Aperam suspende investimentos em Timóteo por causa da invasão de aço chinês

Setor siderúrgico está suspendendo investimentos em produção no Brasil por causa da concorrência do aço da China; Usiminas e Gerdau já anunciaram efeitos sobre empregos

 A Aperam, empresa global no segmento de aços inoxidáveis, elétricos e especiais, bem como no segmento de reciclagem com clientes em aproximadamente 40 países, tem unidade em Timóteo, no Vale do Aço, com capacidade para produzir cerca de 900 mil toneladas por ano. Segundo a empresa, essa nova etapa de investimentos estava planejada como continuação dos investimentos iniciados em 2021 e que estão atualmente em execução. “O projeto que será adiado inclui a instalação de um novo laminador a frio de bobinas de alta produtividade com um nível de automação nunca antes visto”, informou a empresa. A Aperam tinha anunciado no ano passado investimentos de R$ 588 milhões em Minas Gerais até 2024. Havia a expectativa de geração de 1.500 empregos temporários nesse ciclo de investimentos.  

No fim de novembro, a Usiminas confirmou efeitos da alta de importação de aço em seus negócios, o que levou a empresa a deixar de abrir cerca de 600 vagas de emprego em Ipatinga, também no Vale do Aço. A siderúrgica afirma, ainda, que estuda desligar o alto-forno 1, como forma de adequar a produção a esse cenário.  

Em entrevista dada a O TEMPO no fim de setembro deste ano, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, disse que duas unidades produtivas do grupo, uma em Caucaia (CE) e outra em Mogi das Cruzes (SP), estavam paradas para ajustar produção e demanda, que foram afetadas pela importação de aço da China. Cerca de 600 dos 20 mil trabalhadores da Gerdau estavam, na ocasião, com contrato suspenso. Por diversas ocasiões, o executivo informou que planos de investimentos da empresa e contratações estão ameaçados pela “importação predatória”.

O Diretor-Presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima, disse que o cenário é desafiador. “Como uma empresa que sempre acreditou no Brasil e no crescimento da economia, nos deparamos com um cenário muito desafiador que nos leva a repensar nossos planos de expansão para os próximos anos. Devido a uma questão de sustentabilidade do negócio, vamos reavaliar esse projeto”, afirma.  

Ayres Lima acredita que a entrada massiva de aço chinês no mercado brasileiro em 2023 associada à redução da demanda devido à desaceleração econômica mundial está asfixiando o setor siderúrgico nacional. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Aço Brasil, somente em setembro deste ano, as importações de aço da China cresceram 133,8% em relação ao mesmo mês de 2022, atingindo, assim, 549 mil toneladas.  

“Em específico no caso dos aços inoxidáveis e elétricos, que são o carro-chefe da Aperam, as importações cresceram 18% no primeiro semestre do ano em relação ao 1º semestre do ano anterior. No entanto, o número excessivo de produtos chineses no mercado, a política predatória de preços e a demanda reduzida representaram uma queda de mais de US$ 800 por tonelada nos preços internacionais, comprometendo seriamente os projetos de longo prazo da empresa. O problema não é novo, já que as importações de aço inoxidável nos últimos quatro anos cresceram 128%”, informou a companhia.  

 “Justificar novos investimentos na usina, mesmo com todo o diferencial da produção sustentável da Aperam, está se tornando cada vez mais desafiador. Os números não batem,” disse o Diretor-Presidente da Aperam South America e BioEnergia. O executivo acrescenta que o aço chinês chega ao Brasil subsidiado pelo governo do país asiático e com a maior pegada de carbono do mundo, o que prejudica muito não só a competitividade da indústria siderúrgica nacional, bem como o processo de descarbonização do setor.  

O Diretor-Presidente da Aperam South America classifica a situação como “muito séria e insustentável”, portanto, é uma grande ameaça à continuidade da produção nacional. Ele lembra que países como EUA, México, membros da União Europeia — e, possivelmente, o Chile agora — adotaram medidas para combater o comércio desleal chinês que “claramente causa um desvio de volumes de material para países como o Brasil.” O setor pede que o governo brasileiro imponha sobretaxa nas importações de aço da china, de 25%, a exemplo dos países citados.  

Ayres Lima salienta que a Aperam é altamente favorável ao livre mercado internacional, mas a agressividade chinesa que, “por sua vez, ignora as regras da Organização Mundial do Comércio”, tem minado a possibilidade da participação em mercados ao redor do globo como resultado da adoção de medidas protetivas, como a Seção 232 dos EUA, que estabelece um freio no volume de produtos que o Brasil pode exportar. “Isto torna ainda mais importante que o governo federal adote medidas urgentes para salvaguardar toda uma indústria comprometida com o país, com investimentos previstos de R$ 63 bilhões, segundo o Instituto Aço Brasil, para os próximos quatro anos”, afirma o Diretor-Presidente da Aperam South America.  

Segundo recentes levantamentos do Instituto Aço Brasil (Iabr), a previsão final para 2023 é de queda de 8% na produção de aço no Brasil, para 31,4 milhões de toneladas, e recuo de 5,6% nas vendas internas, para 19,2 milhões de toneladas. Por outro lado, de acordo com a entidade, houve um salto de 48,6% das importações, para 4,98 milhões de toneladas de aço estrangeiro. “A indústria brasileira do aço enfrenta uma guerra assimétrica, provocada pela avalanche de aço estrangeiro. Não se trata de questão de falta de competitividade da indústria brasileira, mas da submissão do setor a uma concorrência desleal diante um produto colocado no mercado a preço artificialmente baixo, o que torna urgente o reforço das nossas defesas comerciais, sob risco de repetirmos o triste desempenho deste ano em 2024”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil, em coletiva sobre a crise do aço realizada em novembro.

Cálculos realizados pela entidade indicam que o volume de 4,98 milhões de toneladas de aço importado em 2023 representa, para o país, uma perda de arrecadação de R$ 2,8 bilhões e de 248.225 mil empregos, que estão sendo deslocados para os países produtores desse aço. A perda de faturamento nas usinas de aço chega a R$ 30,6 bilhões, pelos cálculos da entidade. 

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