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Reflorestamento com mudas cobre solo acima da meta em MT, mas diversidade ainda é baixa

Uma avaliação feita após oito anos de instalação de diferentes estratégias de restauração de reserva legal na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), mostrou que em áreas com plantio de mudas a cobertura do solo pelas copas já superou os indicadores determinados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) para aferir o êxito na revegetação. Porém, no que diz respeito à quantidade de regenerantes e a diversidade de espécies, o cenário observado ainda é insuficiente.

A Sema-MT estabelece três parâmetros que devem ser alcançados em até 20 anos para avaliação de sucesso na recomposição florestal em áreas com mais de quatro módulos fiscais. O primeiro é a cobertura do solo gerada pela copa das árvores com mais de dois metros de altura, que deve ser superior a 80% com espécies nativas. O segundo é a densidade de regenerantes com o mínimo de 3 mil indivíduos por hectare. O terceiro diz respeito à riqueza da diversidade, com ao menos 20 espécies diferentes entre os indivíduos regenerantes.

O pesquisador da Embrapa Florestas (PR) Ingo Isernhagen (foto à direita) ressalta que a avaliação foi feita faltando 12 anos para o prazo final para atingir os parâmetros. Porém, os dados já são indicadores importantes considerando-se que se trata de uma área experimental:

“Este é o único experimento com esse nível de monitoramento e com essa idade que tenho conhecimento em Mato Grosso. É importante termos esses parâmetros para se pensar em possíveis intervenções para contribuir para o alcance dos indicadores definidos pela Sema. Mas não quer dizer que se deixarmos de mexer não vai acontecer nada”, avalia o pesquisador.

Aprimorando parâmetros ambientais

Tanto a legislação brasileira que trata sobre a proteção da vegetação nativa, conhecida como Novo Código Florestal Brasileiro (Lei Federal nº 12.651/2012), quanto o Decreto Estadual nº 1.491/2018 que aborda os Programas de Regularização Ambiental (PRA) definidos após análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR) são recentes. No caso de Mato Grosso, os parâmetros adotados pela Sema se basearam nos poucos estudos existentes até então, alguns deles em outros biomas. Dessa forma, resultados da pesquisa conduzida na Embrapa Agrossilvipastoril podem contribuir para melhorias nos parâmetros adotados.

Foto: Gabriel Faria (experimento de recomposição de reserva legal na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop, MT)

“Nosso estudo vem somar ao que a Sema vem recebendo de relatórios das áreas já em recuperação. É mais um tijolinho do conhecimento. É um lugar em que conseguimos analisar com mais critérios, de forma mais controlada, o caminhar desse processo de construção no alcance dos indicadores. É salutar que a Sema avalie agora ou daqui a alguns anos e faça alguma adequação que seja necessária”, sugere Isernhagen.

O estudo completo pode ser conferido na publicação “Avaliação de indicadores de monitoramento em experimento de recomposição florestal de Reserva Legal na Amazônia Meridional, médio norte do Mato Grosso”, disponível para download aqui.

Como foram feitos os experimentos

Os ensaios sobre restauração de reserva legal da Embrapa Agrossilvipastoril foram instalados em 2012 com o objetivo de gerar informações sobre as diferentes técnicas de adequação ambiental para a região médio-norte de Mato Grosso, considerando a possibilidade de uso econômico das áreas com produção de bens madeireiros e não madeireiros.

Foram feitos tratamentos utilizando plantio de mudas, plantio direto de sementes ou semeadura à lanço e ainda a regeneração natural por meio do isolamento da área. Foram usadas espécies nativas com diferentes propósitos, tanto considerando serviços ecossistêmicos quanto produção de frutos, essências e madeira. Conforme permite a lei, em um dos tratamentos com mudas também foi usado o eucalipto, que é uma espécie exótica, sendo uma fonte de renda a médio prazo que poderia compensar gastos com a recuperação da área.  Na avaliação feita aos oito anos conforme parâmetros da Sema-MT só os tratamentos com plantio de mudas foram acompanhados.

Foto: Gabriel Faria (retirada de toras de eucalipto plantado em um dos tratamentos com plantio de mudas)

Os diferentes métodos utilizados

Para se definir a área de cobertura do solo pela copa foram usados diferentes métodos, como forma de comparar os resultados de cada um deles. Além do método recomendado pela Sema, com observação a cada metro em uma parcela de 25m x 2m, foi utilizado o densiômetro de copa e quatro aplicativos gratuitos para esse fim: GLAMA Aplication, Canopy Capture, Canopy App e Canopy Cover Free. A leitura do densiômetro é subjetiva, por isso recomenda-se que uma mesma pessoa faça a avaliação de todos os talhões como forma de manter um padrão. Já os aplicativos utilizam a câmera do celular para calcular a área coberta.

“A percepção em campo é que, de forma geral, a aplicação dos métodos de detecção de cobertura de copa arbórea com o uso dos aplicativos, embora rápida, mostrou-se bastante sensível às variações de luminosidade geradas, por exemplo, pela passagem de nuvens e mesmo a movimentação das copas das árvores”, explica Ingo Isernhagen justificando o alto desvio padrão encontrado na leitura dos aplicativos.

