A vice-presidente do CRECI/MS explicou que apesar do crescimento e valorização dos imóveis no Estado, é essencial buscar profissionais habilitados para evitar fraudes e garantir negociações seguras
Em entrevista recente, a vice-presidente do CRECI/MS, Simone Leal, destacou que o setor imobiliário em Mato Grosso do Sul vive um momento promissor com a expansão da celulose e a rota bioceânica, mas alertou para os riscos de fraudes e contratos irregulares. Segundo Simone, apenas profissionais habilitados podem garantir negócios seguros e evitar que “o sonho da casa própria se transforme em um pesadelo”. Confira a entrevista completa:
No dia 27 de agosto foi comemorado o Dia do Corretor de Imóveis. O que a data representa para a categoria?
Essa data é muito especial para nós, pois marca a regulamentação da profissão de corretor de imóveis, ocorrida em 27 de agosto de 1962, há 63 anos. Mas o que isso representa? Significa segurança jurídica. O corretor é o profissional responsável por tomar todas as providências necessárias, verificar a documentação e garantir que a negociação de um imóvel seja feita com tranquilidade e confiança.
Afinal, para muitas pessoas, comprar um imóvel é a realização de um sonho de vida inteira, fruto de anos de trabalho e economias. E é justamente esse sonho que o corretor de imóveis tem a missão e a capacidade de concretizar.
Como que os profissionais estão lidando com as demandas dos clientes que buscam por um imóvel? Qual é o cenário em MS?
O setor imobiliário é um segmento que sempre se mantém pujante. Em nosso estado, por exemplo, a indústria da celulose está em franca expansão, trazendo desenvolvimento e progresso para toda a região e arredores. Isso naturalmente impacta o mercado imobiliário, que acompanha esse crescimento com boas oportunidades de negócios.
Outro fator importante é a rota bioceânica, que amplia as perspectivas de investimento e reforça a ideia de que investir em imóveis nunca é perda: o setor sempre se valoriza e gera segurança.
Ser corretor de imóveis, no entanto, exige constante movimento. É uma profissão em que não se pode “estacionar”. Quem não se atualiza acaba ficando para trás. Nosso papel vai muito além de aproximar comprador e vendedor: somos consultores, responsáveis por oferecer orientação qualificada, transmitir credibilidade e, assim, fidelizar clientes.
Mesmo diante de crises econômicas, os imóveis permanecem como um patrimônio sólido e de referência, mantendo sua valorização. Hoje, Mato Grosso do Sul vive um momento especialmente promissor. Vimos isso na região do Bolsão, e agora a expansão da indústria da celulose alcança outras localidades, valorizando não apenas imóveis rurais, mas também urbanos e de locação.
Esse movimento ocorre em duas etapas: primeiro, durante a construção das fábricas, quando há grande demanda de alojamentos e suporte para os trabalhadores; depois, em um segundo estágio, com a estabilização, quando os profissionais passam a atuar efetivamente nas indústrias já instaladas. Esse ciclo fortalece ainda mais o mercado imobiliário e cria novas oportunidades para todos.
Como os corretores têm lidado com essa realidade de alta demanda e de preços tão elevados, tanto para compra e venda de imóveis quanto para aluguéis?
O que acontece é simples: é a lei da oferta e da procura. Vimos isso em Três Lagoas, depois em Ribas, e agora em Inocência. A alta demanda por imóveis eleva os preços rapidamente. Aquela quitinete que custava entre R$ 500 e R$ 800, hoje não se encontra por menos de R$ 3.000 ou R$ 4.000.
Mas esse movimento traz também um outro efeito: a inadimplência. Muitas pessoas se mudam para essas regiões sem garantias reais de pagamento. O salário nem sempre acompanha os valores cobrados, que estão muito acima da média de mercado. E, quando se faz uma análise de crédito, o recomendado é que a moradia não comprometa mais de 30% do orçamento familiar. Quando isso não é respeitado, a inadimplência cresce, e com ela vem a dificuldade da retomada do imóvel.
Outro problema é que, para tentar economizar, muitos optam por contratos sem intermediação de um corretor ou de uma imobiliária. Usam modelos prontos, comprados em livrarias, sem a devida base legal. Isso gera dores de cabeça, litígios e demandas judiciais que poderiam ser evitadas com a atuação de um profissional habilitado.
O mesmo vale para a compra de imóveis. Quer segurança? Procure sempre um corretor de imóveis. É claro que existem pessoas mal-intencionadas, criminosos que se passam por profissionais e acabam lidando de forma irresponsável com o sonho das famílias. Por isso, não basta estar apenas credenciado ao Creci: é preciso ter conhecimento, preparo e competência. Afinal, os contratos de locação, venda ou financiamento exigem atenção a muitos detalhes. Se não houver profissionalismo, o sonho da casa própria pode facilmente se transformar em um pesadelo.
Diante dos ‘falsos profissionais’ que acabam manchando a imagem dos corretores habilitados e prejudicando o sonho de tantas pessoas, como o Creci tem atuado hoje para combater esse tipo de fraude praticada por quem se apresenta como corretor sem realmente ser?
