Estimativa da Facisc mostra a alta dependência do Planalto Norte em relação ao mercado estadunidense
Um diagnóstico recente elaborado pela Federação das Associações Empresariais dde Santa Catarina (Facisc) aponta que, em 2024, o valor das exportações do Planalto Norte (são dez cidades lideradas por Canoinhas, Mafra e Porto União) alcançou R$ 4,8 bilhões, com 191 empresas exportadoras, o que representa 6,5% do total de Santa Catarina. Essa região é a sexta maior exportadora do Estado, com destaque para os setores de madeira e móveis, que juntos representam mais de 36% das vendas internacionais. Em se tratando de EUA, é a terceira maior exportadora.
As exportações fiscais do Planalto Norte mostram como o agronegócio segue vital para a economia local. A soja responde por 31,8% das vendas internacionais, mas a madeira e os móveis juntos representam 36,1%. Em 2024, a região exportou R$ 1,076 bilhão apenas para os Estados Unidos. A soja está focada em outros mercados.
Os produtos exportados para os EUA são predominantemente do setor de madeira e móveis, que respondem por 95% do total exportado pela região. O setor de móveis, em particular, é o líder nas exportações, com mais de 40% de representatividade, seguido pela madeira em forma (25,2%) e madeira compensada (17,9%).
DEPENDÊNCIA
A dependência do Planalto Norte em relação ao mercado americano é evidente. Por exemplo, 99% das exportações de madeira em forma vão para os EUA, enquanto 60% dos móveis e 44% da madeira compensada têm o mesmo destino. Apesar de a região ter tentado diversificar seus parceiros comerciais, a influência do mercado americano continua sendo significativa e preocupante.
O setor de móveis, que emprega cerca de 15 mil pessoas no Planalto Norte, já sente os efeitos da queda na demanda. Em 2022 e 2023, a recessão econômica nos EUA, que resultou em uma redução de 5% na construção civil em 2022 e 2% em 2023, fez com que as exportações de madeira e móveis no Planalto Norte caíssem ainda mais do que a média estadual, totalizando perdas superiores a R$ 1 bilhão. A situação foi crítica, especialmente para o setor madeireiro, que viu suas exportações despencarem em mais de 50% devido à desaceleração do mercado americano. Agora, em 2025, o setor vinha se recuperando, justamente quando vem o revés provocado pelo tarifaço de Trump.
Se as políticas de tarifaço resultarem em prejuízos que dobrem os registrados em 2023, o setor pode enfrentar perdas de mais de R$ 1 bilhão em produção e quase 800 empregos apenas na indústria madeireira, com forte presença em Canoinhas (Procopiak e Energia Madeiras), Três Barras (Brasnile e FComp), Porto União (indústrias de portas) e Papanduva. Com a crescente competição de países como Vietnã, Filipinas e China, que já estabelecem relações diplomáticas mais favoráveis com os EUA, a situação se torna ainda mais desafiadora para os produtores do Planalto Norte.
DESEMPREGO
O setor de madeira e móveis registrou o fechamento de 581 vagas de trabalho em julho, segundo dados do Caged compilados pelo Observatório da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). Esta é a primeira estatística oficial que mostra o impacto real do tarifaço dos Estados Unidos sobre o setor.
“O fechamento de postos de trabalho no ramo é reflexo do contexto da imposição das tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras e mostra o impacto da medida sobre as indústrias do setor, grandes exportadoras para o mercado norte-americano”, destaca o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme. No mesmo mês do ano anterior, o setor havia registrado saldo positivo de 127 empregos com carteira assinada.
Apesar da queda no setor de madeira e móveis, a indústria catarinense teve saldo positivo de 1mil vagas em julho. Considerando todos os grandes setores da economia, o Estado registrou saldo positivo de 2,8 mil empregos no período. No acumulado do ano, a indústria liderou a criação de novas oportunidades no estado, com 43 mil postos de trabalho abertos, de um total de 83 mil vagas geradas em SC em 2025. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o setor industrial gerou 8,6 mil vagas a menos em 2025.
APOIO
Consultoria para novos produtos e mercados, suporte para acesso a crédito e incentivos públicos e capacitação para funcionários em situação de inatividade são serviços gratuitos que integram o desTarifaço, pacote lançado pela Fiesc na semana passada. No foco do programa, estão as indústrias exportadoras e os trabalhadores afetados pelo aumento nas tarifas de importação dos Estados Unidos.
“O impacto do tarifaço não é uniforme. Em alguns casos, temos pequenas e médias indústrias com mais de 90% do seu faturamento comprometido. Temos que dar apoio a estas empresas e seus trabalhadores”, destaca o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme, que é da cidade de Caçador e conhece bem o Planalto Norte.
O estudo da Fiesc mostra um impacto proporcionalmente maior para pequenas e médias cidades de regiões como Planalto Norte, Meio-Oeste e Serra. “Atuamos também para preservar a força de trabalho nestas regiões, evitando o agravamento de problemas sociais”, acrescenta Seleme.
Veja o que integra o programa:
À indústria
- Apoio na busca por crédito e benefícios governamentais
- Consultoria para abertura de novos mercados
- Consultoria para adequação de produtos e linhas de produção
- Auxílio na obtenção de bolsistas especializados para reposicionamento
- Consultoria jurídica sobre os recursos da CLT e para negociações sindicais
Aos trabalhadores destas indústrias
- Capacitação de funcionários em situação de inatividade
- Recapacitação de trabalhadores demitidos, com vistas aos setores com carência de mão de obra
- Acompanhamento psicológico para recolocação profissional
Nesta semana, a Fiesc participa de uma missão empresarial organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) a Washington, nos EUA. Na quarta e quinta, 3 e 4, o grupo terá encontros com escritórios de advocacia, reuniões na Embaixada do Brasil e diálogos com autoridades do governo americano.
Informações: JMais.