“Sem sementes e sem mudas é impossível pensar em restaurar as áreas degradadas com novas florestas e recompor seus ecossistemas, tampouco é possível almejar atingir as metas brasileiras nos acordos internacionais”, destaca presidente da Nativas Brasil
“Uma floresta é feita da soma de muitas formas de vida. Uma floresta destruída significa a perda de um trabalho colaborativo de milhares de anos. A perda inestimável da unidade sistêmica dá a dimensão do volume do que precisa ser feito para amenizar os danos. A restauração florestal se apresenta como alternativa para reconstruir os ecossistemas degradados durante séculos e para propiciar as interações da fauna com a flora nativa”, assim Rodrigo Ciriello, presidente da Nativas Brasil – Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas Nativas, e sócio-diretor da Futuro Florestal, classifica a relevância da restauração florestal.
Desmatamentos no Brasil continuam avançando em números alarmantes e emergentes. Um dos principais biomas que chamam atenção para o tema é a Amazônia, onde o desmatamento registrou um aumento de 17,8% de agosto de 2024 a março de 2025, segundo dados do monitoramento do instituto de pesquisa Imazon. No mesmo período, a degradação florestal subiu mais de 329% e bateu um recorde histórico. O crescimento observado em 2025 é um sinal de alerta, apontam especialistas, e medidas de contenção e restauração são imprescindíveis.
Segundo Ciriello, no Brasil, a restauração florestal é, em geral, realizada com o plantio de mudas de árvores e por semeadura direta de ‘mix’ de sementes nativas. Como pressuposto para refazer florestas está o acesso a remanescentes florestais, com sementes em abundância que possam ser coletadas para a produção de mudas sem prejuízo à vitalidade da mata. “A produção de sementes e mudas nativas é a chave da restauração. Daí a importância – a essencialidade! – da base da cadeia da restauração florestal”, destaca.
Sementes, mudas e metas climáticas
A restauração florestal com sementes e mudas nativas é uma estratégia fundamental para enfrentar as mudanças climáticas, atuando tanto na mitigação (redução das emissões e sequestro de carbono) quanto na adaptação (aumento da resiliência dos ecossistemas e da disponibilidade de recursos naturais). Ela representa uma solução baseada na natureza com múltiplos benefícios ambientais, sociais e econômicos, sendo essencial para alcançar os objetivos da agenda climática global.
“Sem sementes e sem mudas é impossível pensar em restaurar as áreas degradadas com novas florestas e recompor seus ecossistemas, tampouco é possível almejar atingir as metas brasileiras nos acordos internacionais, como o Acordo de Paris em vigor desde 2016, no qual o Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas. Plantar florestas é a tecnologia de absorção e armazenamento de carbono mais eficiente disponível. É preciso mitigar os efeitos dos fenômenos naturais potencializados pelos danos causados aos ecossistemas pela atividade humana. Restaurar os ecossistemas é a melhor chance de sobrevivência humana, das outras formas de vida, neste planeta.
Também são positivamente impactadas pelo setor produtor de sementes e mudas nativas os sistemas produtivos que utilizam espécies nativas. São exemplos a silvicultura de nativas, os sistemas agroflorestais e silvipastoris, que precisam de material genético de alta qualidade para produzir de forma sustentável produtos madeireiros e não-madeireiros, como frutas, castanhas, mel, óleos, resinas, combustíveis entre tantos outros. O equilíbrio e a vitalidade dessas atividades estão diretamente relacionados à força do setor de produção de sementes e mudas nativas.
Desafios legais e a falta de incentivos
Em sua segunda gestão na entidade, Ciriello, destaca como visualiza o cenário de incentivos às leis atuais para proteção e fomento da produção de sementes e mudas nativas, e quais os gargalos que ainda assolam o setor: “O setor de produção de sementes e mudas nativas é a base da cadeia da restauração. No entanto, o arcabouço legal que regula a atividade é originalmente dirigido à produção agrícola. As diferenças para o universo da restauração são muitas, e profundas, de tal forma que dificultam, oneram e desincentivam os atores do setor. A produção e a comercialização de sementes e mudas agrícolas admitem a entrada de insumos estrangeiros no país e pressupõe a modificação ou o melhoramento genético, que precisam ser rastreáveis em todas as etapas de produção e de comercialização. Por esta razão, a regulação da produção de sementes e mudas nativas está a cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)”, salienta.
“Mas a finalidade dos produtores de nativas é a restauração ambiental. A restauração das florestas é uma pauta com mais afinidade com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Ainda que as sementes e mudas nativas sejam destinadas a sistemas produtivos de alimentos, à silvicultura comercial de nativas, à arborização urbana ou ao paisagismo o setor precisa ser considerado em suas particularidades, em especial na sua contribuição à restauração dos ecossistemas autóctones”, informa.
De acordo com Ciriello, a Nativas Brasil exalta esta característica e clama pela interlocução de ambos os Ministérios para que a oferta de nativas possa atender às necessidades do setor produtivo. Sobretudo, os produtores de nativas precisam ser reconhecidos e valorizados como prestadores de serviços ecossistêmicos e, consequentemente, a esse universo serem destinados incentivos e linhas de crédito específicas e em condições financeiras especiais para viabilizar a produção, com prazos de carência e pagamento realistas e adequados. “Como, vale lembrar, acontece com o setor agropecuário que produz as ‘commodities’ e precisa, entre outras exigências, adequar suas áreas de produção às leis ambientais – justamente com as sementes e mudas nativas”, lembra ele.