Para todos os tratamentos avaliados, o aplicativo GLAMA e o protocolo Sema foram os que apresentaram os maiores valores de cobertura de copa.

Entre os tratamentos avaliados, aquele que teve menor percentual de cobertura de copa foi justamente aquele com eucalipto. Isso ocorreu tanto pela retirada de árvores no primeiro desbaste feito, quanto pela mortalidade de alguns indivíduos devido ao ataque de formigas.

Regenerantes

A avaliação aos oito anos mostrou que a área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril ainda está longe de atingir o indicador estipulado pela Sema-MT aos 20 anos no que diz respeito aos regenerantes. O tratamento que teve maior número de regenerantes teve 1.083 indivíduos por hectare, enquanto o que teve menor número só foram encontrados 483 indivíduos em um hectare.

No que diz respeito à riqueza da diversidade, os dois tratamentos com melhor desempenho possuem dez espécies e o pior desempenho possui apenas cinco espécies.

Esses resultados parciais levam à discussão sobre possíveis intervenções na área, como podas de árvores para maior entrada de luz no sub-bosque, plantio de novas mudas ou semeadura.

“Estamos articulando com potenciais parceiros em busca da viabilização de recursos para insumos e mão-de-obra que possibilitem fazer as intervenções para termos cenários com e sem intervenção ao longo do tempo”, explica Diego Alves Antônio, engenheiro florestal e analista da Embrapa.

Há ainda a possibilidade de os oito anos da avaliação serem pouco tempo para a evolução desses indicadores. Isernhagen lembra que nos próximos anos haverá morte de árvores de ciclo mais curto, como embaúbas, abrindo clareiras e que a serrapilheira depositada seguirá melhorando as condições químicas e físicas do solo. Há também a tendência de maior circulação de animais dispersores de sementes com o bosque formado.

“Nosso objetivo é trazer contribuições para os produtores que precisam recuperar suas áreas, quer seja apenas para atingir os parâmetros exigidos pela Sema, quer seja para obter renda com a exploração econômica de madeira, frutos e essências produzidas na área recuperada”, declara Isernhagen.

Além dos três parâmetros determinados pela Sema-MT, também está sendo avaliado no experimento o aporte de carbono no solo. Uma pesquisa futura, realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), irá avaliar o estoque de carbono na biomassa das árvores.

Restauração em rede

Há décadas a Embrapa imprime esforços visando à restauração de ambientes degradados, que geraram dezenas de projetos para este fim. Em um trabalho recente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), iniciado em 2024, e intitulado Florestas Produtivas, a Embrapa Florestas tem contribuído por meio dos Sistemas Agroflorestais de Referência e sua viabilidade financeira, que visam à mitigação da fome e mudanças climáticas. Esses sistemas agroflorestais estão sendo adaptados às realidades locais e começaram a ser implantados primeiramente no Bioma Amazônia, em assentamentos no Pará e no Maranhão, e seguirão pelo Cerrado, Mata Atlântica, e demais biomas, integrando ações.

Outra ação importante a ser realizada pela Embrapa para recuperar ecossistemas degradados, aliando conservação ambiental e produção agrícola sustentável consistirá no resgate de projetos bem-sucedidos antigos que foram, no entanto, descontinuados com o passar do tempo. Ambos enfatizam a necessidade de viabilidade econômica e inclusão social, garantindo que as soluções sejam aplicáveis em larga escala. Com a organização desses dados e sua disponibilização em rede, será possível integrar as diversas tecnologias já criadas pela Embrapa.

“Estamos chamando este trabalho de restauração produtiva e vamos começar com três estados, Pará, Maranhão e Mato Grosso, para, justamente, em Unidades de Referência Tecnológica (URTs) restaurar áreas degradadas com viés de produção, e utilizar vários métodos e tecnologias já consagrados, pela Embrapa. Com boa gestão, terão produção elevada, mantendo o solo conservado, água limpa, evitando erosão, que vão agregar mais valor e renda àquela propriedade, com a comercialização dos seus produtos. Estes vão gerar as informações com coeficientes técnicos e indicadores financeiros que gerarão subsídios para auxiliar políticas públicas, e assim para ganhar escala. Esse é o viés social, que envolve mais famílias”, explica Marcelo Arco-Verde, chefe-geral da Embrapa Florestas.

Buscando articular pesquisadores e iniciativas como estas, surgiu há menos de um ano o RestauraBio, uma rede colaborativa dentro da Embrapa, que atua no mapeamento de projetos antigos e na estruturação de novos, como as Unidades de Referência Tecnológica (URTs). “A rede é uma facilitadora, integrando projetos como Florestas Produtivas e o resgate de dados antigos. Sua governança ainda está em construção, mas seu papel é vital para evitar a fragmentação do conhecimento”, frisa Arco-Verde.

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O agronegócio pode ser uma solução para a agenda climática?

