Estudo inédito de viabilidade encomendado pela EY aponta potencial de criação de até 620 mil empregos verdes até 2035
Como fazer com que a floresta amazônica em pé seja um celeiro de negócios capazes de mexer nos ponteiros do PIB do país? Como otimizar cadeias de suprimentos locais, destravar valor dos produtos da maior biodiversidade do planeta? Com estas perguntas na cabeça, a auditoria e consultoria EY descobriu que a criação de uma rede de hubs de inovação na Amazônia tem potencial para gerar até 620 mil empregos verdes diretos e R$ 8,3 bilhões por ano em valor agregado até 2035.
Este é um dos principais resultados do Estudo de Viabilidade para Implantação de Hubs de Inovação na Região Panamazônica, encomendado pela EY e coordenado pelo Instituto Amazônia 4.0. Para que a floresta seja, enfim, o maior laboratório de inovação natural do planeta, é preciso criar infraestrutura e um mercado justo.
“O que a gente fez foi dar algumas respostas. A primeira são os hubs, que funcionam como verdadeiros aceleradores no processo da bioeconomia. Eles geram receita, diminuem a perda, alavancam a produtividade e isso é fundamental para que a gente escale hoje de 10 a 13 produtos da biodiversidade. Percebemos que, além do aumento da eficiência e redução do desperdício, da perda, a gente tem uma possibilidade de gerar até 600 mil empregos na bioeconomia. Há uma indústria de centenas de bilhões de dólares que pode acontecer”, disse Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustentabilidade e CSO LATAM da EY.
REDUÇÃO DE CUSTOS
Para otimizar a produção, o estudo propõe, por exemplo, uma Plataforma Logística Fluvial Inteligente, com integração de barcos-indústria movidos a energia solar para processamento local; rotas fluviais otimizadas com tecnologia blockchain; entrepostos com biofábricas e sistemas de refrigeração solar. Com essa estrutura, são esperados redução de até 40% nos custos logísticos, diminuição de 25% das perdas pós-colheita e descarbonização de 1,8 milhão de toneladas de carbono por ano com modais sustentáveis. Os impactos, além dos empregos e do valor agregado à cadeia, prevêem também aumento da renda média das famílias extrativistas e inclusão socioprodutiva de povos originários e comunidades ribeirinhas.
O estudo indicou gargalos estruturais nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, como a baixa agregação de valor aos produtos naturais, escassez de infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento, concentração das atividades de inovação nas capitais e ausência de governança integrada entre governo, academia e setor produtivo.
A proposta para solucionar isso é que cada hub seja estruturado em três núcleos: tecnológico, com laboratórios de P&D, biofábricas e espaços de prototipagem; empreendedor, com coworkings, incubadoras e aceleradoras; e comunitário, com salas de capacitação, auditório e espaços de convivência para ribeirinhos, indígenas e extrativistas. Esses núcleos estarão estrategicamente localizados em regiões como Macapá, Santana, Santarém, Marajó, Manacapuru, Tefé, Marabá e Xinguara.
ESTRATÉGIAS ALINHADAS
A iniciativa desta proposta, segundo a EY, está alinhada ao Plano Nacional de Bioeconomia e às projeções do Banco Mundial, que apontam potencial de triplicar o PIB da Amazônia até 2035, alcançando R$ 700 bilhões por ano, com a floresta em pé e cadeias produtivas rastreáveis. A governança dos hubs será baseada na tríplice hélice, com o governo federal atuando na formulação de políticas públicas e articulação institucional; os Estados contribuindo com cofinanciamento e logística regional; os municípios assumindo a cogestão territorial e a integração com cooperativas; a academia oferecendo pesquisa aplicada e formação de talentos; e as empresas sendo responsáveis pelo beneficiamento local, certificações e acesso a mercados premium.
“Este estudo está muito ligado à biodiversidade e à bioeconomia pura. Como escalar produtos, gerar renda e emprego para as populações. Porém, outros próximos estudos estão por vir como, por exemplo, com foco em geração de energia e biomassa, que é algo que o Brasil tem muito a fornecer ao mundo”, anuncia Assumpção.
Informações: IG/Economia.