Mudanças climáticas pressionam a produtividade do eucalipto e aceleram inovação no setor de celulose

Com o avanço das mudanças climáticas, o desempenho das florestas plantadas no Brasil já é afetado e as prioridades de inovação no setor de papel e celulose estão sendo redefinidos. A combinação de dias mais quentes, chuvas irregulares e vendavais frequentes compromete o crescimento do eucalipto, aumenta a proliferação de pragas e eleva as perdas de madeira, uma preocupação crescente, como explica a agrônoma Josileia Zanatta, pesquisadora da Embrapa Florestas.

Segundo estudo da instituição, as oscilações climáticas devem impactar o cultivo do eucalipto em todas as regiões do país, exceto no Sul. “Com a mudança do clima batendo à porta, se nada for feito, teremos, de fato, redução na produtividade”, concorda Adriano Scarpa, gerente de sustentabilidade e políticas florestais da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). Para ele, o caminho passa pela inovação: “O setor vem avançando em pesquisas voltadas à resiliência climática”.

A adaptação exige iniciativas que unem melhoramento genético, projeções climáticas e novas tecnologias de monitoramento. Bioinsumos em desenvolvimento também começam a surgir como alternativa. Segundo pesquisa da Ibá, o melhoramento genético concentra 26% dos R$ 372 milhões investidos em pesquisa e inovação pelo setor no último ano. O objetivo é selecionar árvores produtivas e mais resistentes. “Busca-se, por exemplo, cruzar materiais genéticos de uma espécie de alta produtividade com outra de maior tolerância à seca ou a altas temperaturas, para agregar volume e adaptação”, afirma Cristiane Reis, engenheira florestal e pesquisadora da Embrapa Florestas.

Em um movimento incomum, empresas concorrentes decidiram unir esforços. Klabin, Suzano e Eldorado Brasil participam de um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef) para analisar o desempenho de clones de eucalipto em diferentes regiões do país. “Com o programa, conseguimos saber com precisão quanto cada material genético cresce em diferentes condições de precipitação”, explica Darlon Orlamunder, diretor de estratégia e planejamento florestal da Klabin. Segundo ele, as informações permitem, por exemplo, avaliar se um clone hoje resistente à seca no Nordeste poderá futuramente ser cultivado no Mato Grosso do Sul. “Caso o ambiente se torne mais seco e as temperaturas aumentem, conseguimos selecionar o material mais adequado à nova condição climática”, afirma.

O melhoramento genético depende diretamente de projeções climáticas robustas, já que a criação de novas linhagens leva entre 12 e 20 anos. “Se não nos anteciparmos agora, corremos o risco de desperdiçar todo o esforço de selecionar espécies pensando no cenário atual, porque, daqui a 15 anos, quando estiverem prontas, talvez já não estejam adaptadas ao novo ambiente”, observa Sharlles Dias, gerente-geral de pesquisa e tecnologia florestal da Eldorado Brasil.

Orlamunder reforça essa visão: “Começamos a selecionar os nossos materiais para as próximas quatro décadas com base nas condições de chuvas e temperatura que estão por vir”. Ele explica que, desde 2018, a Klabin utiliza modelagens climáticas desenvolvidas com apoio do pesquisador Eduardo Delgado Assad, vinculado ao IPCC. Os modelos projetam cenários que variam de um aquecimento mais brando, de 1,5°C, a aumentos de até 5°C até o fim do século.

A Eldorado Brasil também integra modelagens e dados meteorológicos às suas estratégias. A empresa opera 30 estações automáticas que coletam, de hora em hora, informações sobre temperatura, umidade e precipitação. “Já estamos na nossa quarta atualização e temos modelado o clima das nossas áreas até 2099”, afirma Dias. Segundo ele, os modelos indicam que o volume total de chuva pode se manter estável, mas concentrado em períodos mais curtos, cenário que exige produção em ambientes mais secos.

Para acelerar o desenvolvimento de novas árvores, o setor aposta em análises de DNA capazes de prever características como tolerância à seca, resistência a pragas, crescimento acelerado e densidade da madeira. A Eldorado espera reduzir o ciclo de criação de novos clones para cerca de seis anos até 2028, hoje ele dura entre 12 e 15 anos. Na Klabin, a meta segue a mesma direção. “Com essas seleções precoces, nosso objetivo é encurtar o atual ciclo de 12 anos”, diz Orlamunder.

Paralelamente, sensores e equipamentos avançados ampliam o monitoramento das florestas. Na Suzano, torres com sensores registram trocas de carbono, água e energia entre árvores e atmosfera, como detalha Pablo Cadaval, diretor de tecnologia e inovação. Outro dispositivo utiliza tecnologia da Nasa, originalmente aplicada no mapeamento de solos em Marte, para análises químicas em campo. Pelo método, conhecido como sensoriamento proximal, resultados que antes levavam cerca de 30 dias ficam prontos em dez minutos.

Suzano, Klabin e Eldorado também monitoram o fluxo de seiva dos eucaliptos para avaliar o uso da água e acompanham o comportamento das estruturas de respiração das folhas. Para integrar esse volume de dados, a Suzano desenvolveu um sistema capaz de combinar medições de solo e árvores com informações de satélite e clima. “Isso nos permite conhecer o balanço hídrico da região e entender melhor o comportamento das árvores, o que leva a decisões mais assertivas e ajustes finos de manejo”, afirma Cadaval.

O setor também experimenta soluções biológicas. A Embrapa Florestas trabalha no desenvolvimento de bioinsumos específicos para o cultivo de eucalipto, como bactérias que estimulam o crescimento das raízes ou favorecem a absorção de fósforo. “Estamos analisando três bactérias e dois fungos para tentar melhorar o enraizamento do eucalipto”, afirma Dias. Ele acredita na expansão dessa tecnologia: “Não tenho dúvidas de que, com o aumento da escala, o uso do micro-organismo se tornará uma tendência”.

Informações: Valor Econômico

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