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Geotecnologias e Monitoramento Florestal: o que esperar para 2024?

Com as crescentes demandas por monitoramento e gerenciamento dos recursos naturais, as geotecnologias desempenham um papel fundamental para garantir a eficiência, a recorrência e a agilidade nesses processos, além de possibilitar maior abrangência territorial monitorada simultaneamente.     

No âmbito do monitoramento florestal e das mudanças climáticas, 2024 promete ser promissor, visto que duas importantes missões estão previstas para serem lançadas: a BIOMASS, da Agência Espacial Europeia (ESA) e a NISAR, uma parceria entre a NASA e a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO).   

O satélite Earth Explorer Biomass (Missão Biomass – ESA) emitirá sinal de radar na banda P e obterá informações sobre a estrutura das florestas, possibilitando a inferência da altura e da biomassa, incluindo troncos, galhos e cascas das árvores. De acordo com a ESA, tais medições reduzirão as incertezas nos cálculos de estoque e fluxo de carbono, em especial àqueles associados às alterações no uso do solo, degradação e regeneração florestal. (Saiba mais em https://www.esa.int/Applications/Observing_the_Earth/FutureEO/Biomass)  

Já a missão indo-americana NISAR (NASA-ISRO Synthetic Aperture Radar) tem como objetivo monitorar as mudanças nos ecossistemas terrestres, nas massas de gelo, águas oceânicas e subterrâneas, com detalhes precisos, fornecendo informações de toda a Terra por pelo menos uma vez a cada 12 dias.   

Os sensores terão diversas aplicações. A respeito de nossas florestas, o NISAR fornecerá dados da distribuição da vegetação e da biomassa, a fim de compreender as mudanças, tendências e respostas dos ecossistemas à perturbação e à recuperação. Além disso, com a caracterização global da biomassa, as estimativas da distribuição espacial de carbono serão refinadas, melhorando as projeções e a compreensão das mudanças climáticas. (Saiba mais em https://nisar.jpl.nasa.gov/ )  

Estamos animados para explorar as possibilidades que essas missões trarão para o campo florestal e para o monitoramento e gerenciamento dos nossos recursos naturais.

Informações: Geoplant / Foto: divulgação.

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Ciência brasileira apoia crescimento do setor florestal

Embrapa faz parte da evolução da ciência do setor florestal brasileiro

O setor florestal brasileiro é pujante. Seja pela biodiversidade e riqueza de suas florestas nativas, seja pela qualidade e inovação de seus cultivos florestais com fins produtivos. E a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) faz parte desta evolução. Para ajudar a alavancar este setor, há 50 anos a empresa investe em pesquisa e ciência florestal, principalmente após o estabelecimento, em 1978, do Programa Nacional de Pesquisa Florestal – PNPF, via convênio com o então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).

O convênio delegava à Embrapa a coordenação, execução e apoio da pesquisa florestal brasileira (ciência), no âmbito do Ministério da Agricultura, com equipes designadas para trabalhar em Belém/PA, Petrolina/PE, Planaltina/DF e Colombo/PR, onde foi instalada a Unidade Regional de Pesquisa Florestal Centro-Sul (URPFCS). Em 1984, a Unidade passa a ter mandato nacional como Embrapa Florestas. Durante todo este tempo, atua de forma cooperativa com universidades, instituições estaduais de pesquisa, empresas de assistência técnica e de extensão rural, organizações não governamentais, empresas e associações do setor privado, poder público, instituições internacionais, produtores e suas associações, cooperativas entre tantos outros importantes parceiros.

Na área de florestas plantadas, uma das primeiras contribuições da Embrapa Florestas foi a coordenação e reintrodução do eucalipto no país. Uma equipe enviada à Austrália, país de origem do gênero, realizou a coleta de mais de 3 mil lotes de sementes de dez espécies de eucalipto, com as quais implantou uma ampla rede experimental em parceria com diversas empresas, em vários estados da União. Essa rede experimental ajudou a elevar a produtividade dos eucaliptos para um novo patamar e é considerada a base da eucaliptocultura nacional.

