Em relação ao pacote de medidas anunciadas pelo governo federal brasileiro para auxiliar empresas exportadoras atingidas pela tarifa aplicada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), afirma que, apesar de bem-vinda, a ajuda é apenas um alívio temporário e de ação paliativa, frente à crise que se instalou no setor madeireiro em decorrência da tarifação.
Para a Abimci, a solução está na negociação do governo federal brasileiro junto aos Estados Unidos para que haja uma adequação de taxas que possibilitem a manutenção das vendas dos produtos madeireiros para aquele mercado. Entretanto, observamos que esse não tem sido o foco e objetivo do governo brasileiro, apesar de outros países que foram taxados terem sido exitosos nas negociações diretas com os EUA, conseguindo reduzir suas tarifas.
Após a implementação da nova alíquota pelos EUA, a situação do setor é extremamente preocupante. Devido aos cancelamentos de contratos e paralisação de mercados, algumas empresas estão com parte da produção parada, outras deram férias coletivas parciais ou totais, pois não há mais espaço para armazenamento dos produtos já fabricados e que seriam destinados aos Estados Unidos. Enquanto o setor está em estado de emergência, com risco real de fechamento de fábricas e cortes no quadro funcional, percebemos que têm sido priorizadas questões políticas e de cunho ideológico.
Cabe ressaltar que, embora o governo recomende a busca de novos mercados, essa alternativa é inviável para o setor madeireiro, tanto pelas características técnicas dos produtos, quanto pelas questões de volume e share de participação conquistado durante décadas junto ao mercado americano.
Desde o anúncio da taxação em 9 de julho, o setor tem se mobilizado e trabalhado intensamente na busca por soluções em diferentes frentes, junto aos governos federal e estaduais. Levamos informações, dados setoriais e de nossa balança comercial, mostramos qual o nível de dependência do mercado americano por segmento, impactos em empregos e abrangência regional. Todo esse trabalho de compilação visou subsidiar o governo para que as negociações com os Estados Unidos fossem pautadas pela diplomacia, argumentos técnicos e comerciais.
No entanto, observamos com preocupação que não houve ações efetivas por parte do governo brasileiro para fazer essa negociação direta com os EUA, nem antes, nem depois da confirmação da taxação.
Alguns governos estaduais estão fazendo a sua parte na tentativa de amenizar a situação com medidas para reduzir impostos e ampliar crédito. Porém, a realidade para nós é uma só: nossa capacidade de sobrevivência está diminuindo. Enquanto isso, não há nenhuma ação que sinalize um possível acordo.
É imperativo destacar que qualquer progresso para melhorar essa situação passa, necessariamente, pela negociação governamental e de adequação das tarifas a níveis comercialmente viáveis. E essa responsabilidade não pode ser transferida ao setor produtivo.
Após esgotar todas as alternativas e testemunhar a ineficácia da atuação governamental, excetuando-se as medidas já anunciadas que, ressaltamos, ajudam, mas são paliativas, chegamos a um ponto em que não há retorno: ou o governo brasileiro age com máxima urgência, adotando negociações técnicas e com isenção política e ideológica, ou seremos obrigados a assistir, impotentes, ao desaparecimento de cadeias produtivas consolidadas e ao consequente desmonte social nas comunidades que delas dependem.
Números do setor madeireiro
O setor madeireiro exportou US$ 1,6 bilhão para os Estados Unidos em 2024, para onde são destinados, em média, 50% do total que o setor madeireiro produz no Brasil. Alguns segmentos dependem exclusivamente dos EUA, com 100% de suas vendas atreladas a esse mercado.
O impacto da aplicação das taxas norte-americanas nas empresas madeireiras coloca em risco aproximadamente 180 mil empregos diretos em todo o Brasil.