Nunca esqueço a frase de um professor na universidade: “todo processo que não está ligado a um avanço tecnológico está fadado a desaparecer”. Ao longo dos anos, muitos exemplos cotidianos comprovam essa visão — um dos mais marcantes foi a transição das câmeras fotográficas convencionais de filme para a era digital.
Curiosamente, a própria empresa que criou a câmera convencional desenvolveu a tecnologia digital, mas não acreditou no seu potencial. A concorrente, por sua vez, rompeu com o “velho” para adotar o “novo” e protagonizou a adoção massiva da tecnologia digital. Esse fenômeno de substituição — do velho pelo novo — está no cerne do conceito de destruição criadora, em que o empreendedor assume papel central no processo de inovação (Joseph Schumpeter, 1961; Karl A. Jacoby 1962).
O setor florestal brasileiro: inovação em movimento
Felizmente, o setor florestal brasileiro conta com muitos casos positivos de inovação e incremento de desempenho. Vejamos alguns marcos atualizados:
- Controle de pragas e doenças: a abordagem moderna conjuga genética, monitoramento via satélite/drones e bioinoculantes, ampliando a resiliência das plantações e reduzindo insumos químicos.
- Diversificação genética e clonagem: avanços no melhoramento florestal permitiram ampliar o material disponível para clones de Eucalyptus spp. e Pinus spp., bem como introduzir tolerâncias a seca, frio e vento.
- Produtividade e custo: o Brasil atingiu média de produtividade de ≈ 35,7 m³/ha/ano em florestas plantadas em 2025, posicionando-se entre os mais eficientes globalmente. Tridge+2ResearchGate+2
- Valor da produção: em 2024, o valor da produção florestal no país atingiu cerca de R$ 44,3 bilhões, com aumento de 16,7 % sobre o ano anterior. Tridge
- Expansão e regeneração: em 2024, as florestas plantadas totalizam mais de 10 milhões de hectares
- Sustentabilidade, impacto social e ESG: as empresas florestais incorporaram pautas como restauração de áreas degradadas, rastreamento de cadeias de valor, certificação (como FSC FM/CoC) e maior diálogo com comunidades locais.
Da era dos incentivos fiscais à nova fronteira tecnológica
Nos últimos 30 anos, tanto o capital público quanto privado investiram fortemente em pesquisa e desenvolvimento florestal. Inicialmente, os incentivos fiscais ao reflorestamento/florestamento foram decisivos. Com a gradual redução desses incentivos a partir do final da década de 1980, emergiu uma nova dinâmica tecnológica para a silvicultura brasileira — conforme apontado por Antonangelo Bacha (1998).
O que mudou para 2025?
- A agenda de P&D passou a ser mais orientada para eficiência (redução de custos, aumento de produtividade, qualidade, competitividade) e não apenas expansão de área.
- A globalização e as mudanças climáticas deixaram de ser riscos apenas para se tornarem pilares de estratégia. A circulação de sementes, mudas e agentes bióticos, bem como a pressão por plantios resilientes ao clima e à água, exigem respostas inter e transdisciplinares.
- A restauração florestal e mercados de carbono se somaram à cadeia produtiva tradicional, ampliando os modelos de negócio e exigindo rastreabilidade, certificação e transparência.
Convite à reflexão e ação
Por que falar de ciência, tecnologia e inovação hoje? A evolução global é clara: a população mundial continua a crescer, a competição por terra e água intensifica-se, e a pressão sobre os recursos naturais só aumenta. Para o setor de florestas plantadas, isso significa que a ciência + tecnologia deixam de ser um diferencial e passam a ser condição de sobrevivência.
Entre os desafios atuais que requerem resposta técnico-científica:
- Doenças emergentes e insetos exóticos: a movimentação global de produtos vegetais exige monitoramento rigoroso, protocolos fitossanitários robustos e melhoramento genético/biotecnológico eficaz.
- Adaptabilidade ao clima: materiais genéticos tolerantes à seca, ao frio, ao vento e à variação hídrica são essenciais — e devem incorporar ferramentas complementares, como bioinoculantes, nutrição sustentável, proteção biológica e mecanização inteligente.
- Novos modelos de negócio: além da madeira, os valores ambientais, sociais e de restauração (bioenergia, bio-carbono, serviços ecossistêmicos) exigem que as empresas florestais e os produtores adotem estratégias integradas, de rastreabilidade e alinhadas a critérios ESG.
- Pesquisa e cooperação em rede: cada vez mais, as demandas florestais exigem interação entre genética, ecologia, silvicultura, economia, e política pública — e devem operar em redes nacionais e internacionais.
Conclusão
O setor florestal brasileiro provou que, com foco, investimento e inovação, pode se posicionar mundialmente: alta produtividade, menor custo de madeira “posto fábrica” e respeito aos princípios de sustentabilidade. Contudo, a escala dos desafios é maior agora. Não basta mais “reflorescer” ou “plantar”. É preciso pensar em inovabilidade, ou seja, a fusão entre inovação e sustentabilidade — para que o setor não apenas sobreviva, mas lidere na próxima década.
A pergunta que fica é para onde vai a próxima onda de inovação? Aquela que vai além da mecanização e genética, e incorpora digitalização, rastreabilidade, integração em cadeias de valor e impacto social e ambiental?
A floresta que não acompanha a inovação está fadada ao desaparecimento. O futuro nos exige mais e agora.








