Em meio à agenda global da COP 30, a Embrapa inaugurou o Centro de Referência Manejaí Salvaterra, na Ilha do Marajó. A unidade, instalada na comunidade de Monsarás, consolida uma tecnologia social capaz de elevar a produtividade do açaí nativo de uma para até seis toneladas por hectare ao ano, sem a necessidade de desmatamento. O lançamento contou com a presença de representantes do Sebrae, da União Europeia e dos ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Meio Ambiente (MMA), além do chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF), Ricardo Alamino. O projeto também integrou a programação da AgriZone, espaço de vitrine tecnológica da Embrapa na conferência do clima, como uma unidade demonstrativa na Fazenda Álvaro Adolpho, da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA).
A inauguração do espaço em Salvaterra marca a expansão da rede Manejaí, que já beneficia cerca de 300 famílias e 3 mil pessoas no arquipélago, incluindo ribeirinhos e quilombolas. O projeto ataca um dos principais gargalos ambientais da região: a “monocultura disfarçada”, prática em que produtores derrubam outras espécies da floresta de várzea para deixar apenas o açaizeiro, o que empobrece a biodiversidade e, a longo prazo, prejudica a própria produção de frutos.
Para Ricardo Alamino, problemas complexos exigem soluções mais elaboradas e integradas para atingir resultados impactantes. Ele reforça que o projeto traz exatamente estas soluções, pois através das Unidades de Referência, como as que já estão operando nos municípios de Portel, Muaná, Bagre, Breves e Salvaterra, diversas ações são articuladas em sistemas agroflorestais manejados pelas comunidades contempladas. “Estas ações de inclusão socioprodutiva integram conhecimento científico ao tradicional, envolvendo fontes de financiamento rural e ambiental, conservação e manejo sustentável e regenerativo de espécies e áreas ligadas à produção de açaí e outras espécies, manejo de polinizadoras (meliponicultura de abelhas sem ferrão), preservação da biodiversidade local, organização social e cultural, inserção no Programa Nacional de Alimento Escolar, além de unidade de saneamento básico de dejetos humanos”, reforça.
Tecnologia de Mínimo Impacto
O diferencial do projeto reside na técnica de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos. Desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia juntamente com a Embrapa Amazônia Oriental, a metodologia organiza a competição entre as plantas na floresta. Ao invés de suprimir a vegetação nativa, o produtor aprende a selecionar e manejar as árvores, garantindo a entrada de luz e nutrientes necessários para o açaizeiro, mantendo a floresta funcional e biodiversa.
Segundo um dos coordenadores da iniciativa, o pesquisador Anderson Sevilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, o Manejaí não é apenas uma técnica agrícola, é um modelo de bioeconomia inclusiva. Para ele, a pesquisa conseguiu provar que a floresta em pé, quando bem manejada com ciência, garante maior produtividade ao produtor do que a derrubada.
Parceria Internacional e Legado
A implementação dos centros Manejaí é fruto do projeto Sustenta & Inova. A iniciativa herdou e ampliou as bases do antigo projeto Bem Diverso, criando uma rede de unidades demonstrativas que funcionam como “escolas a céu aberto” para os extrativistas.







