Com o segundo melhor fevereiro da história e previsão de crescer 2,8% em 2024, fabricantes, como o Grupo Mazurky (foto), investem em diferenciais, como a impressão UV, para melhorar a qualidade das embalagens usadas pelo varejo

Bens não-duráveis, e-commerce, materiais sustentáveis, varejo automotivo, exportações. Esses são segmentos que puxaram o crescimento do setor de papelão ondulado de 2021 até agora.

Animados pelos resultados, fabricantes do setor têm investido em tecnologias diferenciadas, como a de impressão digital, para atender a novas demandas de consumo – caso do Grupo Mazurky, fabricante de médio porte de Mauá, no ABC Paulista, que começou o ano destinando R$ 36 milhões em maquinário, importado da Espanha, para expandir seu ramo de atuação.  

Sétimo produtor mundial de papelão, no Brasil o setor expediu 326.723 mil toneladas de caixas, acessórios e chapas fabricadas com o material em fevereiro último – alta de 11,1% no Índice Brasileiro de Papelão Ondulado (IBPO) ante igual mês de 2023, diz a Associação Brasileira de Embalagens de Papel (Empapel), com 145,5 pontos.

Este é o segundo melhor resultado no mês da série histórica, iniciada em 2005 (100 pontos), atrás apenas de fevereiro de 2021 (332.024 toneladas). Fevereiro também foi marcado pelo 5º ano consecutivo com uma expedição acima de 290 toneladas. 

Pelo levantamento da associação, o nível registrado em fevereiro nos dados sem influência sazonal foi o terceiro maior da série, ficando atrás apenas do que foi apurado em setembro de 2020 (351,314 mil toneladas), e em fevereiro de 2023 (361,020 mil toneladas). 

Com a previsão de crescimento de 1,85% do PIB, sob influência do aumento do consumo das famílias, o Brasil tem espaço para subir mais posições no ranking global do setor, diz José Carlos da Fonseca Júnior, presidente executivo da Empapel.

“Considerando o ano fechado de 2023, com 4.026.317 toneladas de produção, 2024 tem perspectiva de crescimento de 2,8%”, afirma, seguindo projeção do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, que elabora o indicador, do último dia 26/03.  

Este crescimento significativo veio se intensificando desde a pandemia, segundo Fonseca Jr., principalmente no fornecimento de embalagens para bens não-duráveis, como de alimentos e produtos de limpeza, que foram os que mais impactaram o setor.

Ele destacou também o crescimento de soluções em papel kraft para o segmento de flexíveis, com envelopes para atender o setor e vestuário em embalagens recicláveis, biodegradáveis e compostáveis. Aqui, a expectativa é de crescimento de 3% a 4% ao ano até 2030, e não só para e-commerce, mas todos os usos destas embalagens, do delivery à construção civil.

“Além do crescimento orgânico projetado para estes segmentos, é esperado que estes produtos também ganhem market share de embalagens que hoje são feitas em plástico”, sinaliza. 

UM SETOR PUXA O OUTRO 

Após um crescimento “abrupto” de demanda durante a pandemia, na faixa dos 40%, 45%, o  Grupo Mazurky precisou buscar produtos de fora, segundo o presidente Eduardo Mazurkyewistz, com o mercado impulsionado principalmente pelo aumento das vendas on-line. 

“Mas teve de tudo um pouco, e aquela situação forçada naquele momento, de atender os novos hábitos do consumidor, não volta atrás. Por isso tivemos que nos adaptar”, conta.   

Com a alta nos preços internacionais em 2021 e em 2022, o mercado em geral, incluindo o de embalagens, teve que se reposicionar. E, mesmo com queda de faturamento no período, a Mazurky cresceu na faixa de 3%. Em 2023, se recuperou e o faturamento aumentou 7%. Assim, o Grupo percebeu que havia espaço para investir, e começou a estudar o mercado mais a fundo. 

Com 16% da produção destinada ao segmento automotivo, e atendendo também logística e exportações, os investimentos no novo modelo de impressão digital em UV pelo Grupo Mazurky, segundo o presidente Mazurkyewistz, têm como estratégia principal atender o varejo e as novas demandas de consumo e experiência do consumidor. 

Mazurky: embalagens em alta definição para ações de marketing

Essa tecnologia, que utiliza luz ultravioleta para melhorar as imagens, e deixá-las com qualidade de fotografia ao serem estampadas em alta definição nas embalagens de papelão ondulado, “ninguém tem no Brasil”, segundo o presidente do Grupo.

