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Sementes, pessoas e uma longa jornada: por dentro da maior iniciativa de restauração do Cerrado brasileiro

Edital Corredores de Biodiversidade contempla 12 projetos que restaurarão 2.700 hectares nos próximos quatro anos, algo inédito no Cerrado brasileiro. Foco na inclusão social é um dos pilares

“O Cerrado é milagre (e também é pedaço do Planeta que desaparece) […] Quem vai pagar a conta de tanta destruição? ‘Tudo bem, daqui a 100 anos estaremos todos mortos’, disse alguém. Certo, estaremos todos mortos. Mas nossos netos não”. Os versos do poeta cuiabano Nikolaus Behr dão o tom da preocupação sobre a preservação do bioma brasileiro que, segundo a literatura acadêmica, teria começado a ser formar há pelo menos 65 milhões de anos, quando continentes e oceanos adquiririam sua atual configuração — embora as imensas rochas que dariam origem às famosas chapadas tenham se formado há mais de 1 bilhão de anos.

Praticamente intocado por eras, o Cerrado era inicialmente visto como um território bruto e perigoso na história colonial do Brasil, sendo gradualmente ocupado desde a descoberta do ouro no século XVII. Com o tempo, a exploração da terra se intensificou, especialmente a criação de gado, e na década de 1930, a Marcha para o Oeste, sob o governo Getúlio Vargas, decidida a desenvolver e integrar as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, acelerou a ocupação do interior. E sua destruição.

Entre 1985 e 2023, o bioma perdeu 38 milhões de hectares, uma extensão superior ao tamanho do Estado de Goiás, segundo dados do Mapbiomas. Essa devastação reduziu em 27% sua vegetação original, que hoje se vê com quase metade de área (48,3%) alterada pelas mãos humanas. A outra metade, ainda intacta, ocupa 101 milhões de hectares, o que equivale a 8% da vegetação nativa do Brasil. Durante esse período, a pecuária e a produção agrícola, principalmente commodities, se expandiram de maneira expressiva, com aumentos de 62% e 529%, respectivamente.

Atualmente, as plantações ocupam 26 milhões de hectares do Cerrado, com 75% destinados à soja, que representa quase metade da produção brasileira do grão. Porém, a exploração excessiva tem gerado sérios impactos ambientais: erosão e empobrecimento do solo, perda de espécies da flora nativa para o desmatamento, expansão de espécies invasoras, queimadas irresponsáveis e diminuição da qualidade e da quantidade de águas – é no Cerrado que estão as nascentes de grandes bacias hidrográficas do Brasil e da América do Sul – além da fragmentação dos ecossistemas, que afeta a resiliência do bioma e deixam as espécies ainda mais vulneráveis.

Vista aérea de vegetação nativa do Cerrado nativo ao redor de um campo agrícola em Formosa do Rio Preto, na Bahia — Foto: Getty Images
Vista aérea de vegetação nativa do Cerrado nativo ao redor de um campo agrícola em Formosa do Rio Preto, na Bahia — Foto: Getty Images

Diante dos desafios ambientais, iniciativas voltadas para restauração buscam reconectar áreas fragmentadas, promovendo a regeneração da fauna e flora nativas. O Edital Corredores de Biodiversidade, uma parceria entre o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), o Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) e a Petrobras, é um exemplo dessa abordagem, com 12 projetos que restaurarão 2.700 hectares nos próximos quatro anos, algo inédito no Cerrado brasileiro. Com um investimento total de R$ 58 milhões, o projeto visa a recuperação do solo, a escolha de espécies apropriadas e o engajamento das comunidades locais, com ações em cinco estados – Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais – e no Distrito Federal.

O Edital faz parte da iniciativa “Floresta Viva” lançada pelo BNDES em 2021, com o objetivo de promover investimentos em restauração ecológica nos biomas brasileiros, combinando recursos do BNDES e de instituições apoiadoras no modelo de financiamento de matchfunding. As instituições apoiadoras incluem empresas, fundações, associações privadas, pessoas jurídicas de direito público e entidades da administração pública indireta. O FUNBIO é o parceiro gestor da iniciativa, sendo responsável pela organização e condução dos processos de seleção, contratação, acompanhamento e monitoramento dos resultados dos projetos de restauração.

“O modelo de matchfunding serve como uma alavanca financeira, ampliando o alcance dos projetos ao atrair mais recursos e consolidando um ecossistema de parcerias para as ações de restauração e conservação”, explica Marcos Cardoso, chefe do Departamento de Meio Ambiente no BNDES. O Floresta Viva já lançou 8 editais com fomento estruturado na ponta, contemplando outros biomas. Este voltado para o Cerrado, em parceria com a Petrobras, é o maior em valor aportado.

“O Edital do Cerrado é parte de um esforço mais amplo da Petrobras para investir em soluções baseadas na natureza, com foco na conservação e restauração”, conta Ana Marcela Di Dea Bergamasco, gerente de Projetos Voluntários de SBN da Petrobras. Outra parceria da empresa com o BNDES dentro do “Floresta Viva” é o edital para recuperação de manguezais, que já tem oito projetos em andamento, desde de 2023.

Para o biólogo Rodolfo Cabral Marçal, gerente de projetos ambientais no FUNBIO, os projetos selecionados pelo edital vão ao encontro da urgente necessidade de corredores ecológicos no país, que facilitem a conectividade entre habitats e promovam a biodiversidade.

A fragmentação ambiental, causada por diversos problemas, faz com que as Unidades de Conservação fiquem isoladas. Precisamos criar habitats seguros para permitir o fluxo de espécies entre elas.

— Rodolfo Marçal, gerente de projetos ambientais no FUNBIO.

Segundo ele, os corredores são facilitadores do fluxo gênico, e não apenas para animais, mas também polinizadores e plantas. “Por exemplo, um polinizador pode visitar uma planta em um fragmento e, em seguida, polinizar outra planta em um fragmento diferente. Isso é fundamental para processos ecológicos e a dispersão de sementes, que são vitais para a regeneração e a saúde dos ecossistemas”, afirma.

Rodolfo Cabral Marçal, biólogo e coordenador de projetos do FUNBIO. — Foto:  Rede Kalunga de Comunicação
Rodolfo Cabral Marçal, biólogo e coordenador de projetos do FUNBIO. — Foto: Rede Kalunga de Comunicação

Viver para restaurar: pessoas no centro da restauração

Além de promover a restauração de áreas degradadas, o Edital “Corredores da Biodiversidade” pretende fortalecer as instituições e organizações comunitárias que já atuam nesse campo e permitir a troca de experiências e técnicas entre elas, promovendo, assim, um aprendizado coletivo. Nesse contexto, no início do mês de fevereiro, as 12 instituições selecionadas, especialistas e organizações apoiadoras se reuniram em Alto Paraíso-GO para trocar experiências, apresentar planos iniciais dos projetos e visitar áreas em restauração no Cerrado sob comando do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para adquirir mais conhecimento e estreitar relações.

Claudomiro, da Cerrado de Pé, e demais restauradores contempledos no Edital em visita técnica na Chapada dos Veadeiros. — Foto: Vitor Saraiva
Claudomiro, da Cerrado de Pé, e demais restauradores contempledos no Edital em visita técnica na Chapada dos Veadeiros. — Foto: Vitor Saraiva

Entre os projetos contemplados pelo edital estão iniciativas como a da Associação Nacional de Fortalecimento da Agrobiodiversidade (Agrobio), que busca fortalecer cadeias produtivas da biodiversidade no cerrado goiano. Marcelo Mendonça, professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador da Agrobio, explica que o projeto vai restaurar 200 hectares de áreas, além de implantar indústrias para o fortalecimento das cadeias produtivas regionais no território quilombola Kalunga, nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, além de comunidades e assentamentos nordeste do estado. Inclusão produtiva e geração de renda nas comunidades locais são, segundo ele, chaves para a sustentabilidade da restauração. “Não se trata de levar para eles, mas de construir com eles a partir dos saberes, dos fazeres, das experiências locais”, afirmou durante apresentação do projeto na UNB Cerrado.

A Angá (Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro) utilizará seres vivos como bioindicadores no projeto “Canastra Viva: restaurando corredores para a biodiversidade”. O pato-mergulhão, considerado o embaixador das águas brasileiras, é uma das aves mais ameaçadas das Américas, sendo afetado pela poluição dos rios, projetos hidrelétricos e o assoreamento das águas. Por sua sensibilidade ambiental, a espécie funciona como um “termômetro” para a saúde dos ecossistemas aquáticos, vivendo apenas em águas limpas. Além disso, é uma “espécie guarda-chuva”, cuja proteção beneficia outras espécies do Cerrado.

