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Manejo sustentável de florestas foi tema de Conferência IUFRO 2023 América Latina

Discursos de abertura abordaram a importância da utilização e conscientização sobre o uso da madeira como matéria-prima renovável e sustentável

A discussão de temas relacionados a iniciativas que buscam moldar paisagens resilientes para o benefício das comunidades e da biodiversidade, marcou o início da Conferência IUFRO 2023 América Latina, realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio de sua Unidade Embrapa Florestas, e a União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO).

Com mediação de Martin Sanchez Acosta (INTA, Argentina), a abertura do evento contou com a participação do Comitê Organizador e Científico da conferência, que destacou a importância da programação diversificada para reflexão do manejo sustentável em florestas naturais e plantadas, além da relevância de encontros como a IUFRO 2023 como oportunidade de networking e discussões sobre o desenvolvimento de práticas coerentes à sustentabilidade.

Os diferentes usos das florestas para a produção de madeira foram os tópicos emergentes da solenidade de abertura, sendo sublinhados por Breno Campos, que representou o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, na solenidade. A importância da engenharia florestal para o valor agregado da matéria prima em construções, mobiliários, entre outros produtos em que a madeira é utilizada, foi destaque no contexto do manejo sustentável.

A gestão territorial em paisagens amplas ou em propriedades rurais esteve na fala do Presidente do Instituto de Engenharia do Paraná, José Carlos Dias Lopes, que explicou o impacto positivo do gerenciamento da terra para a conservação da biodiversidade, e, consequentemente, para a melhor qualidade de vida da população. Dias aproveitou a oportunidade para divulgar a necessidade do agrupamento entre a área rural e a urbana para a conservação ambiental em solos heterogêneos e interativos.

O Brasil ocupa um papel importante na descontaminação do ambiente pelo manejo sustentável, imprescindível para a biossegurança, sobretudo em relação à pesquisa de organismos geneticamente modificados, apontada por Erich Schaitza, Chefe Geral da Embrapa Florestas, como alternativa tecnológica assertiva para o aumento da produtividade As florestas naturais e as plantadas, gerenciadas sustentavelmente, tornam-se fontes para a geração de energia,  construção de produtos madeireiros e crescimento econômico, decorrentes da cooperação nacional e internacional. O melhoramento genético, o plantio de árvores para a neutralização da emissão de carbono, os novos usos de florestas plantadas com matéria prima renovável e sustentável, e a necessidade da criação de uma comunicação organizada com a sociedade, estiveram entre os tópicos considerados urgentes pelos presentes.

Aliado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as florestas são fundamentais nos quesitos de combate à fome, melhoramento da agricultura e produção responsável, conforme a afirmação do diretor administrativo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná CREA – PR, Joao Groque. O diretor ressaltou a qualificação de engenheiros florestais para a resolução de problemas técnicos na paisagem e minimização dos impactos da atividade industrial no meio-ambiente, além da obtenção de recursos econômicos angariados dentro das regras de licenciamento.

A Conferência IUFRO 2023 destaca-se como incentivadora ao progresso ambiental, ao propor a troca de ideias, participação em grupos de trabalho e reflexões sobre soluções que promovam o bem-estar da humanidade, como citou Yeda Malheiros de Oliveira, pesquisadora da Embrapa Florestas e presidente do evento. Oliveira ainda destacou a ampla pesquisa realizada pela Embrapa em relação a benefícios e impactos das e nas florestas, e a necessidade do trabalho em conjunto com a pesquisa científica, pensamento também validado pela vice-reitora da UFPR, Graciela Bolzon de Muniz. Ambas ressaltaram a necessidade da construção de estratégias conjuntas entre as universidades, instituições públicas, setores produtivos públicos e privados, que proporcionem o crescimento do país por meio de uma parceria sólida. 

A abertura da Conferência ainda propôs a promoção de inter-relações com outros países, ressaltada pela presença de palestrantes internacionais e participação da Coordenadora do Programa de Desenvolvimento de Capacidades da IUFRO, Janice Burns, que reafirmou a importância da conexão entre profissionais florestais, cientistas e formuladores de políticas de desenvolvimento.