“Não há atualmente, e nunca houve nenhuma apólice de seguros para proteção aos viveiros de mudas nativas, que têm grande parte de sua estrutura de produção ao ar livre, em ambiente exposto aos riscos climáticos, como chuvas em excesso, vendavais, granizo, fogo, e outras ocorrências que podem e devem ser cobertas com as mesmas apólices de seguro que atendem ao setor agropecuário. Por fim, as políticas públicas precisam considerar a criação de incentivos fiscais para o setor, fundamental e estratégico para o país, para o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos e para a vida no planeta”, sinaliza.
Incentivos e expectativas
Em 2024, a Nativas Brasil recebeu um importante apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) para estruturação da sua governança. O investimento permitiu a contratação de uma equipe fixa e dedicada à gestão da entidade e à ampliação do conhecimento das particularidades desse setor produtivo quase totalmente desconhecido e, por isso, desvalorizado. Foram contratados uma secretária executiva em tempo integral, também uma analista de dados ambientais, além de um diretor institucional empenhado em fazer chegar as demandas dos produtores de nativas aos órgãos governamentais elaboradores das políticas públicas.
Desde então, de acordo com Ciriello, a entidade tem buscado o diálogo com o MAPA, o SPA, o MMA, o BNDES, o BB e outras instituições públicas com alguma responsabilidade relacionada ao setor produtivo de sementes e mudas nativas para dar-lhe o relevo a que faz jus.
Mediante o cenário, e demandas na atividade, Ciriello faz uma leitura sobre expectativas para os próximos anos na restauração florestal com sementes e mudas nativas no país: “Temos assistido a diversos anúncios de grandes investimentos privados que, declaram, irão restaurar milhões de hectares de florestas com espécies nativas nas próximas décadas. As mais conhecidas informam investimentos para a restauração, que somados, alcançam os 6 milhões de hectares. Esse número aponta para a ampliação da demanda de mudas nativas em bilhões de unidades e milhares de toneladas de sementes, a qual já vem sendo vivida por alguns dos associados da Nativas Brasil. De outro aspecto, a meta brasileira no Acordo de Paris, de 12 milhões de hectares até 2030, sugere que a demanda por mudas nativas seja suficientemente coerente com o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil nesse e nos demais acordos internacionais que o país assinou”, diz.
“A Nativas Brasil tem trabalhado para ajudar seus associados a se estruturarem e a melhorarem a qualidade e quantidade da entrega das mudas e sementes, mas tal esforço implica que o setor seja compreendido, valorizado e apoiado. A expectativa é de que os esforços desta jovem associação de apenas quatro anos de existência, que já reúne mais de uma centena de produtores de todos os biomas, ajudem a estruturar e a valorizar o setor, garantam sustentabilidade econômica para os produtores de sementes e mudas nativas e propiciem a constituição de (muitas!) florestas biologicamente viáveis”, conclui.
Como participar da cadeia de restauração ecológica promovida pela Nativas Brasil?
Todos os produtores de sementes e mudas nativas são bem-vindos na Nativas Brasil. O requisito é de que estejam funcionando em conformidade com a legislação vigente, a Lei 10.711/2003 e suas regulamentações infra-legais. Em quatro anos a entidade saltou dos iniciais 20 associados para mais de 100 distribuídos pelo país, com representantes em todos os biomas brasileiros. E tem como foco a ampliação dessa representatividade para fortalecer a voz do segmento, tanto perante o poder público quanto aos investidores. Atualmente a capacidade produtiva instalada de seus associados já supera 100 milhões de mudas nativas por ano, e segue em expansão.
“Temos muito orgulho de representar esse setor. Nossos esforços são para abrir caminho para os que se dedicam à produção de sementes e mudas nativas sejam eles pequenos, médios ou grandes, em seus vários formatos jurídicos, pessoas físicas, empresas, organizações da sociedade civil (ONGs), ou até projetos privados que produzem mudas nativas para si mesmos. Fica aqui o convite a todos que desejem somar e contribuir para a construção de um futuro melhor para essa atividade essencial”, enfatiza o presidente da entidade.
Para se associar basta acessar o link: https://nativasbrasil.org.br/comoaderir/ e preencher o formulário de cadastro.
Sobre a Nativas Brasil
Nativas Brasil é uma organização que reúne e representa os produtores de sementes e mudas de espécies vegetais nativas dos biomas brasileiros e que se dedica à ampliação dessa rede – a base da cadeia da restauração ecológica e produtiva, como a silvicultura de nativas. Criada em 2021, tem como objetivo organizar o setor, fortalecê-lo, ampliar a oferta de espécies nativas de alta qualidade e diversidade. Objetiva, também, promover o diálogo e dar voz às necessidades e aos posicionamentos desse coletivo nos fóruns de representação existentes nas três esferas de governo, assim como perante a iniciativa privada nacional e internacional. Tem como meta, por fim, valorizar as florestas brasileiras, com toda a diversidade que encerram, não só preservando, mas criando meios para restaurar áreas degradadas com espécies nativas, seja com viés ecológico, econômico, ou até com o misto entre esses dois formatos, possamos regenerar as paisagens degradadas pelo homem, trazendo de volta a beleza cênica e a recuperação dos ecossistemas. Com as florestas que ajudamos a restaurar aprendemos que a colaboração é a chave do negócio.
Para mais informações acesse www.nativasbrasil.org.br ou envie e-mail para contato@nativasbrasil.org.br.
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Escrito por: redação Mais Floresta.