Pato-Mergulhão (Mergus octosetaceus), ave criticamente ameaçada, atua como bioindicador ambiental. — Foto: Sávio Freire Bruno/WikimediaCommons
Pato-Mergulhão (Mergus octosetaceus), ave criticamente ameaçada, atua como bioindicador ambiental. — Foto: Sávio Freire Bruno/WikimediaCommons

“Monitorar o aumento da população do pato mergulhão nessas áreas vai nos ajudar a avaliar o sucesso do projeto de restauração ambiental”, diz Poliana Duarte, bióloga da Angá, que visa formar um corredor ecológico entre o Chapadão da Babilônia e o Chapadão da Canastra, promovendo a regeneração ambiental, especialmente ao longo do rio Ribeirão das Posses. Leonardo Gomes Neves, coordenador do projeto, também considera monitorar primatas locais, como o macaco-prego e o bugio. “Os primatas dependem da área florestal para se alimentar, então sua presença é um bom indicador de que a área está melhorando. Além disso, eles são excelentes dispersores de sementes; onde há primatas, há floresta sendo plantada”, afirma.

Representantes das organizações contempladas no edital Corredores da Biodiversidade em encontro no início de fevereiro na UNB Cerrado. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Representantes das organizações contempladas no edital Corredores da Biodiversidade em encontro no início de fevereiro na UNB Cerrado. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Atento à conectividade entre biomas, o Edital Corredores da Biodiversidade também contemplou projetos de restauração no Pantanal. Entre eles está o Instituto Gaia Pantanal, que propõe uma restauração socioparticipativa no corredor do Jauru, um trecho do rio de mesmo nome no Mato Grosso, que vai desde a foz do rio até a ilha do Tucum, pegando Cerrado e Pantanal. Solange Ikea Castrillon, coordenadora do Instituto, destaca a importância do corredor para manter a umidade no Pantanal. “O Cerrado funciona como uma área de recarga para o Pantanal. Sem essa recarga, não conseguimos manter a umidade e água necessárias para o Pantanal, que é fundamental para preservação da biodiversidade”, diz, ressaltando que a redução do volume de chuvas e as grandes erosões e incêndios têm se agravado.

Professora da Universidade do Estado de Mato Grosso, Solange enfatiza a importância da parceria com a universidade para mobilizar a sociedade, implementar projetos de restauração e capacitar as comunidades, promovendo práticas de restauração e produção de mudas nativas, fortalecendo a conscientização ambiental e a cultura de regeneração. Os saberes tradicionais dos comunitários são igualmente chaves no processo. Uma parceria emblemática no Instituto Gaia é com Seu Zé Aparecido, que já plantou um milhão de mudas em mais de 120 nascentes na bacia hidrográfica do Jaú.

Instituto Gaia — Foto: Reprodução/Instagram
Instituto Gaia — Foto: Reprodução/Instagram

Nessa mesma lógica de conectividade, o Instituto Taquari Vivo vai, por meio do projeto “Caminhos das Nascentes”, atuar numa área crítica para conexão entre os biomas do Cerrado e do Pantanal. A bacia do Alto Taquari, com área de aproximadamente 80.000 km², é vital para a conexão entre os biomas do Cerrado e do Pantanal, sendo o Rio Taquari o principal responsável pela hidrologia da região. No entanto, a bacia enfrenta desafios como mudanças no uso do solo, alterações climáticas e degradação, o que impacta negativamente os leitos dos rios, a dinâmica das inundações e a biodiversidade local. Para agravar, a presença de mais de 5.000 moçorocas ativas, resultantes da erosão do solo, afeta a produtividade agrícola e a qualidade da água, tornando a bacia uma área crítica para ações de restauração e conservação.

Projeto "Caminhos das Nascentes", do Instituto Taquari Vivo, busca combater erosão e assoreamento que castigam Pantanal e Cerrado. — Foto: Divulgação
Projeto “Caminhos das Nascentes”, do Instituto Taquari Vivo, busca combater erosão e assoreamento que castigam Pantanal e Cerrado. — Foto: Divulgação

“A gente pretende reduzir esses processos erosivos através da recuperação ambiental e recuperação do solo por meio de terraceamento, bacias de contenção, curvas de nível e restauração de 378 hectares em duas unidades de conservação, o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, nos municípios de Costa Rica e Alcinópolis, no Mato Grosso do Sul, e no Monumento Natural Serra do Bom Jardim, em Alcinópolis”, diz Letícia Koutchin Reis, coordenadora do projeto. No processo, o projeto visa fortalecer a colaboração entre produtores rurais e órgãos ambientais, promover boas práticas de manejo por meio de workshops e materiais informativos sobre conservação do solo, adquirir 100.000 mudas nativas e mais de 8 toneladas de sementes para replantio, e estabelecer o “Espaço Floresta Viva” para apoiar estudos e pesquisas em conservação e turismo na região.

O caminho das sementes: da coleta à restauração

Sementes expostas no armazém da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Sementes expostas no armazém da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

O Cerrado é caracterizado por uma diversidade de tipos de vegetação. Dessa forma, os projetos de restauração ecológica precisam abranger todos os estratos da paisagem do bioma, incorporando não apenas árvores, mas também arbustos, ervas e gramíneas. Criada há mais de duas décadas, a Rede de Sementes do Cerrado tem atuado para a aumentar a disponibilidade de sementes de plantas nativas, com o objetivo de promover a preservação e a valorização do bioma de forma socialmente inclusiva.

“Um dos nossos pilares é a restauração de base comunitária, onde as pessoas são protagonistas, coletando suas sementes e restaurando seus territórios. Onde tudo é feito e liderado por assentados na reforma agrária, por geraizeiros [comunidades de agricultores familiares], por quilombolas e agricultures solidários”, explica Natanna Hoorstmann.

Além do protagonismo comunitário, a Rede se estrutura em outros dois pilares principais: técnica adequada e processos de formação contínua para as comunidades. Capacitações são fornecidas em diversas áreas, como a restauração ecológica, gestão administrativa e financeira, e técnicas de coleta de sementes. Contemplada no Edital Corredores da Biodiversidade, Rede de Sementes vai restaurar áreas emquatro corredores de biodiversidade no Parque Estadual de Terra Ronca, Chapada dos Veadeiros, Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Serra do Espinhaço e a APA Peruaçu.

Segundo Natanna, o projeto pretende criar áreas de referência para a restauração produtiva em assentamentos, onde a vegetação nativa seja restaurada de forma a permitir a produção de alimentos e outros produtos de maneira sustentável. Exercendo sua missão, a Rede também fornecerá sementes para outros projetos de restauração contemplados no Edital.

Dezenas de sementes nativas do Cerrado: diversidade é chave para a paisagem do bioma. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Dezenas de sementes nativas do Cerrado: diversidade é chave para a paisagem do bioma. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

“Coletar tantas sementes quanto estrelas do céu”

Entre as organizações e grupos que integram a rede coleta de sementes nativas está a Cerrado de Pé, associação de coletores de sementes da Chapada dos Veadeiros, fundada em 2009. Começou com uma pequena experiência de restauração e, com o tempo, cresceu para envolver 240 famílias e realizar a coleta de até 30 toneladas de sementes por ano. A ação surgiu em resposta aos incêndios que devastaram o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, e teve como foco inicial restauração das áreas queimadas. A associação também se fortaleceu com o apoio de parceiros como o Sebrae, que contribuíram para sua formalização em 2017.

“Não tem como a gente falar de conservação e de restauração sem envolver as comunidades”, afirma Claudomiro de Almeida Cortes, fundador e diretor de restauração da Cerrado de Pé. Ele ressalta o papel das mulheres, que são a maioria entre os coletores, e dos territórios tradicionais no trabalho da associação, que passou de uma ação local para uma atuação mais ampla, atingindo diversos municípios. Além da coleta e restauração, a associação trabalha no cultivo, plantio e armazenamento de sementes nativas.

Cintia Oliveira, presidente da Cerrado de Pé no armazém de sementes nativas. — Foto: Vitor Saraiva
Cintia Oliveira, presidente da Cerrado de Pé no armazém de sementes nativas. — Foto: Vitor Saraiva

Nossa meta é coletar e plantar sementes de cerrado na mesma quantidade de estrelas do céu”, sublinha Cíntia de Oliveira, presidente da associação.

— Cíntia de Oliveira Silva Carvalho, presidente da associação Cerrado de Pé.

Para Cíntia de Oliveira Silva Carvalho, presidente da associação Cerrado de Pé, coletar sementes nativas é vital não apenas para o presente, mas também para as futuras gerações. “Coletar, para mim, significa vida. Vida para a gente hoje. Vida para nossos filhos, netos e bisnetos amanhã, para a flora e fauna do Cerrado”. Ressalta ainda como a restauração do bioma é crucial para garantir a disponibilidade de água e a preservação do meio ambiente, especialmente diante do desmatamento e da degradação das nascentes. “Se a gente não cuidar, não teremos mais Cerrado”.