Especialistas garantem que país pode ajudar a frear o aquecimento global se ocupar áreas degradadas com agropecuária sustentável

Há quem acredite ainda que agropecuária e meio ambiente ficam em lados opostos quando o assunto é desenvolvimento, mas para que o planeta não continue aquecendo e sofrendo cada vez mais por causa das mudanças climáticas, é fundamental entender que os dois setores precisam estar de mãos dadas. Por sinal, tanto ambientalistas quanto líderes do agronegócio hoje entendem que a produção de alimentos pode muito bem deixar de ser apontada como vilã ambiental, para se tornar a maior aliada na luta para a redução na emissão de gás carbônico na atmosfera. 

Federações e associações ligadas à agropecuária devem levar para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Conferência das Partes (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA), as mais diferentes pesquisas, projetos e soluções que mostram como é possível produzir alimentos de maneira escalonada e sustentável, retendo o carbono no solo e limpando um ar tomado por gases produzidos pelas mais diferentes queimas – veículos, indústria, queimadas etc. Afinal, todas as plantas realizam fotossíntese e podem reter carbono em suas raízes e caule durante o processo natural, a partir do gás carbônico absorvido por elas. 

Especialistas explicam que, investindo na ampliação de práticas sustentáveis para agricultores e pecuaristas e todo o país, o Brasil garante melhor rentabilidade para a produção de alimentos e maior resiliência do solo, possibilitando uma maior sobrevivência do cultivo em relação às mudanças climáticas, como chuvas intensas ou estiagem mais forte do que era registrado anteriormente. 

Thais Ferraz, diretora programática do Instituto Clima e Sociedade (iCS), organização filantrópica que apoia projetos de enfrentamento às mudanças climáticas, afirma que o Brasil tem toda a condição de aumentar a quantidade de alimento produzido sem abrir mão de requisitos de sustentabilidade – especialmente se ocupar de forma inteligente os mais de 100 milhões de hectares de áreas degradadas, sem precisar expandir áreas de plantio ou pastagem para onde hoje existe vegetação nativa. 

“Essas áreas podem ser recuperadas com práticas muito mais sustentáveis. Isso pode ampliar o volume de produção do Brasil e já com critérios de sustentabilidade, podendo  agregar ainda mais valor para esse tipo de transação comercial”, afirma Thais, para quem o Brasil pode muito bem liderar um debate internacional sobre a importância da agropecuária para a agenda climática. “Também não se pode esquecer do papel fundamental que o agro tem na garantia do controle do desmatamento, que ainda é o principal impacto em termos de emissões na matriz brasileira”.

De acordo com Kamyla Borges, líder em agricultura sustentável do iCS, uma estimativa da Universidade Federal de Goiás (UFG) indica que o Brasil possui cerca de 179 milhões de hectares de pastagens, sendo que cerca de 60% apresentam algum nível de degradação (108 milhões de hectares). Minas é o estado com maior área degradada (17,2 milhões de hectares), seguido de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.  

A especialista indica que essas áreas podem ser transformadas em áreas sustentáveis e mais produtivas para a pecuária “desde que realizada com uma boa estrutura de manejo, que tenha uma profissionalização, um pasto bem cuidado, que tenha adoção de práticas como rotação das áreas de pastoreio por parte do gado”. 

“Esse rebanho precisa de suplementação com ração, uma boa qualidade vacinal, algum melhoramento genético. Ou seja, um conjunto de cuidados que indicam que essa pecuária está caminhando para uma estrutura de manejo adequada e um manejo que olha também os aspectos de sustentabilidade, como, por exemplo, a redução de metano e assim por diante”, explica Kamyla Borges.

Embora o país já detenha muito conhecimento sobre soluções sustentáveis e tecnológicas para os 108 milhões de áreas degradadas, colocá-lo em prática demanda planejamento. Por isso, o iCS, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e outras entidades se uniram para desenvolver um Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis, publicado no ano passado. 

O documento faz um mapeamento das áreas degradadas a partir de critérios técnicos, jurídicos e climáticos. “Tentou-se fazer algumas avaliações econômicas na perspectiva de avaliar, por exemplo, quais áreas estão bem servidas com frigoríficos. Então, se no raio de 100 km houver frigorífico, isso é um indicativo positivo, econômico de que aquela área tem um bom potencial para a pecuária”, exemplifica Kamyla.

De acordo com Antônio de Salvo, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), o Brasil pode mostrar ao mundo que possui soluções sustentáveis ao produzir culturas de grande importância comercial, como soja, milho, café, cana de açúcar e eucalipto – além da pecuária bovina. 

“Se existe alguém que pode barrar as mudanças climáticas no mundo e se existe alguma atividade que é a principal responsável para atenuar isso é a agricultura brasileira. Porque nós estamos fazendo isso 365 dias por ano, diferentemente da Europa ou dos Estados Unidos, que produzem num curto período e depois lidam com neve”, afirma o presidente da Faemg. “Nós alimentamos 1 bilhão de pessoas e ainda limpamos o ar”.

Segundo Daniel Trento, coordenador executivo do Grupo de Trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a COP30, o debate sobre a agropecuária passou a ter maior relevância na Conferência das Partes em 2023, quando a COP28 foi realizada em Glasgow, na Escócia. 