Outros assuntos, como o desenvolvimento tecnológico para impulsionar a gestão ambiental, a estreita relação entre plantação, produção, consumo e economia, e a importância do incentivo financeiro de empresas privadas e órgãos públicos para o progresso no setor também foram abordados, tendo sido destacada a necessidade de incentivos fiscais coerentes a cada modo de produção, como já é realidade em outros países.

O Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro, Garo Batmanian, levantou um ponto crucial: a falta de informação da população sobre o uso da madeira, uma vez que boa parte da sociedade relaciona o corte de qualquer árvore ao problema do desmatamento, mas a produção florestal em si é feita com base técnica e práticas sustentáveis.  A conscientização sobre essas diferenças é importante para a mudança de hábitos de consumo e para que a população também atue na reividicação de maior agilidade na implementação das leis.

A cerimônia marcou, ainda, a entrega de uma menção honrosa da Embrapa Florestas à Rede Mulher Florestal, por seu trabalho em prol da igualdade e equidade de gênero, proporcionando um alinhamento cada vez maior do setor florestal brasileiro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 5 (igualdade de gênero).

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Especialistas da América Latina se reúnem em Curitiba para discutir a temática florestal

De 17 a 19/10, Curitiba será palco do IUFRO 2023 América Latina, evento que vai discutir o manejo sustentável da paisagem: o papel das florestas, das árvores, dos sistemas agroflorestais e suas interações com a agricultura. Durante esses três dias, especialistas da América Latina vão debater temas que vão de análises que envolvem florestas em contextos mundial e regionais, até nas propriedades rurais. A Conferência vai reunir diferentes especialistas, de formuladores de políticas públicas e cientistas ao setor privado e comunidades rurais.

Serão seis painéis que vão tratar de: madeira sustentável para um mundo sustentável (programa da FAO/ONU); florestas plantadas com espécies nativas e exóticas na propriedade rural; manejo florestal sustentável em microbacias, incluindo a regulação do fluxo hídrico, corredores ecológicos e indicadores de biodiversidade; mosaicos florestais sustentáveis na paisagem; manejo de florestas naturais, incluindo florestas secundárias e restauração florestal para a promoção da bioeconomia ; e sistemas integrados da produção agrícola, sistemas agroflorestais e integração lavoura-pecuária-floresta.

Além dos painéis, acontecem também cerca de 150 apresentações de trabalhos científicos com resultados de pesquisas sobre os temas do evento.

O que é Manejo da Paisagem?
A paisagem pode ser definida como um conjunto de áreas contíguas, espacialmente heterogêneas e interativas, onde a cobertura da terra (florestas, por exemplo) convive com diferentes usos do solo (agricultura, por exemplo). Abrange agrupamentos rurais e urbanos e seus limites extrapolam as propriedades e os limites das áreas de conservação.

Normalmente, são analisadas no contexto de unidades como as bacias hidrográficas, em diferentes escalas espaciais. Uma paisagem sustentável é aquela em que a maioria dos processos ecológicos e produtivos são regidos pelos preceitos que levam à perenidade com qualidade e obedecem à normatização e legislação ambiental.

Organização
O evento será realizado pela Embrapa, por meio de sua Unidade Embrapa Florestas, e pela União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), e conta com patrocínio do Centro das Indústrias Produtoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem)/Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF) e Berneck; apoio master da Fundação Araucária, Governo do Estado do Paraná, Capes e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR); apoio do Serviço Florestal Brasileiro, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Paraná, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Unicentro, Instituto de Engenharia do Paraná, Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais, Klabin, Boulle Móveis, Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba, Curitiba Convention e Visitors Bureau.

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Projeto estimula a restauração de áreas de Reserva Legal com araucárias

– Iniciativa capacita produtores sobre diferentes modelos de recuperação de áreas degradadas.

– Projeto recebeu prêmio One Engie Awards.


O projeto ConservAção Araucária conclui sua primeira etapa com a realização de capacitações de produtores rurais e agentes multiplicadores, implantação de 16 unidades de referência tecnológica (URTs) de recuperação de áreas de Reserva Legal no estado do Paraná e de duas coleções genéticas de araucária. O projeto é uma iniciativa da Embrapa Florestas e do Sistema de Transmissão Gralha Azul, operado pela Engie Brasil Energia, com a participação do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e apoio do Instituto Água e Terra (IAT).

