coníferas, por que não nós?

Para quem se interessar, convido a ler o artigo homônimo a este, de autoria de Júlia Fraga, então minha orientanda. Ele está disponível em https://revistas.brazcubas.br/index.php/dialogos/article/view/22/31.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.

Informações: Jornal GGN.

Imagem: Divulgação Tomgraf.

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Exporta Mais Amazônia movimenta R$ 50 milhões em negócios 

A edição do Programa aconteceu em Rio Branco (AC) e contou com a participação de 20 compradores internacionais. O volume de negócios deve se concretizar nos próximos 12 meses  

Entre os dias 25 e 29 de novembro, importadores de 15 países diferentes visitaram o Acre para realizar rodadas de negócios com 35 empresas brasileiras do Norte e conhecer a produção de produtos compatíveis com a floresta. A ação faz parte do Programa Exporta Mais Amazônia, realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). 

Ao longo de mais de 260 reuniões e uma intensa agenda de visitas técnicas, os 20 compradores internacionais tiveram a oportunidade de conhecer empresários da região que trabalham com produtos compatíveis com a floresta e alguns centros de produção. O foco das rodadas foram os setores de açaí, cacau & chocolate, castanha do Brasil, peixes amazônicos, carnes bovina, suína e de frango. A expectativa de vendas resultantes da ação é de pelo menos R$ 50 milhões em até um ano. 

Para Jorge Viana, presidente da ApexBrasil que esteve presente no lançamento do evento, é crucial que o Brasil expanda suas exportações na Amazônia, criando mais espaço para produtos em consonância com a floresta. “Esse Programa busca aproximar o empresariado amazônico dos mercados internacionais, organizando o setor produtivo e trazendo os compradores do mundo todo para conhecer o potencial desses produtos”, comemorou. 

Participaram da ação compradores de Singapura, China, Países Baixos, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Catar, Egito, Peru, Argentina, Colômbia, Índia e Equador. 

Amazônia nos mercados canadenses 

A representante do Canadá foi Fernanda Favaro, proprietária sócia e COO da Elements Brazil, empresa sediada em Vancouver. A empresária trabalha há sete anos com a importação de produtos brasileiros, com foco na conhecida “cesta da saudade”, que são aquelas mercadorias que as comunidades de expatriados fora do Brasil costumam sentir falta, como o açaí. 

Com uma gama de mais de 400 produtos comercializados em grandes redes de supermercado no Canadá, a empresa está interessada não apenas em adicionar novos artigos à sua cesta para brasileiros, mas também em apresentar aos consumidores canadenses as iguarias da floresta amazônica.  

Segundo Fernanda, o mercado canadense está em forte expansão para produtos considerados exóticos. “O canadense é muito aberto para produtos de outros lugares. Ele tem essa curiosidade, essa mente aberta para provar outras coisas. Isso é o primeiro passo. Ao trazer esse lado da Amazônia, a gente ainda pode contar a história do produto dentro do mercado canadense, então a gente vê muitas possibilidades de negócios”, explica.  

Para ela, a experiência de estar frente a frente com os produtores foi enriquecedora. “Normalmente nessas rodadas de negócios a gente acaba falando com representantes de empresas, mas [dessa vez] foram realmente as pessoas que produzem. E a gente vê como esse povo se agarra em manter a Amazônia. Às vezes as pessoas têm poucos poderes, mas tanta força de luta para manter a floresta em pé, é impressionante”, relembrou. 

Como resultado das rodadas, a empresa canadense deve fechar negócio com pelo menos quatro novos produtos da Amazônia para a sua cesta: castanhas do Brasil, cacau em barra, óleos essenciais amazônicos e sorvetes de frutas tropicais, como cupuaçu e buriti.  

Açaí defensor da floresta 

A Petruz Fruity, empresa brasileira de açaí que está presente em 44 países, não perdeu a oportunidade de estar em contato direto, a uma só vez, com tantos clientes. Há 17 anos no mercado de exportação, a companhia mantém relações com importadores no mundo todo, mas raramente consegue encontrá-los em uma mesma ocasião, muito menos no Norte do Brasil. 

Rafael Ferreira, diretor comercial da empresa, elogiou a iniciativa. “O fato de ter sido em um estado da Amazônia foi muito interessante, porque sai dos eixos tradicionais”. Com sede em Belém, a Petruz trabalha com frutas tropicais e possui cinco fábricas na região, distribuídas nos estados do Pará, Amazonas e Amapá.  

Ao longo das rodadas, Rafael aproveitou tanto para se reconectar com importadores com quem já havia realizado negócios no passado, como os de Singapura, Dubai e Espanha, mas também para conquistar novos potenciais compradores, como o do Egito, com quem manteve uma agenda paralela. O plano, agora, é ir até o país africano para consolidar a parceria.   