“95% do que é oferecido no mercado é usado para proteger ou transportar. Mas essa tecnologia também serve para comunicar, com imagens e dados variáveis em campanhas que acabam se tornando um grande diferencial para o negócio do cliente”, diz Mazurkyewistz. 

Como exemplo, ele cita uma rede atacadista do ramo de carnes, que fez campanha de marketing para sortear TV e celulares por meio de um QR Code impresso na embalagem.

“Foram 5 mil caixas e um código premiado, que fez os clientes entrarem no site para acompanharem a premiação. Isso gera movimentação, engajamento e recorrência.” 

Ou embalagens automotivas de fabricantes de peças de reposição, com impressão do produto – no caso, retrovisores -, para sofisticar o invólucro e chamar mais atenção do consumidor no ponto de venda. “Além de se destacarem dos concorrentes, nossos clientes relataram aumento expressivo nas vendas, vendendo em um mês o que venderiam em três.” 

Sem revelar valores, Mazurkyewistz diz que 2024 começou forte e atípico para o mercado de embalagens como um todo, mas também para sua empresa, já que a queda dos juros e a demanda crescente de emprego têm puxado o consumo – como no setor automobilístico, onde se concentram seus principais clientes, que cresceu 2,2% em fevereiro (dados da Anfavea). 

O Grupo também sentiu o crescimento na demanda de exportações e centros logísticos, puxada pela alta de 2,5% do varejo como um todo em janeiro, segundo o IBGE, em especial nas vendas de tecidos, vestuário e calçados, e móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.  

Daí os investimentos. “Começamos o ano crescendo 17% em comparação a igual período do ano passado, e devemos crescer bem acima do projetado em 2024, em torno de 20%”, sinaliza, reforçando que “os investimentos em novas tecnologias devem continuar.” 

E A CONCORRÊNCIA ASIÁTICA?

A chegada diária de 600 mil encomendas até US$ 50, em média, com origem no comércio cross border no Aeroporto de Guarulhos, foi considerada uma espécie de “ameaça” não só para o varejo, mas para a indústria de embalagens, na avaliação de especialistas do setor integrantes do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). 

A percepção surgiu em 2023, em meio às discussões do programa Remessa Conforme e o aperto da Receita Federal, para tentar equilibrar a concorrência dos marketplaces asiáticos, cuja entrega é feita pelos Correios direto na casa do consumidor. “São 600 mil embalagens que entram no país todos os dias, mas que não são fabricadas aqui”, alertaram. 

No caso do setor de papelão ondulado, estas embalagens do cross border, de uso específico para produtos leves (como cosméticos, peças de vestuário e alguns eletroeletrônicos), não compõem parte significativa da produção de embalagens de papelão do Brasil, voltada mais à indústria. Especialmente dos bens comercializados no varejo, diz Fonseca Jr, da Empapel.

“O número em unidades parece maior, pois são caixas bem pequenas”, disse, citando o Remessa Conforme para “disciplinar esses fluxos”. Mas, dadas as suas características, em princípio, não impactam a produção de papel de embalagem e embalagens de papel ondulado. “Aliás, no sentido inverso, uma parte do que o Brasil exporta, como, por exemplo, a fruticultura, também ganha mercados internacionais acondicionada em embalagens ‘made in Brazil'”. 

Eduardo Mazurkyewistz também afirma que não sentiu essa concorrência: na Mazurky, vendas de embalagem para o e-commerce representam só 6%. Mas ele percebeu maior demanda pelo Mercado Livre e pela Amazon, que compram dele, mas também “do mercado.”

Já o presidente da Empapel destaca ainda que o volume de importação de embalagens de papel e papelão ondulado é inexpressivo, e correspondeu, em volumes, a 3,2 milhões de toneladas – o que não passa de 0,08% da expedição total de 2023.

“O que episodicamente pode incomodar tem a ver com importações mais volumosas de, por exemplo, papel cartão (FBB, FSB), que por vezes competem com a produção nacional.”

Sobre exportações, o setor tem se garantido: o volume total exportado em 2023 foi de 32,7 kt (quilotoneladas), totalizando cerca de 10% da expedição doméstica. Os principais mercados de destino foram de proximidade geográfica, como Uruguai (48%), Paraguai (22%) e Costa Rica (21%). 

Informações: Diário do Comércio / Imagens: divulgação.