As unidades demonstrativas estão localizadas em onze propriedades rurais de agricultores familiares e em dois campos experimentais do IDR-Paraná, e serão utilizadas como exemplo para produtores que queiram recuperar áreas florestais, especialmente de Reserva Legal, utilizando espécies da Floresta como a própria araucária, erva-mate, bracatinga, cedro-rosa, pessegueiro-bravo, cataia, canela guaicá e espinheira santa.  

Os produtores participantes receberam todas as mudas, adubo e uma roçadeira, para apoio no combate a plantas daninhas, e puderam escolher entre três modelos de restauração para implantar em uma área de aproximadamente 1 hectare. Caixas de abelhas nativas sem ferrão também foram distribuídas como mais uma opção de geração de renda, além da realização de treinamentos e a disponibilização de uma cartilha com orientações silviculturais para implantação e manejo inicial das unidades demonstrativas. 

Segundo Erich Schaitza, chefe geral da Embrapa Florestas, “a intenção do projeto é mostrar a viabilidade do plantio de araucária e demais espécies para recuperação de passivos ambientais, mas que o produtor rural veja que também é possível gerar renda. Por isso, reunimos instituições como IDR Paraná e o IAT para discutir a viabilidade de modelos, tanto no aspecto técnico quanto de atendimento à legislação”.  

Ives Goulart, da Embrapa Florestas, que coordenou a implantação das URTs, explica que “a ideia é que estas áreas sejam vitrines e mostrem a viabilidade do plantio da araucária como recuperação ambiental e geração de renda, junto com outras espécies que compõem seu ecossistema”.  

Durante os dois anos de implantação do projeto, foram realizados trabalhos para a escolha das áreas em 12 municípios, definições dos modelos de recuperação ambiental, orientações e capacitação de produtores e técnicos extensionistas, redação de manual de recomendações, visitas e reuniões técnicas. No total, foram plantadas 25.400 mudas. “Como todo trabalho em área rural, enfrentamos algumas dificuldades por conta da estiagem em 2020 e 2021. Isso foi sanado com o decorrer do tempo, especialmente com apoio dos viveiros do IAT, e hoje todas as unidades estão com bom andamento”, relata Goulart.  

Durante esse período, cerca de 60 pessoas, entre produtores rurais e técnicos extensionistas, foram capacitados no entendimento dos modelos de recuperação: 1) araucária, erva-mate e bracatinga; 2) araucária, erva-mate, mais seis espécies florestais nativas e 3) araucária, bracatinga e bracatinga arapoti.

Modelos servem de vitrine para produtores rurais 

“Diretamente, são onze famílias beneficiadas pelo projeto. Entretanto, os extensionistas do IDR-PR já estão difundindo os modelos em outras propriedades e isso amplia o impacto que o projeto tem não só nas famílias participantes, mas em toda a região de Floresta com Araucárias”, salienta Goulart. “E, destes ‘novos’ produtores, muitos implantaram em áreas de cultivo, mesmo podendo cultivar ou produzir outras coisas, demonstrando o interesse e viabilidade dos modelos”, completa. Segundo Jonas Bianchin, do IDR Paraná, “é por meio destas vitrines que a gente consegue replicar esse conhecimento gerado e aplicado para os produtores do entorno e isso gera um impacto muito positivo. Os produtores vêem com muito bons olhos esse tipo de ação porque entendem a importância da manutenção de áreas produtivas e a restauração de áreas degradadas com espécies que eles possam também utilizar economicamente”. 

A Gerente de Meio Ambiente da ENGIE Brasil Energia, Karen Schroder, reforça a importância de apoiar iniciativas como essa. “Para nós, é extremamente gratificante estar ao lado da Embrapa na realização de um projeto que alinha geração de renda à conservação ambiental e que, com isso, promove o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais. Sabemos que, como uma empresa líder em energia renovável, a conservação da biodiversidade não só precisa integrar um dos nossos compromissos com o meio ambiente, mas também estar entre as principais estratégias do nosso negócio”, comenta a executiva.  

