PÁGINA BLOG
Featured Image

Exclusiva – Silvicultura e cachaça? Conheça a tanoaria no Brasil, que agrega sabor à bebidas, e se destaca como aliada à práticas sustentáveis

“Conhecer a taxonomia botânica destas espécies e seus aspectos silviculturais é decisivo para tornar a bebida mais genuína do Brasil globalmente competitiva”, diz gestor de projetos que financiou estudos sobre a atividade no país

Embora não haja um marco único que aponte o “começo” exato da silvicultura tanoeira como uma atividade organizada no Brasil, pode-se dizer que ela se desenvolveu mais significativamente nas últimas duas a três décadas, à medida que a indústria de bebidas se profissionalizou e a consciência sobre a sustentabilidade e a qualidade da matéria-prima (a madeira) aumentou. Produtores e pesquisadores têm investido em plantios de espécies nativas com potencial para a tanoaria, como bálsamo, jequitibá e castanheira e freijó, buscando atender a essa demanda crescente de forma sustentável.

Em um cenário de crescente valorização de produtos regionais e da sustentabilidade, a produção de madeiras específicas para barris e tonéis, emerge como um nicho de crescente importância. Representa não apenas uma oportunidade econômica, mas também um caminho promissor para valorizar e proteger a rica biodiversidade florestal do Brasil, mas que ainda passa por algumas lacunas.

De acordo com especialistas e estudiosos da área, é necessário incentivar o plantio de espécies adequadas para tanoaria no país, com ciclos de crescimento que permitam o uso da madeira no tempo certo, garantindo a disponibilidade futura.

O geógrafo e gestor de projetos ambientais Fernando Antônio Leite, CEO da startup ‘Roda de Ideias’, participou de um estudo realizado entre 2019 e 2020, em convênio com a UFMG para a análise de um conjunto de amostras de tonéis e barris, além do ‘Projeto Florestas Tanoeiras’, que se refere ao plantio de 3 miniflorestas comerciais e experimentais, em Minas Gerais.

Segundo Fernando, o estudo tem o objetivo de: “Identificar quais são as espécies botânicas que têm vocações para agregarem valor às bebidas alcoólicas, especialmente à cachaça. Os setores tanoeiro e cachaceiro se orientam apenas pelos nomes populares, de forma que você nunca sabe realmente de qual espécie está se falando. Inclusive em muitos casos se constatou espécie totalmente diferentes das informadas nos rótulos”.

Amostras de tonéis/barris e dornas (tridimensionais com pelo menos 1 cm cada lado) em usos foram coletados e enviadas para laboratórios de anatomia da madeira.

“Assim, o principal intuito é orientar os plantios, ou seja, plantar realmente as espécies que têm esta aptidão. Exemplo clássico disso é comprar mudas de mexerica pokan em “viveiros móveis”, sediados em caminhões. Depois de alguns anos descobre se tratar de um limão qualquer. Este não é um problema apenas do setor tanoeiro, mas de todos que têm a madeira como matéria prima ou insumo, como a construção civil e a movelaria, por exemplo. Principalmente nas últimas décadas, com a escassez de madeiras e exigências legais as “substituições” por novas madeiras, mas mantendo os mesmos nomes ficaram mais comuns”, conclui.

Confira no PDF abaixo, um dos laudos obtidos através do projeto para identificação das amostras coletadas.

Nesse contexto, o Prof. Dr. Benjamim Mendes, aposentado da UFV e então diretor técnico da www.anpaq.com.br coordenou a publicação de uma lista acadêmica envolvendo estas espécies.

Principais regiões produtoras

No Brasil, as principais regiões tanoeiras concentram-se nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, conforme apontado em um levantamento feito em 2024. Os dados correspondem a tanoarias que se especializam na produção de barris com madeiras nativas, embora a escala ainda seja menor comparada às que utilizam carvalho importado.

Em Minas Gerais, há plantio experimental e comercial na Fazenda Escola Cana Brasil, Itaverava (www.canabrasil.com.br), iniciado em 2020, por meio de três mini florestas com 15 espécies plantadas. Atualmente, também há no estado, aproximadamente plantios de 1 hectare, nas seguintes propriedades:

  • Cachaça Flor das Gerais, Felixlândia
  • Cachaça Salinas, Jaíba
  • IFNMG Salinas, Salinas  

Este ano foi iniciado um plantio em Tocantins, vinculado à Cachaça Dom Porfírio.

Madeiras mais indicadas

Segundo especialistas, na tanoaria as madeiras mais recomendadas são aquelas que conferem características desejáveis às bebidas, como sabor, aroma e cor, além de possuírem a porosidade e durabilidade adequadas, e se dividem entre as tradicionais importadas e as promissoras nativas brasileiras.

“Já foi publicada uma lista acadêmica, com base na literatura científica, coordenada pelo Prof. Dr. Benjamim. E há outra que são os resultados de amostras de barris e dornas analisadas, ambas disponíveis nesta publicação. As principais são: Amburana (duas espécies), Bálsamo (3 espécies) e Jequitibá (3 espécies). Freijó, gênero Cordia (2 espécies) é predominante no Nordeste do Brasil, especialmente na Paraíba e Pernambuco. No caso do vinho, no Brasil ainda é pouco incipiente, principalmente com madeiras tropicais. Mesmo assim, ainda prevalece a hegemonia do Carvalho”, informa Fernando.

A preferência pelo carvalho

Na tanoaria, o carvalho é a madeira preferida para a fabricação de barris, devido às suas características que influenciam significativamente o sabor, aroma, cor e estrutura de bebidas como vinhos e destilados. Existem diferentes tipos de carvalho, e a escolha entre eles depende do perfil desejado para a bebida.

“O nosso benchmarking é o carvalho, gênero Quercus, madeira hegemônica e milenar para envelhecimento de bebidas, principalmente por causa do uísque, a qual é cultivada na Europa e nos EUA. Napoleão Bonaparte iniciou os plantios na França, com fins bélicos. Felizmente não fez sentido e a indústria de bebidas se apropriou da madeira. Conhecer a taxonomia botânica destas espécies e seus aspectos silviculturais é decisivo para tornar a bebida mais genuína do Brasil globalmente competitiva”, explica Fernando.