Teste de fogo e capins exóticos pelo caminho

Placa indicando área em processo de restauração no Parque. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
Placa indicando área em processo de restauração no Parque. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Restaurar o Cerrado não é uma tarefa fácil. Por diversos fatores, tanto ecológicos quanto sociais e econômicos. A degradação do solo, que é ácido e pobre em nutrientes, e a conversão das áreas em monoculturas agrícolas complicam o processo. Além disso, a presença de espécies exóticas invasoras, como a dominante braquiária, dificulta a recuperação da vegetação nativa. A restauração exige altos investimentos e adaptação ao clima sazonal, com períodos secos intensos e efeitos cada vez mais intensos da emergência climática. Outro obstáculo é a resistência de proprietários rurais a realizar a restauração – só no Cerrado, há 38,6 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas, o que torna a restauração um desafio complexo e demorado.

Para entender um pouco mais esses desafios e aumentar a troca de expertises, o grupo de restauradores contemplados pelo edital “Corredores da Biodiversidade” saiu à campo. Em visita ao Parque Chapada dos Veadeiros, foi possível acompanhar algumas iniciativas de restauração do ICMBio em parceria com a Cerrado de Pé e com outras organizações de pesquisa que atuam na região.

Alexandre Bonessa Sampaio, coordenador do ICMBio, comemorou a iniciativa do edital. “É a realização de um sonho que a gente vem construindo desde lá de trás. Termos uma iniciativa dessa envergadura é uma grande oportunidade para focar na restauração ecológica do Cerrado, que não tem recebido o mesmo nível de atenção e recursos que a Amazônia”, comentou o engenheiro florestal chamado por muitos apenas de “Xandão” dada à vasta e generosa atuação no bioma.

O engenheiro florestal e coordenador do ICMBio Alexandre Sampaio ("Xandão") e Claudomiro, diretor de restauração da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta
O engenheiro florestal e coordenador do ICMBio Alexandre Sampaio (“Xandão”) e Claudomiro, diretor de restauração da Cerrado de Pé. — Foto: Vanessa Oliveira/Um Só Planeta

Os principais desafios enfrentados pelo ICMBio na implementação de projetos de restauração, segundo ele, incluem a falta de recursos orçamentários próprios, a complexidade fundiária que dificulta a regularização de terras, a dificuldade em lidar com a grande escala necessária para a restauração, problemas nas normativas e processos burocráticos que complicam a execução, além da necessidade de uma maior integração e coordenação entre instituições e parceiros.

Outro ponto crítico para o especialista, e que os projetos contemplados pelo Edital também buscam endereçar, é o engajamento contínuo das comunidades locais para garantir a continuidade dos projetos. Sampaio enfatiza que a verdadeira mudança na conservação ambiental vem do engajamento da sociedade, e que, ao incluir as pessoas no processo de restauração é possível gerar benefícios sociais e econômicos que ajudam a combater as causas profundas da degradação ambiental. Muitas das áreas em restauração dentro do Parque da Chapada dos Veadeiros contam com as mãos e os saberes de comunitários.

A restauração é uma ferramenta de conservação da sociobiodiversidade. É aí que a gente tem chance de mudança.

— Alexandre Sampaio (“Xandão”), engenheiro florestal e coordenador do ICMBio.

Visita técnica a áreas de restauração do ICMBio na Chapada dos Veadeiros: troca de experiência para auxiliar projetos do edital Corredores da Biodiversidade, da iniciativa "Floresta Viva". — Foto: Vitor Saraiva
Visita técnica a áreas de restauração do ICMBio na Chapada dos Veadeiros: troca de experiência para auxiliar projetos do edital Corredores da Biodiversidade, da iniciativa “Floresta Viva”. — Foto: Vitor Saraiva

Na visita técnica, foi possível acompanhar o processo de restauração de uma área de vegetação nativa que foi alterada, inicialmente utilizada para cultivo de arroz e pastagem com capins exóticos, como a braquiária (Brachiaria decumbens). A vegetação original da região era formada por cerrados mais densos nas encostas e campos úmidos, com uma flora diversificada. O processo de restauração capitaneado por Claudomiro, da Cerrado de Pé, começou com o controle da vegetação exótica, usando fogo e gradeamento para preparar o solo. Em seguida, foi aplicada uma niveladora para triturar os torrões de palha e raízes, visando destruir a onipresente braquiária e preparar o solo para o plantio.

Após dois anos de preparação, o solo foi tratado com herbicidas para eliminar o banco de sementes da braquiária, que pode persistir por anos. O plantio foi feito em 2021, com uma mistura de sementes de capim e arbustos, com algumas árvores. Embora o projeto tenha obtido bons resultados em apenas dois anos, o processo de restauração requer um período mais longo, de pelo menos 5 anos. A vegetação nativa está voltando, mas a área ainda enfrenta desafios, como a competição com gramíneas invasoras.

A situação do solo, alterada pela calagem – processo de aplicação de calcário no solo, com o objetivo de corrigir sua acidez – e presença das gramas exóticas, demandam um manejo contínuo. Em outras áreas do Parque é possível avistar áreas de restauração mais maduras, com 11 anos, por exemplo, bem avançados e com fitofisionomia diversas. Em muitas delas, foram utilizadas também plantas nativas no combate às invasoras. É caso do “amargoso”, que embora não seja uma solução definitiva, atrapalha o crescimento da braquiária.

Nativa da África, a braquiária foi trazida ao Brasil nos anos 1960 e modificada pela Embrapa para servir de pastagem. Além de reduzir a biodiversidade e dificultar o crescimento das nativas, essas plantas são altamente regenerativas, difíceis de controlar e resistentes a incêndios, que estão cada vez mais frequentes com a alta do termômetro. “As áreas queimadas em anos consecutivos (2017, 2019, 2020, 2021) enfrentam um ciclo de degradação, onde as matas, especialmente as úmidas, são invadidas por espécies exóticas invasoras. Isso cria um sistema de retroalimentação, onde o fogo e as invasões se intensificam mutuamente, dificultando a recuperação das áreas”, contou Nayara Stacheski, analista ambiental e chefe do Parque Nacional.

Parque Nacional Chapada dos Veadeiros: parque tem cerca de 300 hectares de área em restauração. — Foto: Tales Emanuel
Parque Nacional Chapada dos Veadeiros: parque tem cerca de 300 hectares de área em restauração. — Foto: Tales Emanuel

Mas o balanço geral, segundo ela tem sido positivo. Atualmente, há cerca de 300 hectares em restauração no parque. “Saímos de um crença de que era impossível restaurar Cerrado”, celebra. Durante o encontro com os restauradores contemplados no edital, o uso do fogo na restauração também foi abordado como uma estratégia importante, mas que deve ser manejada com cuidado. O fogo, inclusive, desempenha papel importante na germinação de sementes no Cerrado, que dependem dele para sair do estado de “dormência”. Implementar estratégias de manejo do fogo, incluindo treinamento de equipes e planejamento cuidadoso para minimizar o risco de incêndios em áreas vulneráveis (as degradadas com excesso de capim, por exemplo), e que comprometam os esforços de restauração é chave nesse processo.

Transbordando de experiências na Chapada, os projetos aprovados no edital Corredores da Biodiversidade, agora terão um período de planejamento de seis meses, durante o qual deverão elaborar detalhadamente seus planos de ação e enviar para aprovação. A expectativa é que, a partir do início da estação chuvosa, em outubro ou novembro, as atividades de plantio e semeadura comecem. O cronograma prevê dois anos para a implementação das ações, seguidos por dois anos adicionais para manutenção e monitoramento das áreas restauradas. Durante esse período, haverá encontros anuais para avaliar o progresso dos projetos e discutir os resultados.

Rodolfo Marçal, coordenador da iniciativa no FUNBIO, lembra que a restauração é um compromisso com o futuro, onde cada semente plantada é uma esperança renovada para a biodiversidade e para as próximas gerações, mas é preciso dar urgência à ação. “Estamos trocando a roda enquanto o carro está pegando fogo”, compara. Em 2024, o bioma perdeu 9,7 milhões de hectares em queimadas, sendo 85% (8,2 milhões de hectares) em vegetação nativa, um aumento de 47% em relação à média dos últimos 6 anos. Com sua história de milhões de anos, o Cerrado não é apenas um legado do passado, mas um tesouro do presente que exige vigilância constante e compromisso coletivo para que, como bradam os versos do poeta, não se perca para sempre.

Informações: Um Só Planeta.