Agora, o Brasil poderá protagonizar um debate relevante sobre ampliação da agricultura sustentável. A Embrapa, por exemplo, vai levar para a COP30 os resultados de suas pesquisas sobre agricultura de baixo carbono,  lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, bioinsumos, sistemas florestais na Amazônia, entre outros.

“Boa parte das tecnologias hoje utilizadas na produção agropecuária são com base em ciência, vem com base em muita pesquisa da Embrapa, de institutos de pesquisa e universidades. Isso já chega no produtor e tem feito a diferença”, afirma Trento, garantindo que muitos projetos de adaptação e mitigação já vêm colocados em prática nos últimos anos.

Questão de sobrevivência

Seguir por um caminho sustentável é uma questão também de sobrevivência para o setor agropecuário, justamente por ser o mais afetado pelas mudanças climáticas (como excesso ou falta de chuvas), de acordo com Gabrielle Ferreira Pires, líder do Grupo de Pesquisas em Climatologia Aplicada da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

“Por um lado, a gente precisa se adaptar a esse clima, por isso é importante estar atento às questões climáticas e ao rumo que as coisas estão tomando, segundo a ciência. E, por outro, existem as oportunidades relacionadas a contribuir para a mitigação das mudanças climáticas”, diz a professora.Cultivo de soja combinado com eucalipto em Mato Grosso. Foto: Gabriel Faria / Divulgação

Para que a agropecuária possa, ao mesmo tempo, se preparar para o pior e ainda contribuir para mitigação do aquecimento global é preciso pensar em três pilares, de acordo com a especialista: adaptação, mitigação e economia. “Então o que seria a adaptação climática? É considerar que a gente tem um clima adverso e a gente vai continuar dentro nas próximas décadas e a gente precisa se adaptar a essa situação. Muitas decisões precisam ser tomadas no sentido de adaptar os sistemas produtivos. Já a mitigação seria buscar diminuir as emissões de gases de efeito estufa, ou seja, diminuir, reduzir, zerar e até remover o carbono da atmosfera. Mas também tem que ter um pilar econômico, precisa fazer sentido para o produtor, ele precisa ter uma segurança econômica”, conclui.

Para que as adaptações possam ser feitas com sucesso, pesquisas são realizadas em diversas universidades públicas do país. Na meteorologia agrícola da UFV, por exemplo, estão sendo realizadas pesquisas sobre efeitos do desmatamento, múltiplas safras, efeitos das mudanças climáticas no solo, entre outros.

Plantio direto é uma boa solução

Existem várias técnicas para tornar uma propriedade mais sustentável tanto para o meio ambiente quanto para o bolso do produtor, como combinar pastagem para pecuária com o plantio de eucalipto ou promover rotações de culturas. Uma das principais tecnologias empregadas em sistemas sustentáveis, tanto para pequenos quanto grandes cultivos, é a do plantio direto – que consiste em não revolver o solo com arado e aproveitar a matéria orgânica de produções anteriores para retenção do carbono no solo – e reter carbono significa menos gás carbônico na atmosfera e, consequentemente, menos efeito estufa. 

“Quando você tem sistemas que são bem manejados, quando se mantém essa matéria orgânica, a gente pode considerar como carbono neutro ou até com um balanço negativo de carbono, ou seja, está sequestrando mais carbono do que jogando ele para a atmosfera”, explica José Mário Lobo, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

De acordo com o especialista, os microorganismos no solo geram uma “cola” natural que não retém somente o carbono, mas também a água da chuva, que depois será escoada naturalmente para o lençol freático. “E a gente tenta minimizar outros componentes que podem gerar distúrbios, que são os pesticidas, e diminuir a dependência de insumos externos. Hoje o Brasil é muito dependente da importação de fertilizantes de potássio, nitrogênio e fósforo. Para se ter uma ideia, em 2020, 96% dos nitrogenados eram importados”, argumenta Lobo, apontando ainda que as propriedades que adotam esse sistema agrícola são mais resilientes sobre as mudanças climáticas – ou seja, suportam mais os efeitos das temperaturas altas, das chuvas escassas ou das tempestades. 

Aos poucos, essa técnica vai chegando aos produtores. Em 2021, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) deu início ao projeto Construindo Solos Saudáveis, levando o plantio direto para unidades demonstrativas em diversas partes do estado. 

Uma delas é a propriedade do Daniel Capella, de 45 anos, em Itatiaiuçu, na região metropolitana de Belo Horizonte. No fim do ano passado, ele cultivou diversas hortaliças, como alface, quiabo, repolho, vagem e mostarda, usando a técnica ensinada pela Emater. Primeiro ele plantou sementes de leguminosas e usou as plantas para gerar uma “palhada” – a matéria orgânica que deixou o solo poroso e perfeito para semear as hortaliças.Daniel Capella (à esquerda) recebe capacitação de técnico da Emater-MG. Foto: Rafael Soal/Emater-MG

“Estou fazendo a primeira colheita e posso adiantar que a densidade dos repolhos foi muito maior, ou seja, ficou mais pesado. Como o repolho a gente vende no quilo, foi um benefício muito grande para a gente”, relata Capella, acrescentando que percebeu também uma grande economia na hora de adubar o solo no processo. “Usei muito menos esterco”.