Os desafios atuais

A silvicultura tanoeira no Brasil, focada na produção de barris para bebidas, está em um estágio de desenvolvimento e reconhecimento crescente, especialmente impulsionada pelo setor de cachaças e pela busca por diferenciação em outras bebidas como cervejas artesanais e vinhos. No entanto, ainda enfrenta desafios significativos para atingir seu pleno potencial e sustentabilidade. Para o geógrafo e gestor Fernando, se destacam:

  • Cultura de curto prazo – Quando estamos falando de um processo intergeracional, a exemplo do Carvalho na Europa e EUA: as gerações atuais estão colhendo hoje o que gerações anteriores plantaram; e não só colhendo, também plantando para as gerações futuras. Estão num ciclo virtuoso, ao passo que ainda estamos num ciclo vicioso, sustentando apenas no desmatamento, legal e/ou ilegal, e não estamos incomodados com isto.
  • Falta de fomento e políticas públicas capazes de mobilizar investidores para perceberem o potencial deste segmento – Em Minas Gerais há inclusive legislação do início deste século prevendo isto, mas não saiu da gaveta.
  • Oferta de mudas confiáveis e um mínimo de seleção genética – O fato de se tratar de espécies ainda selvagens para a silvicultura também é um empecilho, pois os plantios tornam se inevitavelmente muito desuniformes, o que pode ser até capitalizado a favor, mas precisamos de estudos e pesquisas para isto, o que ainda não há.

Silvicultura a legalidade e o fomento

O aumento da demanda por bebidas envelhecidas em barris de madeira sustentável pode impulsionar toda a cadeia produtiva a se tornar mais responsável e a buscar as certificações necessárias. A Silvicultura é fundamental para o país, pois não só impulsiona a economia com a produção sustentável de madeira, celulose e energia, mas também desempenha um papel crucial na conservação ambiental, no sequestro de carbono e na proteção da biodiversidade, garantindo um futuro mais verde e próspero para o país.

Desde o pequeno produtor ao grande, importam e fazem a diferença, tornando a atividade atualmente, um dos principais pilares da economia brasileira.

O silvicultor Renato Caporalli cultiva nativas e também exóticas desde 1986 – tendo hoje cerca de 50 hectares –, em Campos Altos (MG). Em uma época que não existia nenhuma segurança jurídica para o plantio de nativas, em função dos riscos dos sistemas ambientais se apropriarem e não permitirem colher no futuro, ele acreditava e tinha como premissa a regularização da atividade.

“Eu era um acadêmico otimista com a evolução da normativa legal brasileira.  Depois, ali, pelos anos 2000 até quase 2020, cheguei a temer que estivesse errado na previsão para o futuro do país, e que nós fôssemos no sentido da irracionalidade da normativa legal.  Cheguei a temer por isso.  Mas tenho ficado de novo otimista. O último governo mostrou que, com um pouco de esforço e boa vontade, a normativa ambiental pode ficar mais fluida, dando mais confiança em quem quer investir”, lembra Renato.

“Sobre mercado, comecei a vender madeira nobre apenas no ano passado. Até o ano passado, esperei pela sua maturação.  Agora estou na fase do desbaste. Tenho vendido a madeira para marceneiros. Ainda conheço muito pouco do mercado de madeira, minha escala é pequena o que não contempla a demanda de grandes empresas moveleiras, mas tenho conseguido vender o que produzo.  Se produzisse mais, sinto que poderia vender mais.  Madeira boa é um produto escasso”, destaca.

Serraria móvel na propriedade de Fernando, em MG.

Em um cenário onde a pressa muitas vezes dita o ritmo, a visão de um proprietário rural se destaca. Para Renato, o investimento em silvicultura é mais que um negócio; é um compromisso com o futuro.

“O que me motivou a investir no plantio de árvores de madeiras nobres, nativas e exóticas, foi em primeiro lugar a vontade de deixar para meus filhos uma terra mais bem cuidada do que recebi como herança.  A segunda razão foi acreditar que isso me proporcionaria no futuro uma velhice economicamente segura, pois como economista, sabia que o valor de bens escassos tende a crescer – e supus que, como a maior parte dos investidores investem no curto prazo, pensei que meu investimento em bens de muito longo tempo de maturação tenderia a ficar cada vez mais escasso no mercado.  Apostei nisso.  E a fazenda fica linda, todo mundo trabalhando com afinco mas com calma.  O lema da fazenda é “slow farming, good living”, conta sobre suas premissas.

Para saber mais sobre o Projeto de Identificação das Madeiras de Tanoaria, e sobre o cultivo das ‘árvores das cachaças’ envie e-mail para fernando@rodadeideias.com e siga no Instagram
@roda.de.ideias.

Escrito por: redação Mais Floresta / Imagem destaque: Getty Images/kimrawicz.

Featured Image

Rede ILPF amplia para cinco estados programa de estímulo à expansão do Sistema de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta

Sistema ILPF chega hoje a aproximadamente 17,4 milhões de hectares, e seu potencial de expansão é enorme porque estima-se que o Brasil tenha cerca de 160 milhões de hectares de pastagens que podem ser convertidos para ILPF

A partir da trajetória de sucesso em curso já há três anos em São Paulo, a Associação Rede ILPF ampliou, neste primeiro quadrimestre de 2025, para mais cinco estados – Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro – o programa Integra destinado a estimular a expansão do Sistema de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) no agro brasileiro.

Ancorado em acordos assinados com as secretarias estaduais de Agricultura, bem como com entidades, como, por exemplo, a ABCZ, a iniciativa contempla uma extensa agenda de atividades de difusão de conhecimento e de transferência de tecnologias, entre técnicos, produtores e instituições parceiras, por meio de dias de campo, palestras, treinamentos, encontros técnicos, mentorias etc. pautada nas oportunidades socioeconômicas e ambientais da adoção do Sistema ILPF.

O programa prevê também a articulação junto a instituições financeiras e parceiros estratégicos, com o intuito de viabilizar o acesso a linhas de financiamento, com condições mais atrativas de crédito e alinhadas a práticas sustentáveis, para o produtor rural que implantar o Sistema ILPF, assim como irá fomentar o acesso a mercados diferenciados, como, por exemplo, de carne de baixo carbono.