Já com outra espécie florestal de importância, o pínus, a Embrapa tem contribuído para estabelecimento de sua base genética e sistema de produção. Nos últimos anos, o desenvolvimento do Programa Cooperativo para Melhoramento Genético do Pínus, capitaneado por empresas reunidas por meio do Funpinus, tem trabalhado para melhoramento do gênero em duas frentes: madeira e resina.

O combate a pragas florestais é outro dos grandes marcos, com o desenvolvimento de tecnologias de controle biológico, ou seja, sem uso de produtos químicos, além de técnicas de manejo integrado de pragas, que auxiliam na prevenção e redução de danos. Destaque para o controle da vespa-da-madeira, principal praga dos plantios de pínus, desenvolvido em parceria público-privada com o Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema). Caso não tivesse sido controlada, esta vespa poderia ter inviabilizado o cultivo deste gênero florestal que é a base da silvicultura de parte do Sul do Brasil, e fornece matéria prima para serrarias, movelaria, além de indústrias de papel e celulose.

Já em produtos não-madeireiros, a broca-da-erva-mate é uma praga importante dos cultivos de erva-mate e também teve como solução um produto biológico produzido em parceria com uma empresa privada. Outras pragas de interesse também contam com soluções de controle biológico, como pulgão-gigante-do-pinus e percevejo bronzeado (praga de eucalipto). Já para formigas cortadeiras, um amplo trabalho de pesquisa (ciência) em parceria com a Epagri possibilitou a redução de custos e aplicação de menores quantidades de iscas formicidas, com alto impacto financeiro e ambiental junto ao setor.  

foto mostra eucaliptos, remete a matéria Ciência brasileira apoia crescimento do setor florestal
O combate a pragas florestais é outro dos grandes marcos da ciência da Embrapa Florestas, eucalipto – Foto: Divulgação.

Quando estratégias digitais ainda recém caminhavam no país, a Embrapa desenvolveu e disponibilizou softwares para simulação de manejo de plantios florestais. Os softwares da Família SIS são simuladores para manejo, análise econômica, modelagem e de crescimento e produção de florestas plantadas utilizados para auxiliar no planejamento dos desbates (colheitas parciais, retirando-se linhas e/ou árvores selecionadas). Desde então, os usuários utilizam os softwares para testar todas as opções de manejo da floresta para cada condição de clima e solo, fazer prognose de produções presente e futura, efetuar análises econômicas e, depois, levar para o campo apenas a melhor alternativa. No começo, as espécies atendidas eram eucalipto e pínus, mas o conjunto hoje chamado FamíliaSis já atende plantios de mogno africano, teca, cedro, araucária e bracatinga. Recentemente, os softwares atendem a um novo segmento: o de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), calculando, inclusive, o sequestro de carbono em sistemas com floresta.

Assunto em pauta na atualidade, a mudança do clima é objeto de estudo pela Embrapa (ciência) há anos, tanto em relação ao papel mitigador de florestas nativas e plantios florestais, quanto ao impacto que estas mesmas florestas podem receber nos diferentes cenários de mudança de temperatura. Já foram definidos protocolos que mensuram de forma mais adequada o sequestro de carbono, tanto na parte área quanto no solo florestal, além de estudos sobre mudanças de uso da terra que envolvem florestas. Além disso, são estudados como os sistemas de produção de diversos tipos de cultivo (ciência) podem colaborar mais com o combate à mudança do clima, como por exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta.

Este tipo de sistema (ILPF) recebe atenção da pesquisa, especialmente em sistemas de pecuária com floresta. O trabalho é realizado em parceria com a extensão rural, com a instalação de unidades de referência tecnológica que funcionam tanto como áreas de pesquisa quanto como vitrines para que produtores conheçam melhor e adotem a tecnologia. Uma das inovações que está em curso é o desenvolvimento de estudos de manejo do componente florestal para produção de biomassa. Até então, os desenhos deste tipo de sistema eram voltados para produção de toras e, agora, com o desenho para biomassa, abre uma nova possibilidade para pequenos e médios produtores atenderem outro nicho do setor de base florestal, como empresas de papel e celulose, cooperativas e siderúrgicas.

