Agora, o controle da família Batista é total sobre a empresa e Paper Excellence está fora do negócio
A holding J&F confirmou a compra da parte da Paper Excellence na Eldorado Brasil Celulose e encerrou um litígio de quase oito anos na disputa pelo controle da indústria, localizada em Três Lagoas, cidade distante 330 km de Campo Grande.
O grupo que pertence aos irmãos Joesley e Wesley Batista pagou à vista R$ 15 bilhões pela totalidade das ações da empresa. Agora, o controle da família Batista é total sobre a empresa. Até então, a Paper Excellence, do bilionário sino-indonésio Jackson Wijaya, tinha 49,5% das ações da empresa, e brigavam para validar um negócio em que eles comprariam as ações dos irmãos Batista.
“Este investimento reforça a confiança da J&F no Brasil, na Eldorado e na competitividade do país no setor celulose”, afirma Aguinaldo Filho, presidente da J&F e presidente do Conselho de Administração da Eldorado.
Conforme a J&F informou ao Correio do Estado, o acordo encerra todas as ações judiciais e arbitrais que estão em curso, e ainda garante um bom retorno à Paper Excellence. “Esta é uma página que viramos de forma amigável, desejando sucesso a nossos ex-sócios e abrindo um novo capítulo na história da Eldorado”, diz Aguinaldo Filho.
“Hoje é dia de agradecer a todos os colaboradores, clientes e parceiros de negócio que confiaram no futuro da Eldorado”, complementou o executivo.
Segunda linha
Após quase oito anos de disputas judiciais e arbitrais, a J&F, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, anunciou acordo com a Paper Excellence para recomprar a participação de 49,5% da empresa sino-indonésia na Eldorado Brasil Celulose.
Com o desfecho, será encerrada a longa disputa pelo controle acionário da companhia e destravado um investimento estimado em US$ 5 bilhões (cerca de R$ 28 bilhões) na construção da segunda linha de produção da fábrica localizada em Três Lagoas (MS).
Em 2023, durante um evento com empresários em São Paulo, Joesley Batista já havia indicado que o projeto da nova linha de produção seria iniciado “em breve”, condicionado à solução do impasse societário.
A nova unidade deverá ampliar a capacidade instalada da Eldorado em pelo menos 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano, somando-se à atual capacidade de 1,9 milhão de toneladas, que, devido à alta produtividade, já ultrapassa os 2 milhões de toneladas anuais.
A indefinição sobre o controle da empresa também havia sido tema de discussão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que em 2020 retirou temporariamente a Paper Excellence do conselho de administração da Eldorado. Na ocasião, a J&F argumentava que a sócia estrangeira não demonstrava interesse na expansão da companhia, o que estaria travando novos investimentos.
Enquanto a disputa seguia nos tribunais, a concorrência avançava no setor de celulose em Mato Grosso do Sul. A Suzano inaugurou uma megafábrica em Ribas do Rio Pardo, a 130 km da capital, Campo Grande.
Neste ano, a Arauco iniciou as obras de outra grande planta em Inocência, e a Bracell também prevê a construção de uma nova unidade em Bataguassu. A expectativa agora é de que a Eldorado retome sua posição na corrida industrial do setor.
Com o novo ciclo de expansão, cresce nos bastidores a preocupação com a escassez de mão de obra especializada. Técnicos e engenheiros qualificados, essenciais para a execução de grandes estruturas industriais, já estão sendo mobilizados por outras fabricantes de celulose que operam no estado. A demanda simultânea por profissionais pode representar um gargalo para o cronograma de obras da segunda linha da Eldorado.
Linha do tempo da disputa entre J&F e Paper Excellence
- Set.17 – A J&F conclui a primeira fase da venda da Eldorado para a Paper Excellence. O valor da empresa foi estimado em R$ 15 bilhões. A conclusão total estava prevista para os 12 meses seguintes.
- Jun.18 – O China Development Bank desiste de financiar a segunda etapa da compra, elevando a tensão entre as partes.
- Ago.18 – A Paper aciona a Justiça para obrigar a conclusão do negócio antes do vencimento contratual, mas o pedido é parcialmente negado. O caso segue para arbitragem.
- Abr.19 – O CEO da Paper no Brasil, Cláudio Cotrim, acusa a J&F de exigir R$ 6 bilhões adicionais.
- Jul.19 – Eduardo Bolsonaro aparece em evento ao lado de Jackson Widjaja, segurando um cheque simbólico de R$ 31 bilhões para investimentos em Três Lagoas.
- Mai.20 – A J&F é condenada por litigância de má-fé em ação contra Cotrim.
- Fev.21 – A Paper vence arbitragem por 3 a 0 e obtém autorização para concluir a compra.
- Mar.21 a Jul.21 – A J&F consegue decisões judiciais que suspendem a transferência do controle. Em julho, nova decisão autoriza a transferência, mas é novamente revertida por liminar.
- Jul.22 – A Justiça determina que a Paper assuma o controle da Eldorado.
- Jul.23 – O TRF-4 suspende a aquisição de imóveis rurais pela Eldorado, alegando necessidade de autorização do Incra e do Congresso, travando a venda.
- Nov.24 – Cláudio Cotrim afirma à imprensa que a Paper não deseja manter a posse das terras e promete vendê-las caso assuma o controle.
- Jan.25 – A Paper inicia novo processo arbitral na CCI, em Paris, pedindo US$ 3 bilhões em indenização.
- Mar.25 – O TJ-SP decide que o processo deve retornar à 1ª instância, anulando decisão anterior favorável à Paper.
- Mai.25 – A J&F anuncia acordo para recomprar a fatia da Paper na Eldorado, encerrando a disputa. A expectativa é que a transação seja formalizada ainda neste mês.
Informações: Correio do Estado.