A chegada da vespa-da-madeira Sirex obesus às plantações paulistas acende um alerta nacional: mortalidade acelerada de pinus, risco de colapso econômico e corrida contra o tempo para encontrar soluções de controle eficaz, antes que avance pelo país
O Brasil acaba de ganhar uma visita indesejada: a vespa-da-madeira Sirex obesus, praga originária do sudoeste dos Estados Unidos e do México, foi detectada pela primeira vez em plantações de pinus no interior paulista. Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) e da Universidade Estadual Paulista (UNESP), com apoio do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), confirmaram a identificação por meio de análises morfológicas e sequenciamento de DNA.
O alerta mobiliza silvicultores, universidades e órgãos de defesa vegetal, pois a espécie já causa mortalidade expressiva em árvores jovens e maduras.
Embora o Brasil conviva há décadas com Sirex noctilio, outro inseto da mesma família, a chegada de S. obesus amplia o desafio sanitário. Diferente de sua “parente”, que prefere Pinus taeda, a recém chegada ataca espécies caribenhas e híbridos valorizados para madeira e resina. Entender quem é esse invasor, como ele se espalha e quais medidas podem conter sua expansão tornou-se prioridade para proteger um setor que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano e gera milhares de empregos no país.
Quem é a nova inimiga? Origem e modo de vida
Apesar do nome pouco conhecido, Sirex obesus compartilha o mesmo estilo de vida das demais vespas-da-madeira: a fêmea perfura o tronco, inocula um fungo simbionte e deposita ovos. O fungo bloqueia o fluxo de seiva e produz toxinas que enfraquecem a árvore; as larvas, por sua vez, escavam galerias no lenho e completam seu desenvolvimento em até três gerações por ano no clima tropical. Isso significa danos rápidos e cumulativos.
A descoberta em Itatinga (SP), em julho de 2023, surpreendeu pesquisadores, pois a espécie nunca havia sido registrada fora da América do Norte. Sequências de DNA mostraram quase 100 % de similaridade com populações do Arizona, indicando provável entrada por embalagens de madeira sem tratamento térmico (pallets), prática proibida, mas ainda frequente no comércio internacional. Poucos meses depois, novos focos apareceram em Buri e em outros 12 municípios paulistas, evidenciando sua capacidade de dispersão.
Sinais de ataque e prejuízos nas plantações
A presença da vespa é, à primeira vista, silenciosa. No entanto, basta um olhar atento para perceber: troncos pingando resina, orifícios circulares de saída dos adultos e manchas azuladas de fungo no lenho são indícios claros. Em levantamentos preliminares, áreas de Pinus caribaea hondurensis apresentaram até 43% de árvores mortas, número que pode subir a 73% quando as árvores com sintomas recentes sucumbirem. Já em P. taeda, a mortalidade média estimada é de 11%, mas pode quadruplicar sem controle adequado.
Principais sinais para identificar a infestação:
- Gotejamento de resina ao longo do tronco.
- Pequenos furos redondos (3–6 mm) deixados pelos adultos emergentes.
- Amarelecimento e queda prematura de agulhas.
- Madeira com manchas azul-esverdeadas devido ao fungo simbionte.
- Mortalidade de copas em “bolsões”, indicando focos localizados.
E agora? Impactos econômicos e caminhos para conter a invasão
A expansão de S. obesus coloca em risco cerca de dois milhões de hectares de pinus cultivados no Sul e Sudeste. Para além da perda de madeira, há impacto direto sobre a produção de resina, celulose e painéis de madeira engenheirada, setores que sustentam economias municipais inteiras.
A médio prazo, a praga pode atravessar fronteiras naturais e atingir plantações no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de países vizinhos, elevando custos com manejo e replantio.
Contenção rápida é fundamental. Pesquisadores testam o uso do nematoide Deladenus siricidicola, eficaz contra S. noctilio, mas ainda não encontrado em troncos infestados. Vespas parasitas nativas, como Ibalia leucospoides, já emergiram de toras coletadas, sugerindo algum potencial de controle biológico natural.
Paralelamente empresas e órgãos de fiscalização intensificam vistorias em serrarias e portos, exigindo o selo ISPM 15 em todos os pallets. Ações coordenadas entre academia, setor florestal e governo serão determinantes para evitar que a praga se espalhe pelo país, preservando empregos, renda e o equilíbrio dos ecossistemas plantados.
Referência da notícia
Sirex obesus (Hymenoptera: Siricidae) as invasive pest in pine plantations in Brazil. 2 de julho, 2025. Wilcken, C.F., da Mota, T.A., de Oliveira, C.H. et al.