Jair Weisshaar, produtor rural da Colônia Rio Vermelho, em União da Vitória/PR, considera que “esse projeto é muito bom para nós, pequenos produtores, termos uma experiência com essas plantas nativas da região, que são muito valiosas. Estamos aprendendo muito com o projeto”. Weisshaar implantou sua unidade com araucária, erva-mate e bracatinga e já planeja o futuro: “Esperamos começar a colher a erva-mate antes, já tendo alguma renda. A araucária e a bracatinga demoram mais, mas vai ter as flores para as abelhas, para a produção de mel e certamente uma área protegida com plantas nativas”, comemora. 

A participação do IAT como consultor do projeto foi considerada fundamental. “Muitas vezes, temos o ideal agronômico e florestal da composição e instalação de cada modelo, mas o IAT ia nos informando o que estaria adequado em atendimento à legislação estadual. Com isso, pudemos promover ajustes tanto na implantação das URTs quanto na redação do manual para que atendesse tanto os aspectos da restauração florestal em si quanto a adequação à lei”, explica Goulart. 

Coleções genéticas


Além das URTs, o projeto também contemplou a instalação de coleções genéticas. Foram coletados mais de 70 mil pinhões de 118 árvores em diversas regiões de ocorrência da araucária no Paraná e produzidas cerca de 4.000 mudas, que foram plantadas em áreas da Embrapa, em Colombo e Ponta Grossa/PR. Segundo a pesquisadora Valderês Sousa, da Embrapa Florestas, “estas coleções genéticas ajudam a garantir a manutenção da espécie, uma vez que são conservadas árvores “filhas” de diversas regiões de ocorrência”.  

O pesquisador Sergio Silva, coordenador geral do projeto, avalia que “o trabalho com os produtores rurais, aliado à instalação das coleções genéticas, colocam foco na viabilidade de usar a araucária ao mesmo tempo em que se promove sua conservação”.  

Projeto vence One ENGIE Awards

Desenvolvido na região de operação do Sistema de Transmissão Gralha Azul, desde a implantação, o projeto ConservAção Araucária foi vencedor na categoria “Business Innovation Networks” do One ENGIE Awards, premiação para iniciativas inovadoras desenvolvidas por colaboradores de todas as empresas do Grupo ENGIE no mundo. A iniciativa abrange oito categorias de projetos e, após uma seleção prévia entre todos os cases concorrentes, três finalistas concorrem ao prêmio final. A cerimônia de premiação foi realizada em Paris em 28/09/2023.

Foto: André Kasczeszen

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Pesquisa desenvolve técnicas para produção de teca em sistemas ILPF

Cultivo da teca em sistemas de integração ajuda a amortizar o alto investimento inicial e a obter lucro antecipadamente.
Árvores em sistemas ILPF têm maior crescimento do que em cultivo homogêneo.
Uso de mudas clonais resulta em maior produtividade e ganho em tempo de produção.
Madeira obtida no desbaste pode ser usada para energia ou fabricação de mourões.
Recomendações orientam produtor sobre a melhor forma de implantar o sistema ILPF com teca e como manejá-lo para obter melhor desempenho.
Livro reúne conhecimento obtido com experiência de produtores e pesquisas realizadas pela Embrapa.

Produtores rurais contam agora com um pacote completo de técnicas de manejo para usar a teca (Tectona grandis) como componente arbóreo em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Esse conhecimento se deve, especialmente, ao pioneirismo de produtores como Arno Schneider, de Santo Antônio do Leverger (MT), e Antônio Passos, de Alta Floresta (MT), que apostaram no uso dessa árvore em sistemas silvipastoris antes mesmo de haver informações técnicas ou pesquisas que atestassem sua viabilidade. Os erros e acertos cometidos por eles em cerca de 15 a 20 anos e as pesquisas desenvolvidas na última década possibilitaram a abertura de caminho para novos produtores que pensam em utilizar a espécie florestal em ILPF.