“A integração lavoura-pecuária-floresta significa a emancipação do produtor. De que forma? Porque tem uma renda de curto prazo, que são as lavouras de grãos e cereais. Tem o gado no médio prazo e o componente florestal no longo prazo”, ressalta o presidente-executivo da Rede ILPF, Francisco Matturro, que acrescenta: “o Sistema ILPF chega hoje a aproximadamente 17,4 milhões de hectares, e seu potencial de expansão é enorme porque estima-se que o Brasil tenha cerca de 160 milhões de hectares de pastagens que podem ser convertidos para ILPF”.

O gerente técnico da Rede ILPF, Gabriel Martins, menciona ainda que o Integra utiliza ainda ferramentas digitais, como o ILPF Digital, para apoiar o diagnóstico, o mapeamento de práticas e o acompanhamento das propriedades envolvidas. “O fortalecimento das Unidades de Referência Tecnológica também compõe a agenda, com foco em capacitação prática e demonstração de modelos integrados”.

:: ILPF, benefícios socioeconômicos e ambientais

A ILPF é uma estratégia de produção que combina diferentes sistemas produtivos: agrícolas, pecuários e florestais em uma mesma área, seja em consórcio, sucessão ou em rotação de culturas, gerando benefícios para todas as atividades.

A prática intensifica de modo sustentável o uso da terra, protege e fertiliza o solo, promove a economia de insumos e consequente redução de custos, e simultaneamente eleva a produtividade em uma mesma área, diversificando produção e fontes de receita. Ao mesmo tempo, o Sistema é ambientalmente correto, com baixa emissão de gases de efeito estufa e permite o sequestro de carbono, tornando a atividade mais resiliente às mudanças climáticas.

Culturas agrícolas como grãos [soja e milho] e produção de fibras [algodão] podem ser utilizadas na ILPF. A modalidade pecuária contempla, sobretudo a bovinocultura de corte ou leite e a parte florestal envolve a silvicultura, com destaque, por exemplo, para o plantio de eucaliptos. Diferentemente do senso comum, a ILPF pode ser adaptada para pequenas, médias e grandes propriedades, em todos os biomas brasileiros.

:: Rede ILPF

A Associação Rede ILPF é uma parceria público-privada formada pela Embrapa, a cooperativa Cocamar e as empresas Bradesco, John Deere, Soesp, Suzano, Syngenta e Timac Agro e tem como objetivo intensificar a sustentabilidade da agropecuária brasileira, por meio da adoção das tecnologias de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

Featured Image

Sistema com árvores neutraliza emissões de metano de mais de dois bovinos por hectare

Um estudo realizado na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), investigou a capacidade de um sistema silvipastoril (SSP) em neutralizar as emissões de metano entérico de bovinos de corte pela fixação de carbono pelas árvores. Os resultados, publicados na revista internacional Agricultural Systems, revelam que o sistema compensou a emissão de metano de mais de dois bovinos adultos (um bovino adulto corresponde a 450 kg de peso vivo). A pesquisa considerou apenas o carbono armazenado na parte do tronco das árvores destinada a produtos de maior valor agregado e mobiliário.

A média nacional é de apenas um animal adulto por hectare no Brasil. Porém, a integração da pecuária com componente arbóreo permite mais do que o dobro da lotação padrão brasileira, o que torna o modelo sustentável e mais produtivo por unidade de área.

Comparou-se uma área composta por pastagem de capim-piatã sombreada por eucaliptos com um sistema a pleno sol de manejo intensivo. Os pesquisadores avaliaram a emissão de metano utilizando a metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a fixação de carbono pelas árvores por meio de medições de altura e diâmetro dos eucaliptos.

Papel das árvores na pecuária

O metano, liberado durante a digestão dos bovinos, é um dos principais gases de efeito estufa (GEE), contribuindo com 65% das emissões agropecuárias em equivalente de CO2. Apesar de ter uma vida útil menor na atmosfera em comparação ao CO2, o metano possui um potencial de aquecimento global 27 vezes maior.

Nesse contexto, a integração de pecuária com eucaliptos surge como uma solução climática inteligente. As árvores presentes no sistema realizam a fotossíntese, absorvendo o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e armazenando-o em sua biomassa. Os cientistas consideraram a parcela do carbono acumulada no tronco, que possui maior estabilidade a longo prazo, como a madeira utilizada na indústria moveleira, seguindo as diretrizes do protocolo Neutral Carbon Brazilian Beef (NCBB).

Sequestra CO2 e ainda proporciona conforto animal

Mesmo em um sistema intensivo, com uma taxa de lotação 256% maior que a média brasileira, o componente florestal apresentou potencial significativo de neutralização das emissões de metano. De acordo com o pesquisador da Embrapa José Ricardo Pezzopane, ao considerar todo o carbono fixado no tronco das árvores, o balanço líquido foi negativo em -14,28 Mg CO2 eq. por hectare ao ano. “Ou seja, se considerarmos todo o carbono fixado no tronco das árvores, além de neutralizar a emissão de metano pelos animais, o sistema silvipastoril ainda sequestra grande quantidade de carbono”, explica o cientista.

Além da significativa redução do metano e do CO2, a pesquisa constatou que o SSP proporcionou maior conforto térmico aos animais em comparação com o sistema a pleno sol. A presença das árvores oferece sombra, reduzindo o calor no ambiente, o que pode impactar positivamente o bem-estar animal e, potencialmente, a produtividade. “Os sistemas silvipastoris têm dupla função no combate às mudanças climáticas. Por um lado, é uma estratégia de mitigação por sequestrar carbono da atmosfera. Por outro, é uma estratégia de adaptação, pois aumenta o conforto térmico em um cenário cada vez maior de aumento de temperaturas”, destaca o pesquisador.

Implicações para a agropecuária brasileira

Os resultados demonstram o grande potencial do modelo silvipastoril como uma estratégia eficaz para mitigar as emissões de gases de efeito estufa na pecuária brasileira, ao mesmo tempo em que promove o bem-estar animal. A adoção pode contribuir significativamente para as metas de redução de emissões do Brasil e para o desenvolvimento de uma produção de carne bovina mais sustentável e alinhada com as demandas de consumidores cada vez mais preocupados com as questões ambientais.

Segundo Pezzopane, embora o SSP possa apresentar uma menor massa de forragem em algumas estações devido ao sombreamento promovido pelas árvores, a suplementação permitiu manter um desempenho animal semelhante ao do sistema a pleno sol. 