Há cerca de três anos realizamos um estudo aprofundado com a nossa equipe de fiscalização, que também atua na investigação e coleta de provas. Esse trabalho durou nove meses e resultou em uma grande operação, que começou em Campo Grande e depois se estendeu para Três Lagoas e Dourados.
O alvo foram fraudes relacionadas à venda de consórcios. Talvez você se recorde: foi uma operação de grande porte, envolvendo o Procon, o Ministério Público, o CRECI e até o Conselho Tutelar, já que encontramos menores de idade aliciados para atuar nessas práticas ilegais.
O que acontecia? Pessoas inescrupulosas copiavam anúncios de imóveis, enganando consumidores ao oferecer o que diziam ser financiamentos. Na prática, tratava-se de consórcios irregulares, muitos sem qualquer registro no Banco Central. O comprador entregava R$ 10 mil ou R$ 15 mil como entrada e, quando percebia que não se tratava de financiamento, já havia perdido o dinheiro.
Muitos desses golpes eram aplicados por jovens, explorando a facilidade das redes sociais e do marketplace para atrair vítimas. Encontramos situações absurdas, como pessoas na recepção com maletas e sacolas cheias de dinheiro em espécie, valores que famílias inteiras haviam juntado por meio de empréstimos bancários para tentar realizar o sonho da casa própria.
Essa operação teve grande repercussão e resultou inclusive em prisões. O recado que deixamos é claro: a população precisa ficar atenta. Sempre consulte o site do CRECI, verifique a certidão de regularidade e confirme se o profissional é realmente habilitado. Só assim é possível evitar que o sonho da casa própria se transforme em um pesadelo.
Em meio ao cenário atual em Mato Grosso do Sul, de que forma o Conselho tem atuado para capacitar e fortalecer cada vez mais a categoria dos corretores de imóveis?
Hoje o Conselho tem se debruçado sobre dois pontos principais. O primeiro é a preocupação com a formação dos novos profissionais. Temos visto muitos corretores chegando ao mercado sem a devida qualificação. Por lei, os cursos são fracos e deixam lacunas sérias. Para se ter uma ideia, há profissionais que não sabem sequer o que é uma certidão de matrícula — que, em termos simples, é como a “certidão de nascimento” do imóvel, trazendo todo o histórico de proprietários, eventuais penhoras e cancelamentos.
Nesse sentido, o que o Conselho pode fazer ainda é limitado, já que a responsabilidade pela fiscalização dos cursos é do MEC e das secretarias estaduais de Educação. Por isso, a luta hoje, em nível federal, é pela criação de um exame de proficiência, semelhante ao da OAB, que garanta que apenas profissionais realmente capacitados possam atuar no mercado.
O segundo ponto é a atuação contra os maus profissionais. Infelizmente, como em qualquer área, há pessoas mal-intencionadas. Para esses casos, o Conselho mantém uma atuação firme.
O objetivo é claro: punir rigorosamente os que agem de má-fé. Apropriação indébita, por exemplo, leva à cassação imediata, sem segunda chance. E, quando cassado, se o profissional insiste em atuar, o caso passa a ser de polícia e é encaminhado ao Ministério Público.
É fundamental também que a sociedade colabore. Sempre que houver uma irregularidade, é preciso denunciar ao CRECI, apresentando documentos e provas. Só assim conseguimos retirar do mercado aqueles que mancham a profissão e prejudicam o consumidor. O nosso papel é proteger o cidadão e garantir que o sonho da casa própria não se transforme em frustração.
Hoje é muito comum ver anúncios em sites de classificados e no Facebook oferecendo imóveis para “assumir parcelas”, muitas vezes apenas com contrato feito em cartório. Quais são os riscos de um acordo desse tipo?
Esse tipo de negociação representa um risco enorme. No caso do programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, o financiamento não pode ser transferido diretamente. A forma correta é apresentar a documentação ao banco, que quita o financiamento anterior e abre um novo contrato em nome do comprador.
O consumidor precisa entender que um contrato particular, mesmo registrado em cartório, não garante segurança jurídica. Se o vendedor, por exemplo, vier a falecer, o imóvel entrará em inventário e o comprador ficará em uma situação complicada, com chances de perder o que investiu.
Outro ponto importante é a questão das taxas de juros. Muitos desistem da compra porque consideram a prestação alta com a Selic elevada. Mas é preciso lembrar que, daqui a um ano, o imóvel provavelmente estará mais caro. Ou seja, mesmo que a taxa caia, a valorização do bem pode anular o benefício.
A saída é a portabilidade de crédito. Caso as taxas caiam no futuro, o comprador pode transferir o financiamento para outro banco que ofereça juros menores. Muitas vezes, só de manifestar a intenção de portar o contrato, o próprio banco atual já reduz os juros para não perder o cliente. Assim, é possível renegociar ao longo dos anos e adequar o financiamento às condições de mercado.
Portanto, o recado é claro: se tiver oportunidade de comprar, compre. Mesmo que os juros pareçam altos no momento, é sempre possível fazer a portabilidade depois e reduzir os custos do financiamento.
Informações: A Crítica.