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Em disputa de gigantes, CMPC dobra a aposta no “maior polo de celulose do mundo”

Enquanto as concorrentes Suzano, Bracell e Arauco concentram investimentos bilionários no MS, a companhia chilena percorre uma rota diferente e expande sua operação em território gaúcho, onde reúne mais de 1 mil propriedades e 500 mil hectares sob sua influência

A chilena CMPC, uma das maiores produtoras de celulose do mundo e dona da fabricante de papéis de higiene Softys, está dobrando a aposta no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, base de suas operações de celulose no país.

“Vamos ter o maior pólo de celulose no mundo. Em nenhum lugar do mundo, existem duas fábricas tão perto e produzindo em quantidades tão relevantes”, projeta Antonio Lacerda, diretor-geral de Celulose da CMPC no Brasil, em entrevista ao AgFeed.

A referência implícita na frase é para uma (saudável) disputa de gigantes com projetos bilionários de suas concorrentes Suzano, Arauco e Bracell, que têm concentrado seus megaprojetos em diferentes municípios da região de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.

A CMPC, nesse caso, segue uma outra rota, que tem se mostrada acertada há alguns anos e deve continuar sendo percorrida por um bom tempo.

No ano passado, por exemplo, a companhia anunciou o Projeto Natureza, um investimento de R$ 24 bilhões a ser executado até o fim da década na cidade de Barra do Ribeiro, região metropolitana de Porto Alegre, com capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas de celulose e entrada de operação prevista em 2029, quando a CMPC completará vinte anos de presença no Brasil.

Em paralelo, a CMPC acabou de finalizar investimentos para a modernização de suas plantas na cidade de Guaíba, também próxima de Porto Alegre e distante 26 quilômetros de Barra do Ribeiro, como forma de diminuir o impacto ambiental da operação e ampliar a capacidade produtiva.

Executivo veterano, com passagens por Monsanto e Basf, onde atuou por quase 20 anos, Lacerda assumiu o posto de diretor da CMPC há cerca de dez meses, no lugar de Maurício Harger – que estava no cargo desde 2018 e assumiu, no ano passado o comando da Vedacit, fabricante de impermeabilizantes e materiais de construção.

Lacerda está empolgado com as perspectivas que encontrou na empresa. “Digo para as pessoas que trabalham na CMPC que muita gente gostaria de estar no nosso lugar agora com um projeto dessa magnitude na mão, com um mercado crescente de exportação, bem menos sensível às questões domésticas, com dinheiro para investir e com oportunidade de carreira para todos e todas aqui dentro”, afirma.

Pertencente à bilionária família Matte, do Chile, a CMPC possui 46 plantas em países como Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, México e Peru.

O Brasil é central na estratégia da companhia, segundo Lacerda. “Hoje, 60% dos negócios da CMPC já estão no Brasil. Quando tivermos a nossa nova fábrica de Barra do Ribeiro, em 2029, esse eixo vai estar mais pendendo para o Brasil ainda”, afirma.

“Seremos uma empresa que nasceu no Chile há mais de 100 anos, mas com as operações predominantemente no Brasil. É assim que está planejado o nosso futuro”, resume.

Lacerda prefere não detalhar, mas diz que a CMPC poderá fazer “outros negócios” no futuro no país. “A estratégia é crescer no Brasil”, afirma.

Desde que chegou ao Brasil, em 2009, ao comprar a fábrica de Guaíba que pertencia à Riocell, a CMPC já tinha investido na ampliação da unidade, com uma nova linha de produção inaugurada há uma década, em 2015.

O movimento da CMPC de centralizar suas operações de celulose no Rio Grande do Sul chama a atenção justamente por ir na contramão da tendência das grandes companhias do setor.

É o caso de empresas como a Suzano, que começou a operar sua usina de R$ 22,2 bilhões na cidade de Ribas do Rio Pardo no ano passado, capaz de produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose, da Arauco, que vai implantar uma fábrica em Inocência, com começo de operação prevista para 2027 e capacidade produtiva esperada de 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, e da Bracell, que jpá anunciou planos de aportar R$ 20 bilhões em uma megaplanta de R$ 20 bilhões em Água Clara, na mesma região.

Quando todas as unidades industriais no estado já tiverem entrado em operação, o Mato Grosso do Sul vai se tornar o maior produtor de celulose do Brasil, com uma capacidade produtiva próxima de 10 milhões de toneladas.

Com a experiência de quem cultiva eucaliptos adaptados ao frio da Cordilheira dos Andes, a CMPC prefere o Rio Grande do Sul pelas condições de clima e solo serem mais favoráveis em comparação a outras regiões, explica Lacerda.

Antonio Lacerda, diretor geral de celulose da CMPC no Brasil.

“No Mato Grosso do Sul, onde a maioria dos projetos estão se instalando, fica cinco meses sem cair uma gota d’água. É um estresse hídrico tremendo”, diz Lacerda.

“A gente tem frio por aqui? Tem, mas também temos variedades de eucalipto que são mais adaptadas, que são desenvolvidas pela própria CMPC, mais adaptadas ao frio.”

A nova fábrica de Barra do Ribeiro vai gerar 12 mil empregos diretos e, para iniciar a obra, a CMPC aguarda a emissão de licença de instalação por parte da Fepam, órgão ambiental do governo gaúcho. “A gente imagina que vai sair até o meio do ano que vem”, diz Lacerda.

Além da proximidade com Guaíba, a escolha por instalar a planta no município decorre, segundo Lacerda, decorre do fato de que a CMPC já possui uma propriedade no município, a Fazenda Barba Negra, com 12 mil hectares, que abriga o viveiro de mudas da companhia e um centro de pesquisas de aprimoramento genético do eucalipto.

A Barba Negra, contudo, não é a única fazenda da companhia no Rio Grande do Sul. Ao todo, a CMPC possui cerca de 1.041 propriedades, distribuídas em 73 municípios gaúchos. São cerca de 250 mil hectares próprios e o restante é arrendado de terceiros.

No Rio Grande do Sul, a CMPC tem 500 mil hectares, metade área própria e metade arrendada. Para a nova fábrica de Barra do Ribeiro, será necessário o acréscimo de mais 80 mil hectares.

Cerca de 56% desse total é explorado pela companhia para o plantio de eucalipto e o restante é destinado para preservação florestal, segundo Lacerda. “Onde pode plantar eucalipto, a gente planta eucalipto e, onde não pode, a gente não planta.”

Além da indústria de celulose em si, a CMPC projeta investimentos em infraestrutura em Barra do Ribeiro, que envolve a construção de uma estrada que vai ligar as duas fábricas da companhia, acesso à fazenda Barra Negra e um terminal hidroviário.

A CMPC também projeta investimento de cerca de R$ 1 bilhão em um novo terminal no Porto de Rio Grande, cidade da região Sul, para escoar a exportação de quase cinco milhões de toneladas de celulose, gerando só nessa operação 1,4 mil empregos.

Praticamente toda a produção de fibra de celulose da CMPC no Brasil – 97% do total – é exportada, especialmente para Ásia e Europa, mas com remessas também para os Estados Unidos. “O maior cliente de Guaíba é um cliente que produz roupas na China, fazendo a substituição de fibras sintéticas por fibras naturais, no caso, celulose”, diz Lacerda.

Também estão previstas obras de dragagem e de ampliação da capacidade de armazenagem da companhia no terminal de Pelotas, também na região Sul do estado, estrutura concedida à CMPC em 2021, com vigência de dez anos.

“Nós somos o maior usuário do sistema fluvial do Rio Grande do Sul. Quase 45% do tráfego fluvial gaúcho é da CMPC”, afirma Lacerda.

A celulose vai para o porto de Rio Grande pelo Guaíba e pela Laguna dos Patos, as barcaças param em Pelotas, se abastecem de madeira e voltam. “É uma quantidade muito grande: são quase 8 milhões de metros cúbicos de madeiras que utilizamos aqui na fábrica”, estima o diretor.

O investimento de R$ 24 bilhões no Projeto Natureza será feito parte com recursos próprios e parte com recursos financiados junto a bancos de fomento do Brasil e do exterior, pelo fato de os provedores de parte das tecnologias da planta serem estrangeiros.

No Brasil, o BNDES teria se interessado no projeto, ainda que a transação não esteja fechada, segundo Lacerda. “Eu estive no BNDES e eles elogiaram muito o projeto, não somente do ponto de vista industrial, mas toda a vertente social e ambiental. Quando apresentamos o todo do projeto, o BNDES disse: “Uau, a gente quer estar com vocês””

Enquanto se prepara para o investimento em Barra do Ribeiro, a CMPC continua fazendo melhorias na unidade de Guaíba.