Foto: Juliana Sussai

Experimento

O sistema estudado foi estabelecido com eucalipto em 2011, inicialmente com um espaçamento de 15 por 2 metros (15m x 2m), resultando em uma densidade populacional de 333 árvores por hectare. Em julho de 2016, as árvores foram desbastadas para um espaçamento de 15 m x 4 m, resultando em uma densidade de 167 árvores por hectare.

Com essa configuração, concluiu-se que o modelo compensou 77% da emissão de metano, considerando o Carbono estocado nos troncos destinados a produtos de maior valor agregado e mobiliário. Essa compensação correspondeu à emissão de 2,3 bovinos adultos por hectare, enquanto a taxa de lotação real no experimento foi de 3,01 bovinos adultos por hectare.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

A principal contribuição do estudo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é reforçar as práticas de mitigação às mudanças climáticas e promover sistemas de produção mais sustentáveis. Também alinhada ao ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima, a pesquisa demonstra que o sistema integrado com árvores é uma alternativa inteligente para a produção de carne bovina, capaz de reduzir significativamente as emissões de GEE no setor agropecuário brasileiro. O Consumo e Produção Responsáveis (ODS 12) é atendido ao propor um sistema com menor pegada de carbono e maior atenção ao bem-estar animal, o estudo estimula práticas de produção mais responsáveis e com adaptação às Mudanças Climáticas Globais. Por fim, o ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável também está contemplado, uma vez que a pesquisa explora uma via para uma produção de carne mais sustentável, essencial para sistemas alimentares a longo prazo.

As mudanças climáticas, principalmente o aumento das temperaturas, podem diminuir o conforto térmico e o desempenho animal e, consequentemente, aumentar a idade de abate e a emissão de carbono por produto animal. Estratégias que promovam alternativas para aumentar o conforto térmico animal serão cruciais. A presença de árvores tem se mostrado uma alternativa interessante para fornecer sombra aos animais em regiões tropicais, principalmente durante as horas mais quentes do dia.

Sobre a pesquisa

O trabalho completo pode ser acessado em: Silvopastoral system as a climate-smart alternative for beef production: Enteric methane emission neutralization and animal thermal comfort increase – ScienceDirectOs autores são Henrique B. Brunetti, Patrícia Anchão Oliveira, José Ricardo Pezzopane, Alberto Bernardi, Alexandre Rossetto Garcia, Alexandre Berndt, André Pedroso e Sergio Raposo Medeiros, da Embrapa Pecuária Sudeste, além de Ana Lelis, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). 

Informações: Embrapa.

Featured Image

Três Lagoas registra crescimento de quase 870% no PIB em duas décadas

PIB saltou de R$ 1,34 bilhão em 2002 para R$ 13,05 bilhões em 2021, impulsionado pela indústria, agronegócio e infraestrutura estratégica

O município de Três Lagoas, no Leste de Mato Grosso do Sul, viveu uma verdadeira transformação econômica nas últimas duas décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade saltou de R$ 1,34 bilhão em 2002 para R$ 13,05 bilhões em 2021 — um crescimento de impressionantes 870% no período.

Essa expansão coloca Três Lagoas entre os maiores polos de desenvolvimento do estado, graças a uma combinação de fatores como industrialização acelerada, atração de grandes empreendimentos nacionais e internacionais, investimentos em infraestrutura e diversificação da economia.

De economia média à liderança regional

Em 2002, com um PIB de pouco mais de R$ 1,3 bilhão, Três Lagoas ainda apresentava um perfil econômico fortemente ligado a pecuária, comércio e serviços locais. A virada começou a se desenhar com os investimentos do setor de papel e celulose, a partir de meados da década de 2000. Em 2009, o PIB já havia mais que dobrado, atingindo R$ 2,82 bilhões.

O salto mais significativo, no entanto, ocorreu entre 2010 e 2013, quando o município viu seu PIB crescer de R$ 3,91 bilhões para R$ 6,49 bilhões — alta de quase 66% em apenas três anos. Esse avanço coincide com a instalação de grandes indústrias, como a Fibria (hoje Suzano), que impactaram diretamente a geração de emprego, renda e arrecadação de impostos.

Crescimento contínuo

Mesmo em períodos de crise econômica nacional, como em 2015 e 2016, Três Lagoas manteve sua trajetória ascendente. Em 2015, o PIB local foi de R$ 7,86 bilhões e, em 2016, ultrapassou R$ 9,2 bilhões. Em 2018, a economia da cidade atingiu R$ 11,5 bilhões — mais de oito vezes o valor registrado em 2002.

Pandemia não freou avanço

Durante a pandemia de Covid-19, muitos municípios brasileiros enfrentaram retração econômica. Três Lagoas, no entanto, seguiu na contramão. Em 2020, o PIB saltou para R$ 11,6 bilhões e, em 2021, bateu recorde: R$ 13,05 bilhões.

Esse desempenho confirma a resiliência da economia local, impulsionada não apenas pela indústria, mas também pelo agronegócio e por uma crescente base de serviços e comércio.

Modelo de desenvolvimento

A história recente do PIB de Três Lagoas comprova como políticas de atração de investimentos, aliadas à vocação logística e estratégica da cidade, podem transformar um município de médio porte em uma potência econômica regional.

Os números do IBGE mostram mais do que crescimento: revelam uma cidade que se reinventou e hoje é vitrine de desenvolvimento em Mato Grosso do Sul.

Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, Três Lagoas representa hoje o maior símbolo do avanço industrial no estado. “Três Lagoas, na verdade, é a nossa principal cidade industrial. O município adquiriu uma capacidade de geração de serviços impressionante. Às vezes, o pessoal comenta que está se montando a Arauco em Inocência, mas todos os serviços estão sendo concentrados em Três Lagoas, que adquiriu uma competência extremamente significativa na prestação de serviços industriais”, destaca Verruck.

Segundo o secretário, a cidade é referência para a continuidade da expansão industrial em Mato Grosso do Sul. “Três Lagoas é, para nós, a capital desse processo global da celulose. É um polo industrial que se consolida cada vez mais e que influencia diretamente o desenvolvimento de toda a região Leste do estado”, acrescenta o executivo.

Informações: RCN67.

