Grupo compra floresta por R$ 5 milhões e preservação pode render até R$ 7,5 milhões por ano

Foi de uma sacada no norte da Itália, que o economista italiano e empresário, Fabio Ongaro, 59 anos, CEO da Energy Group Brasil, deu o pontapé inicial para comprar 3 mil hectares de floresta nativa em plena Amazônia. Ongaro mora no Brasil há cerca de duas décadas e no país é vice-presidente de finanças da Câmara de Comércio Italiana de São Paulo (Italcam).

Mas Ongaro nunca esteve sozinho na empreitada. Junto com ele vieram um amigo de longa data e um brasileiro disposto. Além da aquisição de terras, o projeto do trio combina tecnologia de mensuração ambiental e governança financeira para transformar a conservação da floresta num ativo econômico com potencial de faturamento anual de até US$ 1,5 milhão, o equivalente a cerca de R$ 7,5 milhões.

O mais inusitado desta história é que o negócio nasceu de uma ligação telefônica feita entre ele e seu amigo, e atual sócio, o italiano e engenheiro elétrico Rosário Zaccaria, 57 anos, há cerca de três anos, na virada de 2021 para 2022.

“Naquela época, eu estava de férias no norte da Itália. Estava numa pequena sacada com vista para a neve, aquela visão bucólica maravilhosa e este meu sócio também estava de férias em Lisboa, estava sentado em sua bela sacada, que dava para o Rio Tejo”, diz Ongaro.

Zaccaria, inspirado por uma de suas filhas, liga para Ongaro questionando se dava para eles fazerem alguma coisa para ajudar a preservar a Floresta Amazônica.

Ongaro replicou Zaccaria na ligação e intimou o amigo a construir uma história. “A ideia seria comprar um pouquinho de terra e deixar lá. Isso já ajuda a preservar a mata. E pode ser feita em numa escala menor”, disse ele, destacando que a ideia era fazer algo que fosse de fácil execução e que não custasse “tanto para preservar.”

Amazônia, a maior floresta tropical do mundo

Apesar dos avanços, a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo ainda perece. Seu gigantismo é mais do que notável para o mundo. Ela possui 700 milhões de hectares e se estende ao longo de nove países da América do Sul (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname).

É no Brasil que está 60% de sua área, com 421 milhões de hectares, ocupando quase metade (49,5%) do território brasileiro. Entre 1985 e 2024 foram perdidos 52 milhões de hectares (-13%) de área de vegetação nativa, segundo o MapBiomas, rede colaborativa que reúne organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia que analisam dados sobre os biomas no país.

Segundo dados de outubro do sistema Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a estimativa da área desmatada na Amazônia atingiu 5,8 mil km² de agosto de 2024 a julho de 2025, o que representa queda de 11,08% em relação ao período anterior, de agosto de 2023 a julho de 2024.

Do telefonema à preservação florestal

É nesse contexto que nasce a Amazon Tree, empreendimento de Ongaro, Zaccaria e do engenheiro de produção Jhonathan Santos, 36 anos. Com recursos próprios, eles adquiriram as áreas no município de Rio Preto da Eva, no Amazonas, que foram adquiridas dos sócios. Somando aquisição da área, desenvolvimento tecnológico, certificação e estruturação jurídica, o investimento inicial gira em torno de R$ 5 milhões.

O município fica a cerca de 80 quilômetros da capital Manaus. A área de 3 mil hectares corresponde à compra de duas propriedades rurais. A proposta é simples na tese, mas sofisticada na execução. A terra não é vendida. O que se comercializa é o serviço ambiental de preservação, com contratos anuais, mensuração precisa e rastreabilidade total.

“Preservar custa. Se não houver um modelo econômico sólido por trás, a conservação não se sustenta no longo prazo”, afirma Ongaro.