No fim de 2024, em dezembro passado, a companhia entregou o projeto BioCMPC, um investimento de R$ 2,75 bilhões que havia sido iniciado em 2021 e que envolve 31 iniciativas, que envolveram a implantação de novos equipamentos de controle ambiental e de procedimentos de modernização operacional da linha 2.

Dessa forma, nos cálculos da companhia, há uma redução de 60% no volume de emissões de gases de efeito estufa da CMPC.

Além disso, também houve um acréscimo de 18% à capacidade da fábrica. Esse incremento trazido pelo projeto à produção geral de celulose da companhia pode ser verificado já no fim do ano passado no balanço global da CMPC – que não divulga seus resultados no Brasil.

No quarto trimestre de 2023, houve um aumento de 23% no montante fabricado pela companhia, que foi de 1,075 milhão de toneladas no período, atribuído à finalização do projeto em Guaíba.

Além do BioCMPC, a companhia também investiu R$ 216 milhões, no fim do ano passado, em um projeto chamado Revamp, que tem como objetivo modernizar e otimizar equipamentos da linha de produção 1 de Guaíba.

“Foi mais uma atualização para aumentar a capacidade de secagem e melhorar os aspectos ambientais da fábrica”, diz Lacerda.

A CMPC tem duas plantas em Guaíba. A linha 1 é a mais antiga, inaugurada em 1972, com capacidade de produção de cerca de 400 mil toneladas de celulose, e a linha 2, que começou a operar em 2015 e é capaz de produzir 2 mihões de toneladas.

Do “odor da Borregaard” à referência ambiental

Os investimentos contínuos da CMPC em mitigar o impacto ambiental de suas plantas no Rio Grande do Sul estão também relacionados ao histórico da planta de Guaíba que, no passado, ficou conhecida em todo o Brasil pelos prejuízos ambientais que trouxe à população local.

Quando a fábrica, um projeto original da Borregaard, indústria de celulose da Noruega, foi instalada em Guaíba, no começo da década de 1970, houve muita festa, aplauso e expectativa de progresso com a chegada da nova unidade, símbolo da modernização da economia de um estado tradicionalmente agrícola.

Mas não demorou muito para que o humor dos gaúchos para com a nova indústria azedasse logo que a planta entrou em operação, em março de 1972. Das chaminés da nova fábrica, um cheiro forte de enxofre passou a atravessar o Rio Guaíba e repousar sobre a região central da capital gaúcha.

E, como se não bastasse o odor que incomodava a população, os efluentes da unidade estavam sendo despejados diretamente no rio, longe dos olhos (e narizes) da população.

As críticas ao impacto ambiental trazido pela fábrica, principalmente de ambientalistas e da imprensa, logo vieram. Um dos líderes dos ativistas era o engenheiro agrônomo José Lutzenberger, que ganhou fama nacional a partir do episódio e, mais tarde, viria a ser secretário do Meio Ambiente no governo de Fernando Collor, já no começo dos anos 1990.

Sustentabilidade e meio ambiente eram assuntos que não estavam na ordem do dia do regime militar naquele momento, que vivia seu momento mais repressivo, mas a reação negativa foi tão grande que até mesmo os militares resolveram agir.

Pouco tempo depois de ser inaugurada, a fábrica teve suas atividades interrompidas pelo governo gaúcho durante três meses, entre o fim de 1973 e o começo de 1974.

Pressionados, os noruegueses da Borregaard desistiram do projeto no Brasil e venderam a sua participação na fábrica para o Montepio da Família Militar, extinta instituição de previdência privada aos militares, em 1975, que trocou o nome da empresa para Riocell, sigla para Rio Grande Celulose, denominação que perdurou até os anos 2000.

A fábrica passaria de mão em mão até uma holding formada pelos grupos Klabin, Ioschpe e Votorantim assumir o controle em 1982.

Em paralelo, a Riocell passou a investir pesadamente em melhorias operacionais na fábrica para a mitigação de seu impacto ambiental, principalmente relacionadas ao tratamento de efluentes, e passou a contar com consultorias até mesmo de José Lutzenberger, outrora “inimigo” da antiga Borregaard.

A Klabin ficou no comando até 2003, quando vendeu a unidade para a Aracruz, que revendeu a fábrica para os chilenos da CMPC em 2009. Na ocasião, eles deram o nome de Celulose Riograndense para a unidade brasileira.

“Hoje, a fábrica tem muito pouco da antiga Borregaard. A gente renovou os prédios, os escritórios”, diz Lacerda.

Além do negócio de celulose no Rio Grande do Sul, a CMPC tem sua subsidiária específica para a fabricação de produtos de papel tissue e higiene pessoal, a Softys, dona de marcas conhecidas do consumidor como o guardanapo e papel toalha Kitchen, os lencinhos de papel Elite e o papel higiênico Cotton, entre outras.

Segunda maior produtora de tissues da América Latina, a Softys tem presença no Brasil e em outros sete países: Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai. No Brasil, a Softys está presente em Guaíba, Caieiras (SP), Mogi das Cruzes (SP), Recife (PE) e Mallet (PR).

Informações: Brain Market.

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CMPC terá uma das plantas mais sustentáveis do país no setor de celulose

Investimento de 2,75 bilhões de reais modernizará a unidade de Guaíba, reduzindo resíduos e melhorando a produtividade em 18%

Grandes projetos aproximam a indústria de celulose às práticas de sustentabilidade e à bioeconomia. Um exemplo é o projeto BioCMPC, um conjunto de 31 ações ligadas à sustentabilidade, que contará com a modernização da Unidade Industrial em Guaíba, transformando-a em uma das mais sustentáveis do Brasil no setor de celulose e papel.

O projeto foi elaborado visando os 3 Cs da empresa: criar soluções inovadoras a partir da celulose; conviver com as comunidades vizinhas promovendo iniciativas sociais voltadas para educação, geração de renda e qualidade de vida; e conservar os recursos naturais, praticando a gestão ambiental adequada em todos os processos produtivos.

“Queremos influenciar positivamente toda a sociedade e mostrar que é possível investir em competitividade nos negócios, ao mesmo tempo que se promove desenvolvimento social e ações de ESG”, afirma Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC no Brasil.

Benefícios para o entorno

O projeto, iniciado em setembro de 2021, conta com o investimento de 2,75 bilhões de reais e trará contribuições em produtividade e sustentabilidade para a unidade de Guaíba, gerando um ganho de 18% na performance industrial.

O resultado promete melhores índices ambientais em pelo menos cinco quesitos: gestão de resíduos, tratamento de efluentes, emissões atmosféricas, sistemas de tratamento de gases e gestão ambiental.

Além de trazer benefícios ao meio ambiente, a iniciativa aquecerá a economia. Isso porque ela deve criar 7.500 novos postos de trabalho durante a obra. A empresa também vai impulsionar um programa de educação ambiental que será compartilhado com a rede pública de ensino.

Unidade industrial da CMPC: empresa produz, por ano, cerca de 1,9 milhão de toneladas de celulose (Fabiano Panizzi/Divulgação).

Redução dos gases de efeito estufa

A planta de Guaíba, que já é referência mundial em economia circular, reciclando 100% dos resíduos sólidos oriundos do processo industrial, prevê agora, com as novas medidas do BioCMPC, diminuir consideravelmente o volume de material gerado e eliminar 100% os resíduos de cinzas.

A empresa espera ainda, com a revisão do sistema de coleta de gases, fazer com que a CMPC no Brasil tenha o melhor sistema de tratamento de gases do setor no país – e um dos melhores do mundo.

“Além das nossas florestas que já sequestram milhares de toneladas de carbono, eliminaremos uma fonte de energia não renovável e vamos instalar uma nova caldeira de recuperação para produção de energia 100% limpa”, afirma Harger. “No século 21 a sociedade espera que as empresas não gerem problemas e ainda ajudem a sociedade a superar seus próprios desafios. E é isso que estamos fazendo.”

Arte/Exame.

Informações: Exame.

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Da China à FS Fueling Sustainability, Bambu Vai de Casas a Caldeiras e Abre Mercado no Agro

Como a milenar planta asiática está entrando em projetos no Brasil, um mercado global que movimenta US$ 68 bilhões por ano

Era a virada do milênio, ano 2000, quando Guilherme Korte, recém-formado em jornalismo, recebeu uma proposta para ser repórter internacional na China. Sem hesitar, como em todo começo de carreira, ele aceitou cobrir a economia chinesa, mas outra pauta chamou sua atenção chegando lá: a utilização do bambu na indústria.

O bambu (Bambusa vulgaris) é uma planta da família das gramíneas, de origem asiática, e historicamente plantado de forma abundante naquele país. “Apesar de ser um material de uso milenar, culturalmente integrado à sociedade, o uso do bambu como elemento estrutural e industrial era uma novidade na época, na China. Então, comecei a escrever muito sobre isso”, conta Korte em entrevista exclusiva à Forbes. Depois de quatro anos ele voltou para o Brasil, mas não para o jornalismo.