A empresa planeja alcançar novos mercados com uma estratégia cada vez mais atrelada à ideia de “brasilidade”. Segundo Rafael, o plano de comunicação de 2024 da Petruz reforça justamente o posicionamento da marca como brasileira e atrela as frutas tropicais diretamente à defesa da floresta. “A gente mudou toda a da nossa comunicação pensando nisso. As embalagens terão animais da Amazônia, que são os defensores da floresta”, explicou. 

De acordo com Rafael, a aposta na sustentabilidade não é apenas uma questão de marketing, mas de essência da empresa. “Nós temos certificações para sustentar isso: orgânica, fair trade e várias outras. Estamos aqui no meio da Amazônia trabalhando com um produto que mantém a floresta de pé”, adicionou. 

Sobre a ApexBrasil 

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem como principal objetivo impulsionar as exportações de produtos e serviços do Brasil no mercado internacional, além de atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia nacional. Para alcançar esses propósitos, a Agência executa diversas iniciativas de promoção comercial, como participação em eventos centrais, missões prospectivas e comerciais, rodadas de negócios, apoio à presença de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais e visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião. 

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FSC®️: aliado na preservação dos biomas brasileiros

Por Paulo Bertolini, diretor-geral da APCER Brasil.

Dados divulgados esse ano pelo MapBiomas, mostram que o desmatamento no Brasil atingiu números alarmantes em 2022, com um crescimento de 22,3%, representando um desafio para a preservação ambiental e a sustentabilidade dos recursos naturais. Os biomas mais afetados são a Amazônia e o Cerrado, que juntos somam mais de 347 mil hectares de área desmatada. Diante desse cenário preocupante, é crucial adotar medidas efetivas para conter esse avanço de destruição.

Uma das ferramentas disponíveis para enfrentar esse desafio é a norma FSC®️ Cadeia de Custódia, criada pela organização sem fins lucrativos Forest Stewardship Council. Esta norma certifica que os produtos adquiridos provêm de florestas geridas com responsabilidade, respeitando a fauna, flora e os povos nativos locais. É um importante instrumento para garantir que cada etapa do processo seja cuidadosamente monitorada, assegurando que a origem sustentável do material e que respeite os direitos das comunidades originárias e dos trabalhadores envolvidos.

Uma das inovações introduzidas pelo FSC®️ é o chamado Direito ao Consentimento Livre, Prévio e Informado (DCLPI), que dá às comunidades indígenas e tradicionais o poder de participarem das decisões referentes ao manejo de suas terras. Isso significa que essas comunidades têm o direito de retirar a concessão de manejo desses territórios, se assim desejarem. Essa medida representa um avanço significativo na proteção dos direitos dessas comunidades e na promoção de práticas sustentáveis.

A adoção da norma FSC®️ não é apenas uma exigência mercadológica, mas também uma questão de ética e honestidade com os consumidores, que estão cada vez mais conscientes da importância de conhecer a origem dos produtos que consomem. A norma não apenas contribui para a preservação dos biomas brasileiros, mas também promove a transparência e a responsabilidade na cadeia produtiva.

Além disso, o FSC®️ trabalha ativamente para prevenir a participação em atividades ilegais e promover a rastreabilidade dos produtos florestais. Isso contribui para evitar a comercialização de madeira proveniente de fontes ilegais, reduzindo os impactos negativos do desmatamento.

Para as organizações interessadas em conquistar a certificação FSC, o processo envolve entrar em contato com um organismo certificador acreditado, que por meio de auditorias, avaliará se a organização cumpre os requisitos estabelecidos. Uma vez certificada, a organização deve manter anualmente as boas práticas para garantir a validade do certificado, que tem uma duração de cinco anos.

Diante da urgência de conter o desmatamento e preservar nossos biomas, a adoção das normas FSC®️, como Cadeia de Custódia e Manejo Florestal, se apresentam como medidas essenciais e eficazes. Ao garantir a origem responsável dos produtos, estamos não apenas protegendo o meio ambiente, mas também promovendo a justiça social e a sustentabilidade econômica. Cabe a todos nós, consumidores e empresas, assumir esse compromisso e contribuir para um futuro mais sustentável para o nosso país e para o planeta como um todo.

*Paulo Bertolini é diretor-geral da APCER Brasil, uma empresa de origem portuguesa, reconhecida mundialmente como um dos principais prestadores de serviços de certificação, auditoria a fornecedores, auditoria interna e treinamento. A organização oferece soluções de valor a instituições de qualquer setor de atividade, permitindo que se diferenciem em um mercado cada vez mais complexo e em constante mudança. Conheça mais sobre os serviços oferecidos em: https://apcergroup.com/pt-br/ 

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