A monetização ocorre no mercado voluntário de carbono, por meio de uma plataforma proprietária que divide a floresta em parcelas mínimas de 256 metros quadrados. Cada hectare de floresta corresponde a um pouco mais de 39 parcelas, e cada parcela gera um Token Não Fungível (NFT, na sigla em inglês) exclusivo, que é um certificado digital de autenticidade e propriedade de um item único registrado em uma rede blockchain, que garante que ele é insubstituível.

Na plataforma, o NFT representa o direito de preservação daquele lote por um período determinado. A estrutura impede a duplicação de créditos e garante que uma mesma área não seja comercializada mais de uma vez, um dos principais gargalos históricos do mercado de carbono.

O cálculo do potencial de sequestro de carbono é feito com base em biomassa florestal estimada por satélite, considerando densidade e altura das árvores. Todo o processo foi certificado pela Bureau Veritas, uma das mais respeitadas certificadoras globais em critérios ESG, após cerca de seis meses de auditorias técnicas. Segundo Ongaro, esse selo foi decisivo para destravar conversas com empresas internacionais.

A precificação atual considera valores próximos de US$ 25 (R$ 137,92) por lote, o que, caso toda a área hoje monitorada seja comercializada ao longo de um ano, pode levar o projeto a um faturamento próximo de US$ 1,5 milhão (R$ 7,5 milhões).

Primeiras negociações no mercado

Ainda que Ongaro evite projeções rígidas, ele reconhece que o potencial econômico cresce à medida que surgem contratos corporativos de maior escala e longo prazo, especialmente com empresas sujeitas a exigências ambientais severas em suas cadeias globais de suprimento.

Mesmo antes de um lançamento comercial amplo, o Amazon Tree já avançou em negociações com grupos internacionais dos setores de transporte e logística, incluindo uma associação suíça ligada ao transporte aéreo, que, sozinha, poderia absorver toda a área atualmente inserida na plataforma.

No entanto, a primeira operação já foi concluída com a paulista Action Cargo, funcionando como prova prática do modelo. A empresa é prestadora de serviços na área de logística no transporte aéreo, marítimo e rodoviário.

“O mercado não está carente de discursos ambientais, mas de confiança. Quando você mostra método, certificação e transparência, a decisão de compra deixa de ser ideológica e passa a ser econômica”, diz Ongaro.

Todo o risco inicial foi assumido pelos próprios fundadores. Não houve financiamento bancário, fundos públicos ou incentivos governamentais. A opção foi deliberada.

“Ou o modelo se paga, ou ele não deveria existir”, resume o executivo.

Hoje, o projeto opera com uma estrutura enxuta, focada em tecnologia, gestão e certificação, enquanto testa a escalabilidade da proposta.

Apesar de atuar diretamente com créditos de carbono, Ongaro adota uma visão crítica sobre o próprio mercado. Para ele, a neutralização não resolve o problema climático, mas cumpre um papel transitório.

“A resposta real é reduzir emissões. O crédito é uma ferramenta de transição, não um fim em si mesmo”, afirma.

Ainda assim, ele vê no Brasil uma vantagem estratégica rara. “Água, biodiversidade e capacidade produtiva serão os ativos geopolíticos do futuro. O Brasil poderia ocupar uma posição comparável à do petróleo nos anos 1970, se houver governança e visão de longo prazo.”

Os próximos passos da Amazon Tree
Os próximos movimentos do Amazon Tree ainda estão em avaliação. Uma das possibilidades é dobrar a área preservada, com a aquisição de mais 3 mil hectares.

Outra frente é abrir a plataforma para outros proprietários de terras, permitindo que áreas privadas preservadas utilizem a tecnologia e a certificação do projeto para monetizar serviços ambientais. A decisão dependerá de qual caminho entrega maior equilíbrio entre escala, retorno financeiro e impacto ambiental.

“Não estamos construindo um projeto filantrópico, nem um fundo especulativo. Estamos testando se é possível fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada e tudo indica que é”, diz Ongaro.

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