Uma pesquisa científica realizada no laboratório de hidrologia florestal do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), no município de Cunha/SP, busca compreender como o dossel das árvores e as briófitas interagem na captação de água nas florestas de neblina, que são vulneráveis às mudanças climáticas. Analisando quais são as espécies ou grupos de plantas mais importantes para a manutenção da integridade do ecossistema, o objetivo do trabalho é prever possíveis impactos ambientais em curto e longo prazo.
O projeto é desenvolvido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com o IPA e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – Processo nº 2021/11697-9.
“As florestas de neblina são particularmente sensíveis às variações de temperatura e umidade. Estudar seus componentes – folhagem, casca das árvores e briófitas – ajuda a decifrar esse sistema complexo de retenção e condução de água”, explica Kelly Tonello, pesquisadora da UFSCar e coordenadora da pesquisa.
O dossel e as briófitas formam um “guarda-chuva vivo”, capaz de capturar gotículas do nevoeiro e redirecioná-las ao solo, alimentando cursos d’água e influenciando diretamente a disponibilidade hídrica.
“Queremos decifrar quais são as espécies-chave ou grupos funcionais de maior significado ecológico para a manutenção da integridade ecossistêmica no que diz respeito à ecohidrologia”, relata o pesquisador Albano Magrin, também da UFSCar.
As briófitas são altamente dependentes do clima úmido e fresco, típico das florestas tropicais de altitude. Essas plantas avasculares podem crescer sobre outras plantas como epífitas, formando coxins, tramas, ramos pendentes de caules ou mesmo outros substratos como troncos em decomposição, solo e rochas. Esses organismos arrematam as florestas estendendo as funções ecológicas do dossel para o nível dos troncos e solo, atuando como uma espécie de “esponja natural”, absorvendo e retendo água proveniente tanto da precipitação direta quanto do nevoeiro.
“Utilizamos ferramentas que integram variáveis ambientais, estruturais e funcionais para a caracterização da comunidade funcional das briófitas, como o modelo LiBry”, informa Magrin. O pesquisador ressalta que o Brasil conta com a excelência de estudos taxonômicos e florísticos, fundamentais para subsidiar pesquisas aplicadas no âmbito ecológico.
A utilização de modelos utilizando plantas avasculares, como as briófitas, permite o melhor entendimento da dinâmica do ciclo hidrológico e do regime climático tanto em escala regional como global, ampliando o conhecimento dos ecossistemas tropicais. A relevância de se entender a dinâmica da água nesses ambientes se torna ainda maior diante de mudanças climáticas, que podem alterar a formação e a persistência do nevoeiro, fator fundamental para a sobrevivência dessas plantas e para o funcionamento hidrológico de todo o ecossistema.
Cooperação internacional
De 19 e 21 de fevereiro, a pesquisadora holandesa especialista em briófitas Maaike Bader, da Philipps-Universität Marburg (Alemanha), realizou no âmbito do projeto uma visita técnica ao Núcleo Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar, onde está localizado o Laboratório de Hidrologia Florestal “Engenheiro Agrônomo Walter Emmerich”. Além de conhecer as áreas de campo em floresta de neblina, a pesquisadora teve a oportunidade de observar a infraestrutura e os protocolos de análise do laboratório, que desempenha papel essencial na coleta e interpretação de dados hidrológicos.
A visita fortalece o intercâmbio científico entre Brasil e Alemanha, abrindo caminho para futuras cooperações. A expectativa é que a colaboração gere resultados que contribuam para políticas de manejo ambiental mais eficientes e para a formação de novos pesquisadores. O projeto de pesquisa mostra a relevância de unir esforços internacionais em temas críticos como a conservação de florestas de neblina tropicais e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que elas proporcionam. O laboratório de hidrologia florestal do IPA é único no bioma Mata Atlântica, sendo fundamental para avaliar o efeito das mudanças climáticas sobre a biodiversidade e sua interação com a água, sendo coordenado pelos membros da equipe técnica Juliano Oliveira, Rafael Bignotto e Roberto Starzynski.
Informações: Gov/SP.