As experiências desses pioneiros, os resultados obtidos por eles e as pesquisas realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril (MT) estão reunidas em um capítulo dedicado ao uso da teca em sistemas ILPF que acaba de ser publicado no livro “Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil” (ver quadro abaixo). A publicação reúne, pela primeira vez, recomendações que vão desde o preparo da área para plantio das mudas até a condução das árvores com desbastes e desramas (podas), passando pela definição de espaçamentos e configuração dos renques de árvores.

O trabalho feito pelos pesquisadores da Embrapa Maurel Behling e Flávio Wruck mostra que, ao planejar seu sistema ILPF, o produtor deve definir se utilizará o componente arbóreo como adição ou substituição de renda.

“Em sistemas de ILPF, com foco na pecuária, a implantação de linhas simples facilita o manejo das árvores, exigindo menor demanda de mão de obra. Por outro lado, o sistema pode ser configurado para privilegiar a produção de teca com maior densidade de árvores por área. Nessas configurações, o carro-chefe do sistema passa a ser a teca e pode-se assumir que as perdas de produtividade nos componentes agrícola ou pecuário serão compensadas pelas receitas geradas com as árvores, ou seja, há uma substituição de receitas”, explica Behling.

Livro sobre Teca

O livro Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil foi publicado pela Embrapa Florestas e está disponível gratuitamente para download. A publicação reúne em seus 18 capítulos um grande acervo de informações sobre a cultura da teca no País. A obra teve como editores técnicos os pesquisadores Cristiane ReisEdilson de Oliveira e Alisson Santos e contou com participação de 47 autores da Embrapa, de universidades, empresas privadas e outras instituições parceiras.

As pesquisas realizadas mostram que, considerando a meta de uso da madeira para serraria, atividade em que a teca tem o seu maior valor agregado, o plantio deve ser feito em linha simples com espaçamento de 4 metros entre as plantas. No caso de o plantio ser feito em linhas duplas ou triplas, deve ser adotado o arranjo quincôncio, ou seja, com as árvores de linhas vizinhas formando um triângulo. Isso evita a competição lateral. A distância entre os renques varia conforme o interesse do produtor e seu maquinário, sendo a recomendação mínima de 16 metros para que se mantenha a entrada de luz para a pastagem.

Arte: Maurel Behling

Maior crescimento na ILPF

As árvores de teca em ILPF demonstraram maior crescimento do que árvores cultivadas em plantios homogêneos. Dados mensurados na Fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), mostraram que, aos 11 anos, as árvores no sistema ILPF estavam mais altas e com o diâmetro à altura do peito (DAP) 52% maior do que aquelas árvores do plantio homogêneo em talhão instalado ao lado.

Dependendo do número de plantas por hectare, será necessária a realização de cortes seletivos anteriores visando aumentar a entrada de luz no sistema e reduzir a competição entre as árvores. Nos anos iniciais, a madeira desse desbaste pode ser usada para energia ou fabricação de mourões, mas já aos 12 anos é possível retirar madeira destinada à serraria.

Para obtenção do melhor desempenho das árvores, os pesquisadores da Embrapa recomendam o uso de mudas clonais e não as produzidas por sementes. Mensurações feitas comparando os dois tipos de uso mostram que árvores clonadas tiveram crescimento 28% maior em DAP, 21% maior em altura total e 80% maior em volume total.

“A expectativa no sistema silvipastoril, com uso de clones de teca, é realizar o corte raso das árvores entre 18 a 20 anos”, afirma Behling. Com uso de mudas seminais, a expectativa sobe para 25 anos.

Outra vantagem do uso dos clones é que, ao crescerem mais rapidamente, essas mudas permitem antecipar a entrada do gado no sistema sem riscos de danificar ou quebrar as plantas. A recomendação é que animais mais jovens entrem nos pastos sombreados pela teca quando as árvores tiverem DAP entre 3 e 4 centímetros.

Recomendações para condução

Para que se obtenha o melhor retorno financeiro com a teca em sistemas integrados, o produtor deve estar atento à condução do sistema. Para isso, pesquisadores recomendam a desrama das árvores a fim de retirar os galhos baixos e evitar a formação de nós na madeira.