Os sistemas agroflorestais, especialmente os que conjugam espécies florestais nativas, frutíferas e agricultura também recebem atenção da pesquisa (ciência) e a planilha AmazonSaf e o aplicativo AnaliSafs apoiam o planejamento e tomada de decisão para este tipo de cultivo que reúne uma diversidade de elementos.

Na área de pesquisa com nativas, uma das grandes contribuições da Unidade é a coleção “Espécies Arbóreas Brasileiras”, com informações detalhadas de 340 espécies arbóreas nativas do Brasil. Fruto de anos de trabalho do pesquisador Paulo Ernani Carvalho, que hoje está aposentado, os cinco volumes trazem informações detalhadas tais como taxonomia, descrição, reprodução, ocorrência, aspectos ecológicos, clima, solos, sementes, produção de mudas, características silviculturais, melhoramento e conservação genética, crescimento e produção, características da madeira, principais produtos e usos, pragas e doenças e espécies afins; complementadas com mapas, tabelas e fotografias.

Para chegar a estes dados, o pesquisador coletou informações em diferentes bibliografias, mas também instalou áreas de observação em todo o país. O trabalho com nativas impulsionou trabalhos de pesquisa sobre recuperação de áreas degradadas e de baixa fertilidade, com o estabelecimento de modelos e técnicas de recuperação, indicação de espécies e desenhos apropriados, visando a restauração ecológica e o aumento da produtividade agrícola e florestal.

foto mostra vacas pastando com eucaliptos plantados, sistema ilpf, remete a matéria Ciência brasileira apoia crescimento do setor florestal
Ciência mostra a eficácia do sistema ILPF – Foto: Embrapa Florestal.

Uma espécie nativa de alto impacto para a região Sul do país e parte do Mato Grosso do Sul é a erva-mate. A Embrapa Florestas reuniu resultados de mais de 30 anos de pesquisas no Sistema Erva 20, um conjunto de práticas de manejo de ervais cultivados capaz de elevar a produtividade a 20 toneladas/hectare/colheita, dependendo das condições do cultivo (atualmente, a média de produtividade está em 7 ton/ha/colheita). Além das orientações de manejo, três aplicativos estão à disposição dos produtores: Ferti Matte (adubação), Manejo Matte e Planin Matte (avaliação econômica). Também são realizadas pesquisas sobre manejo de sistemas tradicionais de erva-mate. Ainda em sistema de produção, foram desenvolvidas duas novas formas de cultivo para produção de folhas jovens e altíssima produtividade, para atender mercados de produtos diferenciados: o Cevad Estufa e o Cevad Campo. Já no melhoramento genético, estão em desenvolvimento diferentes cultivares, com alto e baixo teor de cafeína e teobromina, com potencial de geração de novos produtos desta cadeia produtiva.

Já a araucária, outra espécie importante para o país, tem recebido atenção tanto para sua conservação, com o estabelecimento de coleções genéticas e incentivo a plantios nas divisas das propriedades rurais com estradas, quanto para seu uso sustentável, com a possibilidade de produção antecipada de pinhão, sua semente, que é muito apreciada na alimentação humana, além de possuir diversos benefícios à saúde. Com isso, produtos inovadores e sem glúten a partir da produção e processamento de pinhão podem ser fonte de renda especialmente para mulheres na agricultura familiar. A “conservação pelo uso”, preconizada pela Embrapa Florestas, pode ajudar a tirar a espécie da lista das ameaçadas de extinção.

A partir da Região Norte, a pupunha, cultivada naquela região para produção de frutos, foi introduzida no litoral do Paraná, Santa Catarina e São Paulo para produção de palmito, como alternativa à exploração da juçara, nativa da Mata Atlântica, mas que, ao ser cortada, morre, o que torna a planta em risco de extinção. Com a introdução da pupunha, o trabalho de pesquisa em parceria com a extensão rural, especialmente o IDR Paraná, possibilitou a criação de um sistema de produção completo para seu cultivo, mudando a geografia econômica das regiões onde é cultivada, com geração de renda a produtores rurais e abertura de agroindústrias. O valor bruto da produção, apenas no PR, saltou de R$ 480 mil para R$ 19,5 milhões, em um sistema de produção reconhecido pela FAO como boa prática e tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil.