Featured Image

Coalizão Brasil celebra 10 anos de fundação com avanços na agenda agroambiental e fomento ao diálogo entre setores

Rede multissetorial destaca conquistas históricas na promoção do uso sustentável da terra, combate ao desmatamento e construção de políticas públicas integradas

Criada meses antes da histórica Conferência do Clima de Paris (COP 21), a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura completa dez anos neste mês com uma trajetória de influência em políticas públicas para o combate ao desmatamento, o fomento à agricultura sustentável e geração de emprego e renda no campo. O marco vem em um ano simbólico: o da realização da COP 30, em Belém, que deve alçar o Brasil ao protagonismo das negociações climáticas globais.
 

A Coalizão antecipou discussões fundamentais ao reunir atores com posicionamentos distintos — e por vezes antagônicos — em torno de uma pauta comum: o desenvolvimento sustentável do uso da terra. Dez anos atrás, o desmatamento já era um dos grandes vetores das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, e a construção de pontes entre setores era vista como uma condição essencial para mudar este cenário.
 

“Não há um fórum multissetorial no Brasil tão abrangente e ambicioso com uma agenda semelhante à da Coalizão”, destaca Carolle Alarcon, gerente executiva da rede. “É emblemático comemorarmos os dez anos do movimento juntamente com a realização da COP no país. Este é um momento único para reafirmarmos nossa missão de unir diferentes setores e interesses em torno da defesa dos nossos biomas, da agricultura sustentável e do combate às mudanças climáticas.”
 

História do movimento reflete avanços e desafios do cenário socioambiental brasileiro
 

A atuação da rede ganhou ainda mais relevância no atual cenário global, marcado tanto pelo agravamento da crise climática quanto pelo avanço do negacionismo em relação à ação humana sobre os eventos extremos. A falsa dicotomia entre produtividade econômica e conservação ambiental reforça a urgência de agendas voltadas à geração de emprego e renda por meio de práticas e atividades sustentáveis, justas e competitivas. 

Por meio de contribuições técnicas de seus membros, de parcerias institucionais e ações de advocacy, a Coalizão Brasil vem influenciando debates essenciais para a agenda agroambiental do país. “O grande legado da Coalizão é criar uma convergência entre diferentes setores da sociedade interessados na agenda de clima e uso da terra”, ressalta Fernando Sampaio, cofacilitador do movimento e diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). “Ao longo dos anos, propomos cada vez mais medidas para o desenvolvimento sustentável do país, enviadas e implementadas por diferentes esferas do governo.”
 

Em 2025, a rede ultrapassou 430 membros, consolidando-se como espaço de construção coletiva de soluções para os desafios do clima, florestas e agricultura, e ampliando sua voz em fóruns nacionais e internacionais. A Coalizão, assim, viu a importância de ampliar sua participação em debates sobre mecanismos de financiamento da transição: 
 

“A destinação de recursos para o combate à crise climática é fundamental para viabilizar a transição energética”, avalia a cofacilitadora Karen Oliveira, que também é diretora para Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy Brasil (TNC). “A Coalizão entendeu a necessidade de acompanhar de perto os instrumentos para atingirmos este objetivo de forma justa e equitativa, como os mercados de carbono, crédito rural e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.”

Sete marcos da Coalizão Brasil

Em uma década de atuação, a Coalizão lançou cerca de 60 estudos e publicou mais de 150 manifestações públicas, enviadas para o governo federal, parlamentares, membros do Judiciário e embaixadas. Veja abaixo os principais marcos:

1. A primeira meta climática do Brasil:

A Coalizão envolveu-se na construção da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) apresentada pelo Brasil em 2015, no contexto do Acordo de Paris. Dois anos depois, a rede divulgou uma carta aberta que sintetizou sua visão sobre as oportunidades associadas à implementação da NDC. O documento foi entregue em mãos ao então presidente Michel Temer

2. Ações contra o desmatamento

Diante da escalada da devastação da Amazônia, a Coalizão publicou, em 2020, o documento “Ações para a queda rápida do desmatamento“, entregue ao então vice-presidente Hamilton Mourão. Em 2025, diante do compromisso do Brasil em zerar o desmate em cinco anos, a rede lançou a publicação “Brasil sem desmatamento“, com 12 propostas para erradicar a derrubada ilegal da vegetação e desestimular aquela passível de autorização. Pela primeira vez, o movimento abordou com destaque a gravidade das queimadas em todo o país e a conexão entre o crime organizado e o desmatamento ilegal na Amazônia.

3. Observatório da Restauração

Em 2021, a Coalizão e organizações parceiras criaram o Observatório da Restauração e Reflorestamento, uma plataforma de monitoramento da recuperação da vegetação no país. Desde então, a ferramenta tem influenciado políticas públicas, como o Planaveg, e mostrado o progresso do Brasil em restaurar áreas conforme acordos nacionais e internacionais. Segundo dados de 2024, o Brasil conta com 150 mil hectares em restauração, uma área 90% maior do que a registrada três anos antes.

4. Programa de Silvicultura de Nativas

Também em 2021, a Coalizão lançou, com apoio de organizações da sociedade civil, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas. A iniciativa tem como objetivo estudar ao menos 30 espécies da Amazônia e da Mata Atlântica, com foco em aumentar seu retorno econômico nos mercados nacional e internacional, além de contribuir para a restauração de milhões de hectares de áreas degradadas. Em 2023, o projeto ganhou uma doação de US$ 2,5 milhões do Bezos Earth Fund, instituto do empresário Jeff Bezos.

5. Carta para Joe Biden

Em 2022, a Coalizão enviou uma carta ao então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em apoio à aprovação do projeto de lei Amazon 21 Act, que previa um fundo de US$ 9 bilhões para a proteção de florestas tropicais em países em desenvolvimento. A rede coletou assinaturas e contribuições para o texto, que foi endossado por 22 organizações da sociedade civil, empresas e representantes de povos indígenas.

6. O Brasil que Vem

Em novembro de 2022, a Coalizão lançou o documento “O Brasil que vem“, com propostas direcionadas ao governo federal e a parlamentares recém-eleitos. Entre as medidas consideradas urgentes pela rede estavam a restauração do Fundo Amazônia, a retomada da homologação de Terras Indígenas e a criação de grupo de trabalho para elaborar novos planos de prevenção e controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado – todas atendidas no início da nova gestão.