Os cuidados com formigas, com mato competição e a atenção para evitar a deriva de herbicidas são outros pontos que devem ser observados, sobretudo nos anos iniciais. Além disso, a prevenção contra o risco de incêndios deve estar presente na agenda da fazenda.

Demanda por teca é maior que oferta

A teca é uma madeira com grande valor agregado e com um mercado amplo para uso na produção de móveis, embarcações e pisos. A demanda mundial por essa madeira é maior do que a oferta, tanto por meio de plantios comerciais quanto pela extração em áreas onde a espécie é endêmica como na Ásia.O alto valor agregado viabiliza custos com frete, o que permite o cultivo em regiões com logística mais complicada. Porém, o longo tempo para retorno do investimento acaba desestimulando o cultivo. Dessa forma, os sistemas de integração são uma alternativa para amortizar os custos, uma vez que é possível obter receitas com a lavoura e a pecuária enquanto as árvores crescem.No aspecto econômico, estudos realizados pela Embrapa Agrossilvipastoril em Unidades de Referência Tecnológica (URT) mostraram que aquelas com uso da teca foram as mais rentáveis, com lucratividade chegando a R$ 3,70 para cada R$ 1 investido e valor presente líquido anual de R$ 2.175,71 por hectare/ano.”A teca é uma das espécies exóticas de maior potencial econômico para uso em sistemas integrados no Brasil. As receitas adicionais geradas, a valorização da propriedade, a biodiversidade criada e inúmeras outras vantagens não deixam dúvidas quanto aos benefícios desse sistema aos proprietários e ao meio ambiente”, afirma Maurel Behling.Porém, o pesquisador alerta sobre os cuidados necessários para obter resultados positivos com o cultivo da teca. “Apesar do mito de que ‘a teca enriquece seu plantador’, deve-se ter em mente que o mercado para a madeira da teca existe, é atrativo e seguro. Porém, o lucro só será obtido com a utilização de tecnologias apropriadas, cuidados ímpares e muita qualidade em todas as operações florestais e de logística na cadeia de suprimento. Não basta apenas plantar as árvores de teca de qualquer jeito no sistema integrado e ficar esperando que elas cresçam para que os lucros brotem para o produtor. É necessário investir em tecnologia, insumos adequados, operações corretas e eficientes, constante monitoramento fitossanitário e garantir produtividade e qualidade da madeira ao longo de todo o ciclo de rotação”, ressalta o pesquisador.A estimativa é que em Mato Grosso a área de sistemas silvipastoris com teca seja de 4 mil hectares. No Brasil a área plantada com essa espécie, incluindo os cultivos homogêneos, é de 94 mil hectares.Foto: Maurel Behling
Software auxilia no manejo de Teca em ILPF

Produtores interessados no plantio de teca em ILPF contam com o apoio de um software gratuito, desenvolvido pela Embrapa Florestas, que visa dar suporte às atividades de manejo, análise econômica e planejamento do componente florestal.O SisILPF Teca funciona como um simulador em que o usuário pode testar, para cada condição de clima e solo, todas as opções de manejo de teca na ILPF. Segundo o pesquisador da Embrapa Edilson Batista de Oliveira, “o produtor pode fazer prognoses de produções de madeira no presente e em condições futuras, efetuar análises econômicas e decidir sobre a melhor alternativa para conduzir sua plantação”. Essas simulações possibilitam a quantificação da madeira produzida por tipo de utilização industrial, desde o seu uso para energia, até toras de diversas dimensões para serraria na produção de blocos e tábuas, e exportação. “Com isso,o produtor poderá manejar suas florestas para a produção de madeira direcionada ao uso mais rentável”, afirma o pesquisador.Outro aspecto importante é que o software calcula o carbono capturado pelas árvores, em equivalentes de gás carbônico e metano, e emite gráficos com estimativas do número de animais que podem ter a emissão de metano compensada pelas árvores do ILPF. “Esses sistemas estão em ascensão e entram na contabilidade do País na mitigação dos impactos da mudança do clima. O SisILPF_Teca é uma ferramenta importante de apoio ao planejamento e manejo dos plantios”, finaliza Oliveira.Foto: Gabriel Faria
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Pesquisadores conseguem produzir mudas de baru por meio de enxertia