O manejo florestal de nativas também recebeu atenção nestes anos, com pesquisas sobre manejo florestal sustentável na Amazônia. Resultados apontam que o manejo florestal por espécie é a forma mais eficiente de exploração sustentável da Amazônia. Nessa lógica, a intensidade de exploração, diâmetros de corte e ciclos de corte são customizados de acordo com as características de cada espécie. O manejo florestal sustentável garante a manutenção da floresta em pé, retirando somente aquilo que a floresta produz, com geração de renda e sustentabilidade. Difere do desmatamento, que tira toda a cobertura florestal. Mas deve ser realizado com base científica. Já existem dados específicos de manejo para 15 espécies da microrregião de Sinop/MT, em pesquisas realizadas em parceria com o Cipem, e muitas informações podem ser extrapoladas para outras regiões da Amazônia. Com isso, pretende-se auxiliar no aprimoramento da legislação florestal para que garanta a sustentabilidade ambiental da Floresta Amazônica aliada à geração de renda para a população local.

Pensando no “fora da porteira”, a Embrapa tem focado esforços em nanotecnologia e química verde, trabalhando no conceito de biorrefinaria, onde as árvores são a matéria-prima para diversos produtos inovadores como pele artificial para cicatrização de feridas, fertilizantes de liberação lenta, embalagens para alimentos (tais como filmes plásticos que aumentam tempo de vida de prateleira ou indicam grau de decomposição de um alimento), entre outros. O conceito é “refinar” árvores, de forma a gerar produtos inovadores e sustentáveis, já que a matéria-prima é plantada para este fim, com critérios de qualidade e cuidado com o meio ambiente em todo o processo produtivo.

Muitos destes trabalhos são acompanhados por análises econômicas e de impacto, e auxiliam na produção de informações e conhecimentos científicos que contribuem para a elaboração de políticas públicas e a tomada de decisões estratégicas na área de produção florestal.

Para chegar aos resultados, o trabalho de pesquisa conta com apoio de diversas áreas do conhecimento, seja em pesquisas básicas que dão suporte à busca de resultados; em laboratórios que conduzem diversos tipos de análises; pessoal de campo que monitora e coleta dados para embasar as pesquisas; gestão da informação, comunicação e transferência de tecnologia, para levar os resultados aos diversos públicos de interesse. Para conseguir realizar todo esse trabalho, a Embrapa Florestas atua de forma cooperativa com universidades, instituições estaduais de pesquisa, empresas de assistência técnica e de extensão rural, organizações não governamentais, empresas e associações do setor privado, poder público, instituições internacionais, produtores e suas associações, cooperativas entre tantos outros importantes parceiros.

Ao olhar para o futuro, as soluções baseadas em florestas estarão cada vez mais presentes, seja nos aspectos ambientais e de mitigação dos impactos da mudança do clima, seja em produtos renováveis e sustentáveis presentes no dia a dia das pessoas e em soluções inovadoras que alavanquem geração de renda e conservação ambiental.

foto de IA mostra floresta e mlduras de quadro em cima, remete a matéria Ciência brasileira apoia crescimento do setor florestal
Ciência brasileira ajuda no desenvolvimento do setor florestal – Foto: Freepik.

Informações: Neo Mondo/Embrapa Florestas.

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Dicas florestais: 2024 chegou e é hora de começar a planejar

Se o final de ano nos traz a oportunidade de fazer o balanço entre os pontos positivos e negativos, o ano novo, por outro lado, nos oferece a magia de traçar novas metas e objetivos. Seja na vida pessoal ou profissional, é hora de começar a planejar. Bom, então, para você que trabalha no setor florestal, que tal algumas dicas para o planejamento dos projetos ambientais?!

Primeiro passo

Resultados diferentes exigem estratégias, por vezes, diferentes. O que deu certo, pode permanecer, mas, também, ser aprimorado. No entanto, o que deu errado precisa de uma revisão, isto é, precisa-se recalcular a rota. As metas foram traçadas. Mas, são estas claras e alcançáveis? Consigo mensurá-las? O que posso fazer para atingir essas metas?

