Começou a operar a primeira fábrica do mundo em escala industrial a produzir fibras de celulose regenerada à base de líquidos iônicos. São esses fios de celulose que estão por trás das tão faladas roupas de madeira.
Desenvolvido pelo Instituto de Engenharia de Processos (IPE) da Academia Chinesa de Ciências, o projeto marca a primeira produção global em larga escala de fibras de celulose seguindo um processo ambientalmente amigável, processo esse que promete meios mais limpos de fabricação de uma série de outros produtos.
A tecnologia pioneira elimina a necessidade de solventes tóxicos e compostos inflamáveis tradicionalmente utilizados na produção de fibras e fios sintéticos. Esses materiais agressivos são substituídos por substâncias estáveis e não voláteis, chamadas líquidos iônicos, de modo que todo o processo atinge emissões quase nulas, sem descarte de efluentes, gases residuais ou resíduos sólidos.
Os líquidos iônicos possuem uma estrutura semelhante à do sal de cozinha (NaCl), sendo essencialmente sais que permanecem líquidos à temperatura ambiente ou próximo dela.
Em comparação com os solventes tradicionais, os líquidos iônicos apresentam uma série de características superiores, como alta polaridade, baixa volatilidade, resistência à oxidação e propriedades estruturais ajustáveis e projetáveis, além de excelente solubilidade para compostos inorgânicos e orgânicos e materiais poliméricos.
Em razão disto, tem havido grande esforço em tirá-los dos laboratórios rumo à indústria. A planta produtora de fios é um passo importante para levar essa nova tecnologia ambientalmente correta para o mercado.
Fibras de celulose ambientalmente amigáveis
A tecnologia de líquidos iônicos simplifica o processo de produção dos fios de celulose, tornando-o mais ecológico, estável e seguro. Em comparação com as fibras tradicionais, à base de petróleo, estima-se que o novo processo reduza as emissões de dióxido de carbono em cerca de 5.000 toneladas por ano, com uma taxa de recuperação dos solventes superior a 99%.
O escalonamento da tecnologia ao nível industrial consumiu mais de uma década de pesquisa e desenvolvimento. A equipe precisou reinventar praticamente tudo na indústria da fiação, da síntese e preparação dos líquidos iônicos adequados e a dissolução da celulose, passando pela otimização do processo de fiação, até a recuperação dos solventes e a integração das diversas etapas.
A tecnologia foi validada por meio de sucessivas etapas de ampliação, passando de testes em laboratório e em escala de toneladas para uma demonstração de 100 toneladas e, agora, para uma linha de produção contínua e estável de 1.000 toneladas.
“Isso marca a verdadeira transformação da tecnologia de ponta da fiação por líquido iônico, do conceito de laboratório à realidade industrial,” disse o professor Suojiang Zhang. “Isso redefine a fabricação de fibras sustentáveis.”