7. Contribuições para políticas públicas

Há sete anos, a Coalizão envia contribuições ao Plano Safra, que destina bilhões de reais à política agrícola brasileira. A rede também tem atuado, por meio de diálogos com ministérios e frentes parlamentares, na construção de projetos de lei, decretos, políticas nacionais e regulamentações sobre temas como bioeconomiaconcessões florestaismercado de carbonopagamento por serviços ambientais e rastreabilidade de commodities, entre outros. 

Sobre a Coalizão 

Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um movimento composto por mais de 400 organizações, entre entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia. A rede atua por meio de debates, análises de políticas públicas, articulação entre diferentes setores e promoção de iniciativas que contribuam para a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

Featured Image

Criadores de abelhas são formados por projeto da Bracell para potencializar a meliponicultura em Mata de São João

Iniciativa profissionaliza apicultores e meliponicultores em sete cidades na Bahia, gerando renda e postos de trabalho nas comunidades

Com foco no desenvolvimento e no fortalecimento da meliponicultura, visando à geração de renda de forma sustentável com a atividade, a Bracell promoveu nesta segunda-feira, 16, mais uma atividade formativa para criadores de abelhas em Mata de São João, no Litoral Norte da Bahia. A iniciativa é parte do projeto Polinizadores, que integra Bracell Social, o programa de investimento social privado da empresa. O projeto busca monitorar e impulsionar a produção de mel por meio de oficinas, cursos, suporte técnico e fornecimento de áreas de vegetação nativa da empresa como pasto apícola, onde os apiários dos produtores inscritos no projeto são instalados.

O treinamento foi ministrado pelo agrônomo Ediney Magalhães, parceiro técnico da empresa na implementação do Projeto Polinizadores. “O foco inicial dos trabalhos com os criadores de abelhas de Mata de São João foi profissionalizar os envolvidos, a fim de promover a geração de renda por meio de uma atividade estruturada, técnica, economicamente viável e que contribua para a preservação das espécies de abelhas sem ferrão”, informa Magalhães. Segundo ele, durante o encontro, os profissionais aprenderam sobre as estratégias de alimentação de abelhas, inclusive suplementação à base de carboidratos e proteínas, de forma a garantir a nutrição adequada das colônias em períodos críticos de escassez floral.

“Por meio da transferência de tecnologias apropriadas, os produtores aprendem, aplicam e aperfeiçoam técnicas modernas de manejo, o que reflete diretamente no fortalecimento da cadeia produtiva local”, salienta o agrônomo. Ele acrescenta que a iniciativa conta com a parceria institucional da Secretaria Municipal de Agricultura de Mata de São João.

O Polinizadores está presente ativamente nos municípios de Araçás, Alagoinhas, Entre Rios, Esplanada, Itanagra, Inhambupe e Mata de São João, mas conta também com a participação de produtores de outros municípios da região, sempre de forma gratuita. Todas as atividades do projeto, com exceção da assistência técnica, são abertas ao público.

Fábio Sento Sé Oliveira, coordenador de Relações Institucionais da Bracell, salienta que o projeto alcançou, direta e indiretamente, mais de 3 mil pessoas em diversas comunidades onde a Bracell atua na Bahia. “O objetivo de investirmos em iniciativas como essa é tornar o conhecimento em apicultura e meliponicultura acessível, fortalecendo as produções de pequenos produtores do Litoral Norte e Agreste Baiano e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades onde atuamos”, afirma.

Sobre a Bracell

A Bracell é uma das líderes globais na produção de celulose solúvel e especial, com expertise no cultivo sustentável de eucalipto, base para a fabricação de celulose de alta qualidade. Com operações no Brasil desde 2003, a empresa integra o grupo Royal Golden Eagle (RGE), com sede em Singapura. Conta com mais de 11 mil colaboradores e duas unidades industriais no país — em Camaçari (BA) e Lençóis Paulista (SP) — além de escritório administrativo em Singapura e estruturas comerciais na Ásia, Europa e Estados Unidos. Para mais informações, acesse: www.bracell.com 

Featured Image

Grupo suíço de madeira certificada quer dobrar área no Brasil

Precious Woods, uma das líderes do segmento no mercado brasileiro, hoje explora 600 mil hectares no Amazonas

A empresa suíça Precious Woods, que extrai e comercializa madeira tropical certificada, planeja dobrar sua área de atuação no Brasil. A companhia explora hoje uma área de quase 600 mil hectares na região de Itacoatiara, no Amazonas. Em 2024, o negócio no país gerou uma receita à companhia de 10,2 milhões.

Para expandir seus negócios, a Precious Woods aposta em dois caminhos: contratos com proprietários privados que tenham áreas de florestas próximas à sua área atual ou contratos de concessão pública de floresta.

A empresa, cuja filial no Brasil é a Mil Madeiras Preciosas, apresenta-se como a maior produtora e exportadora de madeira tropical serrada certificada do país. Ela afirma que tem sido responsável por 6% a 7% de toda madeira dura que o país exporta.

A companhia tem negócios no Brasil e no Gabão, onde está sua maior operação. Em 2024, a receita líquida da Precious Woods caiu 15,3% em relação ao ano anterior, para US$ 47,7 milhões.

No ano passado, a demanda, principalmente do setor de construção, diminuiu, o que também afetou outras empresas do segmento. O mercado começou a se recuperar no segundo semestre.

No fim de 2024, grandes acionistas da Precious Woods fizeram uma operação para melhorar as finanças da empresa. Eles converteram empréstimos (que haviam feito à companhia) de 43,5 milhões de francos suíços (ou US$ 53 milhões) em novo patrimônio da Precious Woods.

“Depois de fazermos um aumento de capital na Suíça para nos livrarmos de quase todas as dívidas, hoje temos uma boa base patrimonial. No Brasil, agora podemos avançar com alguns projetos porque passamos a ter acesso a mais dinheiro. Assim, estamos aumentando o nível de produção para agregar valor ao produto final”, disse ao Valor o presidente do conselho de diretores da Precious Woods, Markus Brütsch, logo depois de chegar a São Paulo, no fim da semana passada. Da capital paulista, ele seguiu para Itacoatiara.