Para obter êxito, um passo importante, atrelado ao objetivo, é criar um plano de ação. Para alcançar as minhas metas com os projetos ambientais que hão de vir, preciso desenvolver novas habilidades? Quão necessário é buscar por novas parcerias, mentorias, ferramentas e conhecimento?

Em suma, o planejamento de um projeto ambiental envolve uma abordagem cuidadosa para garantir a sustentabilidade e a minimização dos impactos negativos no meio ambiente. Assim, cada etapa deve ser minuciosamente elaborada e trabalhada.

O que deve constar no planejamento

Antes de tudo, faz-se necessário esclarecer os objetivos do projeto ambiental. Assim, perguntas-chave incluem: Qual é o propósito principal? Quais são os resultados esperados? Quais áreas geográficas serão afetadas? Para o objetivo do projeto, preciso realizar uma Avaliação de Impacto Ambiental (AIA)? Quais são as leis e regulamentações que preciso ter conhecimento? Como deve ser o inventário florestal? Estes e muitos outros questionamentos devem estar presente na hora de planejar as ações.

Pontos cruciais

A transparência do planejamento, execução e entrega dos resultados é crucial para o êxito de um projeto. Assim, vale ressaltar que, as avaliações periódicas do progresso do projeto em relação aos objetivos ambientais se fazem de suma importância. Em síntese, este acompanhamento permite ajustes, conforme necessário, para garantir o sucesso do projeto. No tocante à transparência, busque garantir o repasse de informações claras, precisas e objetivas ao fornecer relatórios regulares sobre o desempenho ambiental do projeto para as partes interessadas.

Por fim, certifique-se de que o planejamento do projeto seja adaptável e flexível para lidar com mudanças nas condições ambientais e nos requisitos regulatórios ao longo do tempo. Um projeto bem-planejado e ambientalmente consciente contribuirá para um impacto positivo no meio ambiente.

O planejamento do inventário florestal

O inventário florestal consiste na quantificação e qualificação dos recursos presentes em uma determinada floresta. Contudo, para isso, muitas são as etapas e processos até chegar ao objetivo final. Em síntese, um inventário florestal de qualidade requer um planejamento adequado e estratégico. Em outras palavras, pode-se afirmar que o planejamento de um inventário florestal é um processo fundamental para a gestão sustentável de recursos florestais.

Etapas do inventário florestal

Na hora de planejar a execução do inventário florestal, cada detalhe é importante. Quanto será investido? Qual o custo? Quais instrumentos utilizar? Quais variáveis mensurar? Como definir o orçamento? Qual a mão de obra necessária? Em síntese, é preciso desenvolver um cronograma detalhado, considerando, até mesmo, os fatores sazonais que possam afetar a coleta de dados.

Os procedimentos a serem adotados vão depender do objetivo específico do inventário florestal, como a avaliação da biodiversidade, a estimativa de volume de madeira, a monitorização de ecossistemas, etc. A exemplo, tem-se a metodologia de amostragem, que pode ser aleatória, sistemática ou estratificada, dependendo dos objetivos e das características da floresta.

A definição e seleção das variáveis a serem medidas é vital. Dentre tais, pode-se estabelecer a quantificação de variáveis como altura das árvores, diâmetro do tronco, espécies presentes, idade, saúde das árvores, etc. Mas, como mensurar estas variáveis? Aqui, entra a definição dos equipamentos e tecnologia. O profissional deve se atentar para a escolha dos equipamentos necessários, como GPS, fitas, dendrômetros, clinômetros, dentre outros. Além disso, pode-se considerar a utilização de tecnologias modernas, como drones, que permitem a coleta de dados de forma eficiente.

Coleta, processamento e interpretação dos dados

Com o intuito de garantir a consistência e precisão nas medições, faz-se de fundamental importância treinar a equipe responsável pela coleta de dados. Em campo, certifique-se de implementar o plano coletando os dados conforme a metodologia definida. Posteriormente, no escritório, atente-se para uma análise cuidadosa das informações, gerando assim resultados precisos e confiáveis. A saber, para auxiliar na interpretação dos dados, o profissional pode incluir a elaboração de mapas, estimativas de volume de madeira, diversidade de espécies, entre outros.