O que falta para todo mundo adotar a sustentabilidade?

Se as tecnologias sustentáveis oferecem ao produtor muitos ganhos econômicos, por que todos os agricultores e pecuaristas brasileiros ainda não aderiram às soluções sustentáveis? Para José Mário Lobo, é preciso engajar especialmente os grandes produtores, fazer chegar a eles esse conhecimento. “A gente precisa de capacitação, principalmente de técnicos que podem dar assistência para esses produtores e orientar na adoção dessas práticas. Isso depende de política pública, de mobilizar federações, associações e cooperativas de agricultores”, opina. 

Segundo ele, é preciso acabar com o antigo pensamento que coloca agro e meio ambiente em lados opostos. “As mudanças climáticas estão mostrando para os produtores que se eles não mudarem os modelos mentais, eles vão aumentar a vulnerabilidade em relação aos aos eventos extremos que estão acontecendo por causa das mudanças climáticas”.

Para Kamyla Borges, do iCS, é preciso engajar os produtores através de incentivos econômicos, como o recém-lançado Caminho Verde, um programa nacional de conversão e recuperação de pastagens degradadas. A ideia é que, no final da linha, cheguem ao produtor rural linhas de financiamento atrativas. Para que o produtor possa converter a sua pastagem num uso mais produtivo, sustentável, ou melhorar a qualidade da sua atividade pecuária”, diz a especialista, lembrando que no Plano Safra já existe uma linha de financiamento voltada para recuperação de pastagens. 

Mas Kamyla faz um alerta: o recurso ofertado tem realmente que ser usado para a recuperação ambiental da propriedade, para que não haja perpetuação do problema. “Um estudo recente da Agroícone sobre pastagens degradadas mostra que, a concessão do crédito está indo para a aquisição de gado e para áreas com um alto nível de degradação das pastagens. Então, assim, os bancos e o Plano Safra não estão enxergando de fato a finalidade desse crédito, porque não faz sentido você conceder crédito para aquisição de mais bois, se esse gado vai estar localizado numa pastagem ruim”.

Já o presidente da Faemg, Antônio de Salvo, afirma que os produtores não querem ter propriedades degradadas, mas muitas vezes não se sentem confiantes o suficiente para tomar empréstimo para investir em melhorias nas pastagens. Para ele, os governos precisam fazer os investimentos certos, para que os produtores se sintam incentivados a fazer o mesmo. “Como posso investir, se não sei se a BR-381 vai ser duplicada e vai trazer o que eu preciso para a minha região? Como posso ter confiança em investimento se eu não tenho confiança no que o governo faz, por que ele gasta mais do que arrecada?”, questiona.

Para Daniel Trento, da Embrapa, o  produtor rural é muito pragmático em suas escolhas e isso deve ser levado em conta ao se apresentar propostas a ele. “Essas práticas têm que ter viabilidade e fazer sentido para o seu dia a dia. Incentivos econômicos reais, como acesso a crédito, pagamento por serviços ambientais (PSA), prêmios por produção sustentável e valorização no mercado externo, entre outros mecanismos, são exemplos de como isso é possível”, explica Trento.

O especialista da Embrapa reforça que é fundamental o país investir em assistência técnica e capacitação continuada, porque muitos agricultores ainda desconhecem boa parte das tecnologias. Além disso, deve-se oferecer reconhecimento e valorização social. “Mostrar que quem produz de forma sustentável é protagonista da solução climática, e não vilão. Isso inclui dar visibilidade aos bons exemplos e integrar os produtores aos fóruns de decisão climática. Para isso, ter uma estratégia de comunicação eficaz é essencial, deve-se traduzir os conceitos da agenda climática para a linguagem do campo e mostrar ganhos concretos de produtividade, rentabilidade e resiliência”, completa.

Ações em Minas

Destaque nacional na geração de energia limpa, especialmente solar, Minas também tem investido estrategicamente no setor agropecuário para cumprir a meta de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. Entre os planos estão a aceleração da implementação do Plano ABC+, que prevê não só a recuperação de pastagens, mas também a adoção de tecnologias como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e sistemas agroflorestais; o fomento à suplementação alimentar do rebanho, melhoria genética e manejo de dejetos, que são práticas reconhecidas por reduzir significativamente as emissões de metano entérico; e o estímulo à geração de créditos de carbono no setor agropecuário.

“O agro pode e deve ser parte da solução (para os efeitos do aquecimento global), conciliando produção, geração de renda e sustentabilidade climática”, afirma a secretária de Meio Ambiente, Marília Carvalho de Melo, que vai apresentar o que o estado tem feito durante a COP30.

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Imprimir importa: os consumidores preferem o papel para aprender, confiar e viver no dia a dia

Apesar do crescimento contínuo das plataformas digitais, uma nova pesquisa mostra que os consumidores continuam a valorizar a mídia impressa, principalmente quando se trata de compreensão, confiança e aprendizado. A Pesquisa Trend Tracker 2025, realizada pela Toluna para Two Sides, um dos maiores e mais abrangentes estudos da indústria de impressão e papel, revela uma valorização consistente e resiliente da impressão na vida cotidiana.

