Integração entre lavoura, pecuária e florestas avança e reduz pressão por novas áreas

Sistema chega a todos os biomas, recupera pastagens e abre caminho para renda com carbono; ritmo de adoção ainda depende de melhores condições de financiamento

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema que combina lavouras, criação de gado e árvores na mesma área para recuperar o solo e aumentar a produtividade, já se espalhou por 17,4 milhões de hectares em todos os biomas do Brasil, segundo números do setor.

O fato de os sistemas integrados, mesmo que em diferentes níveis, estarem presentes no agronegócio brasileiro é sinal de que a técnica, além de maturidade, vem ganhando escala, afirma Rui Pereira Rosa, diretor da Rede ILPF. “É uma realidade consolidada. A ILPF é um fato, a partir dos resultados amplamente comprovados”, afirma o executivo, que participa do painel “O agronegócio na COP-30” no Estadão Summit Agro, realizado pelo Estadão e produzido pelo Estadão Blue Studio, nesta quinta-feira, 27, no Meliá Ibirapuera, em São Paulo.

A Rede ILPF — entidade que reúne instituições de pesquisa, empresas do agro e agentes de extensão — trabalha justamente para ampliar o uso dessas tecnologias. A organização apoia a capacitação de técnicos, forma multiplicadores, produz estudos e estimula o compartilhamento de práticas adaptadas às realidades regionais. O objetivo é acelerar a integração produtiva de áreas agrícolas e pecuárias, sempre com foco na recuperação do solo e na diversificação de renda.

“Usar a mesma área para múltiplas atividades recupera sua vitalidade. É uma tecnologia inteligente, que revigora aquilo que é o mais importante: o solo.” Segundo Rosa, a presença de culturas rotacionadas, palhada e árvores em uma mesma propriedade melhora a infiltração de água, eleva a fertilidade e reduz a erosão. “São processos que também reduzem o risco climático”, diz.

Para a pecuária, segundo especialistas, o impacto é direto: pastagens mais estruturadas e nutritivas encurtam o tempo de abate e diminuem custos com suplementação. Rosa observa que a qualidade dos rebanhos, sozinha, muitas vezes não resolve. “Falamos muito de genética, mas sem alimento e sem pasto de qualidade, o gado não vai para frente.”

Em alguns modelos, florestas plantadas também entram como fonte adicional de renda e estratégia de conforto térmico para o rebanho. As espécies podem ser nativas ou comerciais, a depender do local e do mercado. “O segredo é respeitar as características locais e as oportunidades da região”, completa.

A adoção cresce em praticamente todo o território nacional, segundo estudos da Rede ILPF. Embora Mato Grosso tenha participação expressiva pela extensão de suas áreas, sistemas integrados já aparecem nos seis biomas brasileiros, com arranjos que vão do clássico lavoura-pecuária até combinações com cacau, café, seringueira ou macaúba. “E, para pequenos produtores, a diversificação é uma das maiores vantagens, pois reduz a dependência de uma única fonte de receita”, avalia Rosa.

No caso da vegetação, além de poder servir de sombra para o gado — em casos envolvendo até espécies nativas —, as florestas plantadas, com exemplares muitas vezes exóticos, viram renda em sete a oito anos, quando são cortados para a exploração da madeira.

Ampliação esbarra em limitações
Apesar do avanço, a técnica ainda está longe de atingir seu potencial. O Brasil tem 159 milhões de hectares de pastagens, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), todos — em diferentes graus de qualidade — com possibilidade de conversão para integração.

São 58 milhões de hectares de pastagens boas, 66 milhões intermediárias e 35 milhões degradadas. “Todas as pastagens têm potencial para se transformar em áreas produtivas dentro do sistema”, afirma Rosa.

A distância entre o potencial e a área já convertida mostra o tamanho do desafio. Um deles é o investimento inicial, necessário principalmente para corrigir o solo. “O produtor vê o resultado e quer fazer, mas é preciso investimento, e aí entra o financiamento”, diz Rosa.

Embora existam linhas de crédito voltadas a práticas sustentáveis, o acesso ainda não é uniforme no País. Programas recentes do governo federal prometem ampliar esse apoio, mas a disponibilidade de recursos, os juros e a estrutura técnica local continuam determinando o ritmo de implementação.

Outro obstáculo é a cultura. A ILPF exige conhecimento técnico específico, acompanhamento e adaptação às condições locais. Por isso, a atuação de redes de extensão rural e entidades como a Rede ILPF é considerada decisiva. “O nosso papel é difundir e demonstrar que funciona. Quando o produtor vê o resultado, ele adere. Mas é um trabalho de mostrar na prática”, afirma.

Mesmo com essas limitações, a expansão tem ganhado intensidade. Segundo Rosa, o crescimento médio nos últimos anos, de acordo com dados preliminares, foi de 1,5 milhão de hectares por ano — tendência que deve se acelerar à medida que se fortalece a demanda por maior produtividade sem expansão sobre novas áreas.

O avanço de metodologias que investigam medições de carbono dos sistemas integrados, em um futuro próximo, pode ajudar a adicionar novas fontes de receita aos produtores, desde que os mercados de crédito de carbono se consolidem — o que pode vir a ser um legado da COP-30. “Quando você recupera uma pastagem, ela deixa de emitir e passa a sequestrar carbono. O desafio agora é transformar isso em crédito e levar renda ao produtor”, ressalta Rosa.

Com grande potencial de expansão e benefícios comprovados, a ILPF segue ganhando espaço como uma das principais estratégias do agro brasileiro para crescer de forma mais eficiente, resiliente e sustentável. Para Rosa, a equação é simples: “A força da ILPF é gerar renda de curto, médio e longo prazo. Mas, para crescer ainda mais, o produtor precisa de apoio e financiamento”.

O Estadão Summit Agro apresentará cinco painéis e talks que discutirão as transformações em curso no agronegócio diante da crise climática e das novas exigências ambientais. Saiba mais sobre a programação e como fazer a inscrição em summitagro.estadao.com.br/programacao/. O evento terá transmissão pelo portal do Estadão.

Informações: Portal Terra.

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