Um terço da área de floresta em que a empresa corta árvores está em terras próprias. A Precious Woods diz que são áreas que ela adquiriu antes do início da vigência das regras atuais, que restringem a compra por estrangeiros.

O restante, cerca de 180 mil hectares, é composto por áreas de floresta exploradas por meio de contratos privados de concessão ou contratos com o governo do Amazonas. Ao todo, terras sob concessão e próprias somam 575 mil hectares. “Queremos duplicar nossas atividades na Amazônia, mas não com um projeto a partir do zero. Estamos procurando uma concessão próxima à nossa área”, disse Brütsch.

Segundo o executivo, a empresa já levou o tema a órgãos federais e ao governo do Estado. A companhia também iniciou conversas com o BNDES sobre um eventual financiamento para máquinas adicionais e para as atividades florestais, a modernização da serraria e o manejo florestal sustentável.

“O setor de atuação do grupo Precious Wood é elegível ao Fundo Clima — Florestas Nativas e Recursos Hídricos, e um eventual pedido de crédito pode ser analisado, seguindo-se todos os procedimentos usuais de operação do banco”, afirmou o BNDES. Em 2024, o banco emprestou R$ 23 milhões à Mil Madeiras Preciosas. O BNDES classifica atividades de restauro e manejo florestal como estratégicas.

Brütsch citou projeções da FAO e do Banco Mundial sobre aumento da demanda global por madeira. O movimento deve-se, em parte, ao crescimento da população e, em parte, ao uso da madeira para substituir o concreto, como forma de aumentar o armazenamento de CO2.

Operação

A empresa não planta árvores para depois cortá-las. Sua matéria-prima são árvores nativas da floresta, e o corte ocorre em um regime de manejo sustentável. O trabalho envolve um mapeamento quase artesanal, segundo a companhia: funcionários entram a pé na floresta, avaliam as árvores com valor comercial, medem o diâmetro de cada uma e estimam sua altura. Esses dados vão ajudar a Precious a escolher algumas poucas árvores para cortar durante um determinado período. O plano de manejo estabelece que os cortes naquele polígono de mata só poderão se repetir dentro de 35 anos.

O Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, tem hoje 1,3 milhão de hectares de florestas públicas em cinco Estados, concedidas a grupos privados, cooperativas e associações. Até o momento, a Precious Woods não tem nenhuma concessão do SFB. As concessões estabelecem critérios para extração sustentável de madeira, frutos, plantas e também para serviços de turismo.

As árvores que os empregados da Precious Woods cortam no Amazonas — entre elas maçaranduba, cumaru, angelim vermelho, cedrinho, jatobá, louro itaúba, cupiúba — são serradas e embarcadas para abastecer o mercado interno, e, principalmente, a Europa. Parte das exportações também segue para Ásia e Estados Unidos.

Construções aquáticas, como pontes, que exigem estruturas resistentes à água, além de móveis, pisos e peças para áreas externas, são alguns dos principais usos das madeiras que os suíços vendem.

A Precious Woods está em um mercado de nicho — das madeiras tropicais certificadas. Dois outros nomes importantes do segmento são a também suíça Interholco e a CIB, de Singapura. Ambas têm operações na República Democrática do Congo.

A Forest Stewardship Council (FSC) emite a certificação — que atesta o corte sustentável nas áreas florestais da Precious Woods — desde 1997, e o Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC), desde 2017.

Segundo o executivo suíço, o manejo sustentável coloca a empresa em uma posição confortável em relação às novas regras de comércio da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês), que passarão a ser aplicadas a partir de 1 de janeiro de 2026. O texto apresenta uma lista de commodities que os europeus só poderão importar se ficar atestado que sua produção não contribuiu com desmatamento. Madeira é um dos itens sujeitos às novas regras.

Informações: Globo Rural.

Featured Image

Empresas de celulose impulsionam a economia de Três Lagoas e região

O impacto da indústria vai muito além da produção

Três Lagoas consolidou-se como um dos maiores polos de produção de celulose do mundo, e essa trajetória de sucesso começou com a chegada da Votorantim, hoje sucedida pela Suzano. Atualmente, uma das maiores produtoras globais do setor, a empresa apostou no potencial da cidade sul-mato-grossense, ao adquirir sua primeira fábrica em 2009. O sucesso da operação foi tamanho que, em 2017, a companhia inaugurou uma segunda unidade, transformando Três Lagoas na unidade mais produtiva da Suzano em todo o país.

O impacto da indústria vai muito além da produção. A presença da indústria de celulose impulsionou a economia local, gerando milhares de empregos diretos e indiretos, fortalecendo o comércio e atraindo novos investimentos para a região. Para o gerente industrial da Suzano de Três Lagoas, Eduardo Ferraz, essa decisão pioneira mostra a confiança da empresa no potencial do município. “A empresa sempre acreditou no potencial de Três Lagoas para a indústria de celulose. Isso mostra o quanto a gente acredita na região. Além dos empregos e da arrecadação de impostos, falamos de um crescimento orgânico da economia local”, afirma Ferraz.

Eldorado Brasil se une ao polo industrial

A chegada da Eldorado Brasil, em 2012, consolidou Três Lagoas como referência mundial no setor. A planta da empresa entrou em operação como a segunda grande indústria de celulose da cidade, reforçando a vocação industrial da região.

Carregamento de fardos de celulose – Eldorado Brasil.

Atualmente, a unidade da Suzano tem capacidade instalada para produzir mais de 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, figurando entre as maiores do mundo. Já a Eldorado Brasil opera com uma produção anual de 1,7 milhão de toneladas, mas já planeja uma expansão que pode dobrar essa capacidade nos próximos anos.

Juntas, essas gigantes da celulose não apenas transformaram Três Lagoas em um centro industrial de destaque internacional, como também ajudaram a reconfigurar a economia de Mato Grosso do Sul, tornando o setor de base florestal um dos pilares do desenvolvimento estadual.

Informações: RCN67.

Featured Image

Produção de papel, celulose e petróleo cresce no ES em abril, mas indústria capixaba registra queda geral

A produção industrial do Espírito Santo apresentou resultados contrastantes no mês de abril, conforme levantamento da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Regional (PIM-PF), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e compilado pelo Observatório da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).

