O caminho da madeira: da floresta às paredes de casas rurais

Empresa adota tecnologia para produção de painéis de CLT com madeira que iria para as caldeiras

A movimentação de máquinas em meio à floresta de pinus indica que o corte das árvores está em andamento. Esse é o primeiro passo da transformação da madeira dos troncos em painéis para a construção de casas. Em uma das áreas de plantio da Águia Florestal – empresa do setor madeireiro -, em Ponta Grossa (PR), a Globo Rural acompanhou o processo, que termina na área fabril.

O diretor da Águia Florestal, Alvaro Luiz Scheffer Junior, explicou que o ciclo produtivo do pinus chega a 28 anos. No local, estava sendo feito o desbaste de árvores de 17 anos. A colheita é 100% mecanizada, com equipamentos de última geração que cortam as toras em tamanhos definidos conforme o diâmetro de cada árvore. O procedimento é programado e operado por profissionais qualificados, e atingiu em torno de 50% da plantação.

“Com isso, abrimos espaço para as árvores que ficaram crescerem mais e terem um incremento. Elas vão formar copa novamente, absorver mais carbono da atmosfera e consequentemente gerar mais madeira, tanto em altura como em diâmetro”, comentou.

Scheffer Junior ainda destacou as etapas que antecedem a colheita, da muda até o plantio, passando pelo manejo durante o ano e o combate a pragas para garantir um produto final de qualidade. Uma das práticas de manejo adotadas é o plantio em mosaico, que intercala áreas de conservação com áreas de árvores cultivadas para fins industriais.

Colheita das toras de pinus é 100% mecanizada — Foto: Divulgação
Colheita das toras de pinus é 100% mecanizada — Foto: Divulgação

Painéis de CLT

Da floresta, o carregamento de toras segue para a área fabril da Águia. Parte da madeira será beneficiada com soluções trazidas da Europa para a construção de painéis feitos com CLT (Cross Laminated Timber). De acordo com o diretor, o processo garante a transformação de madeira que seria queimada como combustível em caldeiras industriais – ou mesmo descartada – em painéis altamente resistentes para uso na construção civil.

A tecnologia adotada pela Águia Florestal resulta em módulos de madeira serrada. As etapas do processo de fabricação incluem a seleção e a preparação da madeira, laminação e prensagem, corte, usinagem e acabamento. Por fim, um robô realiza a marcação de pontos hidráulicos e elétricos, entregando os painéis prontos para instalação desses itens.

Parte da madeira será beneficiada para a construção de painéis feitos com CLT (Cross Laminated Timber) — Foto: Carolina Mainardes/Globo Rural
Parte da madeira será beneficiada para a construção de painéis feitos com CLT (Cross Laminated Timber) — Foto: Carolina Mainardes/Globo Rural

Conforme o CEO da empresa, Alvaro Luiz Scheffer, os módulos equivalentes a uma casa de 60 metros quadrados ficam prontos em sete dias úteis. Além disso, ele aponta como vantagens do material propriedades retardantes de chamas, isolamentos térmico e acústico, solidez e resistência a cupins. “O processo é sustentável, a madeira de pinus usada no CLT é renovável e o aproveitamento é total, não há sobra”, ressalta Scheffer.

Os primeiros kits com CLT desenvolvidos pela empresa serão destinados à construção de 100 casas rurais sustentáveis. O material será enviado ao Rio Grande do Sul, por meio de edital aberto pelo governo do Paraná com o intuito de beneficiar famílias de áreas agrícolas vítimas das enchentes ocorridas no Estado. As casas têm dois quartos, sala e cozinha conjugadas e banheiro.

Lançado pela Águia em fevereiro deste ano, o produto com a nova tecnologia promete ainda baixo custo. Scheffer informou que o valor de um imóvel construído com o kit de madeira com CLT gira em torno de R$ 160 mil – sem o piso e as partes em cerâmica, aplicados por empresas parceiras -, no caso da venda comercial.

O produto se junta ao portfólio da empresa, que produz madeira serrada e subprodutos de origem florestal. O grupo possui 24 mil hectares de floresta em áreas próprias, sendo 10 mil hectares de área plantada de pinus e o restante de área nativa preservada.

Os primeiros kits com CLT serão destinados à construção de 100 casas para atingidos pelas enchentes do Rio Grande do Sul — Foto: Divulgação
Os primeiros kits com CLT serão destinados à construção de 100 casas para atingidos pelas enchentes do Rio Grande do Sul — Foto: Divulgação

Cenário

No Brasil, o plantio de pinus cobre 1,9 milhão de hectares, ou seja, 19% do total do setor. Dentre as espécies cultivadas no país, o eucalipto se destaca, totalizando 7,8 milhões de hectares, o que corresponde a 76% da área total plantada. Outras espécies ocupam cerca de 500 mil hectares, incluindo acácia, teca, seringueira e araucária.

De acordo com a Associação Paranaense de Base Florestal (Apre), no Paraná essa proporção se inverte, pois o Estado tem mais pinus plantados que eucalipto. O Paraná ocupa o 4º lugar entre os produtores nacionais, com cerca de 1,17 milhão de hectares plantados, sendo 710.836,77 hectares de pinus, 438.721,37 hectares de eucalipto e 6.486,96 ha de araucária, o que corresponde a 11,84% dos plantios do país.

Com isso, o Paraná desponta no cenário nacional com a segunda maior área de pinus e General Carneiro, município localizado na região Sul do Paraná, mantém a liderança como município com maior VBP da produção florestal primária do Brasil, com movimentação de R$ 627,5 milhões em 2023.

Aílton Augusto Loper, diretor Florestal da Apre, destaca que a área de floresta plantada no Paraná vem se mantendo há alguns anos. “Isso é um pouco preocupante, porque a tendência é ter aumento de demanda de madeira tendo em vista o crescimento do setor”, adverte. Segundo ele, a indústria florestal está atenta e mantém investimentos em tecnologia e ciência, a fim de buscar, entre outros avanços, maior produtividade por hectare. “Essa busca pela eficiência resulta na produção com mais qualidade em menos espaço”, completa.

Em 2023, entre as empresas associadas à Apre, o Incremento Médio Anual (IMA) médio para pinus foi de 31,75 m³ de hectares ao.ano, enquanto para eucalipto ficou em 39,12 m³/ha.ano, produtividades um pouco acima da média nacional.

Informações: Globo Rural.

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