Vale da Celulose cobra apoio federal para enfrentar déficit habitacional e saúde em cidades de MS

A intenção é aproximar o governo federal da realidade complexa de cidades como Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Inocência e Bataguassu

migração em massa de trabalhadores para atuar na indústria de celulose tem inflado a população das cidades do Vale da Celulose, criando gargalos na saúde e na habitação e forçando prefeituras a pressionar por apoio do governo federal, que tem participação direta e indireta no crescimento acelerado do setor no estado sul-mato-grossense.

Estima-se que, desde 2011, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), principal financiador federal de grandes projetos industriais, destinou mais de R$ 12 bilhões a obras industriais e de infraestrutura. O investimento transformou Três Lagoas em um polo global de celulose, gerando milhares de empregos diretos e indiretos.

Enquanto negocia uma data para discutir, em audiência pública no Senado Federal, os impactos positivos e negativos do crescimento acelerado da cadeia da celulose nos municípios de Mato Grosso do Sul, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) se articula para garantir a participação de ministérios das áreas de saúde e habitação, entre outros.

O requerimento do senador para a realização da audiência foi aprovado recentemente, ainda sem data definida. A expectativa é de que o evento ocorra entre o fim de setembro e o início de outubro na Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado.

A carência de moradias é o principal gargalo. Na sequência, aparece a falta de serviços de saúde e de educação, incluindo creches. Para o senador, é crucial o aumento da contribuição de programas federais para fortalecer as ações sociais dos municípios. Entre os programas citados estão o Minha Casa, Minha Vida, além do reforço do SUS e da assistência social.

“Vamos chamar os ministérios afins para que eles possam ter um olhar diferente a essas cidades. Seja para liberar mais créditos, fazer mais escolas, mais postos de saúde, mais ação social”, exemplificou o senador em entrevista ao Campo Grande News.

A intenção é aproximar o governo federal da realidade complexa de cidades como Ribas do Rio Pardo, Água Clara, Inocência e Bataguassu, onde o número de habitantes praticamente dobrou nos últimos anos.

“Hoje há cidades feitas de contêineres porque não há onde colocar as pessoas”, exemplifica o senador.

Mesmo reconhecendo os pontos positivos do forte crescimento econômico impulsionado pela indústria de celulose, o parlamentar alerta para a necessidade de planejamento adequado diante do aumento populacional. “É melhor ter um problema desse para resolver do que ter problemas de baixo crescimento econômico, de emprego e de falta de perspectiva para os jovens de uma cidade”, reconhece.

Para ele, a política de fomento a grandes projetos industriais e obras de infraestrutura na região, contudo, deveria caminhar junto a políticas públicas, programas sociais e habitacionais.

Maior polo industrial da celulose

Segundo estimativas da consultoria Falconi, a produção de celulose em Mato Grosso do Sul deve mais que dobrar nos próximos cinco anos, alcançando cerca de 11 milhões de toneladas com a chegada das gigantes internacionais Arauco (em Inocência) e Bracell (em Bataguassu), devendo transformar a região leste de Mato Grosso do Sul no maior polo industrial de celulose do mundo. O setor deve gerar 100 mil empregos no estado até 2028. Entre investimentos públicos e privados projetados para o Vale da Celulose, o montante deve chegar a quase R$ 100 bilhões até 2030, incluindo ampliação da capacidade produtiva e obras logísticas.

O Estado também caminha para assumir a liderança na produção de árvores de eucalipto para atender à indústria. O governo estadual prevê que a área plantada possa chegar a 2,7 milhões de hectares até 2026, ultrapassando Minas Gerais como o maior polo produtor de eucalipto do país. A área plantada sul-mato-grossense deve superar 1,7 milhão de hectares ainda em 2025.

Política habitacional específica

Na lista de convidados para a audiência pública está o prefeito de Ribas do Rio Pardo, Roberson Moureira, que aponta um déficit de 2 mil moradias no município e defende como prioridade a criação de uma política habitacional específica entre as esferas federal, estadual e municipal. Moureira avalia que as ações atuais são pontuais e insuficientes para atender a demanda crescente de trabalhadores que acabam sendo prejudicados pelo valor abusivo aplicado nos aluguéis.

A necessidade imediata, segundo ele, é de ao menos 500 novas casas por ano para atender às famílias riopardenses. “Essa medida é fundamental para garantir que o desenvolvimento econômico da cidade seja acompanhado por inclusão social e melhoria da qualidade de vida da população”, destaca o prefeito em nota encaminhada pela sua assessoria de imprensa.

Conforme a última estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população de Ribas do Rio Pardo somava 23.996 habitantes em 2024, contra 21.159 em 2014. O crescimento foi de 13,41%, o que representa 2.837 novos moradores em dez anos.

O município recebeu, no ano passado, a maior fábrica de celulose do mundo, instalada pela Suzano, com capacidade anual de 2,55 milhões de toneladas. O empreendimento recebeu R$ 22,2 bilhões em investimentos — R$ 15,9 bilhões destinados à construção e R$ 6,3 bilhões destinados à base florestal e à logística. No pico das obras, a companhia chegou a empregar cerca de 10 mil trabalhadores. Atualmente, gera aproximadamente 3 mil empregos diretos, entre próprios e terceirizados.

Segundo Moureira, a Prefeitura de Ribas do Rio Pardo vem atuando de forma integrada em áreas como qualificação profissional, fortalecimento da agricultura familiar e ampliação da infraestrutura urbana para preparar o município de forma sustentável para esse novo ciclo de crescimento.

“A participação na audiência será uma oportunidade importante para reforçar esse compromisso e buscar apoio em nível nacional para que o município continue crescendo com responsabilidade social, ambiental e econômica.”

Gargalos do sistema de saúde

Também convidada para a audiência pública, a Prefeitura de Água Clara aponta que o maior gargalo hoje está no sistema público de saúde, já saturado diante da forte demanda de pacientes vindos de outras cidades, como Ribas do Rio Pardo, Brasilândia e Inocência.

Em resposta à reportagem, a Prefeitura afirmou, via sua assessoria de imprensa, que a alta rotatividade de moradores prejudica de forma significativa o atendimento nos hospitais públicos. A população do município passou de 16.741 para 17.901 habitantes entre 2024 e 2025, aumento de 6,08%, segundo dados do IBGE.

Para a administração municipal, o crescimento da demanda é imprevisível e está muito além da capacidade de investimento em saúde. “O crescimento da população está tão acelerado que, mesmo fazendo o impossível — um milagre —, o sistema de saúde não está conseguindo atender todo mundo. Isso é algo muito preocupante.”

Ainda de acordo com a Prefeitura, os investimentos no sistema público de saúde têm superado a aplicação mínima obrigatória de 15% da receita. Em 2024, o índice chegou a 24,49%, e a previsão para este ano é de 20,12%. O maior percentual dos últimos cinco anos foi registrado em 2021, quando alcançou 32,72%.

Também foram convidados para o debate os titulares das Prefeituras de Bataguassu, de Inocência e de Três Lagoas. Do lado da indústria, estarão representantes da Arauco, da Suzano e da Bracell, além do secretário da Semadesc (Secretaria do Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jayme Verruck, e do deputado estadual Pedro Caravina.

Informações: Campo Grande News.

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