Pesquisa da Unicamp testa uso de lignina não utilizada na indústria de papel para evitar deslizamentos de terra e melhorar solo para agricultura

Material pode ser utilizado em áreas de encosta e com perigo de deslizamento de terra, combater erosão e melhor qualidade do solo com sustentabilidade ambiental

Pesquisadores do Centro de Componentes Semicondutores e Nanotecnologia (CCS Nano) da Unicamp, em Campinas (SP), criaram uma forma de conter deslizamentos de terra e melhorar a qualidade do solo com lignina, um subproduto da indústria de papel geralmente descartado.

🔍 A lignina é um material que ajuda na união das fibras de celulose de uma planta e é eliminada na produção de papel. A principal produtora de papel no Brasil produz cerca de 1 milhão de toneladas por ano.

Segundo os pesquisadores, o produto desenvolvido tem sustentabilidade ambiental por ser feito a partir de um material que é biocompatível, ou seja, que é totalmente absorvido na natureza sem deixar resíduos.

⛰️ Contenção de deslizamento

O físico Stanislav Mochkalev, coordenador das pesquisas, trabalha no processamento de nanomateriais há dez anos e utiliza micro-ondas na fabricação de sensores, baterias de lítio e supercapacitores. Recentemente, passou a testar a lignina para responder a uma demanda da indústria de papel que quer dar um destino ao resíduo.

“Um rejeito da indústria, de fato, um lixo que não custa praticamente nada […] a maior parte de uso acontece em caldeiras com o pó de lignina quando ela seca, aí ela consegue produzir calor em caldeiras. Mas esse uso é muito poluente”, diz.

Durante os testes, que envolvem outros aditivos além da lignina e o aquecimento do composto com micro-ondas, ele conta que se formaram estruturas em três dimensões no formato de cápsulas de 1 a 2 cm³ que não estavam previstas.

“A gente conseguiu fazer cápsulas. Essa foi descoberta, de fato fenomenal”, conta.

Pois foi a partir deste formato, que revelou ter boa estrutura mecânica e alta porosidade, que o grupo conseguiu ampliar as aplicações do produto. Essas capsulas são capazes de absorver até cinco vezes o seu peso em água, então surgiu a ideia dos “poços de absorção” para áreas de encosta.

Modelo da absorção da água da chuva pelos poços com capsulas de lignina. — Foto: CCS Nano / Unicamp
Modelo da absorção da água da chuva pelos poços com capsulas de lignina. — Foto: CCS Nano / Unicamp

Ele explica que a ideia é colocar as cápsulas em pequenos poços cilíndricos em uma profundidade de 3 a 5 m no topo de uma área de encosta. No momento que cair a chuva, essa água é absorvida de forma muito rápida, evitando o acúmulo na superfície, e que depois libera gradualmente.

“A gente tem experimentos no laboratório que mostram que as cápsulas seguram semanas a água. Diminuindo o risco de deslizamentos”, explica.

A pesquisadora Nista inclusive falou de uma possibilidade que ainda não foi testada, mas o produto tem potencial para ser utilizado em áreas de risco de enchente absorvendo o excesso de água como uma “esponja”.

Pesquisa da Unicamp testa uso de ‘lixo’ da indústria de papel para evitar deslizamentos de terra e melhorar solo para agricultura

🌳🌱 Solo biocompatível

Outra aplicação para o composto que a equipe observou é a capacidade de emular as propriedades da ‘terra preta’ que é um solo fértil e rico em matéria orgânica encontrado na Amazônia. Dentre os elementos mais comuns, há o grafite e óxido de grafite oriundo das fogueiras e outras coisas da floresta.

“A terra preta é muito produtiva, quatro a cinco vezes mais produtiva se comparada com a terra comum que é usada na agricultura”, explica o físico.

As químicas Silvia Vaz Guerra Nista (à esq.) e Larissa Giorgetti Mendes fazendo a transformação da lignina com micro-ondas no CCS Nano da Unicamp. — Foto: Lúcio Camargo / Unicamp

As químicas Silvia Vaz Guerra Nista (à esq.) e Larissa Giorgetti Mendes fazendo a transformação da lignina com micro-ondas no CCS Nano da Unicamp. — Foto: Lúcio Camargo / Unicamp

Segundo os pesquisadores, o objetivo inicial era fazer um pó de lignina, mas ao passar pelo processo de micro-ondas e com a criação das estruturas em forma de cápsulas, perceberam a propriedade de imitar as características físicas de porosidade e absorção de água do solo amazônico.

Assim, explica que o produto de lignina tem a capacidade de aumentar a produtividade agrícola e reduzir a dependência de fertilizantes químicos. Com o tempo, o solo com o composto deve favorecer a formação de um bioma como um fertilizante natural.

Além disso, os pesquisadores também ressaltam que é um produto que será absorvido totalmente na natureza sem deixar resíduos.

Estima-se que a terra preta esteja presente no solo de 0,1 a 10% da bacia amazônica. — Foto: Reprodução EPTV

Estima-se que a terra preta esteja presente no solo de 0,1 a 10% da bacia amazônica. — Foto: Reprodução EPTV

Informações: G1.

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