O contato com o bambu na China fez Korte se lembrar dos tempos que viveu em Mato Grosso, nos anos 1980, e acompanhou o desenvolvimento da atividade agrícola na região. Então, pensou: “por que não se dedicar à produção da planta?”.

Guilherme Korte fundou a Abrafibras em 2014. Imagem: divulgação.

“Como eu já tinha tido esse contato com o agro antes, voltei para o Brasil e comecei a fazer pesquisas sobre a produção de bambu. Viajei para 20 países, estudei e fundei a Abrafibras”, diz. Abrafibras significa Associação Brasileira da Industria e dos Produtores de Bambu e de Fibras Naturais, entidade fundada por ele em 2014, em São Paulo.

Como nasce uma associação para o bambu

“O governo precisava de uma entidade para acompanhar os gastos com estudos sobre o bambu. Então, criei a associação”, afirma Korte. Ele também cuida de um viveiro de bambu em uma propriedade de sete hectares em Tatuí, na mesma linha.

A iniciativa do jornalista tem um fundamento econômico. O bambu hoje atrai setores da indústria, especialmente a construção civil, no segmento de residências sustentáveis, decoração e a indústria de papel e embalagens. Não fica de fora o setor de bioenergia, que precisa de fontes renováveis, como a FS Fueling Sustainability, antiga FS Bioenergia, biorrefinaria mato-grossense que produz etanol, farelo, óleo e energia elétrica, fundada em 2017, e que faz parte do Agro100, ranking que lista as maiores empresas do setor com balanços publicados.

E aqui vai um fato curioso: as primeiras fábricas de papel no Brasil, em 1950, utilizavam o bambu como matéria-prima por causa da escassez de florestas homogêneas de pinheiros, árvores comuns no hemisfério Norte utilizadas para esse fim. Mas, logo a agroindústria do eucalipto começou a ganhar mais força.

Detalhes de cultivo de bambu, floresta que pode ser explorada por 50 anos. Imagem: divulgação.

De volta aos dias atuais, o mercado global de bambu movimenta cerca de US$ 68 bilhões (R$ 400 bilhões na cotação atual) por ano, segundo a Organização Internacional de Bambu e Rattan (INBAR), entidade chinesa fundada em 1997, dedicada à promoção do uso sustentável do bambu para o desenvolvimento sustentável.

De olho no Brasil, em 2024, as importações de produtos de bambu do país aumentaram 30% em relação a 2023, ultrapassando US$ 42 milhões (R$ 247 milhões), segundo dados o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços pela consultoria do Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade (CEBIS).

Bambu vira fonte de energia na FS Bioenergia

Com mais de 200 milhões de anos e algo em torno de 1.300 espécies identificadas, o bambu ocupa 3% das florestas globais. O Brasil possui 230 variedades da planta, e abriga a segunda maior floresta nativa de bambu do mundo, de até 4,5 milhões de hectares, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Apesar de não haver dados oficiais exatos sobre a área de bambu cultivada no país, Korte afirma que são 80 mil hectares, sendo 50 mil hectares de plantios recentes. Os números devem ser atualizados em breve, já que a segunda publicação da Embrapa sobre a planta está em preparação e deve ser lançada em meados de 2025. O livro é uma continuação da obra “Bambus no Brasil: da biologia à tecnologia”, publicada em 2017.

Segundo Korte, para fins de produção energética, o bambu vem sendo cultivado nos estados do Maranhão, Mato Grosso do Sul, Bahia e Paraná. É uma nova forma de aproveitamento, além da construção civil. Não por acaso, 12 mil já foram plantados para serem utilizados nas usinas de geração de energia de biomassa da FS Fueling Sustainability, primeira usina de etanol 100% de milho do Brasil. A empreitada do bambu começou em 2019, em Diamantino, a 200 km de Lucas do Rio Verde, onde está a sede da empresa, e teve investimento inicial de R$ 170 milhões.

A empresa começou arrendando 3 mil hectares de terras com algum tipo de degradação. “Foi um experimento inicial, mas ficamos muito animados com os resultados. O bambu é forte, resistente e não sofre ataques de pragas como o eucalipto”, diz Daniel Lopes, vice-presidente executivo de sustentabilidade e novos negócios da FS Fueling Sustainability.

Depois da colheita, o bambu vai para um armazém que recebe todas as outras biomassas que a empresa utiliza para gerar energia, como caroço de algodão e de açaí, bagaço de cana e casca de arroz. “Misturamos cerca de 50% de eucalipto, 20% de bambu e 30% de outros resíduos na caldeira, queimamos e o vapor gerado cozinha o milho e seca os grãos”, diz ele. Em usinas nos Estados Unidos, por exemplo, esse processo é feito com gás natural, combustível fóssil nocivo ao meio ambiente.

Daniel Lopes é vice-presidente executivo de sustentabilidade e novos negócios da FS Fueling Sustainability. Imagem: divulgação – FS Bioenergia.

Apesar do eucalipto ser a matéria-prima principal da queima, para Lopes, depender somente da árvore pode ser um desafio para o crescimento da produção do etanol de milho. “Se não plantamos eucalipto há 6 anos, não teremos biomassa disponível para gerar vapor. Aí entra o bambu com o seu ciclo curto, de três anos no primeiro corte, e depois dois nos anos subsequentes”, diz ele. O bambu também se destaca por perder 50% da sua umidade em 15 dias, enquanto o eucalipto leva 120 dias.

Outro fator que chamou atenção de Daniel foi o crescimento da planta antes e depois dos cortes. “O bambu não para, é quase que uma praga porque você corta e ele cresce mais forte”, brinca. O custo menor também foi considerado, já que da produção à colheita, a espécie asiática gera uma economia de 10%, comparada ao eucalipto. Vale lembrar que a planta não exige um solo específico para cultivo e necessita apenas de quantidades de chuvas acima de 1.200 milímetros anuais.

Por enquanto, para a FS Fueling Sustainability, os 12 mil hectares plantados de bambu, que tem duração média de 50 anos, são suficientes para fomentar de 25% a 30% da matriz de biomassa. Por isso, não há planos de expansão para a receita adotada, que por ora está equilibrada. No entanto, a empresa quer se tornar a primeira usina a produzir etanol de milho carbono negativo, e manter a geração de energia de biomassa a partir do bambu é um começo promissor.

O cultivo do bambu vai crescer no Brasil
Quanto ao potencial do bambu para a indústria, não será necessário esperar a virada do próximo milênio para que ele seja reconhecido. O plano estratégico para o setor no Brasil prevê um aumento de 20% na área de cultivo até 2026 e a meta de alcançar 12 milhões de hectares sob manejo sustentável até 2035, segundo dados da INBAR.

Para Korte, a produção da espécie asiática no Brasil deve crescer nos próximos anos, impulsionada pela mecanização da colheita, o custo de produção mais barato e as inúmeras possibilidades de uso. “O Brasil é considerado o país com maior potencial de fornecimento de fibra de bambu. Na China, a produção ainda é muito manual. Desse jeito, vamos exportar para lá”, afirma.

Korte já deu o primeiro passo. Em dezembro, ele enviou para a China amostras genômicas de oito espécies de bambu para serem estudadas em um projeto de substituição de plástico naquele país. Esse passo é importante, mas ele ressalta que o foco precisa ser, primeiro, o mercado interno, principalmente para atender o setor de energia de biomassa e de construção sustentável.

Segundo Korte, esse é um caminho sem volta. “Em função do desenvolvimento de tecnologia na colheita, há cada vez mais empresas interessadas nessa matéria-prima. O bambu vai deslanchar”, afirma.

Informações: Forbes.

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Brasil contará com US$ 247 milhões para restauração florestal e soluções baseadas na natureza

Desse montante, US$ 100 milhões serão direcionados ao setor privado para financiar projetos de restauração na Amazônia e no cerrado

O Brasil contará com um total de US$ 247 milhões em investimentos para
promover a restauração orestal e ampliar o uso de soluções baseadas na natureza
no país. O Plano de Investimento do Programa Natureza, Povos e Clima (NPC) dos
Fundos de Investimento Climático ( Climate Investment Funds – CIF) foi aprovado
na quinta-feira, 27/2, durante reunião do Comitê do Fundo.

O plano prevê US$ 47 milhões em recursos reembolsáveis do CIF, combinados com
US$ 100 milhões do Fundo Clima, via Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), e US$ 100 milhões do Banco Mundial, que serão
direcionados ao setor privado para nanciar projetos de restauração na Amazônia e
no cerrado.