*Cultivo de baru ainda não é domesticado e avanço abre caminho para um sistema de produção dessa castanha do Cerrado.
*Um dos desafios para a domesticação do baruzeiro é a produção de mudas de materiais com características superiores, foco deste trabalho.
*A multiplicação por propagação vegetativa permite uniformidade e alta produtividade.
*Além da semente, parte mais conhecida, o fruto possui polpa também comestível e um endocarpo que pode ser transformado em carvão.
*A enxertia é uma boa opção para se multiplicar espécies promissoras nativas do Cerrado.

A enxertia, técnica de propagação vegetativa para produção de clones, mostrou-se viável para a multiplicação do baruzeiro. Os trabalhos recentes conduzidos no viveiro da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), vêm apresentando resultados promissores para três tipos de enxertia – borbulhia de placa, garfagem inglesa simples e garfagem em fenda cheia (veja quadro no fim da matéria). Para as mudas conduzidas a pleno sol, os três tipos proporcionaram médias de pegamento superiores a 50%, com destaque para borbulhia, que obteve pegamento de mais de 60%.

Propagação vegetativa

A propagação vegetativa ou clonal consiste na multiplicação de partes de interesse da planta sem uso de sementes, dando origem a outras idênticas à planta-mãe (clones). As principais vantagens do método são a possibilidade de formação de plantios clonais de alta produtividade e com grande uniformidade e, em algumas vezes, de antecipação da fase reprodutiva da espécie.Além da enxertia, outros métodos de reprodução assexuada ou propagação vegetativa são a estaquia, a miniestaquia e a micropropagação.

Esses são os primeiros resultados para o desenvolvimento de um sistema de produção para o baruzeiro. “Salientamos que estamos trabalhando com uma espécie arbórea nativa, carente de informações técnicas nesse assunto e acreditamos que esses dados servirão de base para novos estudos com intuito de refinar a metodologia de enxertia para a espécie”, enfatiza o pesquisador Wanderlei Lima, coordenador do estudo.

Os resultados completos estão no artigo “Avaliação de métodos de enxertia em mudas de baruzeiro (Dipteryx alata Vogel, Fabaceae)”, publicado na revista Ciência Florestal, edição de abril/junho de 2023. Lima explica que o próximo passo é aprimorar o processo, utilizando a experiência adquirida no primeiro experimento para aumentar a porcentagem de pegamento das enxertias.

O resultado foi bastante positivo, na avaliação da equipe, composta também pela analista Fernanda Morais e o assistente Vicente Moreira. Algumas mudas enxertadas na Embrapa Cerrados já foram transplantadas em campo na bordadura do experimento de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, no qual está sendo avaliado o uso de espécies nativas do Cerrado nesse sistema (ler matéria). Um dos principais desafios para a domesticação do baruzeiro é justamente a produção de mudas. Atualmente, não há metodologia validada de reprodução assexuada para essa espécie.

O baruzeiro (Dipteryx alata Vogel)

Também conhecido como cumbaru ou cumaru, o baruzeiro é uma árvore de altura entre 15 a 25 metros com ampla distribuição no Cerrado. Essa é uma das espécies nativas do bioma com grande potencial econômico pela sua diversidade de usos. A polpa do fruto pode ser consumida in natura ou em misturas e o endocarpo pode ser transformado em carvão de alto teor calorífico. Já a semente é a parte mais conhecida e tem ganhado valor de mercado, sendo usada na gastronomia nacional e internacional. Ela se assemelha a uma castanha, sendo apreciada como aperitivo e usada em diversas receitas. O óleo extraído da semente também tem usos variados. A árvore pode ser usada em paisagismo e sua madeira tem grande resistência e durabilidade.O baruzeiro é uma das espécies do Cerrado mais promissoras para cultivo. A geração de informações sobre sua multiplicação, crescimento, desenvolvimento, produtividade e variabilidade permitirá sua domesticação para implantação de cultivos comerciais. Atualmente, praticamente toda produção vem do extrativismo. Foto: Alexandre Veloso

O experimento

Foram testados três tipos de enxertia (borbulhia de placa, garfagem inglês simples e fenda cheia) em três sistemas de condução de mudas de porta-enxertos (em sacos plásticos a pleno sol e sob sombrite e em tubetes em viveiro suspenso a pleno sol). As mudas (porta-enxertos) foram formadas a partir de sementes coletadas de plantas adultas de baruzeiro do Campo Experimental da Embrapa Cerrados. As gemas usadas para os enxertos foram obtidas de árvores adultas da Embrapa.