A pandemia de Covid-19 trouxe grandes interrupções no consumo de mídia impressa, remodelando a forma como os consumidores interagiam com notícias e conteúdo impresso. Embora o mundo digital possa oferecer praticidade e velocidade, a pesquisa destaca que a preferência pela leitura impressa se recuperou desde a pandemia e é o formato preferido para livros, revistas e documentos importantes. De fato, 61% dos consumidores brasileiros e 72% dos argentinos preferem livros impressos. Em se tratando de revistas impressas a preferência é de 32% (Brasil) e 41% (Argentina) e quanto a catálogos comerciais, a pesquisa mostrou que 19% (Brasil) e 20% (Argentina) tendem a escolher as versões impressas.

A impressão ainda é preferida onde é mais importante. Quando se trata de comunicações essenciais, como informações médicas, demonstrações financeiras e documentos legais, os consumidores escolhem consistentemente o impresso em vez do digital por sua segurança, clareza, confiabilidade e permanência:

  • 53% (BR) e 48% (AR) preferem bulas e receituários impressos
  • 46% (BR) e 46% (AR) preferem receber exames e relatórios médicos e hospitalares impressos
  • 84% (BR) e 81% (AR) querem ter o direito de escolher se receberão seus extratos e contas impressas ou no formato digital

As descobertas deste ano refletem um comportamento mais consciente do consumidor em relação a requisitos de sustentabilidade, ainda que não se perceba grandes variações dos indicadores quando comparados aos resultados anteriores. Embora as ferramentas digitais sejam valiosas, as pessoas reconhecem cada vez mais os pontos fortes únicos da impressão, especialmente onde a compreensão, a memória e a confiança são críticas.”  diz Fabio Mortara, presidente de Two Sides América Latina.

O papel da impressão no aprendizado e na compreensão

Além dos documentos cotidianos, a impressão continua a desempenhar um papel vital na educação e no consumo de notícias. A pesquisa descobriu que:

  • 65% (BR) e 57% (AR) acreditam que os alunos aprendem melhor usando materiais impressos do que digitais
  • 38% (BR) e 39% (AR) estão preocupados com o desaparecimento dos jornais impressos
  • 60% (BR) e 65% (AR) estão preocupados com os prejuízos à saúde decorrentes do uso excessivo de dispositivos eletrônicos.

Em uma época em que as pessoas dedicam tempo demais às telas já se percebe um desejo crescente de se desconectar e ampliar a experiência com o tangível. O impresso oferece uma experiência física que o digital simplesmente não pode replicar – sem pop-ups, sem distrações, apenas uma maneira mais imersiva e calma de consumir informações.

A mídia impressa não é apenas relevante, é mais sustentável do que a maioria das pessoas pensa. Livros impressos, jornais, revistas, correspondência publicitária e outras peças de comunicação em papel são recicláveis, biodegradáveis e sua matéria-prima é renovável – árvores cultivadas e fibras recicladas. Frequentemente vemos apelos ambientais quanto à maior sustentabilidade das mídias digitais, no entanto estas têm impactos ambientais muito elevados, que costumam ser completamente negligenciados.

Mortara continua: “A pesquisa Trend Tracker 2025 de Two Sides deixa uma coisa clara: mesmo com a constante evolução da tecnologia, o impresso continua sendo confiável, valorizado e essencial na vida moderna. Do aprendizado e alfabetização à tranquilidade jurídica, o papel ainda se destaca onde mais importa.”

Um resumo do título contendo algumas das principais descobertas está disponível publicamente para visualização e download aqui: https://twosides.info/trend-tracker-2025.

Os dados completos da pesquisa, divididos por país, idade e sexo, estão disponíveis apenas para membros de Two Sides ou disponíveis para compra.

Para saber mais sobre a campanha ou como se tornar um membro, visite twosides.org.br.

FIM

O que é Two Sides?

Fundada em 2008, Two Sides é uma iniciativa global, sem fins lucrativos que divulga os atributos únicos, sustentáveis e atraentes do papel e das embalagens de papel, bem como esclarece equívocos comuns sobre seus impactos ambientais. Two Sides é uma colaboração de empresas de celulose, papel, embalagens, gráficas, editoras, jornais e revistas e opera na Europa, América do Norte e do Sul, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Papel, cartão e papelão são recicláveis biodegradáveis e provêm de florestas cultivadas.

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Exclusiva – Silvicultura e cachaça? Conheça a tanoaria no Brasil, que agrega sabor à bebidas, e se destaca como aliada à práticas sustentáveis

“Conhecer a taxonomia botânica destas espécies e seus aspectos silviculturais é decisivo para tornar a bebida mais genuína do Brasil globalmente competitiva”, diz gestor de projetos que financiou estudos sobre a atividade no país

Embora não haja um marco único que aponte o “começo” exato da silvicultura tanoeira como uma atividade organizada no Brasil, pode-se dizer que ela se desenvolveu mais significativamente nas últimas duas a três décadas, à medida que a indústria de bebidas se profissionalizou e a consciência sobre a sustentabilidade e a qualidade da matéria-prima (a madeira) aumentou. Produtores e pesquisadores têm investido em plantios de espécies nativas com potencial para a tanoaria, como bálsamo, jequitibá e castanheira e freijó, buscando atender a essa demanda crescente de forma sustentável.