Como realizar estes procedimentos de forma precisa

Muitas são as etapas do inventário florestal, como supracitado. Mas, há de se destacar que, apesar de todas possuírem influência direta nos resultados, estas também são passíveis a erros. Assim, a busca por ferramentas que auxiliem na coleta e processamento dos dados é cada dia mais crescente. A saber, com o avanço da tecnologia e inovação, o setor florestal tem se beneficiado com múltiplas ferramentas para a coleta e processamento de dados. A exemplo, tem-se o Mata Nativa (saiba mais em https://matanativa.com.br/).

E aí, vamos começar a planejar? Avalie o processo e os resultados obtidos ao longo do tempo. Use as lições aprendidas para aprimorar futuras iniciativas nos projetos de inventário florestal.

Informações: matanativa / Foto: Paulo Cardoso.

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O ESG contra a Xenofobia Florestal do Senhor dos Anéis

Artigo de Sebastião Renato Valverde[i], Aléxia Penna Barbosa Diniz[ii] e Felipe Corrêa Ribeiro[iii]

Não há dúvida de que vivemos no país dos contrastes que, mesmo rico em recursos naturais renováveis e não-renováveis e considerado o celeiro do mundo, impera os problemas crônicos e estruturais da pobreza e da fome, fruto de uma desigualdade de renda que só se compara com as dos países da África. É neste mesmo país de miseráveis e famintos que reina as perdas e desperdícios de alimentos e fibras da agricultura e da floresta.  

Embora tenhamos relativizado estes contrastes, mas, igual a Skol e diferente do que ela propaga, também não descem redondo. Na agricultura há relatos de que as perdas chegam a atingir até 20% da produção de grãos se consideradas desde a colheita até o prato do consumidor. Apesar de não haver estatísticas disponíveis sobre as perdas na atividade florestal, elas são significativas tanto oriundas do manejo dos reflorestamentos, quanto das florestas nativas.

Sabe-se que parte das perdas de grãos é minimizável, pois resulta da má operação e gestão de colheita e logística, além do uso de máquinas e veículos transportadores depreciados e, ou, danificados. Já a parte relacionada às questões climáticas, sobretudo na ocorrência de chuvas prolongadas e oriundas de frentes frias inesperadas, aí as perdas são quase que inevitáveis.  

Tal como acontece na agricultura, também há perdas na florestal devido ao uso de máquinas e veículos sucateados, a fenômenos climáticos e a gerenciamento. Talvez, mais do que impactado pela agricultura, a florestal sofre com as “armadilhas” mercadológicas. Existe um delay significativo no mercado entre o momento da decisão pela colheita das árvores em função dos preços e quantidades e o tempo futuro da venda do produto florestal. Por exemplo, a decisão pela produção do carvão se dá num momento em que o preço dele esteja satisfatório, mas até colher, extrair a madeira, secá-la e carbonizar, já se passaram meses de modo que o cenário possa não ser favorável à venda. Exceto se houver um contrato com preços e quantidade pré-fixados. Se não, aí o risco de prejuízo é alto dado os gastos operacionais e os juros sobre capital, haja vista nossas taxas escorchantes.

É comum cenários em que, colheu-se com preço satisfatório, mas já não o era quando a madeira se encontra à beira da estrada. Ou, extraiu-se, mas já não o era para transportar até o beneficiamento. Beneficiou-se, pode-se deparar com preços que não viabilizam transportar até o consumidor. Assim, se colhido e não vendido, além dos custos fixos e variáveis, há perda pela deterioração das toras com o tempo. 

Infelizmente, não há no país uma política de garantia de preços mínimos para o produto florestal ou qualquer política pública que dê segurança ao investimento que é de longo prazo e sujeito a toda natureza de riscos e incertezas. Razão esta que explica a evasão de produtores da atividade de reflorestamento mesmo nos momentos que o preço da madeira esteve na estratosfera. A falta de planejamento estatal no setor florestal prejudica os agentes envolvidos na cadeia produtiva e desincentiva a entrada de novos agentes, uma vez que eles precisam sustentar os riscos da atividade sozinhos, lidando com as incertezas do mercado.