O Programa NPC do CIF apoia o desenvolvimento de soluções baseadas na
natureza para o enfrentamento das mudanças climáticas, promovendo a
restauração de ecossistemas e o fortalecimento da resiliência das populações
rurais. Com um orçamento global de US$ 400 milhões, o programa reconhece aprograma reconhece a interdependência entre o uso da terra, a crise climática e os meios de subsistência
das comunidades, incentivando países a implementarem projetos que combinam mitigação e adaptação de forma integrada.

A Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, no papel de
ponto focal do CIF no Brasil, coordenou a elaboração do Plano de Investimento
brasileiro e a articulação entre os atores envolvidos. O desenvolvimento do plano
foi liderado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), como ponto focal técnico do NPC
Brasil, e contou com a participação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do
Clima (MMA), BNDES, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID).

O plano brasileiro será implementado pelo BNDES, que concederá crédito ao setor
privado para impulsionar investimentos em restauração orestal e cadeias
produtivas sustentáveis. O objetivo é transformar áreas degradadas da bacia do
Tocantins-Araguaia, conhecida como Arco do Desmatamento, em um novo Arco
da Restauração, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito
estufa, recuperação da vegetação nativa e criação de novas oportunidades
econômicas.

O Plano prevê a restauração de 54 mil hectares de orestas, com impacto estimado
na redução de até 7,75 milhões de toneladas de CO₂ e a geração de até 21 mil
empregos diretos e indiretos.

O subsecretário de Financiamento ao Desenvolvimento Sustentável do Ministério
da Fazenda, Ivan Oliveira, celebrou a aprovação do Plano de Investimento e
destacou sua importância para o avanço da restauração florestal no Brasil.

“A restauração de ecossistemas degradados é uma das estratégias fundamentais
para enfrentarmos a crise climática e fortalecer a resiliência dos territórios e das
comunidades. Com esse plano, estamos viabilizando um modelo inovador de
nanciamento, que reduz o custo do capital, aumenta a escala e incentiva o setor
privado a atuar como protagonista na recuperação ambiental do país”, armou.

O NPC Brasil é o primeiro Plano de Investimento aprovado no âmbito do Fundo
Climático Estratégico (SCF) do CIF com 100% de foco no setor privado. Esse modelo
inovador utiliza nanciamento misto ( blended nance ) para alavancar
investimentos em restauração e incentivar a participação de empresas em
iniciativas de recuperação ambiental. Além de reduzir custos nanceiros para os
tomadores de crédito, o programa fomentará o desenvolvimento de cadeias produtivas ligadas à restauração, gerando empregos e renda para comunidades

Adicionalmente, pela primeira vez, o CIF direcionará recursos para investimentos
na Amazônia brasileira, ampliando sua atuação no país e alinhando-se às políticas
nacionais, como o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg).

A versão aprovada pelo Fundo passou por consulta pública, garantindo um
processo inclusivo e colaborativo nesta iniciativa fundamental para o avanço das
soluções baseadas na natureza no Brasil.

Com a aprovação do Plano de Investimento, o Brasil tem agora um prazo de 18
meses para desenvolver o plano de implementação e detalhar os projetos que
serão desenvolvidos no âmbito do NPC.

Informações: Agora MT.

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Expedição de papelão ondulado totaliza 335.067 toneladas em janeiro de 2025

O Boletim Estatístico Mensal da EMPAPEL aponta que o Índice Brasileiro de Papelão Ondulado (IBPO)
caiu 1,2% em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, para 149,2 pontos
(2005=100).

Em termos de volume, a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado alcançou
de 335.067 toneladas no mês.

Por dia útil, o volume de expedição foi de 12.887 toneladas, uma queda de 1,2% na comparação
interanual, em que janeiro de 2025 registrou a mesma quantidade de dias que em 2024 (26 dias
úteis).

Nos dados livres de influência sazonal, o Boletim Mensal de janeiro registrou queda de 0,3% no
IBPO, para 153,9 pontos, equivalentes a 344.740 toneladas.

Informações: EMPAPEL / Imagem: divulgação.

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Governo do RS assina parceria e libera R$ 2,8 milhões para desenvolvimento florestal

Gestão do plano de trabalho do Fundeflor será do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate)

Buscando fortalecer o setor de florestas plantadas no Rio Grande do Sul, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) assinou a liberação de R$ 2,8 milhões do Fundo Estadual das Florestas Plantadas (Fundeflor) para ações em âmbito regional, nacional e internacional. A gestão dos recursos e a execução do plano de trabalho ficarão a cargo do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate). A assinatura do termo de cooperação com o Instituto foi realizada pelo titular da Seapi, Clair Kuhn, e pelo presidente do Ibramate, Alberto Tomelero.

A parceria terá vigência por um período de três anos e o Ibramate foi selecionado a partir de edital de chamamento público realizado em 2022.

“São recursos importantes para o desenvolvimento do setor florestal gaúcho. Certamente será um grande avanço nas ações para potencializar ainda mais a economia do Estado. Além disso, os produtores terão a seu dispor novas tecnologias e pesquisas que favorecem e aprimoram o cultivo de florestal”, afirmou o secretário.

Os recursos do Fundo serão aplicados em diversas ações voltadas à política estadual de desenvolvimento florestal, que objetiva o uso adequado e racional dos recursos florestais. Entre elas, a publicação de um livro sobre a erva-mate; ações culturais de sensibilização em escolas, associações e centros culturais; e equipamentos de monitoramento climático para utilização do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro) em regiões de produção florestal.

Além disso, devem ser executadas melhorias nas unidades do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Florestal (Ceflor), de Santa Maria, referência na área florestal, e do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa Agronômica (Ceagro), de Porto Alegre. Os centros são ligados ao Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), da Seapi. Também está previsto um projeto de patrimonialização da erva-mate, planta nativa do bioma floresta atlântica e com cultivo tradicional no Rio Grande do Sul.

O presidente do Ibramate comemorou a assinatura e disse que isso vai atender a uma demanda reprimida de muitos anos. “O Estado passou um tempo sem poder investir, mas o governador Eduardo Leite trabalhou muito e hoje o Rio Grande do Sul está numa situação financeira mais equilibrada e com condições de investimento. Ficamos muito satisfeitos por isso e agradecemos a confiança na nossa entidade para poder contribuir e colaborar com toda a equipe da Secretaria da Agricultura”, ressaltou Tomelero.

Segundo dados da Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2024, publicação da Seapi, atualmente a área plantada de florestas no Estado é de 926,9 mil hectares e o valor da produção agrícola florestal no Rio Grande do Sul alcançou R$ 3,78 bilhões em 2022. São cerca de 6,8 mil empregos diretos gerados na indústria da madeira e de serviços.

Informações: Correio do Povo.

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Ribas sediará assembleia para criar associação empresarial do Vale da Celulose

Ribas sediará assembleia para criar associação empresarial do Vale da CeluloseO encontro, que definirá o estatuto da entidade e elegerá diretoria e conselho fiscal, será em 10 de março

O município de Ribas do Rio Pardo, a 98 km de Campo Grande, sediará a assembleia geral para a criação da Associação Empresarial do Vale da Celulose. O encontro, que definirá o estatuto da entidade e elegerá sua diretoria e conselho fiscal, acontecerá no dia 10 de março, às 8h, na sede da Danieze Advogados Associados, localizada na Avenida Jesuíno Alvares Barros, n° 1325, na Vila Santos Dumont.

A assembleia foi convocada pelo advogado Guilherme Tabosa e tem como objetivo formalizar a associação que reunirá empresas do setor de celulose. Durante o encontro, os participantes discutirão e aprovarão o estatuto da entidade, além de elegerem os membros da diretoria e do conselho fiscal.

Conforme o edital de convocação da assembleia, a primeira chamada para formação de quórum ocorrerá às 8h02, e a segunda chamada será às 8h17, com os presentes. A reunião acontecerá na sala 4 da sede da Danieze Advogados Associados.

A região conhecida como Vale da Celulose, em Mato Grosso do Sul, concentra plantações de eucalipto e indústrias do setor. O crescimento da atividade teve um marco significativo em 2021, com a instalação da fábrica de celulose da Suzano em Ribas do Rio Pardo. Atualmente, a expansão avança para o município de Inocência, onde a empresa Arauco investe US$ 4,6 bilhões na construção de uma nova unidade.

Além de Ribas do Rio Pardo e Inocência, fazem parte do Vale da Celulose os municípios de Água Clara, Aparecida do Taboado, Bataguassu, Brasilândia, Nova Alvorada do Sul, Paranaíba, Santa Rita do Pardo, Selvíria e Três Lagoas.