Em um cenário de crescente valorização de produtos regionais e da sustentabilidade, a produção de madeiras específicas para barris e tonéis, emerge como um nicho de crescente importância. Representa não apenas uma oportunidade econômica, mas também um caminho promissor para valorizar e proteger a rica biodiversidade florestal do Brasil, mas que ainda passa por algumas lacunas.

De acordo com especialistas e estudiosos da área, é necessário incentivar o plantio de espécies adequadas para tanoaria no país, com ciclos de crescimento que permitam o uso da madeira no tempo certo, garantindo a disponibilidade futura.

O geógrafo e gestor de projetos ambientais Fernando Antônio Leite, CEO da startup ‘Roda de Ideias’, participou de um estudo realizado entre 2019 e 2020, em convênio com a UFMG para a análise de um conjunto de amostras de tonéis e barris, além do ‘Projeto Florestas Tanoeiras’, que se refere ao plantio de 3 miniflorestas comerciais e experimentais, em Minas Gerais.

Segundo Fernando, o estudo tem o objetivo de: “Identificar quais são as espécies botânicas que têm vocações para agregarem valor às bebidas alcoólicas, especialmente à cachaça. Os setores tanoeiro e cachaceiro se orientam apenas pelos nomes populares, de forma que você nunca sabe realmente de qual espécie está se falando. Inclusive em muitos casos se constatou espécie totalmente diferentes das informadas nos rótulos”.

Amostras de tonéis/barris e dornas (tridimensionais com pelo menos 1 cm cada lado) em usos foram coletados e enviadas para laboratórios de anatomia da madeira.

“Assim, o principal intuito é orientar os plantios, ou seja, plantar realmente as espécies que têm esta aptidão. Exemplo clássico disso é comprar mudas de mexerica pokan em “viveiros móveis”, sediados em caminhões. Depois de alguns anos descobre se tratar de um limão qualquer. Este não é um problema apenas do setor tanoeiro, mas de todos que têm a madeira como matéria prima ou insumo, como a construção civil e a movelaria, por exemplo. Principalmente nas últimas décadas, com a escassez de madeiras e exigências legais as “substituições” por novas madeiras, mas mantendo os mesmos nomes ficaram mais comuns”, conclui.

Confira no PDF abaixo, um dos laudos obtidos através do projeto para identificação das amostras coletadas.

Nesse contexto, o Prof. Dr. Benjamim Mendes, aposentado da UFV e então diretor técnico da www.anpaq.com.br coordenou a publicação de uma lista acadêmica envolvendo estas espécies.

Principais regiões produtoras

No Brasil, as principais regiões tanoeiras concentram-se nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, conforme apontado em um levantamento feito em 2024. Os dados correspondem a tanoarias que se especializam na produção de barris com madeiras nativas, embora a escala ainda seja menor comparada às que utilizam carvalho importado.

Em Minas Gerais, há plantio experimental e comercial na Fazenda Escola Cana Brasil, Itaverava (www.canabrasil.com.br), iniciado em 2020, por meio de três mini florestas com 15 espécies plantadas. Atualmente, também há no estado, aproximadamente plantios de 1 hectare, nas seguintes propriedades:

  • Cachaça Flor das Gerais, Felixlândia
  • Cachaça Salinas, Jaíba
  • IFNMG Salinas, Salinas  

Este ano foi iniciado um plantio em Tocantins, vinculado à Cachaça Dom Porfírio.

Madeiras mais indicadas

Segundo especialistas, na tanoaria as madeiras mais recomendadas são aquelas que conferem características desejáveis às bebidas, como sabor, aroma e cor, além de possuírem a porosidade e durabilidade adequadas, e se dividem entre as tradicionais importadas e as promissoras nativas brasileiras.

“Já foi publicada uma lista acadêmica, com base na literatura científica, coordenada pelo Prof. Dr. Benjamim. E há outra que são os resultados de amostras de barris e dornas analisadas, ambas disponíveis nesta publicação. As principais são: Amburana (duas espécies), Bálsamo (3 espécies) e Jequitibá (3 espécies). Freijó, gênero Cordia (2 espécies) é predominante no Nordeste do Brasil, especialmente na Paraíba e Pernambuco. No caso do vinho, no Brasil ainda é pouco incipiente, principalmente com madeiras tropicais. Mesmo assim, ainda prevalece a hegemonia do Carvalho”, informa Fernando.

A preferência pelo carvalho

Na tanoaria, o carvalho é a madeira preferida para a fabricação de barris, devido às suas características que influenciam significativamente o sabor, aroma, cor e estrutura de bebidas como vinhos e destilados. Existem diferentes tipos de carvalho, e a escolha entre eles depende do perfil desejado para a bebida.