Menos mal se fossem somente estas perdas e as vulnerabilidades às mazelas do mercado, mas outro grave problema é o desperdício causado pela morte das árvores de espécies exóticas, sobretudo pinus e eucalipto, nas áreas de preservação permanente (APP) e Reserva Legal (RL) pela técnica do anelamento do tronco conhecida como “Morte em Pé”. Isto chega a soar como ultrajante num Brasil campeão das desigualdades e provoca reflexões se ela procede social e economicamente.

Acredita-se que há uma pressão por parte de órgãos que atuam na área ambiental para que os proprietários florestais optem por este arboricídio xenofóbico como cumprimento de Termos de Ajustamentos e Condutas (TACs) para recomposição das APPs e RLs conforme o Novo Código Florestal (NCF, Lei 12651/2012). O procedimento consiste em anelar o tronco na base das árvores, descascando-o de modo a impedir a circulação da seiva. E, se necessário, a aplicação de herbicida.

Ainda que fossem apenas as árvores jovens e, ou, as finas quase sem destinação e sem valor econômico, até que se engole esta atitude perdulária, mas quando se trata de árvores adultas e, ou, grossas, com potencial para serem serradas, aí fica difícil de aceitar. Não se quer julgar o mérito desta técnica se certa ou errada, mas não deixa de ser esdrúxula no tocante as questões socioeconômicas.

Alguns podem concordar com esta supressão por entender que, segundo a legislação e pelo fato de se tratar de árvores exóticas, jamais poderiam ter sido plantadas nestas áreas protegidas (APP e RL). Acontece que foram plantadas num período em que, apesar da existência da lei, ela não proibia plantar e nem previa o tamanho destas áreas como definido atualmente.

Em que pese os institutos de APP e RL serem regidos desde 1965 pela lei 4.771/1965, ambos sofreram diversas alterações no conceito e nos parâmetros. Na redação original desta lei, as APPs eram conceituadas como florestas de preservação, sendo proibido apenas o corte raso, e as faixas ao longo do curso d´água iniciavam com larguras de 5 metros de cada lado quando o curso dá água era menor que 10 metros de largura.

Foi somente a partir da década de 1980, quando as questões ambientais se institucionalizaram, que o conceito mudou para área de preservação permanente, prevendo a sua intocabilidade e a largura inicial de 5 metros passou para 30m, ampliando em faixas conforme a largura do rio. Até então, muito se reflorestaram com exóticas até próximo dos previstos 5 m, principalmente pinus e eucalipto e muito se abriu de estradas às margens das APPs para possibilitar a logística do plantio e da colheita e transporte da madeira.

Uma vez que seja até ambientalmente correto esta supressão via anelamentos, mas o que há de sustentabilidade em algo que privilegia somente o ambiental e renega o social e o econômico? Se considerar apenas a cadeia produtiva da madeira serrada (serrarias, marcenarias e movelarias), quanto de valor agregado se perde nesta prática, quantos empregos, rendas e impostos deixam de ser gerados e arrecadados, respectivamente? No que tange a valor, na pior das hipóteses que cada árvore adulta tenha em média 3 m3 a R$100/m3 em pé, considerando, pelo menos 100 árvores por hectare, se desperdiça R$30.000 por hectare. Imagine fazendas que chegam a ter centenas e milhares de hectares em APP e RL com árvores exóticas virando comida de cupim e microrganismo?

Assim, crê-se que os benefícios ambientais desta prática arboricida não compensam as atrocidades causadas à ordem socioeconômica. Se ela é feita como alternativa a operação de corte, dado que a queda e a extração das árvores poderão causar mais impacto na regeneração do sub-bosque, ledo engano, pois com estas operações há a chance de direcionar a derrubada e a retirada visando o mínimo impacto, enquanto aneladas e mortas, cairão sem rumo.

Pode até ser que o impacto no sub-bosque com a queda dela já morta seja menor que o da colheita e extração, entretanto, por caírem à revelia do direcionamento os problemas que elas acarretam não são desprezíveis. Em regiões montanhosas, na queda, muitas das árvores descem embaladas pela força gravitacional até o curso d´água ficando atravessadas de um lado ao outro, represando-o. Verdadeiro “balaio de gato”, comprometendo o acesso a área e tornando perigosos os trabalhos de monitoramentos de fauna, flora, solo e água.

