Precious Woods, uma das líderes do segmento no mercado brasileiro, hoje explora 600 mil hectares no Amazonas
A empresa suíça Precious Woods, que extrai e comercializa madeira tropical certificada, planeja dobrar sua área de atuação no Brasil. A companhia explora hoje uma área de quase 600 mil hectares na região de Itacoatiara, no Amazonas. Em 2024, o negócio no país gerou uma receita à companhia de 10,2 milhões.
Para expandir seus negócios, a Precious Woods aposta em dois caminhos: contratos com proprietários privados que tenham áreas de florestas próximas à sua área atual ou contratos de concessão pública de floresta.
A empresa, cuja filial no Brasil é a Mil Madeiras Preciosas, apresenta-se como a maior produtora e exportadora de madeira tropical serrada certificada do país. Ela afirma que tem sido responsável por 6% a 7% de toda madeira dura que o país exporta.
A companhia tem negócios no Brasil e no Gabão, onde está sua maior operação. Em 2024, a receita líquida da Precious Woods caiu 15,3% em relação ao ano anterior, para US$ 47,7 milhões.
No ano passado, a demanda, principalmente do setor de construção, diminuiu, o que também afetou outras empresas do segmento. O mercado começou a se recuperar no segundo semestre.
No fim de 2024, grandes acionistas da Precious Woods fizeram uma operação para melhorar as finanças da empresa. Eles converteram empréstimos (que haviam feito à companhia) de 43,5 milhões de francos suíços (ou US$ 53 milhões) em novo patrimônio da Precious Woods.
“Depois de fazermos um aumento de capital na Suíça para nos livrarmos de quase todas as dívidas, hoje temos uma boa base patrimonial. No Brasil, agora podemos avançar com alguns projetos porque passamos a ter acesso a mais dinheiro. Assim, estamos aumentando o nível de produção para agregar valor ao produto final”, disse ao Valor o presidente do conselho de diretores da Precious Woods, Markus Brütsch, logo depois de chegar a São Paulo, no fim da semana passada. Da capital paulista, ele seguiu para Itacoatiara.
Um terço da área de floresta em que a empresa corta árvores está em terras próprias. A Precious Woods diz que são áreas que ela adquiriu antes do início da vigência das regras atuais, que restringem a compra por estrangeiros.
O restante, cerca de 180 mil hectares, é composto por áreas de floresta exploradas por meio de contratos privados de concessão ou contratos com o governo do Amazonas. Ao todo, terras sob concessão e próprias somam 575 mil hectares. “Queremos duplicar nossas atividades na Amazônia, mas não com um projeto a partir do zero. Estamos procurando uma concessão próxima à nossa área”, disse Brütsch.
Segundo o executivo, a empresa já levou o tema a órgãos federais e ao governo do Estado. A companhia também iniciou conversas com o BNDES sobre um eventual financiamento para máquinas adicionais e para as atividades florestais, a modernização da serraria e o manejo florestal sustentável.
“O setor de atuação do grupo Precious Wood é elegível ao Fundo Clima — Florestas Nativas e Recursos Hídricos, e um eventual pedido de crédito pode ser analisado, seguindo-se todos os procedimentos usuais de operação do banco”, afirmou o BNDES. Em 2024, o banco emprestou R$ 23 milhões à Mil Madeiras Preciosas. O BNDES classifica atividades de restauro e manejo florestal como estratégicas.
Brütsch citou projeções da FAO e do Banco Mundial sobre aumento da demanda global por madeira. O movimento deve-se, em parte, ao crescimento da população e, em parte, ao uso da madeira para substituir o concreto, como forma de aumentar o armazenamento de CO2.
Operação
A empresa não planta árvores para depois cortá-las. Sua matéria-prima são árvores nativas da floresta, e o corte ocorre em um regime de manejo sustentável. O trabalho envolve um mapeamento quase artesanal, segundo a companhia: funcionários entram a pé na floresta, avaliam as árvores com valor comercial, medem o diâmetro de cada uma e estimam sua altura. Esses dados vão ajudar a Precious a escolher algumas poucas árvores para cortar durante um determinado período. O plano de manejo estabelece que os cortes naquele polígono de mata só poderão se repetir dentro de 35 anos.
O Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, tem hoje 1,3 milhão de hectares de florestas públicas em cinco Estados, concedidas a grupos privados, cooperativas e associações. Até o momento, a Precious Woods não tem nenhuma concessão do SFB. As concessões estabelecem critérios para extração sustentável de madeira, frutos, plantas e também para serviços de turismo.
As árvores que os empregados da Precious Woods cortam no Amazonas — entre elas maçaranduba, cumaru, angelim vermelho, cedrinho, jatobá, louro itaúba, cupiúba — são serradas e embarcadas para abastecer o mercado interno, e, principalmente, a Europa. Parte das exportações também segue para Ásia e Estados Unidos.
Construções aquáticas, como pontes, que exigem estruturas resistentes à água, além de móveis, pisos e peças para áreas externas, são alguns dos principais usos das madeiras que os suíços vendem.
A Precious Woods está em um mercado de nicho — das madeiras tropicais certificadas. Dois outros nomes importantes do segmento são a também suíça Interholco e a CIB, de Singapura. Ambas têm operações na República Democrática do Congo.
A Forest Stewardship Council (FSC) emite a certificação — que atesta o corte sustentável nas áreas florestais da Precious Woods — desde 1997, e o Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC), desde 2017.
Segundo o executivo suíço, o manejo sustentável coloca a empresa em uma posição confortável em relação às novas regras de comércio da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês), que passarão a ser aplicadas a partir de 1 de janeiro de 2026. O texto apresenta uma lista de commodities que os europeus só poderão importar se ficar atestado que sua produção não contribuiu com desmatamento. Madeira é um dos itens sujeitos às novas regras.
Informações: Globo Rural.