“O nosso benchmarking é o carvalho, gênero Quercus, madeira hegemônica e milenar para envelhecimento de bebidas, principalmente por causa do uísque, a qual é cultivada na Europa e nos EUA. Napoleão Bonaparte iniciou os plantios na França, com fins bélicos. Felizmente não fez sentido e a indústria de bebidas se apropriou da madeira. Conhecer a taxonomia botânica destas espécies e seus aspectos silviculturais é decisivo para tornar a bebida mais genuína do Brasil globalmente competitiva”, explica Fernando.

Os desafios atuais

A silvicultura tanoeira no Brasil, focada na produção de barris para bebidas, está em um estágio de desenvolvimento e reconhecimento crescente, especialmente impulsionada pelo setor de cachaças e pela busca por diferenciação em outras bebidas como cervejas artesanais e vinhos. No entanto, ainda enfrenta desafios significativos para atingir seu pleno potencial e sustentabilidade. Para o geógrafo e gestor Fernando, se destacam:

  • Cultura de curto prazo – Quando estamos falando de um processo intergeracional, a exemplo do Carvalho na Europa e EUA: as gerações atuais estão colhendo hoje o que gerações anteriores plantaram; e não só colhendo, também plantando para as gerações futuras. Estão num ciclo virtuoso, ao passo que ainda estamos num ciclo vicioso, sustentando apenas no desmatamento, legal e/ou ilegal, e não estamos incomodados com isto.
  • Falta de fomento e políticas públicas capazes de mobilizar investidores para perceberem o potencial deste segmento – Em Minas Gerais há inclusive legislação do início deste século prevendo isto, mas não saiu da gaveta.
  • Oferta de mudas confiáveis e um mínimo de seleção genética – O fato de se tratar de espécies ainda selvagens para a silvicultura também é um empecilho, pois os plantios tornam se inevitavelmente muito desuniformes, o que pode ser até capitalizado a favor, mas precisamos de estudos e pesquisas para isto, o que ainda não há.

Silvicultura a legalidade e o fomento

O aumento da demanda por bebidas envelhecidas em barris de madeira sustentável pode impulsionar toda a cadeia produtiva a se tornar mais responsável e a buscar as certificações necessárias. A Silvicultura é fundamental para o país, pois não só impulsiona a economia com a produção sustentável de madeira, celulose e energia, mas também desempenha um papel crucial na conservação ambiental, no sequestro de carbono e na proteção da biodiversidade, garantindo um futuro mais verde e próspero para o país.

Desde o pequeno produtor ao grande, importam e fazem a diferença, tornando a atividade atualmente, um dos principais pilares da economia brasileira.

O silvicultor Renato Caporalli cultiva nativas e também exóticas desde 1986 – tendo hoje cerca de 50 hectares –, em Campos Altos (MG). Em uma época que não existia nenhuma segurança jurídica para o plantio de nativas, em função dos riscos dos sistemas ambientais se apropriarem e não permitirem colher no futuro, ele acreditava e tinha como premissa a regularização da atividade.

“Eu era um acadêmico otimista com a evolução da normativa legal brasileira.  Depois, ali, pelos anos 2000 até quase 2020, cheguei a temer que estivesse errado na previsão para o futuro do país, e que nós fôssemos no sentido da irracionalidade da normativa legal.  Cheguei a temer por isso.  Mas tenho ficado de novo otimista. O último governo mostrou que, com um pouco de esforço e boa vontade, a normativa ambiental pode ficar mais fluida, dando mais confiança em quem quer investir”, lembra Renato.

“Sobre mercado, comecei a vender madeira nobre apenas no ano passado. Até o ano passado, esperei pela sua maturação.  Agora estou na fase do desbaste. Tenho vendido a madeira para marceneiros. Ainda conheço muito pouco do mercado de madeira, minha escala é pequena o que não contempla a demanda de grandes empresas moveleiras, mas tenho conseguido vender o que produzo.  Se produzisse mais, sinto que poderia vender mais.  Madeira boa é um produto escasso”, destaca.

Serraria móvel na propriedade de Fernando, em MG.

Em um cenário onde a pressa muitas vezes dita o ritmo, a visão de um proprietário rural se destaca. Para Renato, o investimento em silvicultura é mais que um negócio; é um compromisso com o futuro.

“O que me motivou a investir no plantio de árvores de madeiras nobres, nativas e exóticas, foi em primeiro lugar a vontade de deixar para meus filhos uma terra mais bem cuidada do que recebi como herança.  A segunda razão foi acreditar que isso me proporcionaria no futuro uma velhice economicamente segura, pois como economista, sabia que o valor de bens escassos tende a crescer – e supus que, como a maior parte dos investidores investem no curto prazo, pensei que meu investimento em bens de muito longo tempo de maturação tenderia a ficar cada vez mais escasso no mercado.  Apostei nisso.  E a fazenda fica linda, todo mundo trabalhando com afinco mas com calma.  O lema da fazenda é “slow farming, good living”, conta sobre suas premissas.

Para saber mais sobre o Projeto de Identificação das Madeiras de Tanoaria, e sobre o cultivo das ‘árvores das cachaças’ envie e-mail para fernando@rodadeideias.com e siga no Instagram
@roda.de.ideias.

Escrito por: redação Mais Floresta / Imagem destaque: Getty Images/kimrawicz.

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