Como é feita a enxertia?Uma grande parte das árvores frutíferas é produzida por enxertia. Além de manter as características desejáveis à planta resultante, é um meio rápido e confiável de reproduzir plantas superiores para cultivo comercial.A operação envolve a introdução de uma gema, broto ou ramo de um vegetal, chamado de enxerto ou cavaleiro, em outro, conhecido como porta-enxerto ou cavalo. A planta enxertada (cavaleiro) carrega as características que se quer obter na nova planta e é ela que vai produzir os frutos. O cavalo leva o sistema radicular e parte do caule. Ele é responsável pelo fornecimento de água e nutrientes à planta e garante sua adaptação às condições de solo e clima.

O desempenho das plantas foi diferente de acordo com o sistema de condução. “Consideramos o sistema de produção de mudas em saco plástico a pleno sol o melhor, com o qual conseguimos mais de 50% de pegamento nos três tipos de enxertia que utilizamos em nosso estudo, com destaque para borbulhia, seguida da garfagem inglesa simples e da garfagem em fenda cheia”, informa Lima.

Segundo o pesquisador, apenas a garfagem em fenda cheia apresentou pegamento superior a 50% para mudas conduzidas sob sombrite, indicando ser uma técnica para a reprodução da espécie nessa condição. Entretanto, o tempo necessário para as mudas atingirem o diâmetro ideal para a enxertia foi maior nos sistemas sob sombrite. Considerando que as mudas foram formadas no mesmo dia, as mudas enxertadas sob sombrite só atingiram o diâmetro ideal três meses depois das mudas conduzidas a pleno sol.

Essa é uma importante informação para a multiplicação e a domesticação da cultura, já que quanto maior é o tempo para que a muda atinja o diâmetro ideal para a realização da enxertia, maiores são os gastos nessa etapa. Sobre o terceiro sistema de condução, Lima esclarece: “Optou-se, neste estudo, por não realizar a enxertia das mudas conduzidas em tubetes, em viveiro suspenso, pois essas apresentaram os piores desempenhos de crescimento e desenvolvimento”.

O pesquisador considera esse um resultado bastante positivo: “Sendo um primeiro experimento, os valores foram muito satisfatórios. Nosso objetivo é chegar a 80% com o refinamento da técnica e a verificação de alguns fatores que podem ter interferido no desenvolvimento das mudas”. Lima ressalta que o experimento foi realizado durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, quando vários trabalhos ficaram comprometidos.

A partir dos resultados desse experimento, uma recomendação da pesquisa para os interessados em produzir mudas de baruzeiro é refazer as enxertias que não pegaram. “Isso garante a redução de custos de produção, já que reutiliza as mudas dos porta-enxertos”, esclarece.

Foto acima, à esquerda: Wanderlei Lima (fenda cheia)

Tipos de enxertia avaliadas no experimentoNa enxertia, um ramo de uma planta da qual se deseja manter as características é “implantada” no caule de outra planta, fundindo essas duas partes.Borbulhia (foto ao lado) – Destaca-se uma gema vegetativa (borbulha) da planta que se quer multiplicar e a introduz em um corte feito na muda que servirá de porta-enxerto.Garfagem – As partes de duas plantas com o mesmo diâmetro são encaixadas perfeitamente. Uma corda é amarrada para garantir a união dos fragmentos.As garfagens em fenda cheia e inglesa simples se diferenciam pelo tipo de corte que é feito nas partes das plantas para o encaixe. A primeira é feita com uma fenda em V e a segunda, com um corte transversal. Foto: Wanderlei Lima

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