Nem pensar nas consequências que isso possa trazer caso algum incidente ou acidente venha ocorrer dentro destas áreas tais como quedas, tombos, picadas de animais peçonhentos, incêndios, entre outros, devido a dificuldade do acesso para resgate e socorro e também para debelar as queimadas. Isso, quiçá, sem querer ser catastrofistas, não venha a provocar tragédias como a de Petrópolis e Teresópolis quando enxurradas devido a “cabeça ou tromba d´água” em 2011 arrastaram árvores entrelaçadas sobre o leito de rios provocando o óbito de centenas de pessoas em razão mais das pancadas das toras do que, de fato, dos afogamentos.

É sabido que o atual código florestal que distinguiu as APPs em disposições permanentes e transitórias impõe a recomposição delas e da RL com espécies nativas delegando o prazo ao Plano de Regularização Ambiental (PRA). Cabe esclarecer que nos casos em que há espécies florestais exóticas, a nova lei diz que fora da área de uso consolidado, é obrigatório suprimir tais espécies e recompor com nativas. Já na de uso consolidado, o produtor pode manter as exóticas, cortá-las e replantar quantas vezes quiser.

O fato é que, independentemente de se estabelecer um prazo para a recomposição e a obrigação pela retirada das exóticas, não há razão que sobressaia às sociais e econômicas de destinação das madeiras. Matar estas árvores sem o devido destino socioeconômico delas é o mesmo que dizer que sua madeira não tem preço. Mesmo sendo exótica, ela concorre no mercado com a madeira nobre oriunda do manejo da floresta amazônica. Negar o valor dela significa ignorar o valor da madeira serrada também da floresta nativa.

Desta forma, é sagrado dar finalidade para a madeira. Seja vendendo no mercado ou, então, caso não o haja ou não valha a pena vender se o preço dela estiver menor que seu custo de exploração e transporte, que a doe. Certamente algumas empresas receiam doar ou vender para terceiros por medo de algum sinistro vier a acontecer na área delas durante o corte e transporte da madeira, haja vista o risco de acidente do uso de motosserra e tratores, vindo a macular a imagem dela e comprometer suas certificações.

Para isso, basta a formação de equipe própria treinada e capacitada para colheita e extração da madeira visando zerar riscos e impacto ambiental na regeneração, vendendo-a ou doando-a, já empilhada, cabendo apenas a carga e transporte, pois nestas operações os riscos são bem menores. O que não pode é esta morte das exóticas sem retorno e sem valia.

A sensação que dá é que estes anelamentos evocam uma atitude impositiva do ambientalismo dando primazia a proteção a todo custo como uma reação do que foi durante séculos a ditadura do capital sobrepondo a produção em detrimento da proteção. Acredita-se que o momento é da busca de uma terceira via visando produzir protegendo e, ou, proteger produzindo sustentavelmente.

Enfim, nós que ainda não vivemos os 10.000 anos como Raulzito, mas os quase quatrocentos desde a revolução industrial, tendo visto a ascensão e morte dos impérios do capital, do proletariado e dos verdes, ficamos otimistas com o boom do ESG (Environmental, Social e Governance) como uma pá de cal no sepultamento destas “monarquias” e como política e gestão integrada de responsabilidade ambiental e social e de governança que valoriza indistintamente os pilares sociais, econômicos e ambientais da sustentabilidade, dando opções melhores de trabalho aos senhores dos anéis do que simplesmente trucidar árvores.


[i] Professor Titular do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (DEF/UFV), valverde@ufv.br.

[ii] Alexia Penna Barbosa Diniz, Bacharela em direito pela Universidade Federal de Viçosa e mestranda no DEF/UFV, alexia.diniz@ufv.br

[iii]Felipe Corrêa Ribeiro, Engenheiro Florestal, Mestre e Doutorando em Ciências Florestais na Universidade Federal de Viçosa.  felipe.c.ribeiro@ufv.br

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