*Artigo por Paulo Gustavo de Souza.
Durante décadas, a imagem mais comum da silvicultura brasileira esteve associada a homens com foices nas mãos, subindo e descendo encostas íngremes para cortar a vegetação que cresce entre as linhas de eucalipto. Um trabalho essencial, mas extenuante e arriscado. Hoje, esse cenário começa a mudar de forma definitiva com a chegada da roçada mecanizada em áreas de alta declividade, um avanço que reposiciona o país na fronteira tecnológica do manejo florestal.
Colocamos em operação, no Vale do Paraíba (SP), o primeiro equipamento capaz de realizar a roçada mecanizada em terrenos com inclinação de até 45° frontal e 28° lateral. O modelo, inédito no Brasil, substitui com segurança e eficiência uma das etapas mais desafiadoras do cultivo de eucaliptos, marcando um divisor de águas na mecanização das atividades silviculturais.
Mais do que um ganho operacional, a inovação representa uma transformação estrutural. A mecanização elimina a exposição de trabalhadores a áreas de risco, aumenta a produtividade e promove a precisão no manejo. Ao mesmo tempo, a operação mecanizada em declives amplia a competitividade das empresas florestais, reduz custos e eleva os padrões de qualidade da silvicultura nacional.
Essa evolução está alinhada ao novo momento do setor de árvores cultivadas no Brasil. Segundo o Relatório da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) 2024, o país ultrapassou 10,2 milhões de hectares plantados, com o eucalipto representando 76% do total. O setor é responsável por 2,69 milhões de empregos diretos e indiretos, planta 1,8 milhão de árvores por dia e gera 87% da energia que consome a partir de fontes renováveis. É uma indústria que cresce sustentavelmente, investindo em inovação, tecnologia e pesquisa.
A mecanização da roçada em terrenos complexos surge, portanto, como um passo natural e necessário nessa jornada de modernização. Se no passado a limitação técnica impunha fronteiras à expansão das operações mecanizadas, hoje o setor florestal se reinventa para vencer inclinações e desafios antes restritos ao trabalho manual.
Ao adotar o equipamento de roçada mecanizada em alta declividade, o Brasil reforça sua posição no mercado. A mecanização é a ponte entre produtividade e segurança, entre o valor econômico e o respeito à vida. Cada hectare roçado de forma mecanizada representa menos esforço humano em condições adversas e mais inteligência aplicada ao campo.
O futuro da silvicultura brasileira passa, inevitavelmente, por essa transformação. O avanço tecnológico deve caminhar lado a lado com o compromisso humano de produzir com eficiência, conservar com responsabilidade e evoluir com sustentabilidade.
*Paulo Gustavo de Souza é Gerente de Silvicultura da Reflorestar Soluções Florestais.