Enquanto os segmentos de celulose e papel e de petróleo e gás natural registraram crescimento, o desempenho geral da indústria capixaba apresentou retração de 3,5% na comparação com março, já com ajuste sazonal. Essa queda interrompe dois meses consecutivos de alta: 1,4% em fevereiro e 5,9% em março.

Segundo o presidente da Findes, Paulo Baraona, o cenário reflete os desafios macroeconômicos enfrentados pelas indústrias. “O setor industrial vem se empenhando para continuar avançando, mas esbarramos no alto patamar dos juros. Taxas mais altas significam crédito mais caro para as empresas e os consumidores. No caso das empresas, ele inviabiliza investimentos e dificulta o acesso a recursos de capital de giro, por exemplo, essenciais para as necessidades do dia a dia”, destacou.

Indústria de transformação retrai, mas celulose e papel avançam

Entre os quatro segmentos industriais avaliados pelo IBGE no Espírito Santo, três apresentaram desempenho negativo em abril:

Segmento industrialVariação mensal (abr/mar)
Fabricação de produtos alimentícios-11,1%
Fabricação de produtos de minerais não metálicos-2,2%
Metalurgia-1,7%
Fabricação de celulose, papel e produtos de papel+15,2%

A alta expressiva de 15,2% no setor de papel e celulose é atribuída à ausência de paradas programadas na unidade da Suzano no Espírito Santo no segundo trimestre. “No primeiro trimestre, tivemos uma parada programada na linha C. A próxima está prevista apenas para o último trimestre, na linha B”, explicou a economista-chefe da Findes, Marília Silva.

Petróleo e gás natural: produção avança com força do campo Jubarte

A indústria extrativa teve avanço de 1% na passagem de março para abril. Embora o IBGE não detalhe os dados por tipo de extração, o Observatório Findes analisou os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que apontam aumento relevante da produção no Estado.

IndicadorMarçoAbrilVariação mensal
Produção de petróleo (bbl/dia)154,4 mil166,7 mil+8%
Produção de gás natural (mil m³/dia)3,39 mil3,8 mil+12,2%

“O crescimento da produção foi puxado pelo bom desempenho do campo de Jubarte, localizado na Bacia de Campos, no litoral sul do ES, que registrou alta de 7,9% na produção de petróleo e 15,4% na de gás natural”, detalhou Nathan Diirr, economista do Observatório Findes.

As plataformas P-58, FPSO Cidade de Anchieta e P-57 foram os principais motores do aumento. Em contrapartida, o FPSO Maria Quitéria operou abaixo de 10% da capacidade em abril, com menor contribuição ao total produzido.

Ambiente macroeconômico e conjuntura global pressionam indústria

De acordo com Marília Silva, o desempenho da indústria entre janeiro e abril foi impactado por uma série de fatores:

  • Inflação elevada
  • Taxa de juros alta
  • Incertezas no cenário internacional
  • Paradas programadas em fábricas e unidades extrativas no ES

A taxa Selic, por exemplo, passou por três elevações no ano e alcançou 14,75% ao ano, uma das mais altas em duas décadas. “O Comitê de Política Monetária ainda não sinalizou quando irá iniciar cortes. O mercado espera que a taxa permaneça elevada ao menos até 2026, podendo recuar para algo em torno de 12,5%”, destacou.

No acumulado de 12 meses até maio, a inflação medida pelo IPCA subiu de 4,56% (janeiro) para 5,32%, acima da meta oficial de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual. Na Grande Vitória, a inflação foi de 5,15% no mesmo período.

Em relação ao cenário internacional, as incertezas ligadas à política econômica dos Estados Unidos, especialmente sobre taxações de importações, afetaram a confiança dos mercados. “Por ora, os dados de abril mostram que não houve impactos significativos, o que pode aliviar as tensões futuras”, observou Marília.

Indústria resiliente

Apesar dos desafios, o presidente da Findes reforça a força do setor no Espírito Santo. “Estamos falando de mais de 20 mil indústrias que geram quase 273 mil empregos formais, de norte a sul do Estado. O setor é resiliente, aprende com os desafios e permanece firme na busca pelo crescimento socioeconômico do Espírito Santo”, concluiu Paulo Baraona.

Informações: Findes.
Featured Image

Governo congela leilão da Rota da Celulose após polêmica; confira

Suspensão ocorre após K-Infra perder concessão de rodovia no RJ

O governo de Mato Grosso do Sul suspendeu os prazos do leilão da Rota da Celulose, que prevê a concessão de 870 km de rodovias. A decisão veio após a K-Infra, uma das empresas do consórcio vencedor, perder a concessão da BR-393 no Rio de Janeiro. “Realizaremos diligências para a correta instrução do processo licitatório”, informou o Estado em nota oficial.

A suspensão ocorreu um dia após a K-Infra ser retirada da chamada Rodovia do Aço por decisão da ANTT e do DNIT. A própria empresa confirmou a saída. “Fomos compelidos a interromper todas as operações de atendimento ao usuário”, declarou em comunicado. A empresa alegou que a decisão inviabilizou serviços como socorro médico e mecânico, e disse ter herdado problemas da antiga concessionária.

A K-Infra afirmou ainda que apresentou um plano de investimentos de R$ 1,6 bilhão ao Ministério dos Transportes. “A caducidade representa uma punição a quem agiu com responsabilidade”, afirmou. A empresa prometeu recorrer ao STF, argumentando que a decisão foi tomada “sem a devida observância ao contraditório e à ampla defesa”.

O segundo colocado no leilão, consórcio liderado pela XP, questionou a validade de documentos do grupo vencedor e pediu sua desclassificação. “Foram identificados diversos documentos emitidos fora do prazo determinado pelo edital”, declarou. Também foi levantada a preocupação com a saúde financeira da K-Infra, cujo capital social é de apenas R$ 10 mil.

A concessão da Rota da Celulose inclui trechos das BRs 262 e 267 e da MS-040, com previsão de 12 praças de pedágio e contrato de 30 anos. Ainda não há nova data para retomada do processo. “O procedimento legal foi seguido, com ampla defesa da concessionária”, afirmou George Santoro, do Ministério dos Transportes.

Informações: Capital News.

Anúncios aleatórios

+55 67 99227-8719
contato@maisfloresta.com.br

Copyright 2023 - Mais Floresta © Todos os direitos Reservados
Desenvolvimento: Agência W3S