Transição silenciosa: a escassez de mão de obra florestal ameaça a base da produção

*Artigo de Geraldo Dias.

A mecanização da silvicultura é um caminho sem volta e desejável. Reduz riscos, aumenta produtividade e melhora a ergonomia. Mas há um ponto que precisamos encarar com mais seriedade: a janela de transição entre o modelo tradicional e o modelo mecanizado está escancarada, e não estamos preparados para atravessá-la.

Enquanto os investimentos em mecanização avançam, muitas das nossas operações ainda dependem fortemente de trabalho manual. E esse profissional simplesmente deixou de existir em muitas regiões.
Historicamente, quem ocupava essas funções eram pessoas vindas da agropecuária familiar, com forte ligação ao campo e familiaridade com o ritmo rural. Mas esse perfil está desaparecendo. O êxodo rural e a rejeição cultural ao trabalho braçal tornaram esse profissional uma raridade especialmente entre os mais jovens.

Empresas já sentem os impactos:

  • Aumento expressivo de custos para trazer mão de obra de outras regiões;
  • Rotações altíssimas de equipes em atividades de preparo de solo, plantio e manutenção;
  • Quedas na qualidade da execução em atividades críticas, mesmo com supervisão presente;
  • Atrasos operacionais por falta de equipe, especialmente em grandes polos florestais como MS.

E o mais preocupante: mesmo com o avanço da mecanização, a viabilidade plena exige tempo, tempo de adaptação técnica, validação operacional, ajustes de logística e escala. Ou seja, enquanto não cruzamos totalmente essa ponte, precisamos encontrar novas formas de manter a operação de pé.

O risco é claro: se negligenciarmos essa fase intermediária, teremos um gargalo crônico na base da produção e nenhuma máquina resolve um plantio sem operador qualificado para pilotá-la ou mesmo para prepará-la.

Esse contexto nos leva a questionar:

  • Como reestruturar a atração e formação de profissionais operacionais?
  • Que incentivos regionais ou programas de capacitação podem ser criados?
  • Como redesenhar a cultura de trabalho no campo para torná-la mais atrativa às novas gerações?

*Geraldo Dias é técnico em Agropecuária (UFV – Campus Florestal), e administrador (Unopar). Possui mais de 12 anos de experiência na área florestal, atuando como supervisor de colheita, transporte e silvicultura em empresas multinacionais certificadas. Trabalhou em desenvolvimento de soluções tecnológicas, mecanização, gestão de recursos humanos, e treinamento de equipes, com foco em melhorias operacionais, sustentabilidade e segurança.

*Imagem em destaque: crédito Paulo Cardoso/Mais Floresta.

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