Líder em exportação – A indústria da celulose tem desempenhado um papel fundamental na economia de Mato Grosso do Sul. De janeiro a novembro de 2024, as exportações do setor industrial do Estado cresceram 25% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A fabricação de celulose, papel e produtos de papel teve alta de 5,8% no acumulado do ano, enquanto o segmento de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis cresceu 4,8% no mesmo período e 5,4% nos últimos 12 meses.

Em termos de valor, o avanço representou um salto de US$ 4,74 bilhões para US$ 5,93 bilhões, enquanto o volume exportado cresceu de 7,66 milhões para 8,54 milhões de toneladas.

Os dados são da Carta de Conjuntura da Indústria de janeiro de 2025, divulgada pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), com base na PIM-PF (Pesquisa Industrial Mensal) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Informações: Campo Grande News.

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Fábrica de celulose garante investimentos de R$ 85 mi para o município de Inocência (MS)

A Arauco anunciou um investimento de R$ 85 milhões dentro do Plano Estratégico Socioambiental (PES), um modelo de governança compartilhada que une a iniciativa privada, a sociedade civil e autoridades municipais e estaduais. O objetivo é garantir um desenvolvimento planejado e transparente para Inocência com melhorias estruturais em diversas áreas essenciais.

O PES está organizado em nove eixos estratégicos: Saúde, Segurança Pública, Assistência Social, Educação, Economia, Trabalho e Renda, Transporte, Saneamento, Habitação e Ordenamento Territorial e Conservação Ambiental. Cada setor receberá investimentos e ações planejadas em conjunto com a administração municipal e estadual.

Saúde

No setor da saúde, os recursos serão utilizados na construção de um novo Hospital Municipal, com 20 leitos e 2.450 m² de área construída. Além disso, haverá capacitação de profissionais de emergência e implantação da Área Vermelha para atendimentos emergenciais no hospital já existente.

Segurança Pública

A Arauco também investirá na construção das novas sedes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, além da aquisição de novas viaturas para as forças de segurança do município.

Assistência Social

Na Assistência Social, estão previstos investimentos na ampliação do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e na construção de um novo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Também será criada uma Casa de Passagem para acolhimento temporário de população em situação de vulnerabilidade.

Educação
A companhia destinará 100 bolsas de estudo para alunos do Ensino Fundamental e Médio da rede privada, além de financiar cursos de capacitação para professores. A Escola Olivalto Elias da Silva será reformada e ampliada, e serão adquiridos um micro-ônibus escolar e equipamentos para laboratórios educacionais.

Economia, Trabalho e Renda
A Arauco será responsável pela estruturação de capacitação profissional para moradores de Inocência, criando oportunidades de emprego na futura fábrica e em empresas parceiras. O Senai já formou cerca de 100 trabalhadores em cursos técnicos. Outra parceria é com o Sebrae/MS, que capacita empreendedores locais por meio do programa “Conexão Arauco”.

Saneamento e Habitação

O investimento na infraestrutura sanitária incluirá estudos sobre gestão de resíduos sólidos e melhorias no sistema de esgoto da cidade. Em habitação, a empresa apoiará a construção de moradias para colaboradores, além de intermediar a adesão do município a programas habitacionais federais e estaduais.

Ordenamento Territorial e Conservação Ambiental

A Arauco também apoiará o planejamento urbano do município, colaborando na elaboração do Plano Diretor e revitalizando o Parque do Povo. Além disso, será instalada uma estação meteorológica para monitoramento ambiental.

O impacto do Projeto Sucuriú

O Projeto Sucuriú, que marca a entrada da Arauco no setor de celulose no Brasil, tem um investimento total de US$ 4,6 bilhões e prevê a geração de mais de 14 mil empregos durante a construção da fábrica. Após o início das operações, serão cerca de 6 mil postos de trabalho permanentes. O projeto ainda incluirá a geração de energia sustentável, com capacidade de produção de 400 megawatts (MW), dos quais 200 MW serão comercializados para o sistema elétrico nacional.

Informações: RCN67.

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Brasil desponta no mercado de crédito de carbono no agronegócio

Setor tem potencial para liderar globalmente, mas enfrenta desafios regulatórios e estruturais

O mercado de crédito de carbono está em franca expansão no Brasil, com destaque especial para o agronegócio, setor que apresenta um dos maiores potenciais para a geração de créditos devido à sua capacidade de mitigar emissões. Segundo o CEO da BlockBR, Cassio Krupinsk, o país tem condições de suprir até 37,5% da demanda global de créditos de carbono, consolidando-se como um dos principais atores desse mercado. Com o agronegócio respondendo por mais de 25% do PIB nacional, a adoção de práticas sustentáveis não apenas reduz as emissões de gases do efeito estufa, mas também cria oportunidades econômicas significativas para produtores rurais.

Os projetos em desenvolvimento no Brasil priorizam iniciativas como reflorestamento, manejo sustentável e a integração lavoura-pecuária-floresta. Em 2023, o mercado global de créditos de carbono foi avaliado em mais de US$ 850 bilhões, com previsão de crescimento anual de 15% até 2030, conforme estimativas do Banco Mundial. Graças à sua vasta área preservada e diversidade de biomas, o Brasil está bem posicionado para capturar uma parcela expressiva desse crescimento. No entanto, desafios como a falta de regularização fundiária e a padronização de metodologias ainda precisam ser superados.

Regulamentação e demanda interna

Com a implantação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, o governo busca alinhar o Brasil aos mercados regulados internacionais, como o da União Europeia. A regulamentação trouxe maior segurança jurídica e diretrizes claras para as empresas, estabelecendo, por exemplo, que companhias que emitam mais de 25 mil toneladas de CO2 equivalente ao ano precisarão cumprir metas de redução ou compensar suas emissões. Segundo estudos do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPAM), o Brasil pode gerar mais de 1 bilhão de toneladas de créditos de carbono até 2030, com grande parte desse volume vindo do setor agropecuário.

Tecnologia e transparência: a tokenização dos créditos de carbono

O avanço desse mercado está diretamente ligado à adoção de tecnologias emergentes, como a blockchain, que viabiliza a tokenização de ativos ambientais. Esse processo representa uma inovação significativa ao permitir a digitalização e fragmentação dos créditos de carbono em tokens negociáveis, ampliando a acessibilidade e a eficiência das transações.

A tokenização também garante maior transparência, fornecendo informações detalhadas sobre a origem dos créditos, o tipo de projeto ambiental, a localização geográfica e os padrões de certificação adotados. Dessa forma, produtores rurais podem acessar plataformas de negociação com mais facilidade, viabilizando transações de forma simplificada, mesmo para aqueles com pouca experiência no mercado financeiro.

Regularização fundiária e segurança jurídica

Um dos principais desafios para a expansão desse mercado no Brasil é a regularização fundiária. Muitos projetos de crédito de carbono dependem de terras legalmente registradas para garantir a segurança jurídica das operações. A tokenização pode auxiliar nesse processo ao integrar informações fundiárias em contratos inteligentes, assegurando que apenas áreas devidamente regularizadas sejam utilizadas para a geração de créditos de carbono, reduzindo riscos legais e administrativos.

Projetos de longo prazo e sustentabilidade contratual

A longevidade dos projetos de crédito de carbono é um desafio significativo, uma vez que muitos contratos possuem duração superior a 30 anos. A tecnologia blockchain possibilita a automação de cláusulas contratuais, reduzindo o risco de litígios e garantindo maior previsibilidade para produtores rurais e investidores. Esse modelo de gestão facilita a execução dos contratos e incentiva a adesão de novos participantes ao mercado.

Impactos econômicos e oportunidades para pequenos produtores

Outro aspecto relevante desse mercado é o impacto econômico para pequenos e médios produtores rurais. Projetos de crédito de carbono oferecem uma nova fonte de receita, monetizando a preservação ambiental e o manejo sustentável. Estudos indicam que a comercialização de créditos pode representar até 20% do faturamento anual de pequenas propriedades, sendo especialmente relevante em biomas como o Cerrado e o Pantanal, onde a conservação desempenha um papel fundamental na manutenção dos ecossistemas.

Desafios e perspectivas futuras

O avanço desse mercado depende de uma abordagem integrada entre governo, setor privado e instituições internacionais. A regularização fundiária é essencial para garantir a segurança jurídica dos projetos, enquanto a padronização de metodologias é necessária para atender à diversidade dos biomas brasileiros. Incentivos fiscais também podem ser um instrumento eficaz para estimular a participação de novos atores no setor.

Com um futuro promissor, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um dos maiores fornecedores globais de créditos de carbono, contribuindo significativamente para a redução das mudanças climáticas. No entanto, para que esse potencial seja plenamente explorado, é fundamental planejamento estratégico e colaboração multissetorial.

Informações: Portal do Agronegócio.

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